Capitulo 15
Por Isabela:
O sábado amanheceu com nuvens carregadas, e as gotas de chuva anunciaram um dia cinzento. Sentindo uma necessidade urgente de escapar do centro de Vintervile, decidi viajar para o interior e almoçar na casa da minha tia Raquel.
Ao entrar na casa acolhedora da minha tia, fui recebida pelo aroma inconfundível de um almoço caseiro. Após trocar algumas palavras com ela, a campainha tocou, e, para minha surpresa, ao abrir a porta, me deparei com Cássio e Lucas, com as roupas salpicadas de gotas de chuva.
Cássio, limpou o rosto molhado e brincou:
— Pelo cheiro, vejo que chegamos na hora certa!
Troquei um breve olhar com a tia Raquel, captando a surpresa e um certo desconforto nos olhos dela, reflexo do que eu mesma sentia naquele momento. Lucas, com um sorriso radiante, ergueu as mãos em um gesto exagerado e disse:
— Um vinho para Raquel e flores para o meu amor.
Forcei um sorriso educado, tentando disfarçar meu desagrado, e comentei:
— Achei que vocês só voltariam no final do dia.
Cássio riu e, olhando para Lucas e depois para nós, explicou:
— Essa surpresa faz parte do charme de Lucas. Acho que ele herdou isso de mim.
Minha tia, sempre a anfitriã perfeita, convidou todos para se juntarem à mesa. O almoço se desenrolou com Lucas empolgado, narrando sua recente viagem com o pai e os detalhes de uma reunião política ida qual haviam participado. Tentei parecer interessada, mas minha tia, sempre perspicaz, notou minha expressão de tédio e, aproveitando um momento a sós na cozinha, comentou com um toque de sabedoria:
— Minha querida, às vezes o amor traz tempestades não anunciadas. Mas tenha paciência, afinal, quando a chuva passa, o ar fica mais fresco.
Olhei para a tia Raquel intrigada. Seus olhos azuis, normalmente expressivos, refletiam uma mistura de curiosidade e admiração, como se ela tivesse captado algo que eu tentava esconder.
Voltamos para a sala com um café, e Cássio, curioso sobre os próximos passos no hospital, tentou sondar-me:
— Então, alguma novidade sobre a “intrusa” do hospital? Ela comentou algo sobre a reunião desta semana?
Suspirei, sem esconder minha impaciência, e respondi:
— Não comentou nada, Cássio. E hoje é sábado, então não pretendo falar de trabalho no meu final de semana.
Ele inclinou a cabeça, esboçando um sorriso amarelo:
— Claro, minha querida. Eu entendo.
Notei que ele trocou um olhar com Lucas.
Na cozinha enquanto eu lavava a louça, Lucas se aproximou, tentando entender meu comportamento. Com um tom preocupado, ele perguntou:
— Algum problema, amor? Você parece um pouco... distante.
— Só estou um pouco cansada. A semana foi uma correria.
Percebendo minha falta de receptividade, Lucas tentou uma abordagem mais leve:
— Entendi… Mas então, sobre a reunião da semana que vem... o que você acha que Helena está planejando?
Minha irritação cresceu, e não consegui mais esconder minha frustração:
— Lucas, por favor, não quero falar sobre trabalho agora. Eu não sei o que passa na cabeça daquela mulher. Aliás, nem sei por que estamos discutindo isso de novo.
Lucas, notando a insatisfação na minha voz, recuou:
— Tudo bem, amor. Vamos mudar de assunto. Como foi a sua semana?
— Como eu disse antes, de muito trabalho. O hospital estava uma loucura.
O silêncio desconfortável que se seguiu deixou claro que a tentativa de aliviar a tensão havia falhado. Lucas, ainda tentando quebrar o clima pesado, sugeriu:
— E que tal eu dormir no seu apartamento neste final de semana, amor? Podemos relaxar juntos.
Pensei por um momento, encarando Lucas, antes de responder:
— Na verdade, Lucas, vou passar o final de semana com minha tia. Ela tem se sentido sozinha.
Lucas, surpreso, tentou disfarçar sua decepção:
— Ah, entendi. Bom, se é isso que você quer, eu respeito. Afinal, sua semana no hospital deve ter sido desgastante, e ficar aqui no interior com essa chuvinha vai ser bem relaxante.
Apenas assenti, agradecendo silenciosamente por ele compreender, embora o clima entre nós continuasse um pouco tenso. Decidi inventar que minha tia estava se sentindo solitária, pois sentia que precisava de um tempo longe. Ttambém optei por não contar para Lucas sobre a cirurgia e minha saída de ontem. Não sabia como ele reagiria sabendo que Helena e eu tínhamos entrado em um acordo de paz pelo bem do hospital.
Já fazia aproximadamente uma hora desde que Cássio e Lucas tinham saído da casa da minha tia Raquel. Eu estava imersa em pensamentos aleatórios, quando ouvi uma buzina que me tirou do transe.
Era o rapaz do queijo, parado em frente à nossa casa. Minha tia, que estava observando pela janela, não hesitou em ir até o portão.
— Isa, vou ali no portão pegar um queijo — anunciou, aumentando a voz para que eu, que estava em outro cômodo, pudesse ouvir.
Como eu não respondi, ela saiu de casa para se encontrar com o rapaz e eu fui atrás dela.
Paradas no portão e olhando para o jovem, minha tia pediu o seu queijo preferido e comentou:
— A manhã de vendas deve ter sido fraca com essa chuva toda, né?
— Sim, de manhã nem saí por causa da chuva, mas agora à tarde, depois que parou, melhorou um pouco. Acabei de vender para a Dona Geralda, que estava com uma visita chique para o café.
Curiosa, minha tia perguntou sobre a identidade da visita:
— Visita chique? Quem era?
O rapaz, rindo, respondeu:
— Era uma moça bonita, chegou num carro chique, todo sujo de lama. Ouvi a Dona Geralda chamando ela de Helena.
Ao ouvir o nome de Helena senti um frio na barriga. Percebi que os olhos da minha tia Raquel brilharam ao ligar os ponto de quem era a visita..
Minha tia pagou o rapaz, entrou em casa animada e sugeriu casualmente:
— Já que a chuva parou, que tal aproveitarmos para dar uma passada na casa da Geralda?
— Na casa da Geralda? — perguntei, olhando para ela com um ar sério.
— Sim, Isa. Preciso levar uns pães que ela encomendou, e, lá fora, o céu já está se abrindo de novo. Fora que sim, quero conhecer essa filha do falecido Dr. Miguel faz tempo e você bem sabe.
— Tia, eu não acho que seja uma boa ideia.
— Nossa! O clima entre vocês está tão ruim assim?
— Na verdade, ontem fiz uma cirurgia com ela e nos entendemos. Mas vocẽ percebeu como o Lucas e o Cássio estão em relação a isso então..
— Deixa disso, menina. Vamos comigo na Geralda levar esses pães e logo voltamos. Vai ser vapt vupt. Prometo! A Geralda vai matar a fome do meu pão e eu a curiosidade — minha tia disse, me olhando de um jeito engraçado..
Ri do comentário dela e mesmo acreditando que ia me arrepender pela escolha, assenti à sugestão.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Elliot Hells
Em: 19/11/2023
Agora a cobra vai fumar!
Rapaz que fim doloroso para uma leitora.
A pergunta é; se Helena foi sem carro, ta sem caro. A loira vai levar uma possivel Helena para casa
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