CAP. 47 - Consequências
Bia
Estava meio consciente, apesar de toda a dor que estava sentindo, escutei a conversa de Sam com os policias. E depois seguimos para o hospital, onde apaguei, assim que entrei na emergência, acordando horas mais tarde já dentro do quarto. Minutos depois que a enfermeira saiu, meu avô, Ângela e Sam entraram e vieram ao meu encontro, minha pequena praticamente se jogando em meus braços chorando.
Odiava vê-la daquela forma, mas nada do que eu fizesse ou falasse a acalmava, ainda estava sentindo muita dor nas costas, apesar da minha barriga ter sofrido o maior impacto na hora da briga, duas costelas foram quebradas, provavelmente na hora em que aquela maldita me chutou enquanto estava no chão, felizmente nada mais grave aconteceu, inspirei fundo, logo a medicação que a enfermeira me deu começou a fazer efeito.
Ângela e meu avô foram embora, Sam ficou comigo, mas assim que eles saíram acabei adormecendo e quase nem conversamos direito. Acordei por volta das dez, olhei em volta e lá estava ela olhando pela janela, seu semblante cansado e mesmo de longe consegui identificar seus olhos vermelhos, me mexi e ela olhou em minha direção, sorri:
– Ainda está aqui, amor!
– Até parece que ia sair do seu lado, achei que me conhecesse mais.
Sorri sentindo novamente o carinho dela em meu rosto, e com aflição vi mais lágrimas, passei a mão em seu rosto dizendo:
– Nunca vi alguém tão pequeno, produzir tantas lágrimas assim – sorriu, ainda que triste, mas lá estava o sorriso da mulher que eu amava, inspirei fundo dizendo – dói saber que está sofrendo, cariño.
– Estou feliz que você está bem, apesar de estar toda machucada, meu amor, sinto muito por tudo isso...
– Shhhhh... Você não teve culpa, não fala assim.
– Se eu tivesse tido coragem para dar um basta quando tive oportunidade, mas fui covarde...
– Sam, olha para mim, amor! – Ela não conseguia me olhar nos olhos, segurei em seu rosto fazendo com que nossos olhos se encontrassem: – Não fala assim, você foi muito corajosa essa noite, a forma como bateu naquele cara para me defender, quase o desacordou – sorri, e ela finalmente jogou a cabeça para trás gargalhando – olha só que linda você é sorrindo, não chore mais.
– Você é uma boba, sabia?
– Às vezes eu tenho que praticar – sorri, ela se aconchegou em meus braços, sussurrei – como você está?
Não respondeu de imediato, ficou brincando com meus dedos, e quando me olhou, vi o medo em seus olhos:
– Estou assustada Bia, não vou mentir para você, estou com muito medo.
– Eu também estou, mas não por conta daquela maluca, e sim porque ela chegou perto o suficiente de você duas vezes e a machucou quando prometi que nunca mais a deixaria fazer.
– Você estava lá amor, e me livrou dela, por sua causa, não houve “estragos” maiores, não sei o que aconteceria se ela tivesse conseguido o que queria.
– Enquanto não pegarem aquela mulher, você não ficará mais sozinha, promete que vai me deixar cuidar de você, que vai deixar eu tomar a frente disso tudo.
– O que vai fazer Bia? Por muito pouco aquela maluca tira a sua vida na minha frente, eu não posso... não quero... eu te amo, não vou suportar perder você mais uma vez.
Agora seus soluços e lágrimas inundavam a minha alma, ela estava tão fragilizada, tão indefesa. A abracei forte, sussurrando carinhosamente em seus ouvidos, tentando acalma-la de certa forma, até que finalmente sucumbiu ao sono e acabou adormecendo em meus braços. Fechei os olhos e fiz uma oração!
Meu Deus, preciso de forças nesse momento! Forças para proteger a minha família! Forças para suportar essa dor e me recuperar o mais rápido possível! Forças para não cair em tentação e acabar fazendo uma loucura, caso eu encontre aquela mulher outra vez! Preciso sentir o senhor ao meu lado, para conseguir fazer as coisas certas... Por favor, eu humildemente lhe peço, proteja as pessoas que eu amo, principalmente Sam e sua filha! Amém!!
Fechei os olhos e adormeci, foi uma noite complicada, apesar dos remédios, ainda sentia muita dor. No dia seguinte o médico aconselhou que eu ficasse mais um dia de repouso no hospital, estava preocupado e com isso nos deixava preocupados também. Mas felizmente, tudo deu certo, além das visitas de meus amigos e da pequena Maravilha, Isa, dona Maria e seu José também vieram me ver, Luiz e Claudia que estavam o tempo todo ligando para saber de Sam, tão preocupados quanto eu.
O cuidado deles me fazia sentir forças para me recuperar, apesar da minha vontade, não demonstrava diante deles a minha dor. Quando o médico me deu alta, fui direto para casa de meu avô, esse que fez questão de nos receber lá, aliás, praticamente nos intimou a ficarmos com eles.
Com ajuda de Sam e da pequena Maravilha, chegamos no quarto, sentei, mas eu precisava mesmo era de um bom banho, longe daquele hospital e daquele cheiro de éter que me deixava zonza, quando finalmente Sam se sentou ao meu lado, perguntei:
– Você poderia me ajudar com o banho?
Sorri faceira, ela me olhou mordendo os lábios sussurrando em meus ouvidos.
– Nem precisava pedir, meu amor, sabe que estou com saudades de ver esse corpo todo molhado.
– Está me excitando! – sorri e ela me empurrou de leve dizendo ao se levantar:
– Pode parar, sabe que não vai poder “praticar” certos movimentos um bom tempo.
– Nem se tomarmos muito cuidado? – fiz bico com ela me ajudando a tirar minha roupa, balançou a cabeça, disse apenas: – Você sabe que lutei bravamente para conseguir obter meus direitos.
– Direitos? – gargalhou e a acompanhei, lógico que estava brincando e ela sabia disso.
Inspirei fundo com ela me ajudando a entrar no box, ligou o chuveiro a água caiu sobre mim, quente. Senti o toque suave dela em minhas costas, sussurrei:
– Está muito feio?
Senti os olhos dela sobre os meus, um brilho passou nos dela, mas se recuperou e disse sorrindo:
– Um pequeno hematoma, mas você logo, logo ficará boa, meu amor!
Desviou os olhos dos meus, segurei seu rosto fazendo com que me olhasse, a chamei baixinho:
– Sam?
– Oi, amor!
– Você está bem?
– Não! – sorriu triste, beijou meus lábios ternamente: – Mas vou ficar, eu prometo.
– Não gosto de ver você assim, sabe disso.
– Você está assim, toda machucada por minha causa, Bia – e lá estava as lágrimas que insistiam em cair, molhando o rosto perfeito dela – não consigo suportar, sabendo que está sentindo tanta dor...
– Eu nem estou sentindo dor, sabe que estou me aproveitando de você para que me dê banho – sorriu.
– Para! Não fica fazendo graça!
– Pelo menos você está rindo, melhorou um pouco. – Sorri e ela me olhou séria, finalizamos o banho e voltamos para o quarto, quando me deitei, ela voltou para o banheiro, tomou banho e não demorou muito deitava comigo. Estava com os olhos fechados quando senti a cama ceder, mas os abri dizendo: – Amor, não quero que fique se culpando pelo que aconteceu, não ficarei bem achando que está remoendo essa culpa por dentro, promete?
SamEra tanta dor dentro do meu peito, que temia não suportar por tanto tempo. A Bia estava dormindo, seu semblante embora tranquilo, a dor quando se mexia ou se virava. Lágrimas brotavam de meus olhos por saber que ela estava daquele jeito por minha culpa, nada nem ninguém conseguiria tirar aquela sensação de dentro de mim.
Ouvi minha filha rir alto em algum lugar da casa, passei uma água em meu rosto e segui até onde eles estavam. Luiz e Claudia estavam na sala, se levantaram quando me viram entrar, vieram ao meu encontro e me abraçaram, acabei chorando mais com eles tentando me confortar.
– Ela está dormindo? – Dr. Paulo perguntou preocupado.
– Está sim senhor, tomou banho e os remédios e adormeceu.
– Que bom, assim podemos conversar tranquilamente.
Olhei para ele e vi seriedade em seus olhos, sentei ao lado do meu irmão que me abraçou forte, sorri para ele aceitando seu abraço, inspirei fundo.
– Gostaria de pedir desculpa...
– Sam, para de se desculpar, você não tem culpa do que aconteceu. – Ângela me interrompeu.
– Sim, cariño, não foi culpa sua. – Dr. Paulo falou. – Você não tem culpa de ter uma doida solta por aí, agora gostaria que aceitassem meu convite para ficarem aqui até acertamos isso. – Ele cruzou as pernas elegantemente. – Contratei alguns detetives e reforcei a segurança aqui em casa e na empresa, amanhã faremos uma reunião e veremos a melhor forma de abordarmos isso.
Ouvi ele falar, mas a minha cabeça estava longe, a ideia de que tudo aquilo estar acontecendo por uma escolha errada que fiz, não aliviava em nada a sensação de estar impotente diante daquela situação.
– Gostaria de ajudar, se possível, tenho alguns amigos que são policiais que podem se juntar a equipe que o senhor contratou, falei com eles essa tarde, e concordaram em ajudar.
Luiz estava apertando meus ombros, me trazendo de volta a realidade.
– Claro que sim, toda ajuda é bem-vinda, e você e sua família estão convidados a ficarem conosco, se quiserem, sei que Samantha irá ficar melhor se souber que todos estão em segurança. – Meu irmão olhou para e esposa e concordou, depois me olhou e sorriu.
Embora estivesse ali, minha cabeça estava em outro lugar, eles conversaram por algumas horas, até tentei interagir, mas concordando ou não com algumas coisas. Depois de um tempo, acabei me retirando, precisava colocar Diana na cama e ela precisava de banho, mas Eliza já tinha se adiantado, o que seria de mim sem ela me ajudando.
Fiquei um pouco com minha filha no quarto ao lado onde ela dormia com Rui, conversei com Claudia e depois segui para o quarto onde a Bia estava, tomei banho e deitei com ela. Mais cedo ela comeu uma sopa que trouxe, precisava se alimentar, depois tomou a medicação e adormeceu novamente. Fiquei olhando-a dormir, até que abriu os olhos sonolenta, sorriu.
– Oi, amor! – Fez careta ao se virar. – Como você está?
– Eu quem deveria fazer essa pergunta, não? – Sorri triste, acariciando seu rosto. – Estou com uma dor no peito, ao ver você sofrendo assim. – Chorei.
– Hei! – Ela me abraçou, ainda que com dificuldade, sussurrando ao meu ouvido. – Não fica assim, meu amor, eu acabo ficando pior com você desse jeito.
– Desculpa, Bia...
– Para de se desculpar. – Tocou meu rosto me fazendo olhar para ela, limpou as lágrimas que caiam. – Você não tem culpa, e eu estou bem, já acabou.
Olhei para ela, sorriu tocando meus lábios com os dela, senti o cuidado e seu carinho em cada toque e gesto. Conversamos por alguns minutos, mas logo ela adormeceu e consegui cochilar depois de um tempo.
No dia seguinte foi aquela correria de gente entrando e saindo da mansão do Dr. Paulo, os policiais amigos de meu irmão e detetives que foram chamados, tentei não ficar por perto para não atrapalhar, mas precisava responder algumas perguntas deles. Só o fiz porque a Bia estava ao meu lado, mesmo não podendo, ela fez questão de participar de cada passo.
Os dias passaram, e voltei a minha rotina, trabalho e Lion, sempre acompanhada por alguém. Na empresa Dr. Paulo assumiu enquanto a Bia estava em casa, ia com ele as vezes ou com seguranças. Para o Lion, meu irmão e Claudia sempre estava comigo. Foram semanas e logo se tornaram três meses. Rebeca sumiu, não soubemos notícias dela, graças a Deus, mas isso não era um bom sinal, enquanto ela estivesse solta por aí, não iria sossegar.
Fim do capítulo
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