Capitulo 8
- 20% do Hospital? Perguntou Marcos perplexo com as informações que a amiga compartilhou sobre sua viagem para Vinterville.
- Sim, Marcos. No mínimo é suspeito. Apesar de não ter tido a melhor relação do mundo com meu pai, eu deveria ser sua única herdeira. Helena comentou ganhando a completa atenção de Marcos.
Quando retornou à Porto Grande, Helena sentiu a necessidade de compartilhar tudo o que havia acontecido com alguém de confiança, alguém que pudesse oferecer uma perspectiva objetiva sobre a situação. Assim, ela ligou para seu amigo e colega de trabalho Marcos, e marcou um encontro em um barzinho que os dois costumavam frequentar.
- Te confesso que a ficha ainda não caiu, sabe... Meu pai está morto. Não consegui me despedir dele. Não lembro nem da voz dele direito. Não tive acesso ao seu prontuário médico e estou cheia de dúvidas sobre o que fazer em relação ao hospital. Me sinto culpada. Não chorei, nem sei se vou chorar. É uma sensação estranha.
- Helena, o fato do seu pai estar morto não é motivo pra você se sentir culpada. Se vocês se afastaram e mantiveram esse afastamento foi uma decisão dos dois lados. Não entendi ainda suas dúvidas em relação ao hospital. Você tem uma carreira aqui, Helena. Tem seus casos aqui. Inclusive, a Bia perguntou por você. Disse Marcos soltando uma leve risada.
Helena sorriu de maneira maliciosa. Refletiu que em Porto Grande sua vida social era movimentada, do jeito que ela gostava. Tinha muitos contatos e amizades com várias mulheres da cidade. Sua carreira ia de vento em poupa e trabalhava no hospital mais qualificado de Porto Grande, como médica-chefe do setor de cardiologia. Se mudar para uma cidade do interior e comandar um hospital, mudando toda a sua vida era uma verdadeira loucura, ou não?
- Sabe, Marcos, minha cabeça está tão cheia ultimamente que mal tenho tempo para pensar em... mulheres. Helena mentiu descaradamente, sabendo que a médica loira de Vinterville frequentemente ocupava seus pensamentos. Tudo isso em Vinterville... a herança, a carta do meu pai pedindo que eu fique na cidade e comande o hospital, toda essa sombra sobre a política local... Tudo isso mexeu comigo.
Marcos olhou para Helena com empatia, reconhecendo o peso que ela estava carregando.
- Entendo, Helena. Mas lembre-se de que a corrupção na política existe em muitos lugares, e não é algo que você possa mudar sozinha. Você tem uma carreira brilhante, e fazer a diferença na medicina já é uma forma de causar impacto. Não se sobrecarregue com o peso do mundo não, minha cara.
Helena assentiu. No entanto, ela sabia que havia algo mais, algo que a atraía para Vinterville.
A noite se desenrolou em conversas descontraídas entre Helena e Marcos, enquanto o ambiente do bar se enchia de risos e música suave. Mais uma bebida havia sido servida, e Helena começava a se sentir mais leve, menos tensa em relação a tudo. O convite de Marcos para estender a noite em um barzinho mais movimentado pairava no ar, como uma tentação para cair na noitada e se perder na companhia de uma linda mulher. No entanto, Helena conhecia a si mesma e sabia que adiar suas decisões não fazia parte de seu feitio.
- Marcos, eu agradeço sua companhia e esta noite foi tudo que eu precisava, mas eu tenho que ir para casa. Tenho muito o que resolver.
Marcos assentiu compreensivamente, sabendo que, apesar da diversão, havia assuntos que Helena precisava resolver sozinha. Ele se levantou e a abraçou.
- Tudo bem, Helena. Boa sorte com tudo. Se precisar de mais conversas, estarei aqui.
Helena sorriu e despediu-se de Marcos antes de se dirigir ao seu apartamento em Porto Grande. Lá, ela se encontrou sozinha na sala, onde a luz suave criava uma atmosfera tranquila. Ela pegou a carta de seu pai mais uma vez, lendo as palavras que ele havia deixado para trás. Um misto de emoções a invadiu.
À medida que a noite avançava, Helena decidiu tomar um banho quente. A água morna envolveu seu corpo, e em meio àquele momento de relaxamento, uma lembrança de sua infância surgiu. Ela tinha cerca de 6 anos de idade, e seu pai a havia levado ao hospital onde ele trabalhava. Apesar de adverti-la de que o lugar era pouco higiênico, ele a deixou vestir seu jaleco, que ficava absurdamente grande em seu pequeno corpo.
Enquanto a água escorria sobre ela, Helena permitiu que as lágrimas se misturassem com a água, liberando as emoções que estavam represadas. Apesar de todas as falhas de seu pai, suas traições à mãe e suas tentativas de limitar sua vida ao que ele considerava correto, Helena sabia que havia amor ali, amor que sobrevivera ao teste do tempo e à distância. Após anos sem mensagens, ligações ou visitas, aquele amor ainda estava ali, e sempre estaria, independentemente das escolhas que ela teria que fazer.
Fim do capítulo
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Elliot Hells
Em: 29/10/2023
A... viu só Bela, a Lena chorou pelo pai dela, só ocorre que você não viu... só isso.
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