CAP. 32 – Lembranças
Quando entrei no meu apartamento inspirei fundo me deixando levar pela última lembrança que tinha dele. Aquela noite maravilhosa que tive ao lado de Sam, sorri triste, lembrei também que naquele mesmo dia havia pedido ela em namoro. Caminhei até a porta de meu quarto, olhando aquelas paredes e móveis sem vida, a dor apertou fundo meu peito, me dando conta que aquelas coisas não valiam de nada se não tivesse alguém ali comigo, mas não uma pessoa qualquer, uma em especial.
Precisava esquecer, e para isso acontecer iria me livrar das lembranças. Saí de lá entrando em meu carro e ganhando a avenida, no dia seguinte entraria em contato com uma corretora, iria alugar ou vender aquele apartamento e procurar uma casa para mim. Queria um lugar grande onde pudesse imaginar crianças correndo pelo gramado, uma piscina enorme para nadar durante as noites quentes, e quem sabe alguém, para me fazer companhia.
Na manhã seguinte, cheguei cedo na empresa, precisava resolver alguns detalhes com a filial em Madri.
– Bom dia, Ellen.
– Bom dia, Bia, tudo bem?
– Sim, tudo ótimo, alguns ajustes que preciso fazer, a começar, preciso entrar em contato com minha secretária em Madri, pode fazer isso para mim, por favor?
– Claro Bia, transfiro a ligação em alguns minutos.
– Obrigada!
Segui para minha sala, o telefone tocou e atendi. Passei quase uma hora ao telefone com ela, desmarcando compromissos, agendando outros. Finalmente finalizamos a ligação.
Aquela semana não demorou a passar, estava entrando em uma rotina diária, engraçado, eu que não me apegava a isso, agora não consigo viver sem. Pelas manhãs acordava antes do sol nascer e ia correr, voltava para casa tomava banho de piscina. Praticava alguns minutos de yoga, me arrumava e ia para a empresa. Isso nos três primeiros dias, porque na sexta meu avô teve alta, e como estava cansado, não fizemos nada, mas no sábado ajeitei as coisas.
Preparei um almoço de boas-vindas, convidei alguns amigos apenas. Ele parecia bem-disposto conversando animado com todos. Por volta das treze, Sam apareceu sozinha, que pena, estava querendo ver a pequena maravilha, ela veio ao nosso encontro, Ângela levantou recebendo-a com um caloroso abraço e a trouxe para junto de nós. Um “oi” tímido em minha direção, e depois abraçou meu avô que sorridente perguntou:
– Onde está minha netinha?
– Foi para aldeia, Dr. Paulo, seu José passou para pegá-la hoje pela manhã, creio que estou perdendo minha filha para eles – sorriu, meu avô gargalhou dizendo:
– Relaxa cariño, ela está segura onde está.
– Sim, eu sei – sorriu discreta me olhando de canto de olhos e voltando a falar. – Minha preocupação é ela não querer mais sair do meio do mato, antes elas não desgrudavam, agora que Isa ensinou alguns truques então, não fala outra coisa a não ser ir para aldeia.
Sorri achando engraçado o modo dela falar e suas expressões faciais, tomei um gole de minha taça de vinho entrando na conversa:
– Suponho que ela esteja enorme, última vez que a vi era apenas um bebê?
Sam me olhou curiosa, mas respondeu minha pergunta:
– Não era tão bebê assim, sabia muito bem o que queria e arrancava isso de vocês – meu avô sorriu gracejando:
– A pequena sabe o que quer, vai ser uma mulher de negócios incrível – sorri dizendo:
– Isso é verdade, lembro que ela fez o vovô alugar um playground inteiro enquanto viajávamos. – Nossos olhos se cruzaram, sorri desviando a atenção para me copo.
– Ela é uma graça, sempre anima a casa quando vem aqui, é uma criança muito especial. – Ângela dizia sorrindo.
– Ela é meu maior tesouro, faço tudo para estar e ficar bem. – Disse emocionada, olhei para ela que me olhou por alguns segundos, mas desviou os olhos dizendo: – Apesar de ter crescido um pouco, vai continuar a ser sempre a minha pequena boneca.
A típica mãe coruja, sorri discretamente tomando uma dose de meu vinho, meu celular tocou, pedi licença para atender. Depois abri meu e-mail, tinha um da Maria me informando que na próxima semana teria uma reunião a qual ela não conseguiu desmarcar, respondi e a tranquilizei dizendo que estaria lá no dia agendando, deveria ter respondido mais cedo, mas com a movimentação na casa do meu avô, só vi agora, na segunda pela manhã resolveríamos isso.
Encostei na parede e fechei os olhos, alguém tocou meu braço perguntando:
– Problemas? – inspirei fundo ensaiando um sorriso e virando para responder:
– Na verdade não – não a reconheci e me desculpei perguntando – desculpa, mas você é quem mesmo?
– Juliana, sou advogada e amiga da Ana, trabalhamos juntas na empresa.
Sorri esticando a mão cumprimentando-a:
– Muito prazer, sou Beatriz – sorriu pegando em minha mão.
– Conheço você pelo nome, mas é um prazer ainda maior conhecê-la pessoalmente, Beatriz – indiquei o bar perguntando:
– Quer tomar alguma coisa?
– Vinho branco, por favor.
– Acompanho você – seguimos para lá, conversando, dei a volta no balcão pegando uma garrafa e voltei me sentando ao seu lado. – E então. Quanto tempo trabalha na P&H Coffee?
– Mais ou menos oito meses, Ana me apresentou ao Dr. Olivier em um almoço de negócios, e ele gostou de mim – tomou uma dose do seu vinho e concluiu – como estava chegando de viagem e ainda não tinha me adaptado, me convidou a vir trabalhar com ele.
– Meu avô sempre teve bom gosto e ótimos olhos para caçar talentos – sorri olhando discretamente para onde ele estava conversando com Sam, voltei a ela concluindo – espero que esteja se adaptando ao trabalho?
– Até o momento, o melhor lugar que já trabalhei em todos os meus anos de carreira, e algo me diz que vai ficar bem melhor a partir de agora.
Levantou a taça em sinal de brinde, com um sorriso nada discreto em seu rosto, sorri também, ia dizer algo, mas alguém apareceu dizendo:
– Olha só quem eu encontro aqui? – Nanda veio em nossa direção, se aproximou me dando um beijo e depois cumprimentando a moça dizendo: – Parece que já conheceu nossa chefe, Ju.
– Alguns minutos atrás, para ser sincera.
– Ela estava me contando como meu avô a encontrou – sorri abraçando minha amiga que disse brincando:
– Contou a ela sobre sua teoria de que o Dr. Paulo é um caça talentos?
– Na verdade, apenas comentei sobre isso.
Sorri sendo seguida pela moça que disse ainda me olhando:
– Vou adorar saber sobre essa teoria – inclinou a cabeça dizendo sincera.
– Agora não minha amiga, – Nanda disse agarrando em meus braços dizendo apenas – preciso roubar a Bia por alguns minutos.
– Quem sabe em outro momento? – sorri colocando minha taça sobre o balcão, concluindo: – Foi um prazer conhecê-la, Juliana.
– O prazer foi todo meu, Beatriz.
Segui com minha amiga atravessando a sala e entrando no escritório de meu avô, quando nos vimos só, ela disse sorrindo:
– Você não vai querer cair nas garras dela, Bia.
– O que? – sorri me sentando e olhando-a sem entender.
– Digamos que a Juliana é do tipo nada conservador e um tanto interesseira.
– Ah, que isso – sorri levantando e indo em direção a ela – nem me passou pela cabeça isso Nanda, de onde tirou essa ideia?
– Eu a conheço, e digo a você minha amiga, está no topo da lista de conquistas dela – balancei a cabeça gargalhando, dizendo em seguida:
– Até parece que quero me envolver com alguém agora, estou totalmente indisponível nessa área Nanda, fica tranquila.
– Não diga que não avisei – sorriu sentando no sofá cruzando as pernas, olhei para ela dizendo:
– Foi para isso que me arrastou a casa toda?
Balançou a cabeça batendo no sofá ao seu lado dizendo:
– Na verdade, tenho um assunto a tratar com você, chefinha – segui até onde ela estava, sentando ao seu lado, sorriu dizendo – fiquei sabendo que Curitiba em breve irá precisar de um novo administrador, uma vez que o responsável de lá está se aposentando. – Parou me olhando por alguns segundos e disse séria: – Conversei com Ana, e ela está interessada no cargo.
SamSeguimos a semana assim, fugindo de todos os lugares que possivelmente encontraria com a Bia na empresa, até estava conseguindo, se não fosse as reuniões de última hora que marcavam com ela, quase sempre no final do expediente. Participava, mas não interagia com o pessoal, até porque o meu setor era representado por Fernanda, e a mesma me disse que pediria uma reunião com a Bia, isso talvez no final do mês, queria colocá-la em dia com tudo o que aconteceu na sua ausência.
Os dias foram seguindo, nos finais de tardes sempre passava para dar um beijo em Ângela e saber como Dr. Paulo estava no hospital, soube que iria para casa no final de semana, e já fui intimada por ela, no sábado teria um almoço com alguns amigos dando-lhes boas-vindas, até tentei dar uma desculpa:
– Ângela, Diana quer ir para aldeia esse final de semana, e quer saber, também estava querendo ir para esfriar a cabeça.
– Você pode ir quando sair lá de casa, nada de inventar desculpa mocinha, quero te ver lá junto com todos nossos amigos.
– Não tenho escolhas? – sorri e ela me abraçou dizendo apenas:
– Não... – concordei apenas e seja o que Deus quisesse.
No sábado pela manhã seu José passou em casa com Isa, as duas correram para o quarto para pegar a bolsa de Diana que estava pronta desde a noite passada. Seguiram com ele, antes de entrarem no carro disse:
– Se comporta Diana, está bem?
– Tá bom mamãe, prometo – sorri beijando seu rosto voltando para o motorista:
– Obrigada seu José, diga a dona Maria que apareço mais tarde para ver como estão as coisas.
– Pode deixar menina Samantha, não se preocupe que vamos cuidar da sua menina.
– Confio em vocês.
Sorri e ele ligou o carro, fiquei observando até virarem a esquina e voltei para o apartamento.
Sentei na cama olhando para o guarda-roupas, sem saber o que vestir naquele dia. Estava ansiosa, mas ao mesmo tempo, receosa de como ela iria me tratar. Embora tenha sido profissional comigo na empresa, dessa vez estaria em sua casa, logo tinha medo se sua reação.
No fim optei por um social fino, estava quente naquele sábado, maquiagem discreta. Quando me olhei no espelho ensaiei alguns sorrisos, mas acabei desistindo quando os vi forçado demais. Segui para a mansão Olivier, quando cheguei vi que tinha poucas pessoas, e logo na sala dei de cara com os três sentados no sofá. A Bia ria de alguma coisa que o avô dizia, inspirei fundo seguindo para lá.
Fui recepcionada por Ângela, vi que Dr. Paulo estava bem melhor e interessado em saber de Diana, a Bia também demonstrou interesse por ela, lembrando algo que eu nem imaginava, nos deixando sem ação. Mas logo voltamos a conversar, dessa vez sem que ela me olhasse. Seu celular tocou e pediu licença para atender. Segui seus passos até a sala ao lado, onde discretamente fiquei olhando para ela até minha atenção ser chamada por Ângela que perguntou:
– Quer beber alguma coisa, Sam?
– Um suco apenas, estou dirigindo e pretendo ir para a aldeia mais tarde.
Uma moça nos serviu, os dois me acompanharam, logo o anfitrião perguntou:
– E Edmund, cariño, quando chega de viagem?
– Provavelmente na segunda, Dr. Paulo, da última vez que falei com ele estava todo animado e disse que viria com surpresas.
– Assim que que ele chegar, marque um jantar para matarmos a saudade, faz tempo que não conversamos.
– Com certeza o farei, provavelmente ele vai adorar – sorri tomando meu suco – ficou preocupado quando disse a ele o que aconteceu com o senhor.
– É um velho amigo, precisamos sair mais e aposto que agora terei tempo, já que a Bia está disposta a tomar meu lugar na empresa. – Olhei admirada para eles, perguntando:
– Ela veio para ficar? – o coração estava como com aquela novidade? Disparado.
– Até onde sabemos, ela está decidida a não partir mais. – Ângela disse sorrindo, ele completou:
– E estou muito feliz por isso, vejo que minha neta amadureceu muito nessa última temporada na Espanha.
Enquanto eles falavam, meus olhos caíram na direção onde ela estava, conversava com uma das advogadas da empresa, não recordava o nome, lembro apenas que era amiga de Ana. A moça estava só sorrisos e dedos para cima da Bia, flertando descaradamente com ela, uma pitada de ciúmes tomou conta de mim, mas balancei a cabeça jogando aquela sensação para longe e voltando a olhar para Ângela, essa que me encarava curiosa, perguntou em seguida:
– O que acha disso, Sam?
– Perdão, o que eu acho do que?
Olhei para ela sem saber o que exatamente ela queria saber, sorriu simpática dizendo:
– Sobre a Bia ter amadurecido, e ter voltado para ficar no lugar do Paulo?
– Ah, sim... – inspirei fundo me mexendo no sofá, naquele momento vi que Nanda arrastava a Bia para outro lado, bem longe daquela medusa cheio de garras, sorri dizendo: – Não sei ao certo, mas vi que ela está diferente mesmo, sinceramente, acho bom, assim Dr. Paulo consegue descansar sem muitas preocupações.
Ele sorriu, ela também mesmo assim me avaliava com outros olhos, o que me levou a pensar no porque estava tão interessada na minha opinião? Fui salva quando o almoço foi anunciado, seguimos todos para a mesa onde agora a atenção dos dois era voltada para os outros convidados.
Fim do capítulo
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