Capitulo 9
Em Porto Grande, minha vida estava uma correria constante, cheia de compromissos e responsabilidades. A carta do meu pai continuava a me assombrar, e os eventos recentes, além das obscuras conexões políticas da pequena cidade, estavam sempre em minha mente.
Mantive contato frequente com Geralda e Isaque Peixoto, o advogado de meu falecido pai. Queria garantir que tudo estivesse em ordem e que minha ausência não causasse problemas em Vintervile.Durante uma análise minuciosa da documentação, Isaque descobriu uma cláusula que estabelecia: “Na ausência de um dos sócios em reuniões ou em votações, os demais acionistas poderiam realizar decisões internas e operações contratuais, minimizando atrasos nos serviços prestados e, consequentemente, proporcionando o melhor atendimento possível aos pacientes.”
Essa cláusula, que havia passado despercebida até aquele momento, era potencialmente perigosa. Percebi a gravidade dessa descoberta. Minha presença no hospital era crucial para manter o controle sobre a instituição, e a cláusula poderia permitir que decisões fossem tomadas sem minha autorização.
Compreendi que a situação era mais complexa do que imaginava e que precisaria agir com cautela. Diante disso, decidi que não poderia mais deixar minha ausência em Vintervile perdurar. Meu compromisso com o hospital era inegável, e a cláusula tornava essencial que eu estivesse presente para garantir minha influência na instituição.
Quando cheguei a Vintervile, a sala de reuniões do hospital estava carregada de tensão. Percebi que os papeis da renovação do contrato já estavam assinados por Cássio, e minha presença ali claramente apanhara todos de surpresa.
Lucas tentou romper o silêncio, com a voz ligeiramente trêmula:
— Olá, Helena! Bem-vinda novamente! Sente-se, por favor. Vou te atualizar. Estávamos fazendo a renovação do contrato do hospital com a prefeitura. Você deve ter recebido o documento pelo seu advogado, não é?
Eu já tinha lido o contrato e sabia que as cláusulas definem que a prefeitura tem um número de atendimentos pré-estabelecidos mensalmente, incluindo consultas de rotina e cirurgias. A distribuição desses pacientes e a agenda dos médicos do hospital eram, em grande parte, determinadas por alguém relacionado à prefeitura.
— Sim, percebo que todos estão apressados para que a renovação não demore — disse, observando atentamente as reações ao meu redor.
Lucas estava nitidamente nervoso. O prefeito Cássio tentava disfarçar a ansiedade e a raiva contidas por minha presença, enquanto Isabela mantinha o olhar abaixado, claramente constrangida com minha presença na sala.
O prefeito tentou argumentar com um tom conciliatório:
— Helena, então vamos agilizar isso. O contrato encerrará amanhã, e a população mais carente de Vintervile precisa desses atendimentos.
— Pretendo ser breve. Sei da importância dos atendimentos, mas proponho adiar a renovação do contrato. Meu advogado já foi contatado para modificar algumas das cláusulas.
Lucas, de pronto, questionou:
— Mas como? Por quê?
— Simples, Lucas. Como médica, sei da importância das triagens para estabelecer a ordem de prioridade durante as consultas. Então, vou sugerir que…
O prefeito tentou argumentar novamente:
— Helena, as coisas funcionam bem como estão. Pense nas pessoas que precisam desses atendimentos. Você não pode adiar isso.
Isabela, que permanecera passiva durante a conversa, não conteve mais seu descontentamento e disse com rispidez:
— Se você veio para Vintervile sem se importar com o bem-estar dos moradores, talvez nunca devesse ter entrado neste hospital.
Inclinando-me, olhei nos olhos de Isabela e respondi com firmeza:
— Vou garantir que os pacientes que precisarem de atendimentos emergenciais não fiquem sem assistência no hospital. Também vou analisar os exames e conversar com os médicos responsáveis para priorizar cirurgias em casos urgentes. Apenas estou pedindo um prazo para ajustar o contrato. Vamos nos esforçar para que tudo ocorra da melhor maneira possível. Não quero ter que usar minha posição como sócia majoritária deste hospital para impor nada.
Isabela ainda me observava, como se tentasse ler meus pensamentos, e isso me causava um desconforto crescente. Com um menear de cabeça, fechando os olhos e virando a cabeça ligeiramente, ela indicou que aceitava a proposta, embora eu percebesse claramente que não concordava plenamente com a situação. O prefeito e Lucas permaneciam em silêncio, mas a insatisfação estava estampada em seus rostos.
— Eu ainda não concordo. O contrato é o mesmo do ano anterior — disse Cássio, me olhando fixamente.
— Eu respeito seu posicionamento, mas mantenho o meu, prefeito. Como disse antes, não quero usar a minha posição — respondi, sustentando a troca de olhares com ele.
— Olha, Doutora Helena...
— Cássio, como você mesmo me disse uma vez... vamos ser mais diplomáticos. Se a Helena não vai prejudicar o fluxo de atendimentos, acredito que podemos adiar a renovação até que ela tenha tempo de ler o contrato e fazer as mudanças que achar convenientes, desde que não haja prejuízo para ninguém— interveio Isabela, me pegando de surpresa.
Percebi que Lucas e Cássio trocaram um breve olhar.
— Está certo. Faremos como as senhoritas querem. Adiaremos a renovação do contrato. E se o que tinha para hoje era isso, peço licença. Tenho muito a fazer na prefeitura — disse Cássio, lançando um olhar rancoroso a Isabela e nem se dando ao trabalho de me olhar.
Lucas esperou o pai sair e foi até Isabela, sussurrando algo em uma intensidade que foi impossível não ouvir:
— Mais tarde, falamos sobre isso, amor.
Ele também saiu da sala sem me olhar, deixando apenas Isabela e eu. Ela começou a juntar os papeis da mesa, evitando meu olhar. Após terminar, levantou-se e dirigiu-se até a porta. Segurei seu pulso levemente, fazendo-a olhar em minha direção. Pude ver seus olhos azuis lacrimejando, e isso despertou um desconforto em mim.
— Eu quero agradecer. Não queria começar um tumulto em plena segunda-feira e também não vim com a intenção de prejudicar ninguém — disse, com sinceridade.
Ela me olhou com desprezo e, ao sair da sala, respondeu:
— Eu espero que não.
Fim do capítulo
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Elliot Hells
Em: 30/10/2023
Pelas barbas de Merlin!!! Não posso acreditar!!!!
Isadora... mãe de Isabela? A conexão ????????????.
Então, Miguel teve que cuidar da pequena Bela, aww meu Deus.
Mas agora me pergunto, se for isso. A Jovem Helena quando a Isabela nasceu, tinha 5 anos... então quando a Bela ficou sem os pais com 5 anos, Helena estava com 8 anos? E nessa época... estava com a mãe? A mãe será que faleceu, porque Helena perde a mãe também. Caramba, agora estou com muitos pensamentos.
Mas de fato, seria significativo os 20% para a Bela e bem justo. Outro ponto é que a Helena pode acalmar o coração de que não foi a Bela que matou o pai dela.
Embora... meu nariz sente o cheiro de quê Miguel pode ter sido sim assassinado e não somente uma obra qualquer de infarto. Algo que simule um acidente cardíaco, não sei. E não estou dizendo que a Bela foi incompetente..
Longe de mim isso. Acho ela muito capaz, mas minha gente, o sogro dela ne flor que se cheire não. Vai que esse homem tem envenenando anualmente o pobre do Miguel?
Bom, minha primeira teoria da conspiração
Só sei que estou com orelha bem em pé.
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