Sam

Levantei e fui ver onde a Bia e Diana estavam, para minha surpresa, as duas abraçadas no sofá da sala, adormecidas, na tv um desenho qualquer passava, um balde de pipoca pela metade, sorri, ela se mexeu e olhou sonolenta em minha direção.

– Acordou, amor!

– Desculpa, não foi minha intenção adormecer.

– Tudo bem, eu e Di nos divertimos – sorriu lindamente – sabe aquele ditado: “Quando o gato sai os ratos fazem a festa!”, foi exatamente o que aconteceu.

– Estou vendo! – Sorri me sentando ao lado delas, ela enlaçou minha cintura me dando um beijo suave.

– Passou o enjoo?

– Sim, graças a Deus, mas ainda me sinto meio mole – me olhou preocupada, sorri – deve ser normal, amor, no início da gravidez, andei lendo uns livros sobre.

– Gostaria de ler também, quero saber tudo para poder ajudar.

– Sabia que amo você?

– De verdade? – Sorriu marota, me dando outro beijo, dessa vez um pouco mais demorado. – Que tal voltarmos para a cama e te mimar até adormecer?

– Adorei essa ideia.

Ela pegou Diana no colo e seguimos para o quarto dela, sonolenta disse alguma coisa, mas voltou a dormir. Seguimos para o nosso, e fui mimada até o sono chegar, mas antes de adormecer, a Bia disse baixinho no meu ouvido.

– Amanhã, depois que voltarmos do médico, estava pensando em passarmos em uma loja para comprar algumas coisas para o bebê, o que acha?

– Não acha muito cedo, amor, nem sabemos o sex* ainda.

– Eu sei que é outra menina, tenho quase certeza.

Virei na direção dela, que sorria lindamente, perguntei:

– Como pode ter essa certeza?

– Intuição eu diria, mesmo assim, podemos comprar coisas com cores neutras, vamos amor, estou tão ansiosa para isso. – Como resistir aquele sorriso?

– Venceu, mas tem que prometer não exagerar.

– Não vou prometer nada, não quero que se decepcione comigo. – Fez bico, gargalhei beijando-a, e ficamos conversando até o sono bater.

No dia seguinte, quando saímos da clínica, com um sorriso de orelha a orelha a Bia me arrastou para o shopping do bebê, onde sem exageros, ela comprou quase a loja toda, fora os mimos para Diana, que segundo ela, para não ficar com ciúmes. Achei muito fofo, a Bia era uma excelente mãe, tudo o que ela fazia era pensando em Diana, certeza que nossos filhos seriam mimados aos extremos por ela.

O tempo foi passando, minha barriga aparecendo e cada dia maior, Bia me acompanhava em todos os exames, passou a devorar cada livro que encontrávamos sobre recém-nascidos, era uma expert, estava cada dia mais ansiosa. O quartinho do bebê estava pronto, ela, Diana e Isa, participaram de cada pedacinho montado, inclusive, uma parede elas mesmo pintaram, estava lindo, me emocionava cada dia.

Aliás, minhas emoções a flor da pele, chorava por qualquer coisa, a Bia e Diana eram muito paciente comigo, e os desejos? Não foram de total absurdos, apenas um que me deu vontade de comer açaí com manga, passava um pouco das três da madrugada, acordei salivando, ainda que tenha dito para a Bia que podia esperar o dia amanhecer, quem disse que ela me ouviu?

Saiu correndo em busca de saciar meu desejo, voltou passava um pouco das quatro, sabia que ela não acharia lugar aberto àquela hora para comprar, mas me enganei, e que bom, porque estava mesmo com vontade, uma barca de quase um quilo, com várias opções, devorei em poucos minutos, Bia dava uma colherada ou outra, mas acabei comendo tudo sozinha.   

Enfim, o grande dia estava chegando, optamos pelo parto natural, queria passar por aquela experiência por completo. Bia tentou me convencer, umas duas vezes depois que assistiu ao vídeo de um parto natural, não queria que eu sentisse tanta dor, mas a convenci do contrário, e ela acabou cedendo.

Estávamos a caminho da maternidade, minha bolsa estourou na entrada do prédio, minha médica já estava nos aguardando, seguimos para o quarto, ela me examinou e disse:

– Essa menina está com pressa de nascer.

– Co-como? – Bia gaguejou.

– Está quase coroando, em menos de uma hora vocês estarão com a filha de vocês nos braços.

Bom, como deu para perceber, minha esposa havia acertado, era uma menina, mas nem deu tempo de divagar aqui, vi a Bia ficar branca como uma folha, segurando minha mão, mas não cedeu, continuou firme e forte ao meu lado. Pensei seriamente que ela fosse desmaiar, mas me enganei, e como adorava me enganar com relação a ela. A vi cortar o cordão, ainda que branca, as mãos estavam firmes. Minutos depois, nossa menina estava em meu colo.

Eu poderia escrever um best-seller de mil exemplares e ainda assim não conseguiria colocar em palavras a felicidades que estou sentindo nesse momento. Sei que sou exagerada, em quase tudo que faço e sinto, mas essa sou eu, não posso mudar quem sou.

– Mamãe, to com sono.

Diana se aconchegou em meu colo, ficava tão feliz quando ela me chamava de “mamãe”, meus olhos brilhavam de felicidade.

– Vem cá, meu amor, vamos para cama.

Coloquei minha pequena na cama e fui para meu quarto, Sam estava dormindo, estava enjoada mais cedo, entrei sem fazer barulho, fui tomar banho e em minutos abraçava ela na cama, remexeu, mas não acordou. Fiquei ali no escuro, apenas a luz da lua entrava pela porta que estava semiaberta, pensando na felicidade que eu estava vivendo, e na sorte que tive em encontrar o amor da minha vida, agora repousando em meus braços, carregando nosso bebê.

Ah, ela estava com quase seis meses, e descobrimos que era uma menina, e pelo jeito seria enorme, Sam estava com um barrigão, apesar dos meses, nossa médica disse que era normal, até porque eu sugava tudo dela quando íamos nas consultas. Adorava escutar o coraçãozinho bater, um dos sons mais lindo que já ouvi.

Sei que Sam deve ter comentado, mas o quartinho da nossa menina estava pronto, mesmo contrariando os pedidos dela para esperar, Diana e eu e também com a ajuda de Isa, mobiliamos e pintamos o pequeno quarto de princesa, alguns presentes que comprei para Sam ir abrindo com o tempo, lógico que ela queria abrir tudo de uma vez, mas com jeitinho a fiz esperar, até porque, ela não queria montar o quarto ainda, foi um pequeno castigo, mas a compensei de outras formas.

A libido dela andava em alta, não vou reclamar, tenho receio as vezes por conta do bebê, mas como reprimir o desejo de uma mulher insaciável, falo de mim, claro. Porque é assim que me sinto perto de Sam, o desejo se aflora de uma forma que nem sei explicar. Muitas vezes ela me acordava no meio da noite propondo “indecências”, coisa que me despertava de imediato, só parávamos quando ela estava completamente saciada, o que as vezes não era possível, o sono a vencia em alguns momentos e continuávamos no dia seguinte.

Enfim... eu sou uma mulher realizada e ansiosa para pegar no colo nossa pequena menina logo, estava contando os dias.

A nossa volta estava tudo maravilhosamente indo bem, meus avós cada dia mais apaixonados, viajando sempre que podiam. A P&H Coffee, já era uma das maiores empresas de Café do mundo, importando e exportando para todos os lugares, ganhamos vários prêmios nos últimos anos, e caminhando para abrir mais duas filiais, uma em Minas, Belo Horizonte e outra no Nordeste, na Bahia, quase divisa com Pernambuco, até o meio do ano vamos inaugurá-las.

Minha vida, profissional e pessoal, estavam maravilhosamente bem, as vezes sinto medo, de tanta felicidade, mas reconheço que mereço, depois de tanto batalhar para chegar onde cheguei.

– Bia... – Sam sussurrou sonolenta.

– Oi, amor!

Abriu os olhos preguiçosamente, sorri, dificil não fazer diante de tanta beleza.

– Porque está sorrindo? – Se espreguiçou.

– Estou feliz, tenho motivos para sorrir – a beijei carinhosamente – porque acordou, está sentindo alguma coisa?

– Sim... – levantei assustada, ela me puxou – deita aqui sua doidinha.

– Precavida seria a palavra – sorri, ainda preocupada – o que está sentindo?

– Isso... – Ela pegou minha mão e levou até a barriga, nossa jogadora estava chutando, e forte.

– Nossa... – encantada sorri – ela chuta forte.

– Isso porque você não sente por dentro, parece que ela está querendo sair a força.

– Essa é minha garota... – sussurrei próximo a barriga de Sam, e parecendo que ela me escutava, chutava cada vez mais forte, sorri dizendo – parece que ela me ouviu.

– E ouviu mesmo, ela adora sua voz.

– Sério? – Perguntei emocionada.

– Sim, ela sempre se mexe quando você está falando perto, as vezes até quando ela está dormindo.

– Como sabe que ela está dormindo? – Perguntei interessada.

– Não sei dizer ao certo, ela é muito agitada, e quando fica quietinha, sei que está dormindo, aí você fala, ela acorda – passou a mão pela barriga até alcançar a minha – as vezes nem precisa ouvir sua voz, ela sente que está por perto e se agita.

Sem perceber meus olhos se inundaram, chorei de emoção, fui boba eu sei, mas aquela informação me deixou extasiada, meu coração batia descompassado.

– Você me faz tão feliz, sabia?

– Que bom, por que quero retribuir a felicidade que você é na minha vida.

A beijei carinhosa, palavras naquele momento não eram mais necessárias. Minutos depois ela adormeceu, e eu também... ainda sentindo nossa menina se agitar em sua barriga.

Os dias foram passando... semanas... meses...

Enfim, nossa menina estava sendo colocada nos braços de Sam... não tem outra forma de dizer o quanto ela era linda... gritando em plenos pulmões, Giovanna chegou para completar a nossa felicidade.

Minutos depois ela foi colocada em meus braços, nada no mundo me preparou para aquele momento, quando senti as batidas do coraçãozinho dela bater junto ao meu, o olhar curioso dela em minha direção, meu sorriso bobo mesclado com lágrimas, sussurrei:

– Seja bem-vinda, meu amorzinho – como se ela estendesse o que eu dizia se agitou em meu colo, olhei para Sam, quase sem palavras – ela é perfeita, obrigada pelo presente, meu amor.

Sorriu apenas, estava cansada... foi tudo muito rápido, num minuto estávamos em casa e no outro com nossa filha nos braços. A enfermeira pegou a Gio, e a levou, Sam estava sendo preparada para ser levada para o quarto, ela precisava descansar. Não queria sair do lado dela, mas precisava, para dar a notícia para o pessoal lá fora. Quando Diana me viu, veio correndo para meus braços.

– Nós já ganhamos um bebê?

– Sim, minha pequena, ela está com a mamãe agora, daqui a pouco você vai conhecê-la.

– Oba, obaa...

– E aí, Bia? – Luiz perguntou preocupado.

– Sam foi perfeita, nossa menina nasceu saudável e enorme, ambas estão bem.

– Graças a Deus! – Ele me puxou para seus braços, emocionado me dando parabéns, aliás, todos vieram até mim me parabenizando, até meu avô chegar e me abraçar emocionado.

– Parabéns, cariño, vocês merecem toda a felicidade do mundo.

– Obrigada vovó, posso dizer que sou a mulher mais feliz e realizado desse mundo.

Ele me abraçou forte, chorei em seus braços, todos muito emocionados, o momento era propício para isso. Enfim... ela chegou para nos completar.

Rapidamente eles entraram para falar com Sam, ela precisava descansar, mas todos queria conhecer a pequena Giovanna. Diana ficou encantada, chorou querendo ficar, mas a convenci de ir com o vovô, porque nem com os tios ela queria ir. Cerca de duas horas depois, Sam repousava no leito, com os olhos fechados, mas sabia que ela estava acordada, e eu com nossa filha no colo. Sim, eu estava babando a “cria”.

Logo a pequena começou a se agitar e entreguei a Sam, queria mamar. Minha esposa como se fosse expert no assunto, alimentava nossa filha, enquanto eu a observava de perto.

(...) algumas semanas depois...

– Hei, minha pequena, porque está chorando? – A peguei no berço, ninando-a em meus braços, ouvi quando ela começou a resmungar, levantei antes de Sam, ela estava dormindo, coisa que há dias não conseguia fazer. – Será que eu posso ajudar você nesse momento?

Parou de chorar agitando os bracinhos, sorri sussurrando para ela que me olhava, os olhos com a mesma tonalidade do meu, avaliando se chorava ou não, felizmente ela se satisfez comigo, por algum tempo, pouco eu diria, o que ela queria eu não poderia dar. Então, para não tirar a mamãe da cama, seguimos para nosso quarto, e para minha surpresa, Sam estava acordada.

– Ela não se satisfez com você? – Sorriu esticando os braços e pegando nossa menina, fiz bico dizendo.

– Eu tentei, mas ela sabe muito bem o que quer e quando quer.

– Pois é, muito parecida com você nesse quesito.

– Determinação é um ponto forte nas mulheres da minha família. – Me olhou arqueando a sobrancelha, sorri.

Sentei ao lado delas, fazendo carinho na pequena cabecinha, a porta se abriu e por ela entrou Diana arrastando seu ursinho favorito, subiu na cama engatinhando até meus braços, sorri perguntando:

– Que foi, meu docinho, porque está acordada?

– Eu queria ver a Gio, mas ela não estava no bercinho.

– Ela está mamando, meu amor, porque queria vê-la? – Sam perguntou curiosa.

– Eu estava com saudades...

Olhei para Sam sorrindo emocionada, antes de Gio nascer, conversamos muito sobre Diana ter ciúmes da bebê e sobre como iríamos suprir essa necessidade, mas nos enganamos completamente. Ela recebeu a irmã tão bem, cuidadosa e gentil o tempo todo, parecia que se conheciam há anos e não dias.

Ela deitou em meus braços, com os olhinhos fechados e segurando a mão da irmãzinha, dormiu serena. Passava um pouco da meia noite, Sam bocejou também, com sono, deitou e encaixou nossa pequena em seus braços, fechou os olhos, sorri feliz... as três mulheres da minha vida, adormecidas ao meu lado.

O coração batia acelerado, inspirei fundo olhando para o céu agradecendo a Deus pela oportunidade de ser feliz com as pessoas que eu amava... O sono começou a bater, coloquei Diana na cama e deitei a encaixando em meus braços, Sam abriu os olhos, me olhou por alguns segundos e sussurrou:

– Eu amo você!

– Também te amo, meu amor... – passei a mão em seu rosto – durma que eu cuidarei de vocês.

Apenas balançou a cabeça concordando, adormeceu segundos depois, fiquei um tempo olhando para elas... dizem que a felicidade não tem nome, eu discordo a minha tem e se divide em três... Sam, Diana e Giovanna... os amores da minha vida...

Não sei se dormi e estava sonhando, ultimamente a realidades mesclava muito com meus sonhos... mas acreditem, se fosse um sonho eu desejava não acordar nunca...

“El amor debe ser como el café. Fuerte, caliente y diário!”

(...)

Fim do capítulo