CAP. 31 – Encontros e desencontros
Quando fui pedir desculpa, meu coração disparou com aqueles olhos castanhos, agora vermelhos me encarando tão surpresa quanto eu, estaria ela chorando? Sem me conter elevei minha mão passando pelo seu rosto tocando sua pele de leve, seus olhos fecharam ao sentir meu toque e uma cicatriz que não me lembrava dela ter no supercilio me chamou atenção, nossos rostos estavam tão próximos que pude sentir sua respiração quente.
Não estava preparada para encontrá-la tão cedo, apesar de ter a certeza que cedo ou tarde isso iria acontecer, mas não com ela caindo em meus braços e no dia seguinte da minha chegada ao Brasil. De repente me lembrei de onde estávamos, pessoas passavam por nós pedindo desculpa, foi ela quem se recompôs primeiro, saindo de meus braços perguntando:
– Tudo bem, Bia?
– Estou... estou bem sim, e você como vai?
A minha respiração descompassada igual meu coração, desviou os olhos dos meus dizendo:
– Estou bem, obrigada por perguntar.
– Dona Eliza e a pequena Maravilha, estão bem, espero?
– Estão sim!
Sorriu tristemente, balancei a cabeça sem ter o que falar, balbuciei uma pergunta:
– Veio visitar meu avô?
– Sim! – pegou um lenço limpando os olhos concluindo: – Considero Dr. Paulo e dona Ângela como a minha família, estou triste pelo que aconteceu.
– Fiquei também, infelizmente não estava aqui quando aconteceu, e quando cheguei ontem não pude vê-lo.
– Ângela me disse que havia chegado, como foi de viagem?
– Tranquilo – desviei os olhos, ficamos assim por alguns instantes até ela dizer:
– Preciso ir, foi bom ver você Bia – sorriu sincera.
– Claro, foi bom ver você também... Sam.
Retribuí o sorriso e ela começou a andar em direção ao elevador, fiquei olhando-a como se tivesse hipnotizada, entrou nele e antes que a porta fechasse vi seu último olhar. Bem mais do que nos meus, a saudade estava presente nos dela também. Soltei o ar me encostando na parede, meu Deus como ela ainda mexia tanto comigo? Mesmo depois de tudo o que aconteceu entre nós, será que não iria superar aquele sentimento nunca?
Esperei minha respiração voltar ao normal, caminhei em direção a sala onde meu avô estava com aquelas perguntas martelando em minha mente. Antes de entrar no quarto inspirei fundo ensaiando um sorriso, bati na porta e entrei dizendo:
– Alguém aqui pediu uma pizza?
– Bia, cariño.
– Vovô...
Em poucos passos alcancei sua cama, e antes que conseguisse me conter, lágrimas começaram a correr pelo meu rosto, de saudades e medo de não estar ali se algo mais grave tivesse acontecido. Expressei meus sentimentos e emoções, andava muito emotiva naquela última semana, fui recepcionada por abraços e beijos de ambos, quando nos separamos sorri limpando uma lágrima, perguntei:
– Então, como isso foi acontecer com o senhor, pensei que fosse uma fortaleza em pessoa?
– O tempo me deixou assim, meu bem. Acabei me rendendo a idade.
– Não creio que apenas isso tenha o deixado assim – sorri, mas a seriedade em meus olhos me alertou a fazer a pergunta seguinte – anda trabalhando demais e isso está acabando com o senhor.
– Temo que isso seja verdade cariño, apesar de Ângela tentar, eu não dou ouvidos a ela. – esticou a mão que a senhora pegou gentil, ambos se olharam e sorri dizendo:
– Agora que voltei, não iremos mais nos preocupar, o senhor vai tirar as férias que merece, e não vamos discutir mais isso – sorri e ele me olhou avaliativo, sorriu perguntando:
– Suponho que tenha ideia de um substituto para mim na empresa, estou certo?
– O senhor não vive falando que está na hora de assumir minhas responsabilidades diante da nossa empresa?
– Sim, mas não achei que estivesse tão decidida.
Inspirei fundo olhando para ele, sentei ao seu lado confessando:
– Amadureci muito nessa minha última temporada na Europa vovô, percebi que sempre que a responsabilidade apertava eu fugia – sorri triste, desviando os olhos dos dele por segundos, mas voltei firme dizendo – agora o senhor pode confiar em mim, não irei mais fugir.
– Sempre confiei em você cariño, desde quando era criança, sabia que não iria me decepcionar.
– E pretendo seguir assim vovô – levantei abraçando Ângela, dizendo – no entanto, quando o senhor estiver recuperado e bem, voltamos a esse assunto, agora quero saber que história é essa de proibir Ângela de me avisar sobre o que aconteceu?
– Não queria preocupar você, meu bem, viajou às pressas deixando suas obrigações de lado.
– Pois saiba que as “minhas obrigações” estão em dia, e nada é mais importante que a família para mim, essa que não anda muito bem agora, – sorri pegando firme em suas mãos concluindo – mas iremos vencer mais essa batalha.
– Cariño...
Ele apertou minha a mão, me aproximei trazendo Ângela comigo dizendo emotiva:
– Vocês são mais importantes para mim do que qualquer outra coisa, lembrem-se sempre disso. Eu amo vocês.
Ficamos alguns minutos em silêncio, mas logo voltamos a conversar, eles queriam saber o que andei aprontando em Madri, sorri narrando os últimos acontecidos, rimos bastante. Logo seus amigos foram chegando para visitá-lo, precisei sair do quarto e Ângela me acompanhou, abraçadas seguimos até a sala de espera, quando chegamos peguei um café entregando a ela que sorriu dizendo:
– Esse não é tão bom quanto o nosso.
– Não mesmo cariño, não mesmo – rimos, tomei um gole do meu e em seguida ela disse:
– Samantha esteve aqui um pouco antes de você chegar.
Desviei meus olhos dos dela, sorrindo sem jeito e disse apenas:
– Encontrei com ela quando cheguei.
– Viu como está abatida?
– Notei alguma coisa – tomei mais um gole de meu café e ela insistiu:
– Conversou com ela?
– Ângela... – sorri, peguei em suas mãos e disse carinhosamente – Cariño, acabei de chegar de uma viajem longa, vovô está nessa situação – ela me olhava séria, sorri dizendo – a princípio é nisso que quero focar, a saúde dele, tudo bem?
– Certo, Bia – me olhou, mas não se deixou levar, sabia que ela não iria desistir.
Conversamos um pouco mais, o pessoal foi se despedindo e entrei no quarto de meu avô para me despedir dele. Apesar de sua situação ser um pouco delicada, receberia alta em dois ou três dias, mas faria acompanhamento e estaria de repouso total.
Segui direto para a empresa quando saí do hospital, precisaria falar com Maria, mas o adiantar das horas não consegui. Falei com algumas pessoas quando entrei, fui saudada por Ellen que me deu as boas-vindas, agradeci.
– Obrigada querida pelo carinho, agradeço! – Sorri pegando suas mãos que foram estendidas, inspirei fundo dizendo: – Preciso de alguns relatórios que minha secretaria de Madri mandou, pode providenciar isso para mim, por favor?
– Claro, em alguns minutos levo para você.
Depois de analisar os documentos e assinar, fui até a janela, que saudades estava daquela visão. Os arranhas céus tomando conta da cidade, os carros buzinando no transito abaixo, me fizeram sorrir, por perceber que até mesmo disso sentia falta.
Alguém bateu na porta e autorize a entrada, Ana e Fernanda entraram sorridentes, dei a volta na mesa abraçando as duas dizendo:
– Que saudades de vocês, como estão?
– Nossa, Bia, nem acreditei quando me disseram que você estava no Brasil. – Fernanda disse toda animada, sorri perguntando:
– E quem falou que eu estava aqui?
– Estávamos em reunião com Samantha mais cedo – Ana disse despreocupada, nos sentamos e ela continuou – ela deixou escapar que você estava no hospital visitando Dr. Paulo.
– Pois é, cheguei ontem de viagem. Não poderia deixar de vir depois do que aconteceu.
– Verdade, e como ele está? – Nanda perguntou preocupada:
– Bem, se recuperando! – sorri cruzando as pernas seguindo: – Graças a Deus foi apenas um susto, ele vai ficar bom.
– Estamos na torcida para isso, Dr. Paulo é nosso comandante aqui, precisamos dele.
– Verdade Ana, desde que comecei a trabalhar aqui na P&H Coffee, nunca vi aquele homem parar, com exceção a morte de dona Helena que abalou a todos. – Nanda disse saudosa e sorrindo: – Mas, ele logo se recuperou e voltou para nós.
– Meu avô é um guerreiro, mas precisa parar enquanto é tempo – as duas me olharam e sorri dizendo – agora que voltei, não pretendo ir embora novamente, e já avisei a ele que suas férias estão garantidas.
As duas riram e eu as segui, conversamos mais um pouco, mas logo tiveram que voltar a trabalhar, segui com elas me despedindo de Ellen também, precisava resolver algumas coisas antes de voltar para casa de meu avô, uma delas era providenciar a limpeza de meu apartamento, provavelmente precisaria de algumas reformas, combinamos de nos encontrarmos em breve e nos separamos no elevador.
Esse que ao se abrir e eu entrar dei de cara com Sam, estava cabisbaixa mais me olhou quando Ana se despediu chamando meu nome. Nos olhamos, ela sorriu tímida e retribuí o sorriso, não estávamos sozinhas, Renata e mais duas pessoas me saudaram dando as boas-vindas, conversei um pouco com eles, quando o elevador abriu no andar de baixo ela saiu, não disse nada, mas me olhou quando as portas se fecharam.
Por uma fração de segundos nossos olhos ficaram presos, mas ela se foi, uma moça que estava no elevador disse algo que chamou minha atenção. Desci no térreo juntos com eles, me despedi seguindo para a recepção e de lá para o estacionamento onde entrei no carro e segui para o condomínio onde ficava meu apto.
SamNem precisei olhar para saber nos braços de quem havia caído, o mesmo aroma de perfume... O mesmo toque das mãos, por alguns segundos fechei os olhos embarcando naquela sensação gostosa, mas voltei a realidade no instante em que seus dedos tocaram meu rosto, me recuperei e saí de seus braços. Ela estava mais magra e seus braços mais fortes, a seriedade tomou conta de seu semblante, antes brincalhão.
Conversamos um pouco, mas não demorou muito me despedi, precisava me recompor ou acabaria desabando na frente dela. Segui pelo corredor até o elevador com a sensação dela estar me olhando, quando ele estava fechando levantei o rosto e a vi, sorria discretamente ainda parada no mesmo lugar. As portas de metal me privaram daquela visão, consegui respirar ao mesmo tempo em que meu corpo sacudiu.
Quando Ângela disse que ela estava no Rio, a minha única pergunta era: “Quando iríamos nos encontrar e como esse encontro seria?”. Não foi fácil, definitivamente eu não estava preparada para aquele momento, agora saía do elevador seguindo para meu carro no estacionamento do hospital, mãos tremulas, entrei e fiquei algum tempo até conseguir me controlar, precisava voltar ao trabalho.
Passei em casa primeiro, para tomar banho e tirar aquele cheiro de hospital, ou seria o dela que ficou impregnado em meu nariz e roupa?
– Deus, me ajude a ser forte nesse momento...
Me olhava no espelho, não era a mesma pessoa, há muito tempo que não encontrava um sorriso sincero em meus lábios, a não ser quando estava com minha filha, essa que conseguia me alegrar até nos momentos ruins. Mas aquela mulher que conhecia quando estava com a Bia, tinha morrido dentro de mim, ou estava apenas adormecido não sei. A dor ainda era grande, abalava a estrutura de meu corpo e se eu não me controlasse, iria me abater novamente, e não podia deixar isso acontecer.
Inspirei fundo limpando meu rosto, me arrumei e segui para a empresa, tinha uma reunião com Fernanda e Ana, assim que cheguei fui ao encontro delas. Depois que terminamos e estávamos conversando, deixei escapar, quando as duas comentaram sobre o Dr. Paulo, que a Bia estava no Rio, interessadas fizeram algumas perguntas, mas saí pela tangente, até porque não saberia saciar a curiosidade das duas.
Voltei para minha sala e entrei de cabeça no meu trabalho, estava quase no horário de ir para casa, mas precisava passar no RH para pegar alguns documentos, segui para lá. E antes que me desse conta, lá estava a Bia novamente, sorrindo discretamente, conversando com o pessoal que davam boas-vindas a ela, no elevador.
Fechei os olhos por alguns minutos, e acabei descendo um andar antes do meu, mas não deixei de olhá-la mais uma vez, como se eu conseguisse não o fazer, ela sorriu acenando com a cabeça e mais uma vez as portas nos separaram, segui pelas escadas até o RH, peguei os documentos, voltei para minha sala e dei o dia por encerrado, fui para casa.
Fim do capítulo
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