O réveillon nas areias da praia de Boa Viagem foi calmo e ao mesmo tempo emocionante. Bianca me fez uma série de promessas, mas não fiquei pensando nelas; o que me interessa não é o que ela me diga mas o que venha a fazer. Logo no dia seguinte ela foi visitar os avós maternos e depois seria a vez dos paternos. Com isso voltaria apenas no sábado.

Maama ficou bem e isso me deixou esperançosa quanto a ter encontrado um caminho.

Elzira e Pombinha me avisaram que voltariam para Recife no mesmo dia: quarta, 04 de janeiro. O que eu não imaginava é que ambas me trariam, cada uma de um jeito, tantas surpresas...

 

--Nossa!! – Camilla arregalou os olhos ao abrir a porta – Gente, por que vocês não me avisaram que vinham todos juntos? – perguntou estarrecida – Ave Maria, nem sei se tenho comida pra abastecer esse tanto de Isfahan e Khalil que chegou! – olhava para os demais

 

--Porque senão ia deixar de ser surpresa! – Xarid deu beijinhos de comadre na irmã – A gente pode entrar, mana? – perguntou sorridente

 

--Pode... – deu passagem aos demais – “Minha Nossa Senhora, como eu vou fazer com 13 pessoas dentro de casa além de maama e eu??” – pensou em estado de choque ao fechar a porta

 

--Tia Suhaila vai gostar da surpresa, não sabe? – Elzira comentou animada – E fique aperreada não, que a gente trouxe umas comida também! – sorriu mostrando as bolsas

 

--Cunhada, a gente não vai incomodar! – Andrea comentou ao se sentar no sofá – Espia só como Paulinho e Emmanuel tão crescido! – apontou para os filhos – Já tão com 13 e 9 anos, bem dizer dois homem! – sorriu orgulhosa

 

--Vocês não falam mais com a tia, não, machinho véi? – Zyah provocou os filhos

 

--Tia, tia! – os sobrinhos abraçaram a morena – Saudade!

 

--Tia, tia!!! – os demais sobrinhos vieram agarrar a professora – Tia, tia, tia!! – falavam todos ao mesmo tempo

 

--Eita, que é muita saudade prum só peito! – Camilla respondeu bem-humorada enquanto beijava a cabeça de cada sobrinho – Ainda morro disso! – riu brevemente

 

--Camilla, menina, que diacho tá acontecendo aí? – Suhaila perguntou em voz alta. Estava no quarto – Que falatório é esse??

 

--Visitas, maama! – respondeu em voz mais alta – Por que vocês não vão lá no quarto dar um beijinho na gidda? – pediu aos sobrinhos – É só pegar o corredor e ir até o final! – mostrou o caminho – Mas vão manso, viu?

 

--Vovó, vovó!! – as crianças foram correndo e gritando

 

--Oxe, cambada, olha a educação aí! – Paulinho seguiu atrás reclamando com os outros

 

--Mafra e Celda não se aguentava mais de saudade, não sabe? – Yurem comentou animado ao se jogar no sofá – Quézila ficou com medo de incomodar mas acabou vindo mais nós! – sorriu para a esposa – Mana, tem uma pinga aí mode servir pra nós não? – pediu olhando para todos os lados

 

--Ói, eu trouxe roupa de cama e nem vamos sujar seus lençóis! Minhas menina tão com 10 e 11 ano, já passaram da fase das traquinagem! – Quézila foi logo dizendo – É só arrumar um cantinho e nós dorme tudo agarrado! – sorriu

 

--Não se preocupe com roupa de cama, querida! Quanto a lugar pra dormir, vou dar meu jeito de acomodar vocês. – respondeu com sinceridade – “Como eu não sei, mas vou!” – pensou contrariada

 

--Ricky e Martin também queriam vir e já tão com 8 ano, não dão aperreio pra ninguém! – Aline Maria se meteu na conversa e sentou-se cruzando as pernas – Aí eu também tava com tanta saudade de vocês que não me aguentei e quis vir com a família! – sorriu – Quando você leva nós pro shopping, cunhada querida? – pediu – Pode ser de amanhã?

 

--E eu combinei mais Elzira de fazer uma surpresa e... – Xarid abriu os braços -- ói nós aqui!

 

--O ano já começou bom, né, prima? – Elzira perguntou animada – Esse 2023 promete!

 

Nisso, o som de objetos quebrando chama a atenção da professora.

 

--Menino, não mexe nos treco da tia de vocês! – Suhaila ralhou em voz alta – Ricky e Martin, para de pular em cima de minha cama! –advertiu -- Menina, tira isso aí da boca!

 

--É, começou bom... – Camilla respondeu em estado de choque – Promete...

 

***

 

Horas mais tarde, a campainha tocava novamente.

 

--Ô, Pai Santo, que não seja a síndica pra infernizar meu juízo! – Camilla foi até a porta falando sozinha – Tô indo! – respondeu em voz alta antes de olhar quem seria – Pombinha! – abriu a porta – Boa noite! – cumprimentou antes de se surpreender com o que viu – É... oi! – sorriu sem graça

 

--Oi, querida!! – a mulher abraçou a professora com força – Trouxe mãínha, painho e minhas irmãs pra você conhecer! – beijou a testa da outra e se desvencilhou – Gente, essa é Camillinha! – olhou para os demais – Querida, esses são dona Niceia, seu Juracy e minhas irmãs Paloma e Colomba! – apresentou

 

“Ave Maria, que os pais dela têm verdadeira obsessão com essa coisa pombística! Cada filha é pomba numa língua diferente!” – pensou – Prazer. – cumprimentou as visitas – Olha, eu não queria ser indelicada, mas... – não sabia o que fazer – Minha casa hoje tá super cheia porque meus três irmãos vieram com as respectivas esposas e filhos, além de prima Elzira... – sorriu constrangida – Somos um batalhão num apartamento, pense!

 

--Ai, que maravilha, pois eu quero conhecer a família toda! – Pombinha respondeu animada – Vamos entrando, pessoal, sem cerimônia! – chamou os parentes e foram entrando na casa da morena

 

--Dá licença, viu filha? – Niceia pediu – Olha, trouxe benzido pra você! – entregou um crucifixo nas mãos da professora – Trouxe outro pra senhora sua mãe também! – sorriu e entrou

 

--Obrigada... – respondeu mecanicamente segurando o crucifixo – Ô, meu Jesus... – suspirou para a imagem – Dai-me forças...

 

***

 

--Calma, maama, calma... – Camilla levava a mãe ao banheiro – Fique traquila, não vai acontecer nada. – beijou a testa dela

 

--Tá doendo tudo de novo! – reclamou – A clínica da dor não funciona mais? Por que eu não tô igual fiquei no natal e no ano bom? – perguntou chorosa

 

--Pode ser por causa da mudança de tempo e também o cansaço de tanta visita em casa. – respondeu com carinho – Mas fique tranquila, a senhora vai melhorar.

 

--Tá doendo tudo... – começou a chorar

 

--Calma, maama, não tenha medo... – ajudou-a a se sentar no vaso sanitário – Essa dor vai passar.

 

--Faz massagem pra eu dormir? – pediu chorando – Tá doendo muito...

 

“Ai, meu Deus, e eu morta de sono...” – pensou entristecida – Faço, maama. Faço sim... – suspirou

 

***

 

Elzira e Pombinha caminhavam com Suhaila no calçadão da praia enquanto as crianças se divertiam correndo e tomando banho de mar.

 

--Molha só até as perna, menino! – Quézila gritou – Cuidado com tubarão! – advertiu

 

--Mana, é verdade que tem tubarão por aqui? – Yurem perguntou preocupado – Não quero filho meu sendo comido, não sabe?

 

Achou graça. – Tem, mas também não é assim. É só não passar dos recifes que tá tudo certo. – respondeu sonolenta – Fica atento com o protetor solar, porque as crianças se empolgam e não vão querer saber de se cuidar.

 

As cunhadas de Camilla estavam deitadas sobre cangas se bronzeando. Ela e os irmãos estavam sentados em cadeiras de praia e somente a morena se protegia na sombra do guarda sol.

 

--Tá com sono, mana? – Zyah perguntou estranhando – Nem tá brincando com as crianças...

 

--Camilla tá estranha! – Xarid criticou – Recebesse a gente na quarta como quem viu um fantasma, nem desse presente de natal pra ninguém e agora fica aí, em pleno sábado, toda prostrada em cadeira de praia! – olhava para ela

 

A morena respirou fundo e se endireitou na cadeira para olhar para o irmão. – Acontece, Xarid, -- tirou os óculos escuros – que eu trabalho demais! – respondeu com seriedade – Cuidando de maama, dando aula, coordenando projeto de pesquisa, tese de aluno... desde que essa pandemia começou e maama ficou doente, eu não tenho férias NUNCA! – frisou o detalhe – Elzira foi pra Triunfo e me deixou aqui na pior! Só Deus sabe como tive que fazer das tripas coração pra dar conta de tudo no final do ano! – gesticulou – E se vieram atrás de presente, lamento informar que não tem! Gasto muito dinheiro SOZINHA pra ajudar maama e não dou conta!

 

--Calma, não tá mais aqui quem falou! – Xarid levantou as mãos e se recostou na cadeira – Sabe nem brincar, véi!

 

--Foi só uma brincadeira infeliz, mana querida, relaxa! – Zyah pediu – Sabe como Xarid é! – sorriu – Não dê trela pras peitica dele! -- aconselhou

 

--A gente entende que você fique cansada... – Yurem concordou – É normal...

 

--Agora Xarid vai escutar! – estava aborrecida – Todos vocês vão! – continuava falando – Achasse que eu fiquei sem ação quando vocês chegaram, meu irmão? Pois fiquei sim, porque eu não imaginava receber treze pessoas de surpresa em casa! Moro num apartamento e por mais que tenha conforto não tem espaço pra tanta gente acomodada e mais maama doente! – falava com seriedade – Já vai pra duas noites em que ela morre de dor, fica sem sono e eu mal posso dormir por causa disso! – levantou-se da cadeira – Gostei de revê-los, mas na segunda eu já volto a trabalhar e não vou conseguir administrar vocês todos enquanto isso! – olhou para o mar – Deixa eu ficar com as crianças porque com elas, com certeza, eu nunca me aborreço, por mais que quebrem minhas coisas e os pais não falem nada! – foi andando em direção ao mar

 

Os três homens ficaram sem graça.

 

***

 

--Habibem, socorro, que que é isso?? – Bianca perguntou em estado de choque – Como assim, Elzira me chega na quarta trazendo simplesmente seus irmãos e famílias? – não se conformava – Ela não tem mais noção?? Ou melhor, eles não têm noção?? – olhava para a namorada – Como tá sendo isso?? – queria saber

 

Bianca e Camilla conversavam dentro do carro da advogada, que havia ido visitar a morena mas nem chegou a entrar no prédio.

 

--Por um lado foi bom porque fazia tempo que maama e eu não víamos as crianças, mas por outro... – balançou a cabeça contrariada – São treze pessoas em casa junto com a gente, eu fico doida! Embora Elzira ajude, não é fácil! – passou a mão nos cabelos – Eles estão aqui há três dias e eu me sinto como se fossem três meses!

 

--Agora eu entendo por que de repente você sumisse do zap e quase não me desse atenção! Pensei que fosse por causa daquela Pomba de encruzilhada!

 

--Essa foi outra... – resmungou em voz baixa – “Foi lá pra casa levando família na quarta e agora faz isso toda noite! E tome de fuzuê de rezar fazendo escândalo e de dona Sibele me enchendo o saco por causa de barulho!” – pensou – Minha casa tá parecendo até um hospício! – acabou rindo – Ai, ai...

 

--E dona Suhaila, o que ela acha disso tudo? – queria saber

 

--Tá de saco cheio, simples assim! – respondeu de imediato – É muita confusão na cabeça dela e na hora de trabalhar fica só comigo e Elzira. Os demais não lavam nem um copo!

 

--Amore, por favor! – segurou o rosto da morena com as duas mãos – Bota ordem nessa zorra e manda esse povo ir simbora! – aconselhou – Tudo bem, é família, você ama as pessoas, mas se não tão ajudando, pelamor!

 

--Hoje eu situei meus irmãos e disse que segunda já volto a trabalhar. – acariciou o rosto da outra – Yurem deu uma saída hoje a tarde com Zyah e acho que foram ver as passagens de volta pra casa. – deduziu – Se Deus quiser, amanhã todo mundo vai embora! – desejou

 

--E se não forem, fala comigo! – beijou-a – Cê sabe que eu sei botar moral, não sabe? – beijou-a novamente – Sabe que eu sei ser malvada, não sabe? – perguntou melosa

 

--Sei! – puxou-a pela cintura e beijou-a com paixão

 

***

 

--Enfim, sós! – Camilla se jogou no sofá aliviada – Ave Maria! – acabou rindo sozinha

 

--Eu gostei de ver meus neto, mas os menino tão muito mal educado! – Suhaila comentou com as outras duas – Só nesse tanto de pandemia que eu fiquei longe deles, parece que virou bagunça! – pensava nas crianças – Se salva é só Paulinho, mas também já tá rapaz...

 

--Amanhã, depois que voltar do trabalho, vou dar uma geral na casa. – a professora decidiu – Mas agora quero aproveitar esse resto de domingo pra ficar em paz!

 

Elzira ficou sem graça com o que estava ouvindo. – Desculpa, gente, eu não imaginei que vocês não iam se agradar da surpresa... – lamentou – É que Xarid tava tão empolgado e depois todo mundo ficou tão animado, que eu... achei que ia ser bom, não sabe?

 

--Teve seu lado bom, mas não repita mais isso! – Camilla pediu enfática – Nas condições que a gente vive atualmente, não dá pra ficar recebendo esse tanto de gente sem esperar!

 

--E você também não pode ser assim, menina! – Suhaila reclamou com a sobrinha – Não é porque se é madrinha de alguém que tem que dizer amém a tudo que o cumpadre ou a comadre diga!

 

--Tá certo... – Elzira abaixou a cabeça

 

E nisso, a campainha toca.

 

--Ô, Pai Santo, que não seja Pombinha com família pra vir rezar fazendo escândalo! – desejou ao se levantar – Tô indo! – respondeu em voz alta

 

--Ah, eu quero sossego! – Suhaila foi logo dizendo – Se forem eles, você vai mais todo mundo rezar em casa de Pombinha! – ordenou – Aí tira minha foto no celular e me representa, pronto!

 

--É mole? – acabou achando graça – Hum, é ela mesma. – viu pelo olho mágico – Boa noite! – cumprimentou ao abrir a porta – “Veio sozinha dessa vez!” – pensou desconfiada

 

--Boa noite! – respondeu sorridente – Vim te chamar pra ir lá em casa rapidinho. – olhava para a morena – Estivemos aqui mais cedo mas encontramos a casa vazia.

 

--É, a gente foi acompanhar meu pessoal até a rodoviária e como é longe, demoramos um pouquinho a voltar. – justificou-se – Seus parentes devem estar pra ir embora hoje também, né? – queria saber

 

--Sim, hoje é dia deles partirem. – balançou a cabeça – Vamos?

 

--Vamos. – concordou – “E maama vai representada no meu celular.” – pensou achando graça

 

***

 

Camilla achou estranho o silêncio na casa da vizinha assim que ela fechou a porta. – Tudo tão quieto... – comentou – Cadê todo mundo?

 

--Espera só um pouquinho, por favor! – Pombinha pediu e se retirou para o quarto

 

--Tá bem. – sentou-se no sofá – “Será que eles só fazem barulho na minha casa?” – pensou intrigada

 

--Minha família foi embora hoje mais cedo. -- Pombinha comentou em voz alta -- A gente foi se despedir, mas vocês não tavam em casa... Devo dizer que todo mundo adorou vocês e deixou muitos beijos! – apareceu na sala e fez uma pose se apoiando no portal – E agora vem a melhor parte: hora de dar seu presente! – correu de encontro à professora e pulou cima dela no sofá – Hora de dar!!! – gritou animada

 

--Não faz isso que eu não aguento! – tentava se desvencilhar da vizinha – Você é pesada! – levou uma das mãos às costas – “E lá se foi meu lombinho de novo...” – pensou dolorida – Mulher, eu não vim aqui pra isso! – com movimentos de ninja se jogou no chão – Pensei que a gente ia rezar! – buscou se levantar – Ai! – sentiu dor na lombar

 

Pombinha usava uma lingerie vermelha que deixava pouco a se pensar sobre seu corpo. Calçava sapatos de salto vermelhos e na cabeça ostentava um diadema com dois chifres.

 

--E a gente vai rezar! – agarrou as pernas da professora – Nesses dias todos a gente acendeu uma vela pra Deus! – sentou-se em cima dela novamente – Agora é hora de acender uma pro diabo! – tentou beijá-la nos lábios

 

--Ave Maria, mulher! – lutava para se desvencilhar – Pombinha, você parece que endoidou! – rolaram juntas no chão e se desagarrou da vizinha – Que diacho! – levantou-se apoiando-se na poltrona

 

--Pare de fugir de mim! – levantou-se também – Te mandei as fotos do que eu quero te dar! – tentava agarrar a morena – Agora é hora de você partir pro ataque! – começou a beijar e ch*par o pescoço dela – Vou te ch*par toda! – armou o bico

 

--Me solta, criatura! – tentava fugir – Eu não tô solteira, mulher! – sentiu um forte ch*pão em seu pescoço – Oxe! – reclamou

 

--Pois eu vou te mostrar que aquela advogada magricela não é páreo pra mim! – afirmou com voz sexy – Vem aqui agora! – ordenou possessiva

 

--Misericórdia! – segurou o rosto da vizinha com as duas mãos buscando evitar o bico que desejava sugá-la – “Parece até uma sanguessuga, cruzes!” – pensou desesperada

 

E nisso... BÊÊM!

 

--A campainha! – a morena salientou – Deve ser dona Sibele! – deduziu

 

--Abra essa porta, Pombinha, eu sei que você está aí! – a síndica falava alto do lado de fora – O papagaio de natal sumiu e eu vi nas câmeras que você rondava ele! – acusou

 

--Você se apropriou daquele traste de papagaio de pelúcia do condomínio? – perguntou em choque

 

--Ai, meu Pai! – soltou a professora – Diz pra ela que eu tô de chico e não posso sair do banheiro agora! – fugiu da sala

 

--Eu nunca pensei que um dia fosse ficar feliz com visita de dona Sibele. – foi até a porta – Hora de fugir daqui! Das duas! – Camilla decidiu

 

***

 

--Elzira não pode ir embora, meu bem! – Bianca argumentava – Ela não arrumou nada em Triunfo, então vai voltar pra lá pra fazer o que? Pra ficar passando fome? – olhava para a namorada – Você não pode deixar que ela vá!

 

--Linda, eu não posso impedi-la de ir! – afirmou de imediato – Se nem meus irmãos, que são filhos de maama, me ajudam, eu não posso exigir que ela o faça! Além do mais, a casa dela é em Triunfo e eu já tava ciente de que em fevereiro ela iria simbora.

 

--Mas como você vai ficar sem ela, habibem? – insistiu – Até agora você não achou nenhuma cuidadora decente e que agradasse a sua maama! – pausou brevemente -- O que vai acontecer é que cê vai surtar, isso sim! Aí serão duas precisando de cuidados!

 

--Uma coisa de cada vez, minha linda! – beijou-a – Janeiro ainda não acabou e eu não morro de véspera! – sorriu

 

As duas mulheres conversavam dentro do carro da professora, na garagem do prédio dela.

 

Sorriu também. – Eu não sei como você consegue ser assim! – beijou-a – Ai, amore, a vida da gente tá uma merd* tão grande... – suspirou inconformada – É você com esses problemas com dona Suhaila, Elzira que tá pra ir e eu com as brigas diárias com minha irmã por causa daquele traste que ela arrumou e a OIT nesse chove não molha pra cima de mim! – passou a mão nos cabelos – Tô doida pra gente sair daqui, arejar e refazer nossa vida longe de tudo isso! – gesticulou

 

--Maama não pode sair do corpo e ficar longe de tudo isso, querida. Já te disse que não penso em largar tudo pra lá e deixá-la ao sabor da própria sorte, porque meus irmãos... – fez um gesto de desagrado – Com esses aí, não podemos contar!

 

--Eu não sei o que me aborrece mais: essa situação toda que a gente vive ou aquela Pomba pornô de encruzilhada nos seus encalços! – cruzou os braços – Não bastasse vir te mandar foto de reganheta, ainda veio te dar ch*pão! Ai, que ódio! – percebeu uma figura que entrava no prédio usando um grande véu branco sobre a cabeça – Puta que pariu, que coisa bizarra é aquela que vem lá?

 

Camilla olhou na direção antes de responder: -- Ah, falando nela... Pombinha! – riu brevemente – Ela tá sendo acusada pelo roubo do papagaio de pelúcia do condomínio e desde então vive assim; pseudo disfarçada! – riu mais uma vez

 

--Pois foi muito bom ela chegar! – semi cerrou os olhinhos – Já tava mais que na hora de ter um papinho de mulher pra mulher com ela! – abriu a porta do carro – E não me siga, porque isso é só entre ela e eu! – saiu do carro

 

--Ah, tá, que eu vou deixar correr frouxo! – a professora saiu do carro também

 

--Boa noite! – Bianca impediu a porta do elevador de se fechar – Também tô subindo, queridinha! – olhava para a outra com a cara feia

 

--Boa noite! – Camilla entrou correndo e também cumprimentou

 

--Boa noite. – Pombinha tirou o véu e cumprimentou sem graça – Camilla, não apertasse o seu andar. – observou

 

--A gente vai pra um mais acima, honey! – Bianca respondeu sarcástica – Afinal de contas, eu tenho que ter uma conversinha com você! – encarava

 

--Eu hein! – Pombinha respondeu dando de ombros – Tenho assunto a tratar com a senhora não! – saiu rapidamente do elevador quando a porta se abriu

 

--Ah, tem! E como tem! – Bianca seguiu atrás

 

--Calma, gente, pelo amor de Deus! – Camilla pediu preocupada ao sair do elevador também

 

--O que é que você quer comigo, hein, dona adévogada? – Pombinha provocou ao parar diante da porta de casa – Não se garante e tá com medo de perder pra mim? -- debochou

 

--Medo?? – riu gostosamente – No way, honey! – respondeu sarcástica – O que eu quero é que você pare de se oferecer pra MINHA namorada e vá arrumar alguém desimpedida pra ch*par!

 

--Pois eu ch*po quem me der na telha, não é quem você quer! – retrucou desaforada

 

--Namorada minha você não ch*pa! – afirmou com o dedo em riste

 

--Ch*po, ch*po e ch*po! – gesticulou enfurecida – E você vai simbora daqui, magricela metida a besta! – deu uma peitada na advogada

 

--Ô, gente, dá pra falar mais baixo? – a professora pediu olhando para todos os lados – Brigando no corredor, que coisa mais feia! Negócio de tanta ch*pação! – ralhou com as duas, que a ignoraram

 

--Vamos ver se você vai ter condição de sair ch*pando tanto depois que eu te quebrar a cara, bicha descarada, rapariga beata, pistinga pornô! – deu um tapa forte no ombro da outra

 

--Piranhuda psicótica! – Pombinha agarrou nos cabelos de Bianca e as duas caíram no chão se engalfinhando

 

--Gente, vocês tão loucas?? – Camilla tentou apartar a briga mas uma pontada na lombar a deixou paralisada – Ai! – gem*u -- Ave Maria, não tô dando conta! – levou as duas mãos às costas

 

--Bandida, periguete de sacristia, Pomba rola dos infernos! – mordeu a mão da outra

 

--Ai, desgraça, bexiga maldita! – gritou – Louca, endiabrada! – continuava puxando os cabelos da advogada

 

“Elzira tinha razão!” – a morena pensou enquanto buscava dar um jeito na coluna – “Esse ano promete!”

 

Fim do capítulo