Capitulo 4
Elisabete estava sozinha na mesa, e a recebeu com uma cara de assustada.
“Nossa, pensamos que você tinha fugido, feito uma besteira... Estamos preocupadas... Espera aí: que sorrisinho bobo é esse aí, dona Olívia? Não vai me dizer que você resolveu dar mais uma chance pra...”
“Calma, não foi nada disso. Eu perdoei sim, mas não foi a Fabíola. Ela que vá pra ponte que partiu” – Olívia ainda sorria enquanto se sentava – “Cadê a Rose?”
“Foi ao banheiro. O que exatamente você estava fazendo lá fora?”
Roseane surgiu apressada nesse exato instante. Pegou no braço da amiga e examinou-a de cima a baixo.
“Caramba. Olívia! Que susto você nos deu! A gente já tava quase indo atrás de você lá no estacionamento...”
“Calma, gente, que caras são essas? Parece que viram uma assombração! Eu tô bem, tô viva, não tá faltando nenhum pedaço” – Olívia meneou os braços a título de “demonstração”, enquanto soltava um riso descontraído.
“Pra quem saiu daqui com uma cara de quem ia se acabar de chorar, até que você tá parecendo que viu o passarinho verde...” – Roseane mediu-a de cima a baixo, desconfiada, antes de se sentar – “Aliás, coisa muito estranha: a sua ex-amiguinha babaca tava lá no espelho toda feliz e cantarolante, retocando a maquiagem... Parece que tá tendo uma epidemia de passarinhos verdes neste lugar hoje.”
Elisabete foi a primeira a ligar os pontos. Ergueu as sobrancelhas e abriu a boca, sorrindo matreira:
“Acho que já sei quem a senhora estava ‘perdoando’ lá fora...”
Roseane olhou para a esposa sem entender, mas logo também somou um mais um.
“Não acredito! Sério, Olívia? Você gosta de ser trouxa mesmo, hein? Primeiro, fica aceitando chifre calada, depois dá moral para uma pirralha idiota que te humilhou, só porque ela é gostosinha?”
O sorriso de Olívia murchou. Roseane reconheceu que se excedeu.
“Ok. Desculpa. Desculpa. Eu não queria ser grosseira. É que eu não aguento mais ver você dando chance para gente que só te faz mal.”
“Desta vez ninguém me fez mal. Se quer saber, falar com a Alana foi a melhor coisa que podia ter feito hoje.”
Olívia contou tudo resumidamente, desde o encontro fortuito na saída do toalete, a descoberta sobre o quase date de Alana com a já quase ex-namorada de Olívia, o longo entendimento entre as duas no estacionamento, e como Olívia saiu daquilo tudo revigorada e autoconfiante para terminar um ciclo ruim e seguir adiante.
As amigas ouviam, embasbacadas.
“Deixa eu ver: a garotinha, antes uma cabecinha de vento que fez bullying com você, justificando que estava apaixonada, que quase saiu com sua namorada hoje, te consolou, te deu conselhos amorosos e de vida... Foi isso mesmo que eu entendi?” – Elisabete franziu a testa.
“Basicamente.”
“É... Este mundo capota mesmo...” – disse Roseane.
“E, pelo jeito, ela ainda tá muito na sua, pelo que você contou...” – Elisabete arriscou.
Olívia apenas olhou para um ponto perdido com um meio sorriso, balançando a cabeça de leve.
“E, pela sua cara, ela não tá sozinha nessa...”
“Ih, já vi tudo!” – Roseane suspirou.
“Apesar de tudo, acho que hoje não é um bom dia para pensar nisso. A Alana pode até ter me animado um pouco, mas não muda o fato de que, a essa altura, a Fabíola deve tá procurando uma substituta na lista de contatinhos dela...”
Roseane se inclinou e esticou o pescoço para poder enxergar a mesa onde a família de Alana estava. Deu com os olhos da garota cravados ansiosamente na direção de Olívia. Assim que viu Roseane, Alana baixou a cabeça, disfarçando.
Um brilho maligno iluminou o rosto de Roseane.
“Amiga, se você não fosse tão boazinha e certinha, eu sugeriria que você pegasse a bonitinha ordinária ali hoje, só de vingança...”
“Que isso, Rose!” – Elisabete se escandalizou.
“...e tirava uma selfie bem safada com ela pra mandar pra Fabíola” – completou Roseane.
Alana interrompe:
“Acho que, daqui pra frente, a gente deve dispensar a narração e contar tudo nós mesmas, não é?” – se aconchega carinhosamente em Olívia.
Narração em off:
Como? Por quê? Eu estou contando a história de vocês tudo certinho, do jeito que vocês exigiram...
Olívia:
“Agradecemos a sua colaboração, você foi bem até aqui, mas agora achamos que devemos relatar todo o resto com nossas próprias palavras.”
Alana:
“É, agora queremos dividir nossas experiências em primeira mão. Só nós sabemos o que sentimos naqueles momentos, e falar através de você pode não ter o mesmo... Uhm... Sabor!”
Olívia:
“Sem falar que eu não me sinto bem com essa ‘terceira pessoa’, mesmo simbólica, falando de algo tão íntimo e especial para nós. É como se tivéssemos um voyeur descrevendo nossa relação amorosa, igual a um narrador de futebol. Você está dispensada.”
Narração em off vai embora resmungando:
Como se mais gente não fosse ler essas coisas... Até parecem aquele ex-príncipe da Inglaterra e sua esposa: reclamam o tempo inteiro que a mídia não lhes respeita a privacidade, mas aparecem a todo o momento em todos os programas e meios midiáticos para expor suas intimidades. Não faz sentido!
Olívia.
Tinha horas em que eu me divertia com o cinismo de Roseane, e tinha horas que ela me assustava. E era assim que eu estava em minha cadeira naquele momento: perplexa, boquiaberta, a mente em branco.
“Eli” – respirei depois de um longo tempo – “Você não tem medo dessa psicopata que você chama de sua mulher?”
“Ah, para, Olívia!” – Roseane riu e bateu na mesa meio impaciente.
“Eu tô acostumada” – Elisabete balançou a cabeça, olhando de soslaio para a esposa.
“Eli, ela mataria dois coelhos com uma cajadada só! Daria um belo troco na Fabíola, que tá merecendo faz tempo, e ainda pegaria, sem se apegar, a bonitinha ordinária. Olha que ideia brilhante!”
“Que ideia perfeitamente redonda para descer descarga abaixo!” – respondi indignada.
“Você pegou o número dela, não pegou? Então, manda uma mensagem sugerindo um after, quando a família dela for embora, e aí é com você. Se não quiser fazer nada, tudo bem, mas ia ser muito engraçado se, pelo menos, vocês duas tirassem uma fotos juntas e esfregassem na cara dessa sua namorada canalha que a casa caiu pra ela...”
“Nisso ela tem razão...” – murmurou pensativa Elisabete.
“Sei não... Eu não acho certo usar a Alana numa palhaçada dessas...”
“Olha, amiga, eu não confio nem um pouco nessa menina, você já sabe” – disse Roseane – “Mas, dá pra ver que você ainda sente alguma coisa por ela, só por essa consideração em não querer usá-la numa vingança.”
“Que isso, Rose!”
Elisabete observou:
“Ela também não tirou os olhos de você desde que vocês voltaram...”
“Parem de ficar dando tanta bandeira de que estamos falando dela, por favor!” – pedi, me encolhendo de vergonha na cadeira e cobrindo o rosto.
“Apenas estou dizendo que seria uma boa vocês saírem juntas, nem que seja para conversar, se reconectar, ou só para você se distrair dessa fase ruim que você tá passando” – insistiu Roseane – “Nem precisa ser hoje, se não quiser, e nem tô falando em afrontar a Fabíola, mas, de repente... Ai, pode ser que eu me arrependa do que vou dizer, mas vá lá: vou pensar com a sua cabeça. Você pode descobrir que, no fundo, só foi apaixonadinha por essa menina bonita no passado, e sente apenas saudades daquele sentimento, e então, se desilude de vez. Ou, vamos supor que, por um milagre, ela se tornou a boa moça que diz ser, e você dá uma chance a ela, com cautela, óbvio, pra não entrar em mais uma cilada. E dá tudo certo. Você só tem a ganhar. Concorda?”
“Não concordo, não senhora. Não estou com cabeça pra isso agora. Só preciso ir pra casa, descansar, pensar um pouco...”
“Enquanto isso, a Fabíola continua te enchendo de galhada por aí, e em vez de ficar sozinha, você poderia estar na companhia de uma garota que praticamente tá se jogando pra cima de você no meio de todo mundo. Dá só uma olhada, ela não para de te secar!” – Rose fez um gesto discreto com a mão.
Virei a cabeça para a mesa onde Alana estava. Ela se abriu num sorriso encantador, como se, de fato, estivesse esperando ansiosamente que eu a notasse. Não vou mentir: aquilo derreteu alguma coisa muito dura e fria que ainda restava dentro de mim. Devolvi o sorriso.
“É, senhora advogada, não tem como argumentar contra você!” – realmente, às vezes a Rose me assustava.
Roseane apenas fez um gesto como se dissesse “eu sei”, e Elisabete riu, orgulhosa. Aquelas duas eram meu anjo e meu diabinho da guarda!
Peguei meu celular e salvei o número de Alana em meus contatos. Digitei:
“Vc já disse aos seus pais q seus amigos desmarcaram o rolê?”
“Sim, pq?”
“Ah, q pena. Então não temos uma desculpa...”
“Desculpa pq?”
“Pra vc ser minha super-heroína desta vez”
Ela me olhou incrédula, e parecia muito feliz enquanto digitava:
“Eu posso inventar outra coisa. Me dá só alguns minutos”
“Estou lá fora, no estacionamento, no mesmo lugar”
“Ok”
Alana:
Eu devia estar tremendo da cabeça aos pés, mas acho que meus pais nem notaram quando falei:
“O Frankie me chamou pra sair só nós, já que o resto furou.”
“Aonde vocês vão?” – meu pai perguntou meio desconfiado.
“Acho que ele vai se apresentar hoje.”
Me despedi de todo mundo e saí pela porta da frente. Depois dei a volta e fui para o fundo do estacionamento lateral.
Ela me recebeu com um sorriso charmoso e uma pergunta estranha:
“Você bebeu hoje?”
“Por quê?”
“Eu bebi, então não posso dirigir meu carro. Pensei que você poderia...”
“Ah... Eu também bebi um pouco sim. Mas onde você queria ir?”
“Nenhum lugar em mente, pretendia dar uma volta com você e decidir no caminho.”
“Você ia me deixar conduzir, se eu não tivesse bebido, é?”
Fui mais para perto dela, desafiando-a. Ela mordeu o lábio inferior com essa provocação e riu, sem responder.
“Eu tenho uma ideia. Você confia em mim?” – eu disse.
“Uhm, depende...”
“De quê?”
“De suas intenções...”
“Foi você que me chamou para sair, e eu é que tenho intenções suspeitas?” – ela ainda me olhava de lado com um meio sorriso desconfiado. Dei mais um passo em sua direção e peguei em seu braço – “Olha só, eu sei que você está passando por um momento difícil. Só me dê uma chance de melhorar a sua noite. Tudo bem? Não vamos fazer nada que você não quiser.”
Ela me olhou de cima a baixo com aqueles olhos escuros e acenou com a cabeça. Peguei meu celular:
“Fran, vc tá nos corres ainda?”
“Acabei de acabar gata. Tá precisando ir aonde?”
Expliquei para ele o local por mensagem. Como ela ainda me encarava desconfiada, contei metade da verdade:
“Pedi um Uber para nós.”
“Pra onde?”
“Se-gre-do!”
Alisei a gola de sua camisa, aproveitando para roçar “sem querer” um dedo em seu pescoço. Ela se arrepiou com meu toque, mas tentou disfarçar. Que vontade de roçar mais dedos naquele pescoço moreno sedoso! Se não fossem os manobristas e os clientes saindo do restaurante...
Logo o HB20 preto estacionou do outro lado da rua. Frankie me acenou pelo vidro filmado entreaberto. Atravessamos e entramos quase correndo.
“Alana, o que você está aprontando?” – ela fingiu me dar uma bronca assim que fechei a porta.
“Olívia, esse aí é meu amigo Francisco, mas pode chamá-lo de Frankie. Frankie, esta é a Olívia”.
Ele a avaliou de cima a baixo, admirado.
“Realmente, miga, você tem um gosto impecável! Que mommy!”
“Para, Fran, não fala assim, ela é tímida!” – eu ri e dei um tapinha no ombro dele.
“Desculpa, mona, não te ofendeu, né?” – ele virou pra ela, que fez sinal negativo com a cabeça – “Quando a Alana falou de você agora a pouco, do jeito que ela falava o tempo inteiro quase dois anos atrás, eu até baixei minhas expectativas, porque achava que ela podia tá exagerando, e o amor é cego. Mas desta vez ela não tava cega não: você é muito gata, com todo o respeito!”
Fran deu a partida no carro e saiu. Fechei o vidro.
“Alana, eu pensei que a gente ia de Uber...”
“Ué, e estamos indo mesmo!”
“Às vezes eu pego o carro do meu irmão emprestado pra fazer esses bicos. Mas, se um dia quiser conhecer meu outro trabalho, lá na ‘Casa All Free’ eu me apresento como Frankie LaRose nas competições de vogue” – ele fez uns movimentos de mão como se dançasse.
“O Fran me faz essas corridas particulares às vezes. Relaxa” – apertei sua mão carinhosamente – “Vamos, migo, você já sabe pra onde.”
“Só eu que não sei ainda, né” – reclamou ela.
“É uma surpresa. Se você não gostar, o Frankie te leva pra casa.”
Dobrei uma perna sobre o banco e sentei-me de frente para ela. Seus olhos foram imediatamente para o meio de minhas pernas, exatamente como eu queria. Ela até engoliu seco.
Fiz um carinho em seus cabelos negros. Desta vez fui mais ousada, desenhei sua mandíbula e desci as unhas pelo seu pescoço. Ela tinha os olhos em chamas.
Frankie, como se adivinhasse que precisávamos daquele momento de privacidade, ligou o som. Tocava uma música muito bonita, que eu não me lembrava do nome, nem de onde já tinha ouvido antes.
“Sabe quanto tempo faz que eu estou esperando por este momento?” – sussurrei meio rouca, invadindo seu olhar.
“Uhm?”
“Desde aquele dia que eu quase fiz o que vou fazer agora, mas você não deixou, e eu estraguei tudo depois. Quero retornar àquele instante e continuá-lo, como deveria ter sido.”
Disse isso já quase tocando seus lábios com os meus. Mergulhei e me apossei da boca dela. Eu já não tinha controle de nada, uma onda intensa de paixão e desejo levou todas as minhas reservas.
Ela é minha, só minha, eu sou só dela, somos nossas, minha alma fugindo pela boca, entre nossas línguas que se envolviam, indo para dentro dela, enquanto eu recebia a alma dela através desse beijo, como uma bênção.
Minhas mãos bagunçavam seus cabelos, as dela acariciavam desordenadamente minha cintura. Mas só fomos perceber isso uma eternidade depois – porque acho que foi esse o tempo que durou nosso beijo, e não me importa o que os relógios terrenos marcaram – , ao olharmos uma para a outra, ofegantes. Ela soltou aquele risinho doce que eu amava desde que começamos a nos falar naquela sala de aula do cursinho, e eu percebi que meu vestido tinha sido erguido um pouco além da conta.
“Seu cabelo tá engraçado. Desculpa!” – ajeitei-o para ela.
“Não tem importância. Sua calcinha está aparecendo” – ela sussurrou, puxando a barra do meu vestido para baixo.
“Também não ligo.”
“Acho que a gente deve se segurar um pouco, em respeito ao Francisco, né?”
“É Frankie pra você também, mona. E tá tudo bem, finjam que não estou aqui” – ele aumentou ainda mais o volume do som.
Desta vez Olívia me agarrou e retomou o beijo. Voltamos a viajar naquele espaço-tempo paralelo de um universo só nosso, enquanto as últimas estrofes da música calavam fundo em mim:
Oh, is me, the last time that you touched me, oh will wonders ever cease? Blessed be the mystery of love…
Sim, abençoados sejam esses momentos. Que fiquem conosco para sempre, se multipliquem, nos contaminem incuravelmente!
Adorei como ela foi perdendo a vergonha aos poucos, e suas mãos procuraram por debaixo do meu vestido, ainda no carro mesmo. As pontas de seus dedos devem ter percebido que todo o tecido de minha lingerie estava encharcado, talvez até mesmo o vestido. Ainda bem que o Frankie coloca capa de plástico nos bancos quando vai fazer corridas!...
Gemi baixinho em sua boca, e ela enlouqueceu. Senti seus dentes me morderem, sua outra mão me apertar a cintura com força, enquanto ela me dedilhava. Ah, meu Deus, o jeito como ela fazia isso superava até as melhores fantasias que já tive com ela!... Que mulher!
Nem me dei conta quando minha mão entrou por baixo de sua camisa, invadiu seu sutiã e agarrou um daqueles seios com os quais sonhei por tanto tempo. Ela definitivamente parou de se preocupar por não estarmos a sós e gem*u quase alto, sua boca ainda grudada à minha. Em resposta, movi meus quadris o quanto podia naquele espaço limitado, me roçando ainda mais em seus dedos mágicos.
Ela desviou minha calcinha para o lado, e foi a minha vez de gem*r alto. Os dedos dela eram malandros, sabiam como me torturar: passeavam entre meus lábios, se demoravam em meu clit*ris, pressionando-o na medida certa, depois se insinuavam na minha entrada, sem penetrar completamente, para depois saírem e voltarem a percorrer todo o trajeto de antes.
Tudo bem que o Frankie é um irmão e parceiro pra toda vida, mas acho que morreria de vergonha se goz*sse na presença dele, e estava prestes a fazer isso.
Acho que ela percebeu, e afastou a mão. Lambeu os dedos, sorrindo toda safada para mim.
Olívia:
“Tudo a seu tempo. Eu sei esperar” – beijei-a para compensar a carinha linda de frustração que ela fez.
Quando o carro parou, levei um tempo para me situar. Havia luzes de néon colorindo nossos rostos.
“M-mas... Alana! Como assim?”
“Tcharam!” – ela abriu o vidro e com falou a recepção do motel – “Reservei a suíte presidencial. Aqui está meu documento. Olívia, me empresta o seu, por favor.”
“Como assim, suíte presidencial? Você sabe quanto custa...”
“Vamos, não temos tempo! Seu documento!” – ela me interrompeu.
“Alana, como você pretende pagar por isso?”
“Nossa, assim você me ofende! Eu posso pagar, sabia?”
“Não sabia não... Me desculpa!”
“Está desculpada” – ela ficou séria de repente – “Era aqui que eu ia me encontrar com... Você sabe quem. Eu não queria perder a reserva, porque é um lugar maravilhoso. Mas ainda dá tempo de desistir, se não quiser. Eu vou entender.”
Olhei para o imenso letreiro do motel de luxo, as luzes rosa-lilás de vários spots ao redor do muro externo, e então me veio uma fúria como nunca antes. Então era por isso que aquela desgraçada, que eu chamava de minha namorada, sempre se recusava a vir aqui comigo, alegando que a gente já tinha nossa cama, e ela não gostava de motéis.
A ironia do destino era mais que perfeita.
“Você não quer?” – ela pareceu insegura, como se tivesse cometido um erro. Encarei Alana decidida:
“Quero. Vamos!”
Frankie entrou pelo portão, rodou algumas ruas, e nos deixou na frente do quarto reservado.
“Qualquer coisa, me liga. Beijos, gata! Tchau, mommy!” – ele deu uma piscadinha para mim. Alana ria.
Entramos, e eu hesitei por um instante.
“Você pode me esperar um pouquinho? É que eu só tomei banho hoje de manhã, quer dizer, ontem, já passou da meia-noite. Saí do trabalho, fui pra faculdade e de lá fui direto para o restaurante. Só uns minutinhos, prometo que vou ser rápida.”
Ela pulou sobre mim com um beijo possessivo. Terminou mordendo de leve meu lábio inferior.
“Anda logo então!” – fingiu estar braba.
“Sim senhora!” – bati uma continência sorrindo e corri para o chuveiro.
Menos de um minuto depois, ela entrou sem bater na porta. Eu estava desabotoando minha camisa, levei um susto. Alana colou seu corpo no meu e disse:
“Por que não me deixa dar banho em você naquela hidromassagem enorme lá fora?”
Até que não era má ideia.
“Que assim seja. Hoje eu só te obedeço, porque você tá pagando tudo.”
Ela riu. Já havia ligado a torneira e enchido de sais aromáticos e pétalas desfolhadas de rosa que ela pegou de um arranjo na cama. Em seguida, deslizou seu vestido ombros abaixo, deixando-o cair. Como se não bastasse, virou de costas, baixou a calcinha e me encarou por cima do ombro.
Eu devia estar com a cara de uma completa idiota nesse momento. Mais uma vez, engoli a seco.
“E aí, vai entrar de roupa mesmo?” – ela veio até mim e terminou de desabotoar minha camisa, tirando-a. Me despiu, peça, por peça, me comendo com os olhos.
Ela queria me tirar do sério, e estava conseguindo com muito êxito. O jeito como ela tirou minha roupa e me admirava de cima a baixo, sedenta, me arrancou dos eixos!...
Alana abraçou minha cintura e me conduziu para dentro da hidromassagem. Quis agarrá-la quase imediatamente, mas ela me conteve:
“Eu disse que vou te dar banho, esqueceu?”
“Se você continuar me olhando assim, vou acabar me esquecendo...”
“Então me deixe te olhar com as mãos também.”
Alana se posicionou atrás de mim e começou a esfregar o sabonete em meus ombros, braços, nuca, pescoço. Entrou pelas axilas e agarrou meus seios.
“Tá me dando banho ou se aproveitando de mim?”
“Os dois.”
Disse isso e mordiscou minha orelha. Depois me arrastou para trás, apoiando as costas na parede da banheira e abrindo bem as pernas para me colocar entre elas. Uma de suas mãos desceu e começou a me acariciar, enquanto a outra continuava a brincar gostosamente com meu peito. Quase desmaiei de prazer quando, para completar, sua língua começou a percorrer a lateral de meu pescoço e minha orelha.
Ao mesmo tempo em que me estimulava, ela estava se esfregando em mim por trás!
“Ah, meu Deus! Alana...”
“Delícia...” – sussurrou ela entre beijos e lambidas.
Eu não tinha forças para mais nada. Conforme o prazer ia aumentando, eu me entregava cada vez mais. Ela ofegava em meu ouvido e me apertava mais forte contra si.
Nem sei mais que sons saíam de minha garganta. Quando dei por mim, já estava aumentando o volume de minha voz, e a ouvi:
“Vamos, meu amor, estou quase lá também!...”
Acho que gritei muito, porque inclinei meu torso para frente, quase não suportando a violência do orgasmo. Alana cravou seus dentes em meu ombro para abafar seus gritos.
Precisei agarrar às bordas da banheira para não afundar. Ambas tremíamos, enquanto uma sensação de paz e satisfação me invadia. Pendi a cabeça para trás, me deixando cair no ombro dela.
Por um tempo, apenas o barulho ocasional de pequenos movimentos na água e nossas respirações desacelerando gradativamente.
Com uma mão ela alisava meu genital com suavidade, enquanto a outra me acariciava os cabelos e o rosto meio molhados. De repente, ela começou a encher a lateral de minha cabeça de beijos longos, ternos e profundos.
Alana:
“Será que eu tô sonhando?” – eu disse baixinho.
“Tá não. Garanto pra você” – tomou meu rosto em suas mãos.
“Se for um sonho, por favor, não deixe ninguém me acordar?” – meus olhos começaram a arder – “Me deixe aqui adormecida pra sempre, sentindo você, sua pele, seu cheiro. Quero que nunca mais me acordem desse sonho!”
Ela encostou sua testa na minha.
“Olívia...”
“Estou aqui.”
“Diga isso de novo.”
“Estou aqui. Estou com você.”
“Tenho medo de dizer...”
“O quê?”
“Você sabe. É óbvio.”
“Por que tem medo?”
“...”
“Quer que eu diga primeiro?”
Meneei a cabeça.
“Eu te amo, Alana.”
Eu não queria estar chorando, mas quando vi, as lágrimas já tinham escapulido e corriam pela minha bochecha.
“Eu te amo, Olívia! Inferno, como eu te amo!”
Ela riu, mas também parecia emocionada.
“Eu te amo, minha menina. Não vou a lugar nenhum.”
“Promete?”
“Juro.”
Encostei mais uma vez minha testa na dela. Ri, envergonhada.
“Eu sou dramática, né?”
“É sim. Muito. Mas a gente lida com isso.”
Nos amamos na banheira, depois saímos e nos amamos na cama. Até nos esquecemos de nos enxugar, mas quem se importa? Olívia me carregou até lá, segurando-me com as pernas enroscadas em sua cintura, enquanto nos beijávamos. Desde quando ela era tão forte assim?
Ela deitou por cima de mim, me beijando com fúria, lentidão, como se quisesse tirar minha alma do corpo só com aquele beijo.
Sem parar de me beijar, pegou minhas coxas e posicionou-as com precisão. Em seguida, encaixou suas pernas com maestria, fazendo nossos quatro pares de lábios se unirem. Soltei um urro de tanto tesão.
Eu estava perdendo a cabeça com aquela esfregação deliciosa. Entre gritos e suspiros altos, já não conseguia me controlar. Comecei a dizer muitas indecências:
“Ah, Olívia! Sua bucet* na minha... É bom demais! Eu te quero toda, quero seu suco no meu... Mulher gostosa do caralh*... Ah, isso é gostoso demais! Esfrega, rebol* em mim, delícia! Ahhhh, eu não vou aguentar mais... Você vai me fazer goz*r de novo Olíviaaaaaaaaaaaaa! AAAAAHHHHHH!!!”
Que sensação maravilhosa é explodir assim no ponto mais íntimo do corpo da mulher que você ama!... E vê-la explodir em seguida, quase junto com você! Se alguém acha que conhece algo melhor, não quero nem saber o que é...
O rosto lindo dela durante e após o orgasmo era um espetáculo à parte. Corada, gotículas de suor naquela pele morena-oliva, que combinava bem com o nome dela, olhos fechados, um sorrisinho angelical... Ela esticou as pernas e se deitou sobre mim, e eu amei sentir seu peso no meu corpo.
“Como você é linda!” – ela disse baixinho, ofegante, me olhando com admiração.
“Que coincidência! Eu estava pensando exatamente a mesma coisa de você” – respondi, também quase sem ar.
Nosso beijo nesse momento foi lento, compassado, longo, como se quiséssemos confirmar que nossos corações haviam alcançado um ao outro, junto com nossos corpos.
“Tá cansada”? – perguntei, e ela negou com a cabeça.
Acariciamos uma a face da outra por alguns minutos.
Então empurrei-a delicadamente. Exigi:
“Quero sentir seu gosto!”
Abocanhei um seio, enquanto acariciava o outro, aproveitando cada curva e saliência daquele mamilo eriçado, com todos os lados, a parte de cima e a de baixo de minha língua. Ela se contorceu toda, embora seu linguajar fosse bem mas decente que o meu:
“Ai... Ai meu Deus... Ah!... Assim você acaba comigo, garota!” – gemia ela.
Dei um tratamento especial e igualitário para aquelas duas belezas redondas e empinadas que ela trazia no peito. Depois, provoquei:
“Você vai ver do que a garota é capaz!”
Inverti minha posição, deitei-me de lado, afastei a coxa dela e coloquei minha boca na sua vagin*. Encaixei meu quadril em seu rosto. Não foi necessário dizer nada. Logo estávamos degustando o sabor de nossas secreções misturadas, como quem mata a fome e a sede ao mesmo tempo.
A língua dela era uma coisa de outro mundo. Não sei se era a experiência, se era a paixão, ou ambas, mas Olívia sabia se conduzir na minha bucet* como se conhecesse o caminho certo desde há muito tempo.
Eu, por meu lado, fazia tudo conforme meus instintos e minha gula insaciável por ela. Nenhuma outra garota ou mulher com quem estive antes me despertou tamanha vontade de devorá-las. Nenhuma tinha esse cheiro, esse gosto. De uma fêmea que era só minha, a única por quem esperei e esperaria quanto tempo fosse necessário, e a quem eu também pertencia com exclusividade.
Caímos quase mortas uma ao lado da outra, depois de atingir não sei quantas vezes o clímax. Nos aconchegamos de mansinho, ela me abraçando e eu deitada na região entre seu ombro e seu seio esquerdo, que eu continuava a acariciar distraidamente.
“Você topa fazer uma sacanagem?” – ela me perguntou.
“Mais do que já fizemos?” – ri sem forças.
Ela disse baixinho em meu ouvido a sugestão de uma de suas amigas.
“Adorei! Só se for agora!” – respondi.
Tomamos cuidado para que apenas parecesse uma selfie normal: colocamos os robes do motel, e nos encostamos em uma parede. Juntamos nossas cabeças e, com a mão livre, Olívia tirou uma foto só de rosto de nós duas, praticamente escondendo o cenário ao redor. Em seguida, no editor de imagens, colocou uma legenda em letras elegantes: “Sorry, seu date de hoje já tinha outro compromisso”, e enviou-a no Whatsapp da agora ex-namorada. Rimos bastante. Ela então silenciou o celular, e fomos dormir.
Acordei com o sol que entrava pela porta de vidro que dava para a piscina na área externa. Meu coração, que dormiu em paz e pleno, parou no segundo seguinte: Olívia não estava na cama. Nem na banheira, nem lá fora, nem em lugar algum. Eu estava completamente sozinha.
Meu coração agora era um motor pulando desesperado dentro de meu peito. Corri para o celular. Nos highlights aparecia a última mensagem dela, que abri atormentada:
Minha linda:
Desculpe sair sem avisar desse jeito. Recebi uma mensagem urgente da Rose, aquela minha amiga advogada que você viu no restaurante. Parece que minha ex resolveu fazer algo pior que um escândalo por causa da nossa foto, então eu tive que vir resolver o quanto antes os problemas que ela causou. Não se preocupe, no máximo, depois que sair da detenção, ela vai ter que me ressarcir por alguns danos materiais, responder por importunar os vizinhos e agredir um policial.
Não quis te preocupar e perturbar seu sono com essas coisas desagradáveis, então te deixei aí descansando. Se ainda não te levaram, logo vão levar o café da manhã completo que eu encomendei com todo o carinho. Prometo que, da próxima vez, desfrutaremos dele juntas.
Também tomei a liberdade de pegar o contato do seu amigo Frankie e avisá-lo da situação. Ele estará esperando para te buscar, quando você chamá-lo.
Mal posso esperar para nos vermos ainda hoje mais tarde, de novo. Aí eu te devolvo... Ops, esqueci de avisar: não resisti e levei sua calcinha comigo para sentir seu cheiro enquanto não estivesse com você. Espero que não se importe, mas se quiser ficar braba comigo, tudo bem. Desde que me perdoe e me dê muitos beijos depois.
Com amor,
Olívia.
Minha primeira reação foi cair na cama de novo e rir sozinha, e chutar meus próprios pés enquanto lia cada palavra. Rolei para lá e para cá, feito uma criança boba, e beijei a tela do celular várias vezes. O sol da manhã abençoava meu corpo nu, ainda cheio do cheiro e da sensação dela em cada célula minha.
Em seguida, veio a preocupação. Mandei mensagem perguntando se ela estava bem, se não corria perigo, e como resposta, recebi uma selfie dela saindo pela porta da frente de uma delegacia, de óculos escuros, toda elegante e sorridente. Embaixo, escrito: “Tudo na mais perfeita ordem! Nos vemos mais tarde, meu amor!”
“Sim, nos vemos mais tarde, com certeza, Olívia!” – murmurei em estado de graça.
Alguém tocou a campainha da porta, anunciando o café da manhã. Cobri meu corpo com um lençol e gritei feliz: “Pode entrar!”
Fim do capítulo
Ufa, demorou, mas consegui fazer sair esse último capítulo dessa mini-historinha. Literalmente postei e saí correndo pra minha aula, sem dar tempo de colocar as notas finais, mas agora estou aqui.
Mesmo que não tenha sido muita gente, agradeço de coração quem acompanhou até o final. Foi divertido e especial para mim. Nessa ficção tem muita emoção, lembranças boas e ruins que emprestei às personagens, minha, de amigas, conhecidas, além da imaginação correndo solta também kakaka!
Espero que quem leu teve uma experiência interessante, e mesmo quem não gostou, estou aberta a críticas, como já disse antes (mas com carinho, tá? meu coração é de um neném ksksks).
Um grande beijo e até a próxima! <3<3<3
Billie Ramone.
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Lea
Em: 03/04/2023
Que perfeito esse conto! Quanto conexão dessas duas! MISERICÓRDIA! ADORO!
Billie Ramone
Em: 04/04/2023
Autora da história
Muito feliz de tê-la aqui me acompanhando até o fim! Sim, apesar da trama simples, eu adoro uma história de conexão de almas! Romântica incurável kakakakakaka!
Beijooooos e até a próxima! (((((((((:
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thays_
Em: 02/04/2023
Adorei esse último capítulo! Nada mais do que justo!
Billie Ramone
Em: 02/04/2023
Autora da história
Eu me diverti muito escrevendo essa parte, que bom que gostou também (((((((:
Estou acompanhando sua história, e estou amando a Amanda, com perdão dos trocadilhos kakakaka!
Beijoooooos!!!!!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 01/04/2023
Eita Fabíola é bom né agora tu sentiu o gosto da traição, toma distraída.
Billie Ramone
Em: 01/04/2023
Autora da história
Da traição e do xilindró, que foi melhor ainda né kakakakaka!
Muito obrigada por acompanhar até o fim querida! Mil beijos!
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 01/04/2023
Olá, tudo bem?
Bom conto erótico, e tudo na medida certa. Fácil de ler e 'digerir'. Parabéns. Pode 'mandar' outro.
É isso!
Post Scriptum:
'Quando você está satisfeito por ser simplesmente você mesmo e não se compara ou compete, todo mundo te respeitará. '
Lao-Tsé,
Filósofo E Escritor Da Antiga China
Billie Ramone
Em: 01/04/2023
Autora da história
Aiiiii meu Deus! Deixe eu respirar! Simplesmente amei a citação de Lao-Tsé, ou Laozi, como nós chamamos no curso de Taoísmo que estou fazendo! Estou em uma fase de minha vida que o desafio é justamente esse: eu me superar, me respeitar, e sair vencedora contra todas as minhas sombras! Muito obrigada pelo feedback, com certeza vou deixar as emoções fluírem em outras escritas. Não sei quando mas vou kakakaka!
Beijos enormes!
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Billie Ramone Em: 04/04/2023 Autora da história
Oficializadas elas já estão, mesmo que não tenha tido um pedido. Extras... quem sabe? Eu gosto de deixar esse finalzinho aberto, mas nada é impossível. Feliz demais que tenha gostado!