CAP. 37 – Novo contato
O sábado estava bem animado, a festa começou por volta das três, Andréia se deu bem com todos, sempre animada e receptiva, não era uma garota mimada como muitos pensavam, apesar de ser dona de uma das maiores fortunas de Madri, fruto de anos de trabalho e reconhecimento pelo trabalho maravilhoso que fazia, Estilista profissional, tendo seu nome reconhecido por quase uma década, sua humildade era visível no dia a dia, não ostentava muito, apesar de merecer.
Dois anos mais velha que eu, falava fluente várias línguas, dentre elas o português, que dava aquele charme quando mesclava com o Espanhol. Hoje posso agradecer por ter uma paixão por artes, graças a ela e ao pai, Historiador também famoso em Madri, a amizade gerou grandes frutos.
Enfim, passamos algumas horas conversando nas tendas e buffets que descobri mais tarde, meu avô contratou, tinha até garçons servindo. Às vezes acho que Dr. Paulo exagera nos cuidados para com os seus.
Durante a festa Déia não saiu de meu lado, estava toda animada e inclusive virou melhor amiga da Isa, fato raro esse, porque a pequena era dura na queda. Até mesmo a pequena maravilha estava animada com as brincadeiras de minha amiga, às vezes eu sentia o olhar de Sam, mas quando eu o procurava, ela disfarçava.
A conversa estava animada, mas comecei a ficar sufocada ali, pedi licença e saí um pouco, fui caminhar e tentar localizar Sam sozinha, olhando em volta, vi que muitas coisas haviam mudado na aldeia, a casa da dona Maria mesmo, tinha ampliado e várias outras casas foram construídas, estava se tornando uma pequena vila. Sorri, podia apostar que tinha dedo de meu avô naquilo tudo. Encontrei com seu José no caminho, estava todo animado, e atrapalhado também, carregava algumas sacolas, me ofereci para ajudá-lo e seguimos para sua casa.
Conversando no caminho dando risada com o senhor bem humorado, quando chegamos ele agradeceu minha ajuda. Voltamos para a festa, poucos minutos depois a aldeia foi homenageada, nada mais, nada menos que pelo meu avô que levantou um brinde a todos, cantaram parabéns e as crianças começaram a se espalhar e cansar das brincadeiras e muitos brinquedos que tinham ali.
As horas foram passando e sem que percebêssemos, chegou o momento de ir embora, estava distraída olhando para a pequena maravilha que dançava ali na frente, quando minha amiga chegou do nada me assustando, empurrei ela de leve rindo e dizendo:
– Quieres matarme del corazón mujer?
– Usted está muy distraída hoy, lo que estaba mirando? – sorri dizendo:
– Estava pensando em como o tempo passa e não percebemos, essa criança era pequeninha, e olha o tamanho que já está?
– Tão bonita quanto a mãe – olhei de relance para ela que sorriu dizendo – nem vem Bia, se ela não estivesse com tanta raiva de mim, iria bater um papo com ela.
– Do que está falando? – perguntei não entendendo a que estava se referindo:
– De sua Samantha, que não parou de nos olhar desde que chegamos, arrisco dizer que se eu ficar sozinha com ela, corro risco de vida.
– Para de bobagem Déia, está fantasiando coisas – sorri balançando a cabeça.
– Estou nada, e vou provar.
– O que vai fazer? – ela se postou rindo na minha frente e sussurrou:
– Olha por sobre meu ombro esquerdo, e presta atenção na reação dela – fiz o que ela dizia, olhei e lá estava Sam rindo conversando com a dona Maria, quando nos olhou, vi que seu sorriso foi sumindo, minha amiga se aproximou segurando minha jaqueta e me puxou para ela, dizendo – quando vocês vão perceber que uma completa a outra?
– Eu...
Tentei dizer algo, desviei meus olhos de onde Sam estava e olhei para minha amiga, sorrindo tocou meu rosto dizendo ainda:
– Você nunca irá esquecê-la cariño, não com todo esse amor preso em seu peito – abaixei a cabeça sorrindo, estava certa, inspirei fundo e ela concluiu – agora sugiro que vá lá conversar com a moça e se entender com ela, do contrário eu mesma farei isso.
– Vai dizer o que a ela? – encostei na parede de novo inspirando fundo concluindo: – Que eu sou uma burra e que deixei meu orgulho e ciúmes falarem mais alto a ponto de deixar o amor de minha vida para trás por causa disso?
– Ah, Bia, você não é burra, um pouco lesada talvez – olhei para ela e acabamos caindo na risada, quando cessamos, ela me olhou dizendo séria dessa vez – ela é muito linda, deve ter várias atrás dela, pode apostar minha amiga, se eu não fosse fiel a nossa amizade, me candidataria também.
– Não gostei disso, viu.
Meu sorriso sumiu e ela gargalhou, grudou em meus braços e me levou de volta para a festa. Olhei em volta, Sam tinha sumido e não a vi mais depois daquilo. Todos foram se despedindo, e quando meu avô falou que ia embora olhei para minha amiga dizendo:
– Resolvi ficar por aqui até mais tarde, ajudar como puder, se quiser pode ir com meu carro?
– E você vai voltar como, a pé? – revirou os olhos e sorri:
– Não sua boba, vou de carona com seu José mais tarde – entreguei as chaves do meu carro e apartamento, esse que resolvi não vender mais, tinha lembranças demais nele para me desfazer dessa forma, sorri concluindo – não vá fazer uma festa em meu apto, do contrário irá dormir em um hotel.
– Você nem vai perceber, cariño.
– Vai contando com isso – olhei desconfiada para ela, perguntei: – sério agora Déia, saberá se virar sem mim? – sorri.
– Não se preocupe, irei sobreviver por algumas horas sem você.
– Fico feliz por isso.
Beijei seu rosto acompanhando-a até o carro, falei com meu avô para “escoltá-la” até meu apto, uma vez que era caminho.
Foram embora e voltei para o que sobrou da festa, não encontrei mais Sam por lá, achei que tivesse ido embora e senti um aperto no peito, sabia que ela não iria vir se despedir de mim, mas eu queria olhá-la uma última vez naquele dia.
Enfim, comecei ajudar no que fosse possível e ocupar minha mente com o pessoal que conversava e ria comentando sobre o dia. No dia seguinte bateria em sua casa, sem falta, não adiaria mais nossa conversa. Sorri conversando com os meninos, filhos de dona Maria e para minha alegria começou a chover, próximo às sete da noite, seu José até brincou comigo:
– Estava estranhando esse tempo, ainda bem que choveu – ele olhava para o céu, depois me encarou sorrindo – não seria um dia totalmente completo se não chovesse com você aqui.
– Não duvido mais disso, seu José.
Disse sorrindo colocando meu braço sobre os ombros do senhor.
– Melhor irmos antes que a chuva aperte e o rio encha.
Olhei despreocupada para ele, e disse quando dona Maria se aproximou:
– Se vocês não se importarem, gostaria de dormir aqui hoje – eles me olharam e sorri dizendo – estou cansada da cidade grande.
– Claro que não nos importamos, minha filha, sabe que sempre irá ter um quartinho a sua espera – dona Maria disse feliz.
– Eu adoro esse lugar, se pudesse viria mais vezes para cá – inspirei fundo olhando para o casal que sorriam abraçados.
Conversamos por mais alguns minutos, Dona Maria foi em direção a casa ajeitar as coisas para o marido e filhos irem para a cidade, não demorou muito estava de volta, eles se despediram e continuamos com a arrumação, quase nove da noite e um dos rapazes apareceu dizendo que o rio tinha transbordado. Começou a nos ajudar e ficamos por mais uma hora lá.
SamQuando acordei já tinha anoitecido, no relógio passava das dez. Olhei em volta, as meninas dormiam serenas, levantei e fui até o banheiro. Passei água no rosto e fui em busca de sobreviventes na casa. Estava entrando na cozinha quando ouvi vozes, olhei através da cortina da porta quando ela entrou sacudindo os cabelos molhados e sorrindo conversando com dona Maria que ia dizendo:
– Faz anos que não chove assim aqui!
– Nossa, ainda bem que conseguimos ajeitar quase tudo lá fora.
Sorriu passando a mão nos cabelos tirando o excesso de água enquanto a senhora ia dizendo:
– Vou colocar água no fogo para fazer um café.
– Estava mesmo com saudades do café da senhora.
Disse tirando os cabelos do rosto, naquele instante ela se virou e vi sangue em sua roupa, dona Maria se aproximou dizendo.
– Deixe-me ver esse corte.
– Não foi nada, um arranhão apenas.
– Relaxa menina e senta aí – sorriu fazendo careta, a senhora se aproximou analisando a testa dela, seguiu para o armário pegando uma caixinha e voltou dizendo – um corte pequeno, talvez precisasse de uns dois pontos, mas como vai chegar até o hospital agora?
– Só se for nadando.
Ambas caíram na risada, resolvi me mostrar, entrei no momento em que dona Maria me olhou perguntado:
– Menina Samantha, pensei que só veria você amanhã – sorri, a Bia olhou para mim, levantando. Nossos olhos se cruzaram e a senhora a pegou pelos ombros a fazendo sentar dizendo – senta aqui menina, deixe-me limpar isso e fazer um curativo, mas já vou adiantando, vai ficar uma cicatriz.
– O que aconteceu?
Perguntei preocupada me aproximando para ver melhor, estava frio, acabei cruzando os braços tremendo, foi a Bia quem respondeu:
– Descuido meu.
Desviou os olhos quando me abaixei para ver melhor, foi impossível não tocar nela, dona Maria perguntou:
– Pode cuidar do curativo Samantha, vou passar o café?
– Si... sim, claro – peguei o estojinho de primeiros socorros da mão dela e olhei para a Bia perguntando – posso?
– Pode sim – sorriu, quando a toquei novamente, fechou os olhos e inspirou fundo.
Cuidadosamente fui limpando cada pedacinho em volta do ferimento, me aproximei prolongando aquele contato, não queria mais sair dali. Minha respiração começou a se acelerar, senti meu coração bater mais rápido, o corpo dela apesar de molhado, estava emanando tanto calor que estava deixando o meu em brasas também.
Tudo parecia estar em câmera lenta, ela abriu os olhos e mergulhei naquele azuis perfeitos. Parecia que estávamos mais próximas agora, quase pude sentir suas mãos em minha cintura, mas aquela magia foi quebrada quando dona Maria se aproximou perguntado:
– Acha que precisa de pontos, Samantha?
– Na... Não, acho que não, dona Maria – me afastei um pouco da Bia, colocando o Band-Aid, passando os dedos de leve finalizando. – Mas, como a senhora falou, vai ficar uma pequena cicatriz.
– Quem manda ser teimosa viu, se tivesse me escutado, isso não teria acontecido. – Bia sorriu se levantando e a senhora foi logo dizendo: – Agora vá tomar banho, já separei umas roupas para você, está lá no quarto.
– Sim senhora – sorriu marota e me olhou ainda sorrindo, disse – obrigada Sam.
Balancei a cabeça, por segundo nós nos olhamos, mas logo desviou os olhos olhando para dona Maria que estava ao me lado e a olhava feio dizendo para ir tirar aquela roupa molhada, sorrindo ela foi tomar banho, fechei os olhos inspirando fundo, saí do transe perguntando:
– O que aconteceu?
– A Bia é teimosa, estávamos terminando de desmontar as mesas, começou a chover mais forte. Pedi que ela deixasse que faríamos depois que parasse a chuva, mas insistiu em ajudar, quando encostou as cadeiras na parede uma vara que estava solta em cima caiu, desviou e acabou escorregando batendo a cabeça na parede.
– Que perigo.
– Também acho, pedi para os meninos deixarem do jeito que estava para terminarmos amanhã quando a chuva passar, assim ninguém mais se machuca – sorriu colocando o café, chá e outras coisinhas sobre a mesa perguntando – as meninas estão dormindo?
– Sim! – estava olhando pela janela, sorri olhando para trás dizendo: – Assim que tomaram banho adormeceram, e eu cansada acabei fechando os olhos por segundos e adormeci também.
Estávamos rindo quando a Bia apareceu balançando os cabelos, como era linda, mania dela fazer aquilo, meu coração disparou, sorriu dizendo:
– O banho estava ótimo, mas o curativo molhou e acabou saindo – sorriu sem jeito.
– Você é pior que criança, sabia? – dona Maria disse arrancando nossos sorrisos, me ofereci para colocar outro e ela concordou, se sentou, dessa vez foi rápido. A senhora aproveitou e disse: – Tomem o café ou o chá que está quente, vou tomar banho e já venho.
– Obrigada, dona Maria – dissemos as duas juntas, sorrimos.
Sentei do outro lado me servindo de café, ela também se serviu e ficamos um tempo em silêncio, esse que ela quebrou perguntando:
– E a pequena maravilha?
– Está dormindo, creio que esses dois dias tenha sido muito cansativo para ela.
– Dois dias?
Se serviu de um pedaço de bolo perguntando interessada, sorri respondendo:
– Sim, desde sexta que estamos aqui – tomei um gole de meu café sentindo seu olhar curioso, expliquei – me ofereci para ajudar dona Maria na festa, as meninas adoraram. Não se desgrudam desde sempre.
– Não lembro delas terem se conhecido? – sorriu lindamente, desviei os olhos dizendo:
– Pois é, isso foi depois que você...
Parei antes de concluir, abaixei a xícara colocando sobre a mesa e foi ela quem terminou:
– Eu fui embora...
Balancei a cabeça concordando, não consegui olhar para ela, a culpa tinha sido toda minha. Ficamos em silêncio por algum tempo, ouvindo a chuva bater no telhado e o vento cantar lá fora. Dona Maria se juntou a nós algum tempo, mas depois que tiramos a mesa ela não ficou muito, estava cansada, antes de ir se deitar sorriu dizendo:
– Bia, ajeitei o quarto de hospedes para você dormir – olhou para mim sorrindo – já que você está dormindo com as meninas, achei que não fosse se importar Sam?
– Está ótimo para mim dona Maria, hoje está frio mesmo, vou dormir com a minha filhota.
– Tudo bem, boa noite para vocês, qualquer coisa é só me chamar.
Se retirou depois que demos boa noite a ela, o silêncio ficou por algum tempo, mas levantei dizendo:
– Estou indo me deitar também, amanhã o dia será corrido.
– Está cedo – ela se levantou, ia dizer algo, mas antes que o fizesse, sussurrei:
– Estou com dor de cabeça, e realmente muito cansada – concordou apenas, sorri dizendo: – boa noite, Bia!
– Boa noite, Sam.
Nossos olhos se cruzaram por algum tempo, mas os desviei, segui para o corredor sentindo o olhar dela em minhas costas. Entrei no quarto apoiando minhas costas nela, inspirando fundo, ela estava tão próxima e ao mesmo tempo tão longe.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: