O fuzuê entre Bianca e Pombinha só terminou com a chegada de dona Sibele, que ouviu a confusão e foi ver do que se tratava. No dia seguinte ela divulgou um comunicado de reunião urgente no condomínio, mas acabou adiando por duas semanas por conta de haver muitos condôminos viajando em férias. Maama e Elzira ouviram a gritaria e pensaram que fossem as rezas dos parentes de Pombinha. Não desmenti.

Maama reclamou na clínica especialista em dor que o tratamento não estava mais surtindo efeito e o dono do estabelecimento reagiu muito mal. Eu me desentendi seriamente com ele por causa disso e decidimos não voltar mais lá. Agora ela iniciou um tratamento com um fisioterapeuta que chegou dos Estados Unidos e foi muito bem recomendado pelo ortopedista.

Elzira está em contagem regressiva para arrumar as malas. Ao final desse mês ela volta para Triunfo. Continuo procurando cuidadora, mas até agora sem sucesso!

O escritório de Bianca pegou um caso pesado sobre trabalho escravo no interior do estado da Paraíba e ela viajou para lá no primeiro dia deste mês de fevereiro que se inicia.

 

--PUTA QUE PARIU!!!!!!!!!!!!! – um berro estrondoso ecoa no ar – CARALHOALHOALHOOOOO!!!!!! – som de objetos sendo quebrados – LARGA MINHA TAÇA GUANABARA, SATANÁS!!!!! – socos na parede – CARTÃO VERMELHO NÃO, PORRAAAAAA!!!!!!! PORRAAAAA!!!!!!

 

CRASH, BOOM, BANG!!! – barulho de destruição

 

--Misericórdia! – Elzira arregalou os olhos – Pombinha não tava foragida por causa do tal papagaio de pelúcia? – olhava para as demais – Como que tá fazendo um escândalo desses agora?

 

--Ao que tudo indica hoje é dia de jogo do Botafogo pela tal Taça Guanabara. – Camilla respondeu enquanto encerrava seu lanche – Claro que isso é motivo suficiente pra Pombinha sair da toca.

 

--Eu não sei como que uma moça tão religiosa e recatada pode fazer umas doidiça dessa! – Suhaila comentou assustada – Essa menina não cansa de me deixar besta! – movimentou-se para tentar se levantar

 

“E isso porque a senhora não sabe da missa a metade!” – a professora pensou com vontade de rir – Pombinha, hein? Ai, ai! – levantou-se da mesa – Quer ajuda, maama? – socorreu a mulher mais velha

 

--Deixe que eu tiro a louça. – Elzira se ofereceu – Eu sei que a tal pane que deu nas câmeras do prédio ajudou a esconder quem foi o ladrão do papagaio, – juntava os pratos – mas Pombinha vai fazendo cada coisa que fica sempre como principal suspeita, não sabe?

 

--Única suspeita, né, prima? – seguia com a mãe para o banheiro – Quem mais nesse prédio iria querer aquele traste de pelúcia que ainda fala com a voz da síndica? Só Pombinha mesmo! – riu brevemente

 

--Filha, a dor tá voltando mais forte! – Suhaila olhou para a morena com pavor – Tá aumentando de novo! – foi ajudada a se sentar no sanitário – Será que eu não vou dormir mais uma noite?? – perguntou em pânico – Será??

 

--Nem pense nessa hipótese, maama! – pediu – Eu vou fazer massagem na senhora pra ajudar a relaxar. – ofereceu

 

--CARALHOO, PUTA QUE PARIU, QUE MERDAAA!!!!!!!! – mais um berro pavoroso – OUTRO CARTÃO VERMELHO, NÃO, PORRAAAAAA!!!!!!! – gritou mais alto – AHAHAHAHAHAH!!!!!!!! -- sons apocalípticos pairavam no ar

 

--E quem pode relaxar com uma pistinga dessa perturbando o juízo? – Suhaila reclamou – Ai, meu Deus, mas tá doendo tanto... Tô ficando nervosa, filha, nervosa! – começou a tremer

 

“Ô, Pai Santo, me defenda...” – a professora pensou agoniada – “Além de detonar meu lombo sofrido, Pombinha ainda me faz mais essa falseta!” – ajudava a mãe a se levantar – “Pombinha, Pombinha, você me paga!”

 

***

 

--Simone do Céu, como você fez falta! – Camilla confessava – Sei que suas férias foram mais que merecidas, mas eu tava contando nos dedos pra você voltar! – olhava para a mulher – Nossa Mãe, a coisa tá punk, visse?

 

--Pelo resumo da ópera que você me fez até agora, percebo que esse ano já começou pesado! Principalmente por conta da recaída de sua mãe. – cruzou as pernas – Mas vamos abordar um tópico de cada vez. – pausou brevemente – Será que essa recaída também não teria relação com o fato dela saber que Elzira está pra ir embora?

 

--Eu desconfio que tem a ver, sim, mas não se pode dizer que seja só isso. – considerou – Essa doença de maama é muito desafiadora, nenhum médico ou fisioterapeuta sabe o que dizer, a gente tenta de tudo e... – fez um gesto – Parece que sempre avançamos um passo à frente e retrocedemos em três pra trás! – suspirou – Já perdi as contas de em quantos profissionais investi em vão! – passou a mão nos cabelos – Uns não sabem como tratar e parece que não se importam em ao menos tentar descobrir e outros simplesmente desistem! Isso deixa maama arrasada! Poucos são os que se interessam de fato, mas mesmo estes patinam...

 

--Lamento muito ouvir isso! – balançou a cabeça compreensiva

 

--Já estamos na terceira psicóloga, porque maama também não leva muita fé nesse tipo de tratamento e tô tentando encontrar alguém que consiga se conectar com ela, sabe? – ajeitou-se na cadeira – Quanto à cuidadora, até agora não achei ninguém e não sei o que fazer se não achar até Elzira ir embora... Tento não pensar nisso pra não me consumir em ansiedade!

 

--E faz bem em não dar brechas pra ansiedade! – aconselhou – Continue procurando, mantenha-se nas suas orações e há de dar tudo certo! – desejou – E as coisas no seu trabalho, como vão?

 

--Sabe daquela malabarista que roda vários pratinhos de uma vez na ponta das varetas? É assim que eu me sinto! – acabou rindo – Mas tenho dado conta. Ninguém naquela universidade pode dizer que tô falhando em coisa alguma, seja com os alunos ou com os projetos de pesquisa e extensão.

 

--Isso é bom, mas tenha cuidado pra não se exaurir demais e acabar tendo um colapso por esgotamento. – aconselhou – Você tem tomado os florais que receitei? E tem feito algo para desestressar?

 

--Sim, eu tomo os florais e continuo no esquema de praticar meu spinning quando dá e escrevendo meu conto. – pausou brevemente – E até que tem um tantinho de gente lendo ele, acredita? Cheguei a pensar que seria um fracasso total!

 

--E por que seria? – queria entender – Você já é habituada a escrever e ao que parece tem várias pessoas que gostam do que você publica.

 

--Ah, minha história atualmente é derrota atrás de derrota e ninguém gosta disso... – considerou – Mas, enfim, escrever tem me ajudado e até que Bianca tá cumprindo com a promessa de não ficar marcando tanto! Seja na vida real ou na virtual!

 

Estranhou o comentário. – Ela também tem ciúmes de você no mundo virtual??

 

Riu brevemente. – Se tem! Mas Bianca é meio contraditória nessa parte, sabe? – cruzou as pernas – Ela abala meio mundo pra ler o que escrevo, me favoritar, fazer comentários... mas ao mesmo tempo morre de ciúmes daquelas que tentam ser mais minhas amigas. – contava – Só tem uma amiga minha, que se chama Cristina, de quem ela não tem ciúmes porque gosta e respeita muito. Das outras, no entanto, é uma ciumeira só! – riu mais uma vez – Só que ela tá bem contida dessa vez e nem parece a mesma!

 

--Bem contida e se engalfinhou com Pombinha brigando pelos corredores do seu prédio? – perguntou descrente

 

--Ah, mas isso aí é vida real e foi outra história! – argumentou – E depois da briga cada uma foi prum canto e nada de novo no front!

 

--E... você acha que Pombinha finalmente desistiu de você? – tentava entender – Desculpe, mas é que tem coisas na sua vida que me deixam meio confusa... – sorriu

 

Pensou antes de responder: -- Pombinha é um eterno mistério, devo dizer. Não sei até hoje porque ela cismou tanto comigo... – pausou brevemente -- Atualmente a barra tá pesada pra ela no condomínio. Tivemos até uma reunião, na qual ela não compareceu, mas foi o assunto de quase toda pauta. – relatava os fatos – Além da síndica estar em cima por acreditar que ela roubou uma peste de um papagaio de pelúcia, existem várias reclamações sobre ela por causa do modo como assiste os jogos do Botafogo. – explicou – A briga com Bianca também gerou um bafafá danado, mas você não vai acreditar: dona Sibele entendeu que foi tudo por causa do roubo do papagaio e o pessoal ficou ainda mais abismado. Então creio que por um bom tempo ela vai andar sumida. – concluiu – Lá em casa nunca mais apareceu!

 

--Mas como assim, a síndica entendeu que a briga foi por causa do papagaio? – estava pasma

 

--Acompanhe o raciocínio: sou a subsíndica, dona Sibele só entende Bianca como minha advogada, então nós duas teríamos ido tomar satisfações pelo roubo e a briga começou. Foi isso.

 

Continuava pasma. – E você não desmentiu? Deixou ela pensar que foi assim??

 

--Ah, Simone, faça-me o favor! – protestou – Eu não sou assumida, sou a criatura mais condominiófoba do mundo e jamais deixaria justo dona Sibele saber que as duas se engalfinharam porque Pombinha me ch*pou! – gesticulava -- Seria meio demais, acha não?

 

Simone acabou rindo gostosamente.

 

***

 

--Então é o momento... – Elzira olhava para a tia e a prima com os olhos marejados – Parte de mim gostaria de ficar aqui com vocês pra sempre, mas... – derramou uma lágrima – Minha casa, minhas coisas, minha vida tá lá em Triunfo e... – não conseguiu completar a frase

 

--Tem precisão de falar mais nada. – Suhaila respondeu gentilmente – Vá simbora pro seu canto e de quando em vez passe aqui mode ver nós! – deu um sorriso triste

 

--Vá com Deus, Elzira. – Camilla desejou – E obrigada por tudo. – derramou uma lágrima também

 

--Se alguém tem que agradecer aqui sou eu! – secou os olhos com uma das mãos – Prima, você acha que aquela cuidadora que Pombinha arrumou vai mesmo dar conta do recado? – perguntou preocupada – Não será uma torcedora doida que nem ela?

 

Achou graça. – Se for, eu dispenso logo no primeiro jogo que assistir!

 

--Ai dela! – Suhaila gesticulou – Quebrar os troço em casa e gritar palavrão, tá amarrado! – franziu o cenho

 

--Nada disso vai acontecer, gente! – a professora afirmou sorridente – Não vamos sofrer por antecipação! – pausou por uns instantes – Quando chegar em casa, liga, por favor. – pediu com carinho

 

Elzira abraçou a prima com força mal controlando o choro. Na sequência, abraçou a tia com muita delicadeza e pediu a bênção antes de partir. Mãe e filha ainda ficaram acompanhando o ônibus com o olhar seguindo seu destino rumo ao interior de Pernambuco.

 

--Sempre que alguém se vai me dá uma sensação de solidão tão grande... – a mulher mais velha comentou entristecida – Por isso que nunca gostei de me despedir. – olhou para a filha – Dá um aperreio no peito...

 

--Own, maama, não fique aperreada! Vai dar tudo certo! Pra todas nós. – deu o braço a ela – Vamos voltar pra casa? – pediu

 

--Vamos. – as duas seguiram caminhando de braços dados para o estacionamento

 

Eu queria de verdade acreditar que tudo ficaria bem, mas apesar de toda fé que existe em mim uma insegurança forte teimava em inquietar meu coração. Receava pela nova cuidadora, em como seria o convívio, receava pela saúde de maama, que parecia nunca evoluir e receava por Elzira, embora nem entendesse por quê.

 

***

 

--Então você e dona Suhaila aprovaram a cuidadora indicada pela Pomba de zona? – Bianca perguntou em voz mais baixa para a namorada – Olha lá se não é do tipo que maltrata idoso! – advertiu

 

--Meu robô anda firme e forte na vigilância! – garantiu falando igualmente baixo – E maama também não é trouxa! Se dona Rute der qualquer errada na minha ausência, vou ficar sabendo.

 

Rute auxiliava Suhaila na cozinha.

 

--O horário dela vai até às 7 da noite. – Camilla explicava para a namorada – Daqui a minutos ela vai pra casa. – olhou rapidamente para o relógio

 

--Fica de olho! – insistiu – E veja lá se ela não vai querer te ch*par também! Já bastou a outra!

 

--Eu hein, tá maluca, criatura? – ralhou mas acabou rindo – É cada coisa que eu tenho que ouvir... – balançou a cabeça divertida

 

--Pronto, Camilla, sua mãínha já tá devidamente alimentada, não sabe? – sentou a paciente na poltrona – Agora vou me trocar pra ir mimbora.

 

--Pode ir, dona Rute. E muito obrigada. – agradeceu educadamente – Aproveite o seu final de semana!

 

A mulher pegou a bolsa no sofá e entrou no banheiro para se trocar.

 

--Gostando da cuidadora, dona Suhaila? – Bianca perguntou – Ela lhe trata bem? Tem sido boa criatura? – queria saber

 

--Não posso me queixar, não sabe? – ajeitou-se no sofá – O que me maltrata é só as dor mesmo! – olhou para a outra

 

--E aquela Pombinha? – cruzou as pernas – Tem aparecido aqui? – prestava atenção à sogra – Afinal de contas foi ela quem indicou essa dona Rute, né?

 

“Bianca já tá desconfiada!” – Camilla pensou contrariada – “Já cansei de dizer que Pombinha não veio aqui nem quando me indicou dona Rute!” – suspirou

 

--Pois parece que se abriu um buraco no chão e Pombinha se adentrou! – Suhaila dizia a verdade – Nunca mais veio aqui e nem se vê ela nesse prédio!

 

--Melhor assim, né? – olhou de relance para a namorada

 

--Pronto. – Rute saiu do banheiro – Já vô mimbora, tá bom? – sorriu para as outras mulheres

 

--Eu abro a porta pra garantir que volta! – a professora brincou ao se levantar

 

--Vai com Deus, minha filha! – Suhaila se despediu – Bom final de semana!

 

--Até segunda e bom final de semana! – beijou a mão da paciente e se preparou para sair

 

--Dona Rute, -- Bianca se levantou e acompanhou a mulher até a porta – a senhora conhece a Pombinha de onde mesmo? – sondava

 

“Mas ela não se cansa de curiar, Ave Maria!” – Camilla pensou novamente contrariada

 

--Ela é da mesma igreja que eu, mas infelizmente anda sumida de lá. – olhou para a advogada – O que foi uma pena porque ela era muito ativa e tá fazendo falta. – contava – Acredita que bastou ela sumir pra roubarem o turíbulo e a vasilhinha de hóstias de padre Arnaldo? Nem a Casa de Deus esse povo respeita mais! – benzeu-se horrorizada

 

“Será?” – a professora pensava em hipóteses

 

***

 

--Então quer dizer que você e dona Suhaila se agradaram de minha indicação? – Pombinha perguntou sorridente – Fico feliz em saber!

 

--Aquela Rute é boazinha, sim, não há que se negar. – a mulher mais velha respondeu – Mas e você, menina? Sumisse por quê? – reparava na outra – Tudo por causa do bendito papagaio?

 

--Ah, é um misto de coisas, não sabe? – fez um gesto despreocupado – E tanto problema no trabalho! – revirou os olhos – Esses dentistas andam amadores demais e me deixam de bexiga lixa! – reclamou

 

Camilla não acreditou naquela conversa, mas não insistiu. – Mas agora que você voltou, presumo que a amizade continue, não é? – olhava para a mulher – Você sumiu até do zap!

 

--É, a amizade continua... – cruzou as pernas – Tá bem claro pra mim que é isso mesmo... – afirmou com duplo sentido – Amigas! – sorriu meio constrangida – É mais seguro assim, né?

 

--Seguro? – Suhaila estranhou o comentário

 

“Parece que o recado de Bianca foi bem entendido!” – pensou com vontade de rir – Seguro, maama! – olhou para a mulher mais velha – Nesse mundo com tanta gente louca, encontrar uma pessoa amiga é sempre uma segurança! – disfarçou

 

--Humpf! – fez um bico descrente da explicação

 

--Olhe, eu já vou indo! – Pombinha se levantou do sofá – A prosa foi muito boa, mas eu realmente preciso ir! – olhava alternadamente para as duas – Lamento não ter conseguido dar um beijinho em Elzira... – aproximou-se de Suhaila – Mas na senhora eu posso dar um cheiro, não posso? – perguntou carinhosa

 

--Claro que pode, filha! – abriu os braços

 

Pombinha se ajoelhou diante da outra, abraçou-a gentilmente e deu um cheiro bem gostoso. – Adorei ter conhecido a senhora, visse? – beijou-lhe a mão com respeito e se levantou

 

--Você tá se despedindo da gente, Pombinha? – Camilla estranhou ao abrir a porta da sala – Vai embora pra onde?

 

--Pra minha casa, oras! – respondeu sorridente – Um andar acima da sua! – aproximou-se da professora – É que a vida anda muito corrida e eu quis falar o que vai no meu coração! – abraçou-a com força – E eu nunca vou te esquecer! – sussurrou no ouvido – Obrigada por tudo!

 

--Também não! – respondeu igualmente baixo – E também te agradeço muito!

 

Pombinha beijou a testa de Camilla, sorriu para ela e Suhaila e foi embora subindo as escadas rapidamente.

 

--Sabe, maama, -- fechou a porta – Pombinha deve estar se mexendo pra se mudar. – concluiu – E veio aqui pra se despedir de nós. – voltou até o sofá

 

--Também achei. – balançou a cabeça – Vou sentir falta dela e com certeza nunca vou esquecer daquela bicha doida! – achou graça

 

--E eu! – concordou – “Nunca conheci mulher igual a vida inteira!” – pensou

 

***

 

--CAMILLA, ABRA ESSA PORTA!!! – Sibele esmurrava a porta da morena – Corre, mulher, que a coisa é tinhosa!

 

--Mas que inferno! – a professora resmungou de cara feia – Em pleno domingo, uma hora dessas e dona Sibele vindo infernizar aqui? – ajudava a mãe a sair do banheiro

 

--E o que será que essa bicha quer? – a mulher mais velha perguntou intrigada

 

--CAMILLA, MULHER, ABRE A PORTA!! – meteu o dedo na campainha

 

--Já vou! – respondeu em voz mais alta – Mas que praga! – ajeitou a mãe sentada no sofá

 

--Não atrase o nosso café da manhã por causa dessa uma! – ordenou

 

--Jamais faria isso! – garantiu antes de abrir a porta – Bom dia pra senhora também, dona Sibele! – cumprimentou irônica – Posso saber o porquê desse fuzuê na minha porta e a essa hora? – cruzou os braços

 

--Os enfeites de natal do condomínio! – entrou na casa da outra como um foguete – Arrombou-se a porta do almoxarifado do prédio e tudo foi roubado! – gesticulava como doida

 

--Como é que é?? – a professora perguntou sem entender

 

Suhaila tinha pontos de interrogação na cabeça.

 

--Roubaram tudo, mulher, tudo! – aproximou-se de Camilla e segurou-a pelos ombros – Não bastasse o papagaio, roubaram a rena, os quatro papai Noel, a árvore de natal, todos os enfeites e a guirlanda! – falava com os olhos arregalados – E ainda me desenharam um bigode no calendário que tem meu rosto!

 

--Ah! – a professora estava pasma

 

--E eu sei quem foi: Pombinha! – acusou de pronto – Não à toa a desgraçada se mudou hoje na calada da madrugada!

 

--Pombinha se mudou hoje de madrugada? – Suhaila perguntou em choque – Como pode??

 

A morena continuava sem entender. – E como a senhora soube de tudo isso? Não dá tempo de ter recebido as imagens das câmeras, então como foi? – desvencilhou-se da síndica – Mas responda sem ficar agarrada em mim, por gentileza! – pediu

 

--Acordei cedo e fui na padaria comprar pão, quando seu Antônio me abordou no meio do caminho pra perguntar porque eu tinha dado tanto papai Noel de presente pra Pombinha. – contava – Claro que eu neguei e ele disse que então não tava entendendo, porque na hora em que ele saiu pra passear com o cachorro deu de cara com um tremendo caminhão de mudança aqui na porta do prédio e viu quando Pombinha vinha trazendo um papai Noel na cabeça. Os outros três vieram com os cabra da mudança dela! – andava de um lado a outro na casa da morena – Daí corri pro almoxarifado, vi a porta arrombada e o resto você já sabe!

 

--Misericórdia! – Suhaila exclamou surpreendida – E Pombinha se mudou sorrateira que ninguém nem ouviu! – exclamou – Olha que eu tenho dormido mal e meu sono é leve!

 

“Então ontem foi mesmo uma despedida...” – Camilla concluiu – “Ai, ai... voa, Pombinha louca, voa!” – pensou com vontade de rir – Tá, entendi o que aconteceu, mas a senhora espera que eu faça o que? – queria saber – Eu não tenho tempo de mover um dedo pra ir atrás dela por causa de roubo de enfeite de natal! – afirmou de pronto – Não concordo com o que ela fez, mas pra mim é como dizem os traficantes: perdeu!

 

--Perdeu coisa nenhuma! – protestou – Ela era sua amiga, você há de saber pra onde foi! Pense aí e trate de descobrir!

 

--Ora, dona Sibele, francamente, viu? – respondeu contrariada – Lembre-se que foi a senhora que veio aqui em casa trazê-la pra nos apresentar! – argumentou – Maama e eu sequer sabíamos que ela ia se mudar, faz ideia que fosse hoje de madrugada!

 

--E não sabia mesmo! – Suhaila concordou

 

--Agora por favor, nos dê licença que maama e eu temos que tomar café da manhã e ainda tem muito serviço pra eu fazer hoje! – ficou segurando a porta esperando a outra passar

 

--Mas você não liga pra nada mesmo, Ave Maria! – retrucou revoltada – Que tipo de subsíndica! – criticou – Mas deixe estar que eu vou atrás do proprietário do imóvel e ele vai pagar o prejuízo que a inquilina ladra dele deu ao condomínio! – decidiu – E de hoje em diante, só vem morar aqui quem passar na entrevista que a gente vai fazer! Você e eu! – caminhou até a porta – Fui! – partiu

 

--É por essas e outras que eu não canso de dizer: -- fechou a porta – odeio condomínio!!!!!

 

 

Fim do capítulo