CAP. 48 - Tudo desandou
Bia
Meus dias não foram dos melhores, nas primeiras semanas, tomando remédio e precisando de repouso, mas ficar em casa não me ajudava muito, estava ficando agoniada, apesar da casa não ficar vazia. Meu avô contratou uma equipe que não parava dia e noite, procurando aquela maluca.
Sam, estava cada dia mais deprimida, apesar de não demonstrar na minha frente, via o abatimento dela, estava preocupada, tinha até conversado com o Luiz e a Claudia a respeito disso, eles também tinham observado isso nela. Não sabia mais o que fazer para ela melhorar, e isso me deixava impotente.
Os dias foram passando, meus hematomas foram sumindo, e a dor amenizando mais, ainda assim, meu avô não me deixava voltar a trabalhar, apesar de ir alguns dias na empresa, era apenas para assinar alguns documentos e logo voltar para casa.
Três meses se passaram, tudo parecia estar indo bem, a maluca da ex-mulher de Sam, havia sumido, mas isso nos deixava ainda mais em alerta. Estava com planos de ir viajar com minhas meninas, sair por quinze dias, para ver se Sam melhorava, e Diana se distraia, porque apesar de ser nova, estava sentindo toda a tensão dos adultos.
Fiz o convite e elas aceitaram, estava tudo certo para sairmos naquele final de semana, estávamos fazendo planos e vi que Sam estava mais animada, isso me deixou feliz, apesar de ver a tristeza em seu semblante, estava animada que essa viagem pudesse ajudar, e se fosse o caso, esticaríamos alguns dias, aproveitando que a pequena maravilha entraria de férias naquela semana.
Estava no escritório, na casa de meu avô, tinha finalizado uma ligação quando ouvi vozes do lado de fora, fui ver o que estava acontecendo, Bernard estava sentado no sofá abalado, Ângela próxima a ele, parecia desesperada.
– O que aconteceu? – Ele estava ferido.
– Desculpa, menina Bia, eu não pude evitar, levaram Eliza e a pequena Diana.
Meu sangue sumiu do rosto, tive que me apoiar no sofá para não cair, quase sem voz perguntei:
– Como isso foi acontecer?
– Fomos fechados, duas quadras antes de chegarmos ao Lion, duas pessoas saíram encapuzados e uma terceira ficou no carro, pelo que vi. – Ele estava com a mão na cabeça, havia sido atingido. – Abordaram o segurança, derrubaram ele enquanto uma mulher falava, pediu que Eliza e Diana saíssem do carro e fosse com ela, eu tentei evitar, levei uma coronhada e cai... Desculpa, dona Beatriz.
– Você não teve culpa, Bernard, mas com essas informações podemos ter quase certeza de quem fez isso.
Minha respiração falhou, perguntei do segurança, ele disse que tinha sido levado para o hospital, não demorou muito os policiais chegaram fazendo perguntas, fiquei olhando o pobre senhor que estava abalado, pouco depois Sam chegou e correu para meus braços, perguntando preocupada:
– O que aconteceu, Bia?
– Amor, fica calma, – ela me olhava com aquele ar apavorado – Bernard foi abordado por algumas pessoas encapuzados, levaram Diana e dona Eliza.
– O-o que?
Ela olhava para meu avô que estava logo atrás, Ângela que a olhava com os olhos rasos d’água.
– Bia, o que você está dizendo? – Luís que estava com ela, se aproximou segurando a irmã.
No instante seguinte, Sam estava em meus braços, desmaiada, segui com ela até o sofá, onde a coloquei deitada, alguém trouxe água, e quando ela finalmente abriu os olhos estava em prantos.
– Calma, meu amor, vamos dar um jeito nisso, vou trazer a pequena Diana de volta para você, eu prometo – ela me olhava como se não me visse – a polícia está aqui, a delegada que é uma amiga minha e encarregada do caso está a caminho, o restante do pessoal está procurando por elas. Já alertamos os seguranças, vamos aguardar para ver o que eles vão dizer, por favor.
Bernard chegou, ele estava na outra sala contando o que havia acontecido para a polícia, narrou tudo o que aconteceu, Sam levantou e pegou a bolsa, estava saindo quando a segurei.
– Aonde você vai?
– Vou atrás da minha filha... – ela me olhou e desabou em lágrimas novamente, segura em meus braços, sussurrei.
– Amor, não sabemos onde ela está e com quem.
– Eu sei com quem ela está... com aquela maluca da Rebeca, ela voltou para atormentar minha vida e tirar o meu bem mais valioso.
– Sam, amor! – Segurei em seu rosto fazendo com que ela olhasse para mim. – Não temos certeza, precisamos nos preparar para o que está por vir.
– Bia, quanto mais esperamos...
– Eu sei, não parece, mas estou tão desesperada quanto você, por favor, se você continuar assim, não saberei agir com segurança.
A segurei firme em meus braços, ficamos assim até o pessoal chegar, Mariana, a delegada, especialista em casos de sequestros, e junto com a polícia, traçaram planos para achar e negociar com essas pessoas.
A cumprimentei quando chegou, apresentei Sam, narramos o que aconteceu e sobre Rebeca, sabíamos que era a principal suspeita, mas sem provas ainda.
O desespero de Sam me quebrava ao meio, fiquei abraçada a ela, até que conseguiu adormecer, meu avô havia chamado um médico amigo nosso, para cuidar de Bernard, aproveitou e aplicou um calmante em Sam. Os policiais entravam e saíam da sala, aquela movimentação toda, todos estavam fazendo sua parte, mas era como se ninguém fizesse nada, o dia passou se arrastando, a noite chegou.
Consegui convencer Sam a tomar banho e comer alguma coisa, ela estava totalmente indefesa, nunca na minha vida imaginaria que algo assim aconteceria na nossa família, nem que a dor fosse terrível. Tentava não demonstrar perto dela, mas desabava quando ela dormia ou não estava ao meu lado.
Nossa família estava toda reunida, todos faziam o que podiam, estávamos sofrendo, mas nada comparado a dor que Sam estava sentindo naquele momento.
A casa de meu avô estava cheia de gente, todos concentrados em nós e em seus equipamentos, fiquei o tempo todo com Sam, seu irmão e cunhada estavam por perto também, não demorou muito seu avô também chegou oferecendo ajuda.
Todos estávamos esperando uma única ligação, eles nos alertaram a esperar, porque isso poderia acontecer.
A noite passou arrastando, tentei fazer Sam se alimentar, mas ela se recusava, estava calada e em seus olhos o medo e o desespero de uma mãe, Cláudia com jeitinho conseguiu fazer ela tomar um chá e comer um pedaço de bolo, isso já passava das três da manhã.
A madrugada se arrastou, o dia passava lentamente e só no final daquela noite, uma ligação nos chamou atenção. Era o celular de Sam que tocava, sem esperar um terceiro toque ela atendeu.
Gritou... chorou... implorou... e no fim concordou com alguma coisa, quando ela abaixou o celular, estava ao lado dela perguntando:
– O que aconteceu?
– Ela quer fazer uma troca.
– Dinheiro? Quanto ela quer? Dou um jeito de arrumar em menos de uma hora.
Sam me olhou e depois para o irmão que estava do outro lado, sem nenhuma esperança na voz, disse apenas:
– Ela me quer.
– Não... está fora de cogitação, você não vai, – passei a mão pelo cabelo desesperada – Sam, pelo amor de Deus, diga que você não concordou com isso.
– É a minha filha, se for preciso dar a minha vida pela dela, eu o farei.
Não me olhava, senti lágrimas pelo meu rosto, tentei me aproximar dela, iria convencê-la de que aquilo era loucura, ela estava rodeada dos detetives, estavam fazendo perguntas, mas ela não sabia muita coisa, pelo que entendi alguém ligaria mais tarde passando mais coordenadas.
Não ficaria ali vendo aquele absurdo, segui para o escritório de meu avô, Sam não me olhava e nem me deixava se aproximar, passei a mão em algumas coisas e comecei a quebrar, assim como aquelas peças estavam aos pedaços no chão, meu coração estava no meu peito, peguei a chave do meu carro, porém, Claudia me alcançou quando estava chegando nele:
– Aonde você vai?
– Sam está doida, não está pensando com clareza, como pode tomar uma decisão dessa sem ao menos falar comigo?
– É a filha dela, como acha que ela se sente?
– Certamente como eu, achando que pode perder as duas coisas mais preciosa da minha vida.
– Bia...
– Como posso viver sabendo que ela vai se sacrificar por conta de uma louca que está a solta, colocando em risco a vida de muitas pessoas? – Inclinei meu corpo soluçando. – Ela nem se quer consegue me olhar.
– Bia, olha para mim... – levou alguns segundos até conseguir localizar ela, sem que minhas lágrimas impedissem. – Sam se sente culpada pelo que aconteceu, sempre se sentiu, ela acha que se não tivesse se apaixonado, nada disso teria acontecido.
– Ela não pode pensar assim... Deus, eu nem posso fazer nada para amenizar essa dor.
– Precisa ficar ao lado dela, mostrar que está lá com ela, protege-la de si própria, da sua insegurança e de seus medos.
– Como eu faço isso... – quase suplicando.
– Volte lá, e esteja ao lado dela, mostre que você está lá.
Inspirei fundo, limpei meu rosto e voltei para o interior da casa junto com Claudia, Luiz veio ao nosso encontro, abraçou a esposa.
– Ela não quer falar comigo, está decidida.
Olhei para ele, segui para a sala onde Sam estava, ela levantou o rosto ao notar minha presença, vi um brilho em meio a tanto sofrimento, me aproximei e a puxei para meus braços, disse apenas:
– Seja qual for a sua decisão, eu vou estar ao seu lado te apoiando em tudo o que precisar.
– Oh, Bia...
Desabou em meus braços, estava sendo tão difícil lidar com aquilo, a mulher que eu tanto amava sofrendo daquele jeito e eu sem muito para aliviar um pouco daquela dor.
SamUma hora estava rindo e me divertindo no Lion, na outra estava entrando na casa do Dr. Paulo e recebendo a pior notícia que alguém poderia receber. Fiquei sem chão, embora todos estivesse a minha volta eu me sentia sozinha e perdida.
Horas agoniada sem saber notícias, e depois daquela ligação, me senti mais sozinha do que nunca. Tinha tomado a decisão de me entregar em troca da minha filha e de Eliza, meu irmão não tinha concordado assim como a Bia, mas no final, ela acabou cedendo e ficando do meu lado. Sabia que estava agindo contra seu instinto, mas agradeci a força que estava fazendo por não brigar comigo, estava sem forças para essa discussão, e dizer não para ela era tão dificil quanto ter tomado a decisão de ir até Rebeca e me colocar no lugar de minha filha.
Quando recebi a ligação com as coordenadas, informei a todos e seguimos para lá. Bia calada ao meu lado, me abraçando, apesar de pedir para ela não ir, não queria que ela visse o que iria acontecer, sabia muito bem o fim daquilo desde o instante em que tomei a decisão, mas estava tranquila, antes eu do que qualquer um que eu ame, estávamos naquela situação por que fui covarde e não soube pedir ajuda quando pude.
Enfim, seguimos para o local, quase fora da cidade, poucas casas em uma estrada de barro, pouco movimentada, estávamos na metade da tarde, o dia nublado, triste, assim como eu estava. Paramos uma quadra de onde estava a casa, parecia abandonada, olhei e meu corpo inteiro gelou, estava prevendo o que viria.
Fechei os olhos e olhei para a Bia, que disse com os olhos cheio de lágrimas:
– Promete que vai se cuidar?
– Prometo, meu amor.
– Te amo tanto, Sam... – Me abraçou forte, não dissemos mais nada, apenas fiz força para afastá-la de mim, virei as costas e não olhei para trás, ou sucumbiria as lágrimas e não teria coragem para fazer o que tinha que ser feito.
Deixar a Bia naquela van, foi de longe a coisa mais dolorosa que eu fiz em toda a minha vida, ela sabia que algo ia dar errada, não era preciso falar, estava bem claro e diante de nossos olhos. Me mantive fria, uma calma que estava longe de mim, todo meu corpo tremia, não era por escolha dela, ou nem estaríamos ali, mas precisava ir buscar a minha filha e acabar com aquele pesadelo.
Segui com a delegada ao meu lado, para a casa onde Rebeca estava e antes de nos aproximar, parei falando:
– Mari, conheço a Rebeca, sei que ela está nos vigiando. Então não apareça comigo lá, fica de uma distância considerável para que ela não a veja. Você é policial, sabe que se ela desconfiar de alguma coisa...
– Ela pode quebrar o acordo, eu cogitei isso, mas prometi a Bia...
– Eu sei, mas você deve fazer a coisa certa, a Bia é inteligente saberá entender e nos perdoar depois.
– Será que vai mesmo? – Sorri e ela me abraçou desejando boa sorte e dando a ordem: – Roberto, leve a Samantha até o limite determinado, eu ficarei dando cobertura, assim que ela entrar na casa fique em alerta, me entendeu?
– Sim senhora!
– Boa sorte, Sam!
– Obrigada Mari, cuida da Bia... E se acontecer alguma coisa comigo...
– Hei moça, não vai acontecer nada.
– Assim espero, mas se acontecer, diga a Bia que ela foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, e diga também que eu sinto muito por tudo isso.
– Tenho certeza que você mesma dirá isso a ela Sam, vai dar tudo certo, tenha fé!
Concordei apenas com a cabeça e ela sorriu, voltei a caminhar com os dois policiais. No minuto seguinte estava diante da porta e batendo, Rebeca abriu e entrei, a vi com uma arma em uma das mãos e no outro braço gesso em quase toda a parte, irônica ela sorriu dizendo:
– Bem-vinda a minha festinha particular, meu amor!
Fim do capítulo
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