Capitulo 26
Vencendo a preguiça, Nahima finalmente abriu os olhos e espreguiçou rodando o corpo de uma ponta à outra da cama. Com uma sensação de desalento, notou que estava sozinha. Rolou para o lado que Walkiria tinha ocupado, e sorrindo, abraçou o travesseiro. Cheirou-o inúmeras vezes e entregou-se às melhores lembranças. Um lado seu que não reconhecia muito bem, experimentava desapontamento por ter acordado sozinha, mas um outro e esse sim, facilmente identificável, estava feliz pelas horas memoráveis que tinham passado juntas. Estava mais feliz ainda pela iniciativa ter partido dela. Num impulso sentou-se na cama e desatou a rir.
-Ela me confunde, desafia, tira do eixo, me faz delirar de felicidade e eu só quero mais. Nahima...Nahima onde terá parado o teu juízo? - E continuava a rir de si mesma.
Apesar da mania de sempre ver o copo meio cheio, tinha uma pontinha de insegurança que não lhe era muito comum, tentando enevoar seus pensamentos. Não entendia muito bem como funcionava a cabeça de Walkiria e muito menos o que ela sentia. Não era doida e nem cega para não perceber que elas tinham uma conexão boa, mas queria mais. Queria entendê-la ao pormenor e saber o que esperar. Essa constatação a deixava com uma sensação de angustia porque não se lembrava assim, vivia as situações e ponto. Com Walkiria era diferente. Walkiria era muito diferente e não era apenas por ser uma mulher. Ela tinha camadas, nuances que intrigavam e instigavam. Suas ações muitas vezes a confundiam, mas o olhar esclarecia tudo, ou pelo menos o que realmente importava.
-Mais tarde vou ao hotel...tenho trabalho a fazer. Hum-hum, e ela daqui a pouco vai me achar uma carente que não consegue se contentar com um jantar divino e uma noite inesquecível. Juntas. JUNTAS!!! - E ria sem parar.
-Ah, mas nem vai levantar suspeitas da minha condição de louca apaixonada, afinal, vou passar uma semana hibernada no trabalho. E ela também gosta de estar comigo...claro que gosta, daquela forma que me deixa confusa e vulnerável, mas eu sei que ela gosta...
Pulou da cama com a nítida sensação de estar pisando nas nuvens e foi lavar o rosto antes de sair para preparar o seu café. Estava com fome, de comida e de vida.
*****
Nahima olhou para todos os lados de sua casa à procura de uma explicação para o que via à sua frente. A explicação, claro, seria a presença de Walkiria em algum canto daquele lar. Mas dela nem sinal. Olhou embevecida para a mesa perfeita de café da manhã. Absolutamente tudo o que gostava, mas o que chamou ainda mais a sua atenção foi o esmero, tinha até um vaso com flores frescas e coloridas. Sem saber se sentava para comer, ou procurava por Walkiria, decidiu correr até à porta de entrada e abri-la sem muito estardalhaço. Tinha medo de não ter ninguém do lado de fora. Walkiria era imprevisível e tinha verdadeira fixação pelo hotel.
-Ela jantou comigo...dormiu aqui. Que mais posso querer? - Devaneou encostada à porta.
Abriu-a e experimentou coisas novas e muito potentes. Walkiria, lia sentada na cadeira de balanço. Ela não tinha ido embora. Estava tranquila, e lia serenamente. Estava à espera, sem pressa, despida da sensação de que o mundo precisava de sua ação em algum lugar.
Nahima respirou fundo e engoliu uma sensação de choro que insistia em tolher-lhe o pensamento conexo. Obedecendo à sua alma impulsiva, andou depressa para junto de Walkiria. Por trás da cadeira de balanço, beijou-lhe a testa deixando-se demorar no carinho.
-Bom dia! - Walkiria sorriu e Nahima sentou ao seu lado, grudando os corpos.
-Bom dia! Pensei que não estavas mais aqui...que bom que me surpreendeste.
-Nem vou retrucar porque tens razão. Estou sempre na correria e com mil demandas na minha cabeça. Mas hoje, quis agir de forma diferente. Tentando colocar em prática os vossos conselhos.
-Delegar...relaxar um pouco...
-Hum-hum, isso mesmo. Peguei esse livro na tua estante e já me apaixonei nas primeiras páginas.
-Ele á maravilhoso. Eu te empresto. - Sorriu e ganhou um beijo na bochecha. - E aquela mesa de café? Meu Deus, eu pensei que estivesse ainda a sonhar.
-Exagerada! Era o mínimo que poderia fazer depois daquele jantar de ontem...
-Foi bom?
-Tudo perfeito...como sempre.
Entreolharam-se por alguns minutos. Os sorrisos nas faces gritavam o que palavras talvez não fossem suficientes para expressar.
-Não me acostumes mal...vou querer uma mesa assim todos os dias. Café de hotel 5 estrelas!
Riram alto.
-Para mim não é nada demais, sou da área e modéstia à parte, eu aprendi muito bem essa matéria. E a propósito, estou com muita fome.
-Eu também...acordo sempre assim, quando gasto muita energia durante a noite.
-Exausta? - Wiki provocou puxando-a um pouco mais para si.
-Não despertes a leoa se não tens intenção de domá-la.
Riram às gargalhadas.
*****
Walkiria observava o balançar das árvores por trás do seu loft e permitia que seus pensamentos vagassem quase que em sintonia com a dança das folhas. Sentia-se leve, sem pesos que muitas vezes ela mesma inventava para seus ombros.
Estava na sua pausa depois do almoço, que vale ressaltar, era uma novidade recente. Permitia-se algumas pausas, por menores que fossem. Agora, era lei descansar um pouco entre as horas corridas do dia.
Estendeu o corpo no deck de madeira e desatou a rir sozinha. Na mente, o banho de chuva de horas atrás na entrada da casa de Nahima. Conversavam sobre o livro que ela tinha pegado para ler e de repente começou a cair uma chuva com alguma intensidade. Nahima puxou-a para fora da casa e pularam na chuva como crianças felizes. Largos minutos dançando na chuva, rindo às gargalhadas entre beijos e abraços. Tão bom. Maravilhoso! Não se lembrava de nada assim ao longo de sua vida. Pelo menos, não desde que assumira que adultos não podiam se permitir a determinadas posturas. Que ridícula! Ria de si mesma. Ouviu um latido mais forte e soergueu-se.
-Ei, lembrou que tem casa? - Abraçou o cachorro que ofegava. - Alguém te deu banho? Nadaste na cachoeira? Como pode estar tão cheiroso se é um mundano? - E beijava o pelo do cão que retribuía o carinho com ganidos.
Zuri ladrou alto e encarou-a.
-Hmm, será que já tinhas passado por cá e dessa vez eu não estava? Sabe Zuri, eu tenho umas novidades para te contar. Tomei banho de chuva hoje com roupa e não me irritei, pelo contrário.
Calmo, Zuri parecia entender o relato entusiasmado de sua dona.
*****
Walkiria conversava com seu novo funcionário, honrando seu ritual diário de passagem pela receção durante cada turno. Sempre passava por alguns minutos para saber se tudo estava em ordem, e, embora já estivesse mais tranquila em relação aos funcionários mais antigos, André era relativo novo na função, logo, exigia um pouco mais de supervisão. Talvez fosse exagero de sua parte, mas preferia sempre pecar por excesso do que ser pega de surpresa.
-Tudo tranquilo, Dona Wiki. Ninguém reclamou de nada e acabei de receber duas boas gorjetas para nosso cofre coletivo. - Sorriu satisfeito.
-Boa! Vou aproveitar para fazer algumas ligações no escritório e depois se precisares de mim, estarei em casa. Mas já sabes...
-Apenas se eu não conseguir resolver o problema e se mais ninguém da equipe tiver uma ideia brilhante.
-Exatamente!
-Boa tarde!
Foram surpreendidos pela chegada de alguém. Na realidade, André ficou de prontidão, porque Walkiria reconheceu a voz mesmo estando de costas.
-Boa tarde, Nahima. Veio para as fotos, certo? A Dona Greta informou-se e pediu que facilitasse tudo para a senhora.
-Boa tarde, Nahima. - Wiki usou um tom cordial, mas manteve sua postura profissional. - Já está tudo alinhado com a Greta?
-Sim. Vou fotografar as melhorias no espaço de eventos e alimentar as redes.
-Ah, ficou tudo ainda mais lindo e profissional. Os clientes do inicio da semana foram só elogios. - Regozijou-se André.
-Esse meu pessoal é muito emotivo. Não há nada de extraordinário. - Walkiria manteve sua postura mais comedida.
-Vamos lá, André? Quero ver com meus olhos.
-Vamos! Dona Wiki, posso?
-Claro! Eu fico aqui pelo tempo que estiver ausente.
Eles saíram da receção e Walkiria soltou o ar. Riu ao notar que estava com respiração quase presa. Nahima tinha esse poder e tantos outros. De repente, sentia uma espécie de agitação na alma, mas não era nada que a atordoasse, pelo contrário, era uma agitação boa. Vontade de estar junto. De novo. Era isso. Tinha a mania de acreditar que estava tudo controlado, que não ansiava pela presença dela, mas então o que justificava aquele desassossego bom? Sorriu e colocou-se por trás do balcão da receção, adotando uma postura mais séria. Não demorou dois minutos para voltar a rir sozinha...
*****
-Muitas fotos boas? Confirmaste que não tinha nada demais... - Sorriu para Nahima que se sobressaltou ao ser surpreendida.
-Confirmei que és muito modesta, ou, gostas de mimos como sempre me acusas.
Riram muito.
-Gostaste?
-Sim. Vou fazer uma promoção digna do novo espaço. Ah, eu tive uma ideia...mas acho melhor discuti-la com a Greta que não corta as minhas asas.
-Meu Deus, que imagem que as pessoas têm de mim. Será que é legitimo? - fez uma expressão dramática, arrancando uma risada de Nahima.
-Ah, a senhora fica ainda mais sexy quando adota a postura de séria e distante.
-Eu sempre sou muito discreta à frente dos meus funcionários...- Baixou o tom de voz com receio de ter exagerado.
-Estás certíssima! Tens planos para daqui a vinte minutos?
-Não...porquê?
-Vou resolver algo rápido aqui no meu telefone e depois podemos dar uma volta de carro? Queria te mostrar uma coisa...um lugar. Acho que ainda não conheces. Prometo trazer-te sã e salva para a tua casa e em horas decentes. Amanhã tenho o dia cheio e preciso estar descansada.
-Será que tem uma mensagem subliminar nessa frase ou estarei em delírio?
Riram às gargalhadas e Walkiria aproveitou o embalo para roubar-lhe um beijo. Depois do ato, olhou para os lados experimentando uma certa inquietação.
-Estamos sozinhas. Relaxa!
Riram.
*****
Os dias corridos transformaram-se em semanas e a vida seguia o seu curso. A diferença para Walkiria, estava no fato de nunca mais ter dormido sem um encontro, ainda que muitas vezes virtual, com Nahima. Falavam-se todos os dias e muitas vezes, Walkiria a surpreendia ao ligar em momentos em que, por lei, estaria hibernada no trabalho. Achava louvável e valorizava muito o respeito que Nahima tinha pelo seu ritmo de trabalho acelerado e quase obsessivo. Ela nunca tentava contato em momentos de pico, mas Walkiria, que se descobria cada vez mais maleável, muitas vezes infringia suas próprias leis. Andar por caminhos nem sempre lineares, tinha o seu mérito.
Deitada na sua cama e com o sono vagando por alguma galáxia distante, Walkiria perdia-se em elucubrações. De repente, estava a traçar paralelos entre histórias tão díspares. Pelo menos tentava. Sua cabeça dava nós e acabava sempre em altas risadas. Não tinha como comparar o incomparável. Em que circunstancia poderia, por exemplo, comparar seu quotidiano com Nahima, ao quotidiano com Dália? Jamais! Ao lado de Dália sentia-se sempre madura e pouco tentada a melhorar algum aspeto. Não havia espaço para nada disso. Nunca existira uma relação. Provavelmente não existia nada muito profundo com Nahima, mas com certeza, seus sentimentos, anseios e perspetivas eram outros. Com Dália, muitas vezes sentia-se a perder tempo. Gastava com ela as sobras dos seus dias. Nahima...ponderava, tinha receio de estar a perder o controle. Existia fragmentos de controle, que demandava muito esforço. E sobre tempo, queria mais. Sabia-se capaz de inventá-lo. Criá-lo. Mais horas, minutos, com ela.
Saber sempre quais seriam as próximas palavras, ou atitudes de Dália, culminavam em progressivo desgaste. Uma monotonia que tinha o poder de não causar mais nada, nem mesmo desinteresse. Um verdadeiro nada diante de insistências quase infantis. E o paradoxo vinha a galope quando ansiava por uma rotina com Nahima. Ela nem sabia o que aquela palavra significava. Talvez essa ansia devesse ao fato de saber-se sem muito tempo. Nada nela lembrava uma rotina desinteressante. Tudo vibrava a descobertas, novos olhares sobre a mesma coisa. Queria...ah, não ousava querer...ou ousava? Que confusão. Que delícia de batalha mental. Para ser sincera, pelo menos consigo mesma, que medo de se perder na imensidão do novo.
Riu nervosa e decidiu ouvir música. Escutou Falling or flying de Jorja Smith num looping infinito até ser vencida pelo sono.
*****
-Ei chefe, tens 10 minutos? - Greta brincou, sabendo que Walkiria não gostava de ser tratada assim.
-Eu até tenho, mas pela chefe não posso responder.
Riram juntas.
-A senhora está mais espontânea e tolerante ao humor dos demais mortais. Devo dizer que gosto.
-Ah Greta, para de ser doida. Sou a mesma Walkiria de sempre...
-Hum-hum, claro. - Riu. - Limonada, vamos?
-Sim, mas para onde?
Greta empurrou Walkiria que apenas se deixou ir.
-O que estamos a fazer aqui? O lounge não te apraz mais?
-Claro que sim, mas podemos mudar de vez em quando. O que vês?
-Greta, podes ser mais clara? O que vejo? O de sempre.
-Walkiria...
-Vejo árvores lindas e gigantescas, sombra boa...ouço pássaros, barulho da natureza, montanhas além, céu azul, nuvens fofas e com formatos instigantes, o sol iniciando o seu movimento para baixo...sei lá...
-A tua descrição ainda é mais perfeita. Walkiria que não presta atenção em nada que não seja salvar as finanças do hotel, viu essa beleza toda...
-Greta, me chamaste aqui para me insultar? - Perguntou com as mãos no quadril e fingindo indignação.
Riram às gargalhadas.
-Queria ouvir-te, ver a tua reação diante desse cenário...
-Estamos no nosso hotel...
-Sim, e quantas vezes paraste aqui nesse lugar para ver além do obvio?
Walkiria parou para refletir e caminhou em direção às árvores. Concluiu que raramente passeava por ali, primeiro porque o espaço não ficava no circuito que a levava do loft à administração e vice-versa e depois por estar quase sempre muito ocupada com coisas práticas. Esse belo cenário, ficava nas traseiras do hotel, num pedaço de terreno muito bom que lhes pertencia, mas que ainda não tinham pensado numa forma de rentabilizar.
-Qual é a ideia?
- A mulher prática grita nela.
Risos.
-Por enquanto, queria apenas a tua opinião e confesso que superou as minhas expetativas. Não te imaginei tão profunda e detalhista. Adorei! Brevemente teremos novidades. - Sorriu.
-Coisas da dupla Greta e Nahima. Estou certa?
Greta riu tanto a ponto de ficar vermelha.
-Sabes que sou aberta a novas ideias e à Nahima não falta criatividade e senso de oportunidade...
-Que dupla! - Sorriu relaxada.
-Muitas novidades para o próximo ano...
Walkiria pensou que Nahima não estaria por ali no próximo ano, mas não verbalizou. Aquele pensamento causava desconforto, mas disfarçou bem, rindo das loucuras de Greta.
-E a nossa limonada que nem chegou aqui?
-Releve, estamos cheios de hóspedes e servi-los bem, é a nossa absoluta prioridade.
-Concordo!
Um pouco mais tarde, tomaram a limonada no lounge. A conversa fluía entre trabalho e algumas amenidades.
-Nunca pensei que esse ano me traria tantas novidades...
-A senhora está numa relação boa, com um namorado improvável. Está a construir um lar maravilhoso onde nos apetece estar e permanecer...realmente, quem diria. Estavas há tanto tempo sozinha...
-E minha seta apontada para homens sem futuro? Se bem, que eu também não ajudava muito...
-Quando vale a pena, nós nos esforçamos para melhorar. Às vezes, nem é necessário um esforço abissal...o caminho parece óbvio e claro...
-Meus dias aqui são leves, ainda que haja um desafio ou outro. Meu regresso a casa é sempre celebrado. Ontem, Gary preparou um jantar sublime para nós. Ele fez um prato típico do Mali e eu comi como se não houvesse amanhã. Ao final, ouvi a declaração de amor mais perfeita. À maneira dele. Perfeita! Ganhei um anel e uma obra de arte...- A emoção ameaçava embargar-lhe a voz.
-Ele me enalteceu de tal forma que tive que fazer força para não flutuar. Nunca tive nada parecido e confesso que não acreditava que ainda fosse possível.
-Estás a viver o que mereces e que estás pronta para desfrutar. - Walkiria abraçou a amiga e sócia.
-Sabes o que é bom também? Ter esses momentos mais descontraídos com a minha sócia, sem que ela esteja sempre a olhar para o relógio.
-Ah, já não estamos com a corda ao pescoço...- Walkiria tentava desvirtuar o que a amiga realmente dizia.
-Já vivemos tantas fases...essa tem sido muito boa. Acredito que nós duas crescemos muito nesses últimos meses. Aprendemos a ouvir mais uma à outra, respeitar as nossas diferenças...
-Creio ter sido eu a aprender isso tudo. Tu sempre foste muito boa ouvinte e parceira. Já eu...
-Wiki, onde nós estaríamos hoje se não fosse a tua garra? O teu senso de responsabilidade, disciplina?
-Funcionámos bem juntas. - Sorriu.
-Muito bem, dona Walkiria. Estar apaixonada deve ajudar um pouco...
-E quem está apaixonada? Não fales asneiras.
-A Nahima está e acho impossível que resistas à nossa italiana. Acreditas que Gary, o meu Gary tímido e de poucas falas mais ousadas, ele já brinca com ela sobre estar apaixonada por ti. Outro dia foi engraçado, estávamos em casa, eles numa reunião virtual com uma galeria na Suíça e eu a fazer minhas coisas. Tu me ligaste no momento de uma pausa da reunião e a Nahima aproximou-se, querendo saber se estavas por perto. Os olhos dela brilhavam...
Walkiria sorriu e não teceu qualquer comentário.
-Esse fim de semana, ela estará por cá. Concluíram a imersão que nunca mais acabava. Sábado vai ter um almoço lá no espaço do Arnaldo...já sabes, festa que não acaba nunca mais, comida boa, atmosfera maravilhosa e gente interessante. Os colegas de trabalho de Nahima já confirmaram presença. Ela nem precisa, nossa italiana adora uma festa.
Riram.
-Temos que deixar tudo em ordem por cá...
-Mas isso não será uma questão. Nosso time é muito bom e a senhora já aprendeu a delegar e principalmente a se divertir.
-Sim senhora, dona Greta. Temos mesmo novos ares por aqui.
Riram da provocação de Walkiria.
*****
Com um olhar de relance no relógio do escritório, Walkiria concluiu que ainda tinha tempo para adiantar mais algumas tarefas antes de sair para o almoço. Sabia de antemão que não seria apenas um almoço. Nunca era em se tratando dos eventos de Arnaldo. Nahima que, uma hora atrás ainda estava na Cidade Velha, tinha implorado que ela fosse. Como se fosse necessário. Claro que iria, pelo ambiente sempre agradável, pelas iguarias gastronómicas e por uma razão ainda mais relevante, voltar a estar no mesmo espaço físico com a mulher que ocupava grande parte dos seus pensamentos.
Já não estavam juntas há pelo menos cinco dias. Perdera a conta das horas...
Por onde andaria a sua convicção de que a solitude era o melhor dos mundos? Claro que ainda prezava por seus momentos sozinha, mas era bom estar em silêncio ao lado de Nahima. Tardes lendo, cada uma o seu livro no mais absoluto silêncio e depois a partilha de um chá com torradas embaladas por uma conversa despretensiosa. Suspirou e rapidamente se aprumou ou nunca mais sairia do escritório.
*****
O evento estava no seu auge quando Walkiria chegou. Nada diferente do que era habitual, uma verdadeira festa disfarçada de almoço de sábado. Cheiro de comida na grelha, risadas, muitas conversas, barulho de copos, empregados de mesa indo e vindo e gente, muita gente. Nem sinal de Nahima, Greta, Gary, mas em contrapartida já havia cumprimentado muita gente, de pessoas da vila a funcionários do hotel. Que balburdia!
O telefone vibrou e era Greta avisando que chegaria em breve. E ela que achava que era a retardatária. Embrenhou-se mais para o quintal e ali sim estava cheio de gente. Pessoas felizes, gargalhadas e brindes, muitos brindes. Viu Nahima. Estava rodeada de gente, mas o olhar ficou preso naquela figura. Como sempre. Ela tinha um copo de mojito numa mão e gesticulava com a outra contando alguma coisa. Walkiria reconheceu Valdir e mais um rapaz da equipa de trabalho. Havia mais gente na mesa oval com vários lugares, mas a sua atenção centrou-se numa jovem que ria muito. Ela estava sentada ao lado de Nahima e pareciam intimas. Pensou que pudesse ser a outra mulher da equipa de trabalho, só podia ser. Nahima falava muito dela...Yasmine. Sim, era esse o nome dela. Inteligente, alegre, espevitada e excelente profissional. Nahima esquecera apenas de mencionar que ela era linda. Levemente atordoada, viu-se salva com os cumprimentos de Diana e o namorado. Não demorou muito e juntaram-se à conversa primas de Diana, outros prestadores de serviços pontuais do hotel. Uma autêntica algazarra salvadora. Walkiria detestava a sensação de não saber o que fazer. No meio da conversa aleatória, cujo teor não fazia a menor ideia, sentiu um toque nas costas que lhe arrepiou até a alma. Nahima cumprimentou-a com cordialidade e discrição. Cumprimentou o resto do grupo com a alegria de sempre e pousou os olhos sobre Walkiria. Aquele misto de discrição com fogo nos olhos, deixou-a ainda mais atordoada.
-Estou ali com meus colegas e mais alguns amigos dos colegas. Tem lugar para mais uma. - Sorriu, com a boca, olhos. O corpo todo era um convite.
-Já vou! - Sorriu de volta. Por dentro estava em ebulição. Saudades dela. Tantas que percebeu que as mãos tremiam. Tratou de enfiá-las nos bolsos das calças.
A moça chamou por Nahima e ela foi. Walkiria continuou a ouvir a conversa das pessoas ao seu redor enquanto tentava entender o frenesi do corpo e da alma. Sabia que precisava recompor-se, vestir a sua armadura. Por onde andaria Greta? Permaneceu ali. Era mais seguro. Tentou olhar para a mesa de Nahima, mas havia muita gente pelo caminho. Chegou mais alguém e a conversa continuou. Vitor, um guia freelancer do hotel, entregou-lhe uma cerveja. Bebeu quase num gole único. Nem se lembrou que não gostava do gosto de cerveja. Deu umas voltas pelo recinto, desesperadamente à procura de Greta. Desde quando precisava de bengalas? Os questionamentos vinham, mas ela não prendia a atenção em nenhum deles. Por algum momento, as risadas felizes desviaram-lhe a atenção do seu desassossego. Cumprimentou o anfitrião e ficaram à conversa sobre mais um projeto que ele queria desengavetar. Ele era o homem das ideias inovadoras. E também o homem que não se calava. Queria sempre convencer o mundo que sua ideia era brilhante e não economizava nos argumentos. Graças aos céus que era uma figura popular e logo apareceram mais pessoas e Walkiria pôde esquivar-se. Foi para perto de Diana e seus amigos, enquanto os olhos procuravam por Greta. Nem sinal de Greta, mas seu olhar parou numa cena que lhe tirou o prumo. A menina da mesa de Nahima tinha acabado de sentar-se no colo dela. Todos na mesa riam, inclusive Nahima. A menina disse alguma coisa no ouvido dela e riram. Rodou nos calcanhares e seguiu com passos firmes em direção à saída. Os passos eram firmes, mas a respiração estava completamente irregular.
Lá fora, respirou fundo e tomou a direção de uma das saídas laterais que era mais tranquila. Tudo o que não queria era encontrar alguém conhecido e ter de parar para conversar.
*****
No hotel, Walkiria tentou abstrair seu desconforto enfiando a cara no trabalho, mas sem sucesso. Lutava arduamente para separar a sua parcela vulnerável, da mulher focada nos negócios, mas elas insistiam em se misturar. Uma grande confusão. Desistiu e foi para o seu recanto. Quem sabe Zuri não aparecia.
Zuri não apareceu e decidiu deixar o telefone no quarto enquanto tentava organizar os pensamentos no deck. Não queria ser incomodada e sabia que Greta ligaria mal desse pela sua ausência. Talvez Nahima também tentasse encontrá-la...queria ficar só com suas inquietações.
No deck, em minutos foi da inquietação à lassidão. O esgotamento já não era apenas mental. O corpo prostrou-se e deixou-se ficar pelo chão de madeira.
Despertou com lambidas de Zuri pela sua face.
-Para Zuri! Para! Sabes que não gosto disso.
E ele continuava as suas investidas, até que ladrou com alguma veemência e tentou arrastá-la para dentro.
-O que foi? Queres comida? Ah, para isso conheces o caminho de casa. - Brincava com ele que insistia em puxá-la para junto da porta de vidro que separava o interior da casa do deck.
-OK! Tu mandas.
Correu a porta de vidro e ouviu uma batida forte na porta de entrada. Mais outra. A pessoa parecia esmurrar a porta. Não era nenhum empregado do hotel, a menos que tivesse acontecido uma hecatombe. Zuri correu para junto da porta e ladrou mais uma vez.
-Ok, entendi. Obrigada por me avisar. - Acariciou a cabeça do cachorro, e em seguida abriu a porta. Segurou forte na madeira pois as pernas tremeram.
-Ei, estou aqui há mais de 15 minutos. Não fui embora porque me garantiram que estavas em casa e a moto está no estacionamento. - Ela falava enquanto massajava as mãos que deveriam estar doloridas. - O que aconteceu? Procurei-te tanto e não atendias ao telefone.
Ela entrou e imediatamente abraçou Walkiria que permanecia sem reação.
-Eu sei que não gostas desses surtos sentimentalistas, nem eu, mas estava com saudades. Eu estou com muita saudade. - Falava e a apertava no abraço. Cheirava-lhe o cabelo e ia distribuindo beijos por cada centímetro de sua pele.
Walkiria sentiu seu corpo amolecer, quase desfaleceu naquele abraço que tanto adorava, mas sua mente reagiu veementemente às suas inseguranças e desvencilhou-se do afeto. Afastou-se. Respirou fundo.
-Exagerei? Não te vejo há tantos dias...
Aquele tom de voz baralhava suas certezas. E quais eram mesmo as suas certezas?
-Desculpa, eu não consigo.
Fim do capítulo
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Gaya
Em: 13/10/2023
Hallooooo amadíssima Nadine!
Que benção saber que suas "ites" estão sob seu "domínio". Estais melhor. Por Deus Nada, não pise na faixa, essas coisas são traiçoeiras, e podem surpreender de maneira negativas. Então menina, por favorzão, cuide-se! Tu não fazes idéia do quão é importante ter você com suas escritas! Tu és um SER de excelência! Amada por muitaaaaas!
Bom, vamos ao seu capítulo!
Menina, flutuei com a leveza do início deste magnífico capitulo!
Depois!?!?!
Quase infartei aqui!
Longe de mim julgar a conduta da Wal. Quando amamos, mesmo sem admissão a nós mesmo, ficamos cego!
Eu estou aflita sim! Espero que Nah consiga ser firme e forte, após a fala da Wal: "Desculpa, eu não consigo."
Não consigo o queeeeeeeeeee?
Eu te ammmmmooooooooo Nah!
Dê um jeito nisso Nadine! Ôhhh sofrência! Aguenta coração! Mas tu és fodásticas!
Em tempo Nada!
Owwwwww
Resposta "No encanto da Ilha".
Outra coisa:
Tudo que descreves sobre os morros, montes e serras, são são região em que você mora?
Encantada!
Grande abraço Nad!
Bjuuuuuuuus no seu coração!
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mtereza
Em: 13/10/2023
Wiki insegura e com ciúmes deu ruim será que ela vai simplimente afastar a Nahima sem falar dos sentimentos e jogar fora essa relaçao linda essa sintonia inclivel que elas tem espero que elas conversem sobre o que estão sentido principalmente a Wiki ciementa
Nadine Helgenberger
Em: 15/10/2023
Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos
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brunafinzicontini
Em: 11/10/2023
Ah!... Que manhã maravilhosa! Nahima acordar, feliz por uma noite maravilhosa, e encontrar uma mesa com um café da manhã perfeito e Walkíria à sua espera, lendo tranquilamente... Momentos deliciosos! O capitulo inteiro, aliás, foi uma delícia! Walkíria deixando-se levar aos poucos pelos encantos da italiana - uma sensação incrível! Tudo lindo, maravilhosos, até... levarmos um tombo nos instantes finais! Uma linda garota no colo de Nahima... Certamente, Wiki se deixou levar por um ciúme incontrolável, mas a cena não deixa de nos causar espanto e receio... O que acontecerá agora? Ah... por favor, Nadine! Coloque as coisas no lugar...
Que linda a história de Greta e Gary! Muito bela a relação desse casal! O dois são uma bênção na vida de Wiki.
Adorei a Jorja Smith! Você, como sempre, com muito bom gosto, mostrando-nos o caminho de coisas boas da vida.
Carinhoso abraço e um grande beijo,
Bruna
Nadine Helgenberger
Em: 15/10/2023
Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos
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Mille
Em: 10/10/2023
Wiki morrendo de ciúmes
Mais também tinha que aparecer uma mulher linda e ficar sentada no colo da Nahima.
Bjus e até o próximo capítulo
Nadine Helgenberger
Em: 15/10/2023
Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos
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HelOliveira
Em: 10/10/2023
Wiki precisa de manual para se entender, imagina a coitada da Nahima saber o que passa na cabecinha dela...morrendo de ciúmes...
Nadine Helgenberger
Em: 15/10/2023
Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos
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patty-321
Em: 09/10/2023
Walkiria é complicada demais. Sentiu ciúmes e ficou toda perdida. Eita. Paciência Nahima, vai precisar decifrar esta mulher de fases. Bjs
Nadine Helgenberger
Em: 15/10/2023
Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos
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Mmila
Em: 08/10/2023
Nahima, não entra em parafuso, logo agora que estava indo tão bem!
Roendo as unhas, anciosa para o próximo capítulo.
Nadine Helgenberger
Em: 15/10/2023
Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos
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NovaAqui
Em: 08/10/2023
Ih!
Deu ruim
Não vai falar do incomodo que sentiu
Tenso
Nadine Helgenberger
Em: 15/10/2023
Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos
NovaAqui
Em: 15/10/2023
Cuide-se bem!
Melhoras!
No seu tempo
Sinta-se abraçada
Beijão
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Nadine Helgenberger Em: 15/10/2023 Autora da história
Olá, meu bem,
Para avisar que hoje não vou poder atualizar a história. Minha mão parece um balão de tão inflamada. Cansada dessas dores, enfim...
Se der, atualizo amanhã.
Beijos