Amada Amanda por thays_
Capitulo 28
Tudo começou com aquela troca de olhares longos meses atrás, quando a conheci, quando me permiti me apaixonar por ela, quando permiti que ela entrasse em minha casa, em minha vida, em minha alma, em minha mente, em meu espírito, em meu corpo, como ninguém nunca tinha feito antes. Amanda estava me dando os dias mais intensos de minha vida, em todos os sentidos possíveis e imagináveis.
Teve o acidente de moto que até agora na minha cabeça estava sem solução. Teve também minha operação, precisei ficar em casa de molho por meses, com Amanda me olhando e cuidando de mim por dias intermináveis que pareciam que não acabariam nunca. Momento o qual pela primeira vez em minha vida permiti baixar minha guarda e deixar que alguém fizesse algo assim por mim. Engoli meu orgulho e consenti que ela assumisse o controle de tudo.
Agora essa gravidez completamente inesperada me colocaria novamente nessa posição. Principalmente porque a ginecologista tinha me alertado que conforme os meses começassem a passar e minha barriga crescer, eu provavelmente teria que ficar de repouso em função da cirurgia recente em minha perna, talvez eu começasse a sentir dores pelo peso que ganharia.
O que será que a vida estava me forçando a aprender? Ser uma pessoa mais humilde? Mais mansa e pacífica? Se fosse isso, estava conseguindo.
Eu não tinha contado para ninguém ainda. Nem pra minha família, nem pro Rafa, nem pra dona Rosa. Amanda disse que nós não conseguiríamos esconder por mais muito tempo, pois tínhamos acabado de completar dez semanas e meu ventre estava começando a crescer.
Minhas emoções estavam muito mais à flor da pele do que nunca antes de minha vida. Amanda estava numa superproteção louca comigo, me enchendo de mimos, me levando e buscando pra todo lugar de carro... Preciso confessar... O diferente às vezes também podia ser bom. Eu estava gostando daquilo. Estava gostando de ter alguém que também cuidasse de mim e não apenas que eu cuidasse da pessoa.
A ideia de estar grávida e gerar uma criança começou a soar muito mais agradável depois do nosso primeiro ultrassom, quando ouvi pela primeira vez os batimentos cardíacos do bebê... Por mais que estivesse relutante até então a tudo aquilo, naquele momento não pude deixar de me emocionar. Foi uma sensação muito louca, parecia irreal que tivesse uma criança ali dentro de mim, naquela altura com quase 4 cm.
Nós estávamos fazendo amor quase todos os dias, nosso relacionamento que já era ótimo, parecia que tinha ficado melhor ainda. A médica disse que eu estava liberada pra trans*r o quanto quisesse, mas que algumas mulheres reclamavam que perdiam a libido ou se sentiam muito incomodadas com as sensações novas que a gravidez podia proporcionar. Eu até então estava me sentindo igual em relação a isso, a única coisa que me incomodava demais eram os enjôos. Contudo, estava tomando um remédio que ela tinha me passado e felizmente tinha feito efeito.
Eu aprendi a amar aquele bebê, mesmo sem nem conhecê-lo ainda, tanto quanto eu amava Amanda.
Ela parou o carro em frente ao ponto de ônibus em que eu estava esperando e sorriu. Já era fim de tarde e eu tinha acabado de sair da fábrica. Ela estava de óculos escuro, um boné preto de aba reta da Nike, seus cabelos escorriam lisos pelos ombros. Usava um moletom cinza da DC. Absurdamente linda. Havia mais algumas pessoas ali comigo esperando o ônibus e todas olharam para ela quando o carro parou na nossa frente.
- Aqui que pediam um Uber? – Amanda perguntou com um sorriso solto, toda galanteadora. – Maria Eduarda?
- Sou eu. – Caminhei até o carro, entrando na brincadeira. – Você é a Amanda?
- Sim, pode entrar.
- Posso sentar na frente com você?
- Claro.
Abri a porta e entrei. Ela deu a partida e saímos dali.
- Dia difícil de trabalho? – Ela perguntou, fingindo um ar profissional.
- Um pouco. E o seu? Como está sendo?
- Essa é minha última corrida. Depois já vou pra casa.
- Tem planos pra hoje à noite?
- Por enquanto não, mas quem sabe não aparece alguma coisa...
- Inacreditável... Uma mulher bonita como você... As mulheres devem se jogar aos seus pés...
Ela abriu um daqueles sorrisos largos. Eu adorava quando ela sorria daquele jeito. Ela tirou o óculos escuro e o colocou no quebra-sol do carro.
- Eu sou muito profissional. Não tenho muito tempo para diversão. – Disse séria, olhando para a estrada à nossa frente.
- E quando você se interessa por alguma passageira?
- Espero ela perguntar se pode sentar no banco da frente, como você acabou de fazer.
Eu que ri agora.
Estava adorando tudo aquilo.
Minha mão deslizou por sua perna subindo pela parte inteira de sua coxa, apertando de forma firme.
- E o que mais? Oferece um halls preto ou algo assim?
Nós rimos alto.
- Qual que é essa do halls preto que você falou pra eu comprar?
- Você não sabe?
- Não.
- Fica gostoso pra fazer oral…
Disse baixo, com a voz rouca, me sentindo molhar com aquela possibilidade. Eu queria poder usufruir daquele tipo de brincadeira enquanto minha barriga ainda não me impedisse. Minha mão roçava em seu centro, dessa vez de forma um pouco mais precisa.
Ela parou no semáforo, eu me aproximei, beijei seu rosto suavemente, cheirei seu cabelo, seu perfume delicioso, inebriante. Ela tirou o boné, jogando para o banco traseiro. Subimos os vidros. Tínhamos colocado insulfilm recentemente no carro, o que nos dava certa privacidade. Nossos lábios se encontraram de forma gostosa, sua língua invadiu minha boca se entrelaçando com a minha. Minha mão subiu até seu seio, buscando seu mamilo por cima de suas roupas.
Ouvimos uma buzina atrás de nós. Nós rimos e ela engatou a primeira, saindo apressadamente. Peguei um halls que estava estrategicamente no painel e o coloquei na boca.
- Aceite isso como uma parte do valor da corrida. – Disse baixinho próximo ao seu ouvido. Me abaixei, afastando sua calça só um pouquinho... Coloquei-a para fora com um pouco de dificuldade. Ela suspirou. - Se concentra no trânsito. – Disse ainda naquele tom baixo, enchendo-a de beijos, lambendo, provocando.
- Uouuu, é meio... refrescante.
Nós rimos.
- Quer que eu jogue fora?
- Não, continua.
Continuei com ela em minha boca, ch*pando bem gostoso, bem molhado, sentindo ela crescer entre meus lábios. Ela entreabriu um pouco mais as pernas e continuei meu trabalho por longos e longos minutos, até ouvir o portão automático de casa sendo aberto e o motor sendo desligado. Eu estava já toda molhada naquela altura. Ela levantou minha cabeça, buscando meus lábios. Ela abriu meu cinto, descendo meu zíper, se enfiou por dentro de minha cueca. Gemi em sua boca quando seus dedos ágeis alcançaram meu clit*ris. Nos beijávamos de forma gostosa, lasciva. Começou a me tocar de forma precisa, daquele jeito que sabia que me faria goz*r fácil.
Os cachorros latiam loucamente do lado de dentro da casa.
- Você me deixa louca ... – Lambeu meu pescoço, minha pele. – Vamos entrar? Aqui não tenho espaço nem pra me mexer...
- Queria tanto fazer aqui... pra gente batizar o carro.
Ela riu alto.
- Mas é apertado, amor.
- Mas tava tão gostosa aquela nossa historinha...
Ela continuou rindo.
- Não pára, amor...
- Não vou parar, gostosa... - Ela disse me beijando, ainda com meu clit*ris entre seus dedos, duro, inchado, molhado, eu já não estava nem conseguindo falar mais nada, estava tão, mas tão gostoso... Dentro de pouco tempo ela me fez goz*r pela primeira vez naquele começo de noite, mas o desejo ainda ardia.
Tirei minhas botas e minha calça com certa dificuldade.
- O que vai fazer?
- Quero sentar no seu colo.
- Eu acho que você não cabe.
- Mas eu quero tentar.
Ela deslizou o banco pra trás. Com dificuldade coloquei minhas pernas ao lado de seu quadril, mas minha cabeça ficou esmagada contra o teto e minhas costas ficaram presas no volante.
- Desce o banco um pouquinho... – Pedi.
- Eu acho que está quebrado.
- Você está brincando?
- Esse carro é mais velho que eu, amor. Nem paga mais IPVA.
- Droga...
- Calma... vem... assim... – Ela me ajudou a me ajeitar em seu colo. Eu a encaixei em minha entrada e gemi em sua boca quando a senti me penetrando.
- Você consegue se mexer? – Perguntei com a voz rouca, doida de tesão.
- Não consigo me mover nem um milímetro.
Nós rimos.
- Eu também não. O volante tá me machucando. Os cachorros não param de latir. Caramba.
Ela beijou minha boca, suas mãos foram em direção a minha bunda, apertando, guiando os movimentos, tentando fazer aquilo dar certo. Tornamos a nos beijar. Eu me mexia como podia em seu colo, subindo e descendo bem curtinho. Eu queria mais, precisava de mais, mas não era viável. Nossas línguas estavam numa dança sensual. Ela cada vez mais dura dentro de mim, me preenchendo de uma forma deliciosa. Seus dedos deslizaram novamente até meu clit*ris. Comecei a contrair minha musculatura, apertando-a dentro de mim e cada vez que apertava, o tesão aumentava e aquela onda foi aumentando de pouco em pouco.
- Adoro você assim... no meu colo... toda molhada...toda minha....
G*zei ali, daquele jeito, num ápice muito forte. Gemi em sua boca, com ela esfregando meu clit*ris, ela inteira dentro de mim. Meu coração batia loucamente. Beijei seus lábios de forma demorada, afastando seus cabelos.
Fiquei ali durante alguns minutos até eu me acalmar.
- Eu quero só ver como você vai sair daí agora.
Então nos deu uma crise de riso.
Eu abri a porta, coloquei primeiro um pé para fora, depois o outro, quase me desequilibrando e caindo no chão. Amanda saiu logo na sequência, esticando as pernas. Me abraçou por trás, me guiou até o capô e sem que eu estivesse esperando por aquilo, senti sua mão me puxando pelo cabelo, beijando meu pescoço.
- Coloca as mãos no capô. – Disse num tom firme, aquele tom de voz que mexia demais comigo. Me reacendendo de novo.
Tunico e Mel estavam quase destruindo a porta do lado de dentro. Já estávamos na penumbra da noite que chegava.
- Você quer entrar? – Perguntei.
- Não, agora eu que quero você aqui… Quero você exatamente assim... você não vai tirar essas mãos dai. Ouviu?
Gemi como resposta. Ela deu um tapa estalado em minha bunda e se posicionou por trás, terminou de tirar o restante de minhas roupas. Beijou meu pescoço, minha nuca, suas mãos subiram até meus seios.
- Não... eles estão muito sensíveis...
Ela beijou meu ombro.
- Desculpa…
Seus beijos desceram por minhas costas, ela abriu mais minhas pernas e quando percebi estava ajoelhada atrás de mim. Senti sua língua me percorrendo de uma forma muito gostosa. Meu corpo automaticamente deitou ainda mais sob o capô do carro, querendo sentir mais e mais sua língua.
Ela começou a me lamber inteira assim, me abriu inteira para ela e gemi alto quando me percorreu da frente até atrás... lento. Puta merd*. Senti outro tapa em minha bunda. Estava toda empinada pra ela. Dois dedos me preencheram de forma deliciosa, deslizando fácil para dentro de mim. Entrando e saindo. Sua língua atrás de uma forma terrivelmente deliciosa. Eu não consegui me segurar. Aquela sensação era muito gostosa. Eu vim rápido mais uma vez, sentindo minhas pernas fracas, desabando. Ela se levantou, beijando minhas costas, subindo até minha nuca.
Eu me virei em direção a ela, destruída, muito bem goz*da. Beijando seus lábios de forma sôfrega, entregue, necessitada, segurei-a em minhas mãos e comecei a tocá-la, esfregando ela em mim, a melando inteira com meu gozo, minha excitação que escorria pelas pernas... A guiei para dentro de mim, ainda beijando seus lábios. A envolvi pelo pescoço.
- Você é deliciosa... perfeita... – Dizia em seu ouvido. – O amor da minha vida...
Dentro de pouco tempo ela veio forte, segurando-me pelas coxas de forma firme, gozou beijando meus lábios, a senti pulsando dentro de mim...
Nós entramos para casa, soltando os cachorros que pareciam que estavam doidos se perguntando “Por quê não soltaram a gente antes?”. Fomos para o chuveiro e depois me joguei na cama desabando, completamente mole, sem forças. Acordei algum tempo depois com Amanda sentando ao meu lado. Estava com uma xícara de chá em suas mãos.
- Você acha que vai ser um menino ou uma menina? – Ela perguntou. Eu deitei com a cabeça em suas pernas, ela começou a fazer carinho em minha cabeça. - Ou devo perguntar, como será que vai se identificar? - Ela riu, mas aquilo me deixou um pouco preocupada.
- Não sei. Estou mais aflita em contar pra nossa família...
- Eles vão ficar super felizes com a notícia, amor. Seu pai então... Aposto até que ele vai chorar quando descobrir.
- Você acha?
- Eu tenho certeza, amor. Não sei o motivo que está com tanto medo.
- Não é medo... você sabe...
- Falando nisso, deixe-me te mostrar uma coisa.
Ela pegou seu celular, abriu uma rede social, digitou um nome e me mostrou uma foto.
- Quem é esse cara?
- É um cara que sigo, ele se chama Esteban. - Ele era super forte, todo barbado. – Essa é a esposa dele, a Danna. Eles são de Porto Rico.
Comecei a ver as fotos. Os dois formavam um casal muito bonito. Então continuei descendo pelas fotos dos dois e uma delas me surpreendeu. Ele estava... Grávido? Como isso era possível?
- Ele é...?
- É um homem trans. A esposa é uma mulher trans também, como eu. Esse é o filhinho deles, olha.
- Já nasceu?
- Já…Faz um tempo.
Eu fiquei durante alguns segundos olhando para a foto dos três juntos e fiquei imaginando como seria quando o nosso bebê nascesse. Ouvi minha vida toda as pessoas dizendo que ter um filho mudava a vida de uma pessoa.
- Eu só queria te mostrar que homens também engravidam e não tem nada de errado com isso.
- Mas eu não...
- Eu sei, amor, eu sei que você não se vê como um homem... Só queria te mostrar que uma pessoa masculina também pode passar por esse processo... Sendo um homem trans ou uma mulher mais masculina toda com cara de ativona igual você, sei lá... Olha esse casal aqui também. – Ela procurou outro perfil, dessa vez eram de duas mulheres. Uma delas era toda menininho como eu, tinha uma aparência meio andrógena. E ela quem estava grávida. A outra era super feminina.
- As duas são cis?
- São. Viu como não tem nada a ver? Você precisa desconstruir isso na sua cabeça, essa visão heteronormativa e machista que está embutida ai dentro de você. E não te culpo por isso, porque todos nós crescemos em uma sociedade que acha que essa é a única forma de se viver, mas olhamos para vários casais por aí que nos provam que não. Que pessoas com inúmeras expressões de gênero, inúmeras orientações sexuais, também existem e resistem. Um casal não precisa ser composto por uma parte macho-ativa e fêmea-passiva. Um casal pode nem precisar de sex* pra ser um casal... E as pessoas que não sentem o menor desejo sexual e são felizes assim? Também estão por aí mundo afora. A vida é muito mais do quem come quem... O amor é muito mais do que isso... O amor está no olhar, está na entrega, está no toque, está no cuidado... no dia a dia... Ou acha que quando tivermos 90 anos vamos estar com esse fogo todo de agora?
Eu estava sem palavras com tudo que tinha acabado de ouvir. Não consegui pensar em nada para responder a ela que estivesse na altura. Eu me desencostei de sua perna e olhei em seus olhos. Ela continuou falando:
- O que eu quero te dizer com isso tudo é que qualquer pessoa com um útero pode gerar uma criança se esse for seu desejo. E ninguém tem nada a ver com isso. Eu estou extremamente feliz porque vou ser mãe... Estou extremamente feliz porque vou passar por tudo isso com você... por mais que no fundo da minha alma, eu que queria estar gerando essa criança... você acha que não seria mais fácil tanto pra mim quanto pra você? É óbvio. Mas a vida não é assim do jeito que a gente quer o tempo todo... Eu sei que nunca foi seu sonho ser mãe... mas aconteceu... Eu me culpo também... Fico pensando que eu poderia ter evitado todo esse sofrimento pra você... Mas o que eu posso fazer? Acha que o bebê tem culpa nisso tudo?
- Amor... Não fala desse jeito como se fosse um sofrimento... Não é nada disso... Eu já amo essa criança... Da mesma forma que te amo... Esse bebê realmente não tem culpa de absolutamente nada... Eu não quero que ele ou ela se sinta rejeitado por nada... pelo contrário... quero que ele se sinta muito bem vindo a esse mundo... Dizem que os bebês conseguem sentir tudo que as mães estão sentindo...
- Sim... eu já ouvi falar sobre isso também...
Eu a beijei. Ela retribuiu o beijo de forma doce, apaixonada, fez carinho em meu rosto.
- Desculpa, amor, eu só estou apavorada com tudo isso... Eu... Eu quero contar pros meus pais... Você topa ir agora lá?
Ela olhou no relógio conferindo se estava muito tarde para uma visita.
- Você está preparada para isso?
- Sim.
- Então vamos.
Nos vestimos em menos de dez minutos e fomos para a casa de minha família. Logo ao chegarmos liguei para minha mãe, que ficou muito surpresa com nossa visita. Eles estavam comendo pizza.
- Oi minha filha, vocês chegaram na hora certa. Como vocês estão? Meu bem, coloca mais dois pratos na mesa que as meninas chegaram.
Eles nos receberam como sempre, com muito carinho. Tutu começou a contar super animado de uma manobra nova que estava tentando pegar no skate que Amanda tinha ensinado para ele. Ele tinha começado a fazer aulas de inglês e também estava super contente. Após comermos pizza e conversarmos, meu pai começou a recolher as louças.
- Pai... Senta aí um pouquinho... – Pedi ao meu velho. - Nós viemos aqui hoje porque precisamos dar uma notícia pra vocês. Na verdade eu adiei um pouco pra contar isso pra vocês, porque não sabia como entrar nesse assunto... Ou como vocês iam reagir...
- Filha, a gente sabe que você é lésbica desde que saiu da barriga da sua mãe. – Meu pai brincou.
Todos nós rimos.
- Vocês vão se casar? – Tutu perguntou. – Eu posso levar as alianças? Eu podia entrar de skate na igreja, fazia uma manobra super foda e...
- Arthur. – Minha mãe disse em tom de voz alto, firme. – Vou lavar essa sua boca com sabão.
- Desculpa, mãe...
- A gente não vai casar numa igreja, Tutu. Nem somos católicas. – Amanda rebateu. – Além de que eles não reconhecem casais como nós.
- Vocês vão casar mesmo? – Meu pai perguntou todo animado. – Mas que notícia mais maravilhosa, eu vou pegar um champanhe pra comemorarmos!
- Cadê as alianças? – Minha mãe perguntou segurando nossas mãos. – Duda, você não nem deu uma aliança pra Amanda?
Meu pai voltou da cozinha já com o champanhe na mão, junto com as taças.
- Meu bem, sua filha não comprou nem um anel de noivado pra Amanda, você acredita nisso?
- Não foi assim que te ensinei, Maria Eduarda.
Ele estourou a rolha da garrafa no mesmo instante em que revelei:
- Eu estou grávida!
E o silêncio reinou entre todos nós. Meu pai se sentou na cadeira, incrédulo.
- Mas... como assim? – Tutu perguntou. – Grávida? Você?
- Eu.
- Você traiu a Amanda com um cara? – Tutu retornou a pergunta. – Como você perdoou ela, Mandy? Minha irmã é sapatão.
Minha mãe segurou em minha mão e começou a chorar, tinha um sorriso enorme no rosto, se levantou da mesa e me abraçou forte, muito forte. Depois abraçou Amanda e as duas começaram a chorar. Meu pai serviu as bebidas nas taças, ele também estava chorando. Se Amanda tivesse apostado dinheiro, teria ganhado.
- Então era isso que estava acontecendo... eu estava sentindo uma coisa diferente... mas nunca imaginei que fosse isso... – Minha mãe disse em voz alta, como se falasse consigo mesma.
Meu pai se aproximou de nós e também nos abraçou forte, muito forte.
- Eu nunca imaginei que ouviria isso da sua boca, meu amor. – Minha mãe disse. - É a melhor surpresa que você me deu.
- Eu não estou entendendo nada! – Tutu reclamou.
- A Amanda é trans, você sabe disso, não sabe? – Expliquei pra ele. Meu pai tomou duas taças seguidas da bebida, enxugando as lágrimas que ainda escorriam de seus olhos.
- Sim, eu sei, mas você já não... tirou?
- Não. – Amanda respondeu prontamente, sem se ofender com a pergunta.
Tutu ficou muito surpreso.
- Eu nem sabia que isso era possível. Vocês duas terem um filho. – Ele concluiu.
- Você vai ser tio, Tutu. – Disse para meu irmão.
- Mas eu sou muito novo pra ser tio, Duda.
Todos nós rimos e o ambiente ficou leve e calmo. A reação deles tinha sido a melhor possível. Eu tinha a melhor família do mundo.
Fim do capítulo
Pessoas lindas que estão me lendo, tanta coisa anda acontecendo por aqui que cheguei a conclusão que é só eu começar a escrever uma história que minha vida se enche de mudanças. Na primeira que escrevi, estava entrando num emprego novo, terminando um relacionamento com mais de 11 anos, começando um relacionamento novo com minha atual esposa. Na segunda, estávamos no meio da pandemia, minha mãe tinha acabado de morrer. Nessa agora pensei em tratar de algumas questões do suicídio de minha melhor amiga que queria elaborar melhor dentro de mim. A história foi ganhando vida própria e hoje estamos aqui com uma Duda e Amanda grávidas.
Semana passada fui mandada embora do meu trabalho, eu já queria sair de lá já fazia um bom tempo então nem foi tão ruim assim. Estou com novos planos pra minha vida e sinto que vai ser uma nova fase muito boa. Estava sem cabeça nenhuma pra escrever, sem inspiração nenhuma, mas hoje sentei aqui no notebook e alguma coisa saiu. Rezemos para essa santa inspiração continuar nos próximos dias ou se só vai reinar a vontade de jogar videogame como se não houvesse amanhã. Estou tentando aprender a ficar em casa sem fazer absolutamente nada e percebi que quando não faço nada fica mais difícil pra eu conseguir me organizar pra fazer o que preciso fazer.
Enfim, chega de falação, foi apenas um desabafo. Só quero agradecer vocês que ainda estão por aqui firmes e fortes, todes leitores anônimes e principalmente todes que comentam por aqui. Muitíssimo obrigada!
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Dessinha
Em: 04/06/2023
Eu te desejo tudo de melhor no mundo, autora. Consigo compreender isso em você pois acredito que passo por situações afins vez ou outra. Tudo se encaixa, a gente só precisa ter um objetivo a seguir. A estória é maravilhosa, uma desconstrução sem igual. Fez-me lembrar da minha festa de chá de casa nova. Quando casei minha esposa queria muito uma festa grande para todos e uma intimista para somente nossa família e assim foi feito. Na festa maior eu fiquei surpresa com os idosos da minha rua, com os amigos da minha mãe, sabe... sempre fui enrustida, na verdade mais reservada mesmo. E então ia falando com o pessoal nas mesas e quando chegava nas senhoras elas diziam "desejo tudo de bom para você e sua amiga, viu?" Era engraçado, não o cenário ideal mas um grande avanço né? E a gente desconstruiu coisas naquele dia, exibindo nossa felicidade da maneira mais normal do mundo como deve ser. Da mesma forma você também desconstruiu tantas outras coisas em minha cabeça com as duas protagonistas do seu conto.
Um super abraço e muitas felicidades.
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Billie Ramone
Em: 30/05/2023
Thays querida, sinto muito pela experiência triste com sua amiga. se vc tive alguma crença, reze por ela. isso vai chegar até ela de algum jeito e ela vai se sentir melhor por receber esse amor.
A vida é assim né, um dia estamos num relacionamento longo e terminamos, no outro casamos, no outro perdemos um ente querido, no outro saímos de um emprego ruim, no outro engravidamos.. ops! kakakakakaa!
brincadeiras à parte, espero que vc continue com essa inspiração, pq sua história é maravilhosa! esse casal me dá muito quentinho no coração! e que essa mesma relação de amor e cumplicidade se reflita em sua vida todos os dias! <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3
thays_
Em: 30/05/2023
Autora da história
Oi Billie, gratidão pelas palavras de carinho! Eu frequentei durante muitos anos o kardecismo (atualmente estou na umbanda), então tenho meio que embutido em mim um entendimento desse tipo a respeito do mundo espiritual. Sempre que sinto muita falta de minha amiga faço uma oração por ela e espero muito que ela consiga receber ao menos um pouquinho do que envio para ela
thays_
Em: 30/05/2023
Autora da história
opa, cortou minha resposta ai em cima!
Ri demais com a parte do "um dia saímos do emprego, no outro engravidamos" kkk eu felizmente estou a salvo desse acidente de percurso, já a Duda não posso dizer o mesmo kkk de qualquer forma vai se uma experiência maravilhosa pra ela. Eu lá no fundo tenho aquela ideia romântica de que o amor pode mudar as pessoas, sabe? Sei que pode soar um pouco inocente da minha parte e que na vida real nada melhor que uma boa terapia em dia kkk mas não custa sonhar, não é? Até breve! :DDD
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Marta Andrade dos Santos
Em: 29/05/2023
É bom ter apoio da família tudo fica mais leve se temos a certeza de um ombro.
thays_
Em: 30/05/2023
Autora da história
Disse tudo, Marta!
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thays_ Em: 14/06/2023 Autora da história
Oi Dessinha! Esse seu relato me fez lembrar que quando eu me assumi para meus pais lá meus 15 anos, imaginava na época que quando meus avós descobrissem seria a pior coisa do universo. E eu hoje com 34 tenho meus avós como minha base, sabe? Meu pai também mudou muito comigo ao longo dos anos, está entendendo tudo muito melhor agora. Cito meus avós, porque você falou das senhorinhas da sua rua. Eu acho que sem o amor deles eu não seria quem sou. Eles tem uma relação ótima com minha esposa, tratam a gente com tanta naturalidade que às vezes parece que estou sonhando porque sei que sou muito privilegiada por poder ter esse apoio dos dois.
Eu também precisei desconstruir muita coisa dentro de mim , eu tinha muita vergonha de quem eu era, tinha muito preconceito comigo mesma, acreditava que era a pior pessoa do mundo, que Deus me odiava, que meus avós por serem mais velhos também nunca me aceitariam como sou...
Foi muito difícil, mas extremamente necessário eu conseguir desfazer essas crenças que se enraizaram em mim pela cultura, família, amigos, etc... E te digo que cada dia que passa é um aprendizado novo, sabe? Hoje me sinto imensamente confortável comigo mesma, principalmente por ser uma mulher mais masculina. Tenho um orgulho imenso por ser casada com uma mulher e fazer parte da comunidade lgbt no geral. Acredito que simplesmente o fato de nós existirmos e resistirmos em determinados locais já é um ato político por si só! Fico muito feliz por ver seus comentários por aqui! Espero voltar em breve com minha escrita! Abraços!