CAPITULO 04
NYXS
Me materializei próxima a Nara para ter uma visão completa do terreno, do monstro e da situação em que ela estava. Depositei as espadas ao lado da sua mão esquerda, já que seu lado direito estava sendo prensado pelo bicho, que nem parecia ter noção do que estava acontecendo. Qualquer movimento em falso bastaria para arrancar seu braço. Como Nara estava presa, não podia se teletransportar.
― Como estão as coisas por aqui? Tem alguma coisa quebrada? ― Eu não sei como uma pessoa pode rir da sua desgraça, mas foi isso que ela fez. Riu feito uma cachorra louca enquanto eu pegava em seu corpo procurando por ossos quebrados.
― Eu escorreguei e ele me prendeu. Essa coisa pesa toneladas, o pouco de magia que me restou eu usei para fazer uma abertura na terra para acomodar a perna e o braço e não ser esmagada, mas acho que está quebrado, dói muito.
Infelizmente para nós duas, a minhoca sentiu meu cheiro e se curvou para a nossa direção. Mais rápido do que ele, eu mergulhei numa poça de dejetos próxima e me banhei na merd* daquela coisa, seguindo a orientação do livro que li, mas não sou forte como as heroínas dos livros. Eu vomitei, e muito, por conta de todo o fedor e com nojo de mim mesma, especialmente quando aquela gosma escorreu para meus lábios, porque nos olhos já tinha entrado há muito tempo.
O monstro farejava o ar me procurando. Mas o cheiro das pessoas lá em cima estava mais forte, chamando seu corpo pesado para subir. Se ele fizesse isso, arrastaria junto o braço da Nara.
― Meninas, FOGO! ― Eu gritei, já correndo de volta para onde Nara estava.
― Depressa, empunha a espada da Nana para queimar ele com gelo e fogo. Eu mantenho a ponta da cauda longe do teu braço. ― Nara nem pestanejou. Com grande esforço, pegou a arma que havia deixado próxima e a empunhou. No momento em que o fogo veio de cima, das mãos das lobas portadoras de fogo, ela também ergueu as chamas em forma de espada. Foi a coisa mais linda que já vi. Eu sentia falta daquela adrenalina percorrendo meu corpo, desde… Espera… Quando passei por um momento igual a esse? Sei que não é só déjà vu.
O monstro levantou o rabo um pouco, mas foi o suficiente para puxar Nara, que gem*u. Seu braço estava mole, mas eu não tinha tempo para fazer um exame mais detalhado.
― Vamos nos mover para aquele lado, temos que sair do caminho dele. ― Falou Nara, segurando de modo desajeitado Laevataein, a espada de prata que agora tinha aumentado de tamanho e se transformado em uma tocha de fogo gelado. Ela fazia caretas sempre que tentava manter o outro braço próximo a seu corpo, mas ele escorregava e ficava pendurado. Devia estar doendo bastante, era melhor imobilizar. Sem pensar duas vezes, rasguei parte das minhas roupas em tiras, dei um nó de qualquer jeito e passei pelo seu pescoço, improvisando uma tipoia.
― Espere! ― Pedi, segurando a outra espada ― Mjolnir. Eu sei que não tenho o direito de te empunhar, mas peço que me ajude. Preciso que segure essa fera enquanto levo nossa alfa daqui em segurança.
Aguardei um pouco. Minha pele começou a pinicar, o gosto de ferrugem na boca me dizia que a magia estava se transformando. Finquei o cabo da espada na terra e orei para ela fazer seu trabalho. Nara apontou a espada para o verme e começou a queimar, afastando a minhoca do local.
Segurei a mão da alfa e abracei seu corpo cheio de músculos, ficando cara a cara. Eu queria tanto saber o que aqueles olhos azuis falavam, mas o momento não era esse. Desaparecemos de dentro do fosso na mesma hora em que um grito horrível se fez ouvir. Pousamos do outro lado da cratera, em segurança.
― Afastem, por favor, afastem... ― Ananya e Heloise se aproximaram, examinando Nara, que ainda me encarava. Uma voz esganiçada me tirando do torpor.
― Como você está, lobinha? Eu fiquei apavorada, pensando no pior. ― Amkaly abraçou Nara para demonstrar seu sofrimento, me deixando de fora, mas eu tinha outras coisas a resolver, decisões mais importantes a serem tomadas. Chamei minha tia para conversar no canto.
― Iara, preciso de quatro pessoas comigo lá embaixo para chamar atenção daquela coisa. O fosso já está pronto? ― Perguntei para ninguém em especial.
― Estão colocando as estacas no concreto. O que pretende fazer? ― Ziam perguntou, olhando para os homens trabalhando lá embaixo.
― Tire seus homens de lá, eu vou descer com as meninas. Só preciso de água para me lavar e tirar essa lama. Ele tem que sentir nosso cheiro dessa vez.
― Não há necessidade, os homens já estão lá, é só chamar atenção do bicho e subir correndo. ― Ziam me interrompeu.
― Já viu o tamanho da boca daquela coisa? ― Apontei para a cratera. ― É um milagre ele ter prendido a Nara com a ponta do seu rabo e não conseguir sentir o cheiro dela. Seus homens não têm as armas que temos, nem podem ficar invisíveis ou se teletransportar como nós podemos.
Ziam me encarou, provavelmente pensando em uma resposta ou maneira de me impedir.
― Ela está certa, papai. Os homens não têm a magia e armas mágicas que temos, isso é coisa que só nós podemos fazer. Eu vou com você. ― Nara se levantou, seu braço já movido para uma tipoia própria e imobilizado com uma tala. Ela tentava a todo custo se livrar das mãos da Amkaly, que teimava em ficar pegando em seu corpo.
― Você não deve ir, lobinha, deixa as meninas irem, elas são ótimas nessas coisas.
Tinha que admitir que ela estava certa, e também não estava sendo irônica, o que me deixava incomodada. Era mais fácil lidar com suas implicâncias do que quando estava sendo atenciosa. Sem reação, me voltei para Nara.
― Como está seu braço? Tem outra coisa quebrada, inchada, ou machucada que não esteja visível?
― O braço já está legal. Podemos ir? ― Ela nem titubeou.
Nádia, a mãe de Nara, e mais duas mulheres trouxeram baldes de água o suficiente para limpar a nós duas ainda sobrar. Jogamos água no corpo, tirando a maior parte da sujeira. Senti braços musculosos apertando minha cintura e, quando nossos olhos se cruzaram, o mundo desapareceu.
As guerreiras começaram a chegar, todas incluindo Calíope, que não costumava se misturar conosco. Era a segunda vez que ela se juntava a nós, talvez o fato de a irmã dela ter corrido perigo a tenha feito reconsiderar.
― Pensaram que ficaríamos fora da festa? ― Nalum sorriu.
― É nossa primeira batalha juntas, melhor que seja rápido e nos sirva de aprendizado. Vamos logo, que minha médica particular está quase tendo um AVC. ― Brincou Inaê. Mais atrás, Heloise observava de olhos arregalados.
A coisa sentiu nosso cheiro e veio em nossa direção. Eu e as meninas fomos para a entrada que ligava as duas crateras, porém ele foi mais rápido e tapou a entrada com a ponta do rabo.
― Abram o outro buraco, rápido!
Quando Ziam gritou, ouvimos a perfuradora fazer a terra tremer. Das duas, uma: ou a gente ficava soterrada, ou amassada pelo verme. E nenhuma das duas opções era agradável.
― Meninas, fogo! ― As chamas iluminaram a passagem, que não era muito comprida em comparação à largura.
Com o aumento da temperatura, a coisa liberou a passagem, batendo no chão com o rabo. Agora, com mais corpos, havia apenas espaço o suficiente para atravessarmos muito apertadinhas pela passagem. Sentimos o chão tremer e um bafo quente nas nossas costas. A baba respingada tornava o chão escorregadio, o que fez Nalum escorregar e deslizar de volta para onde viemos, em direção ao verme. Por pouco, eu e Nara, que ficamos na retaguarda, conseguimos ajudá-la.
― Subam agora! ― Ouvi o grito da Nara e nem olhei, desapareci nas sombras que se ergueram ao nosso redor e pousamos lá cima. Mais sujas que da primeira vez, mas todas com sorrisos enormes e ao ver isso, novamente me veio a certeza de já ter feito isso outras vezes, mas onde e quando?
Abri a boca para perguntar a Nara, mas parei quando senti uma picada no meu bumbum e uma sensação de queimação. Depois da ardência, não vi mais nada, tudo ficou escuro.
Nyxs desmaiou nos braços da guerreira negra, filha de Ananya e médica como a mãe. Heloise se tornou médica ainda adolescente, e apesar da pouca idade é uma excelente geneticista, dona de um QI invejável.
Vi Heloise aplicando uma injeção em seu braço, Lilith amparando a filha e com ajuda da própria Heloise as três desaparecerem no ar. Tentei sentir pela nossa ligação. Estava tudo calmo, como se estivesse dormindo. Também não senti a dor de ferimentos ou cheiro de sangue, somente um aroma avassalador de pimentas exóticas e gotas de limão, sal, vento e mar.
O cheiro suave circulava meu corpo, entrando nos poros e se impregnando como uma segunda pele, chamando o meu para se juntar. Ninguém ali presente sentiu ou percebeu o que tinha acabado de acontecer. Nyxs entrou no cio e seus hormônios atiçaram os meus num convite explícito para cobertura, o modo como os lobos escolhiam seus parceiros. E, como já somos companheiras, seu corpo chamava o meu.
Disfarcei o desejo, arrumando o bermudão abaixo da cintura e cobrindo qualquer vestígio de possível ereç*o. Me dirigi à cratera onde uma multidão assistia o Middengard empalado se contorcer, afundando ainda mais nas estacas.
― O que você pretende fazer com a coisa lá embaixo? ― Minha beta perguntou, ainda olhando para a direção que Nyxs esteve pela última vez.
― Vamos deixar ele morrer naturalmente. Dali ele não consegue sair, mas só para ter certeza colocaremos por cima uma tela de magia. ― Expliquei. Depois de uma pausa, acrescentei: ― Nyxs entrou no cio e seu corpo está chamando o meu.
Esther me olhou como se eu fosse um extraterrestre pousando na Terra para destruir os lobos.
― Isso é muito ruim, garota. Ela ainda não lembra do que aconteceu e nunca namorou, ela provavelmente nem sabe o que está acontecendo com o próprio corpo. ― Esther falou, por telepatia. Não podíamos correr o risco de deixar outras pessoas descobrirem.
― Não se preocupe, sou capaz de controlar meus instintos. Nunca a tomaria sem saber que ela quer ser minha e também nunca me entregaria por completo se ela não tivesse certeza de que somos companheiras. Já errei uma vez, não o farei de novo.
Ela me encarou, sentindo a verdade nas palavras.
― Pode ser que ela tenha viajado para o futuro ou para o mundo de onde o Middengard veio. ― Comentou com preocupação. ― Só o fato de ter entrado no cio não a nocautearia. Ela conhece o mundo de onde esse verme veio, capaz dela ter ido lá, conversar sobre a presença dele nas nossas terras. A Grã senhora daquele reino e Nyxs parecem se dar muito bem.
― É muito fácil gostar da sua neta, ela tem uma intensidade de sentimentos que põe qualquer um a seus pés. ― Pensei em quando Nyxs me olhava, de como eu ficava boiolinha quando ela sorria com suas duas covinhas e como aquilo dentro do bermudão ficava duro sempre que ela dava um jeitinho de encostar em mim.
― Pense em outra coisa, garota, antes que me coma aqui mesmo.
Gargalhei, a tensão se dissipando com o comentário. Me aproximei de Esther, esfregando meu coerpo na bunda avantajada da minha beta.
― Que tal fazer uma caridade para sua alfa que está louca para trans*r? Esqueça essa história de ser minha madrinha. O que me diz?
Ela me encarou, os olhos de cores diferentes como ficavam toda vez que perdia a calma.
― Vou te dizer o que acho. Estou pouco me fudendo para o Deus que te deu este pau, porque se der mais uma esfregada eu arranco ele fora!
Me afastei, rindo como se fosse louca. Para todos os outros que me encaravam, eu certamente era.
― Relaxa, Esther, eu só estava brincando.
― Por isso continua respirando. Você não tem cacife suficiente para trans*r comigo, garotinha. ― Rosnou entre dentes.
― Eu sei disso, mas você esquenta com facilidade, foi só uma brincadeira. Mas agradeço do fundo do meu coração, ficar perto de você baixou o meu tesão na hora.
― Porque nós duas somos laçadas. Isso vai acontecer com qualquer loba que se aproximar quando estiver no cio.
― Esther, brincadeiras à parte, vamos mudar de assunto. Chame Aldra e Nahemah, quero saber quem trouxe essa coisa para nossa reserva e quem rompeu a cerca mágica.
― Aldrava já está no perímetro verificando. Quando voltar terá uma resposta. Vamos embora, o dia foi puxado. Vocês estão fedendo para cacete e a Nalum já está dormindo em pé.
Fim do capítulo
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