Capitulo 12
Depois de várias tentativas fracassadas de abrir os olhos, finalmente Walkiria pôde ver a luz do dia. A cabeça latej*v* e uma sensação estranha rondava seu estômago. Tentou elevar a cabeça, mas o desconforto freou o movimento. Olhou para o lado e logo percebeu que estava na cama de Dália. Imediatamente lembrou dos acontecimentos das últimas horas da noite, mas faltava-lhe algum detalhe, pois não se lembrava de ter dormido com ela. Instintivamente passou as mãos pelo corpo e notou que estava vestida. Com esforço olhou por debaixo do lençol e viu que usava a mesma roupa que saíra de sua casa para o jantar. Tudo muito estranho, mas agradeceu por estar com suas roupas. Não queria mais fazer sex* com Dália sem uma conversa séria e muito menos tê-lo feito sem consciência dos seus atos. Suspirou várias vezes até conseguir se sentar na cama. Ouviu Dália cantarolando no banho e com algum esforço, dirigiu-se para lá.
-Ei...bom dia! - Disse com a voz arrastada.
-Ah, a maravilhosa acordou. Está tudo no lugar?
-O que aconteceu? Tenho a cabeça às voltas...
-A tua tolerância ao álcool diminuiu consideravelmente. Ontem, depois do restaurante, passamos no Laguna bar porque eu queria ver algumas pessoas, tomaste dois shots e foi suficiente para quase entrares em colapso.
-A sério? Não consigo me lembrar...
-Tiveste um apagão, delícia. Tive trabalho em trazer-te para cá...ah e sem contar que a senhora quase vomitou o meu carro.
-Não? Meu Deus...
-Calma, senhora perfeição. Não vomitaste, mas eu temi pelo estofado do meu possante.
Enquanto Dália relatava tudo com riqueza de detalhes, Walkiria, percebeu para seu desconforto o que realmente tinha acontecido. Sabia perfeitamente que dois shots depois de duas taças de vinho, seriam suficientes para causar um estrago na sua cabeça. Bebera para não encarar uma situação que sabia que aconteceria. Que ridículo! A que ponto chegara...
-Eu ainda tentei reanimar-te, afinal estou com saudades da minha namorada gostosa, mas acho que nem a coisa que mais gostas nessa vida te animaria. Morreste para ressuscitar ainda mais linda.
-Peço desculpas por ter estragado a tua noite...- Walkiria fingia um constrangimento que não sentia. A sensação era de alívio. A realidade era que experimentava muitas emoções e todas conflituosas.
-Nós vamos ter tantas noites. Com saudade que estás de mim, não vejo a hora que me engulas. - Piscou o olho e lambeu os lábios com lascívia.
Walkiria forçou um sorriso, mas a sua vontade era ir embora dali. Estava desorientada...
-Que tal aproveitarmos o dia...estou morrendo de vontade de ti...- Dália saiu do banho toda molhada e encurralou Walkiria contra uma das paredes do banheiro.
-Precisamos conversar...- Walkiria tentava se esquivar, ainda que de forma velada.
-Não senhora, precisamos bagunçar aquela cama, ou onde quiseres...estou com saudade das tuas loucuras. Quem vê esse ar sério e compenetrado não imagina a mulher deliciosa que és numa cama...eu fico doida...
Notava-se que ela estava mesmo muito doida. O detalhe era que não era uma loucura compartilhada e Walkiria queria apenas ir embora e colocar suas ideias em ordem.
-Estás a molhar a minha roupa...- Tentava empurrá-la, mas sem muito sucesso.
-Quero provocar verdadeiras inundações...
Walkiria aproveitou um momento em que ela se abaixava para beijar-lhe a barriga e empurrou-a.
-Preciso ir! Estou atrasada para o trabalho e a Greta deve estar doida por notícias minhas. - Aprumou-se e saiu do banheiro.
-Ah porcaria de trabalho...e me deixas assim? Walkiria, pelo amor de Deus...- Suplicava.
-Banho gelado resolve. Tchau!
*****
-Ei, tudo bem? Hmmm, acho que não...
-Estou com muita dor de cabeça. Exagerei na bebida...
-Tu? Isso é um acontecimento. - Brincou.
-Cheguei atrasada para o trabalho e, por agora, não vou conseguir fazer nada. Minha cabeça não para de rodar. Aconteceu tanta coisa...preciso processar...
-Wiki, desculpe a intromissão...dormiste com a Nahima?
-O quê? Estás doida? - Walkiria quase recuperou a sobriedade na totalidade.
-Walkiria, tu me disseste ontem que ias jantar com a Nahima e um amigo dela. Voltas hoje com roupa de quem saiu para jantar e a essa hora, queres que eu pense o quê? Não me parece muito uma atitude tua, mas vá saber os poderes que essa italiana disfarçada de inglesa, ou espanhola, tem.
As duas riram muito das conjecturas de Greta.
-Dormi com a Dália! Na casa dela...
-Dália? Ela voltou de surpresa? Meu Deus, que noite animada...
-Noite doida em que bebi demais...a Dália apareceu no restaurante lá em São Francisco...
-E deu seu show, já consigo imaginar a cena...
-Exatamente! E eu sem paciência para contrariá-la, fui embora com a viajante. Depois de terminar o meu jantar maravilhoso, que fique claro.
-O amigo da Nahima é tão boa gente quanto ela?
-Sim! Ele é escritor, culto, apaixonado por cabo verde. Está a escrever um romance sobre os últimos anos da vida da mulher dele, que era cabo-verdiana. Foi uma noite memorável. - Finalmente sorriu o que não passou despercebido a Greta.
-Nahima e seus efeitos maravilhosos na tua vida...
Walkiria não respondeu. Pareceu analisar o que a amiga acabara de dizer. Não conseguiu evitar um sorriso...dois...a mente voou para lugares e momentos perfeitos...
-Preciso descansar um pouco. Não te importas de tocar o barco sozinha? Prometo que volto daqui a pouco...
--Vai lá, sócia. Podes tirar a manhã de folga. De vez em quando é bom. - Sorriu.
*****
O tão propalado descanso de Walkiria, resumiu-se a um treino intenso no seu saco de boxe. Uma vez em casa, percebeu que não era o corpo que estava cansado e sim a mente. Um verdadeiro tumulto, na realidade. Um treino intenso, suar bastante e muitos gritos com eco na natureza, era disso que precisava.
Algum tempo depois de socar e chutar muito o saco de boxe, estirou-se no chão. Sentiu a necessidade de esticar o corpo, alongá-lo, mas não entendia muito bem daquelas práticas. Sem muita paciência, desistiu. Chamou por Zuri e nada. Gritou alto para ver se ele aparecia. Em vão.
Entrou em casa, bebeu água e pegou o telefone. Queria ouvir um pouco de música antes de seguir com seu dia. Talvez a música colocasse as coisas em ordem...
Debruçada sobre a varanda e tendo a face acariciada pela brisa da manhã, ouvia Sina na voz de Ellah, enquanto sua mente tentava ordenar pensamentos desconexos. O treino ajudara um bocado, mas ainda se sentia levemente desorientada.
-Atos inconsequentes que salvam e depois apresentam a fatura cara de mais para ser paga. - Riu de si mesma. - Desde quando eu preciso de subterfúgios para resolver a minha vida? - Indagou-se. - Desde que não sabes o que fazer e não entendes uma virgula do que se passa nessa cabeça doida. - E ela mesma respondia às suas indagações.
Rolou a tela do telefone vezes sem conta sem entender muito bem o que procurava e nem se efetivamente procurava alguma coisa. Olhou as horas e decidiu que já tinha esgotado o tempo da sessão terapia ao ar livre. Precisava trabalhar, focar a mente em outras coisas que não seus devaneios sem sentido. Respirou fundo e soltou o ar lentamente. De onde vinha aquela inquietação? Era algo diferente...parecia uma ânsia...latente, porém presente. Deslizou o dedo pela tela do telefone mais uma vez e veio a explosão...ansiava por notícias de Nahima.
De um sobressalto entrou em casa, ciente de que estava completamente doida.
*****
Cansada de esperar por algum sinal de Nahima e sem conseguir ligar para ela, num rompante pouco usual, Walkiria decidiu ir até à casa dela. Estava mais preocupada ainda, porque ela nunca deixava o telefone desligado. Poderia estar numa área sem cobertura, numa reunião de longa duração, mas precisava de certezas.
Foi com esse ímpeto que deixou o hotel rumo à Aldeia Vinniard. Entretanto, antes de iniciar o percurso a pé até á aldeia, viu uma cena que provocou alguma inquietação. Greta estava dando uma carona a Gary e pareciam muito próximos e relaxados. Olhou as horas e concluiu que as aulas de Greta já tinham terminado. Será que iam passear? Não estava certa se Gary tinha tour com clientes do hotel. Precisava entender muita coisa e acima de tudo, precisava conversar com a sócia para definir se tinha ou não razões para se preocupar.
-Mais essa...era só o que me faltava!
*****
A preocupação deu lugar à frustração, assim que Walkiria constatou que Nahima não estava em casa. Espreitou lá para dentro, mas claramente a casa estava vazia. Tentou mais uma ligação, mas o aparelho permanecia desligado. Sem muito o que fazer, sentou um bocado na cadeira de baloiço e passou alguns minutos tentando entender aquele alvoroço repentino. Não podia estar tão acostumada com a estrangeira a ponto de ressentir-se com a sua ausência de algumas horas. Sorriu ao concluir que estava carente. Bom, além de carente, gostava da leveza de Nahima, da risada, da forma como ela ponderava as coisas...
-É isso, eu gosto dela. Acho que é uma amizade que me faz bem. Bom, ela só não pode inventar de me beijar e muito menos provocar minhas fraquezas.
Riu às gargalhadas. Por estar a falar para o vento e pelas conjecturas malucas.
De pé, tentou decifrar com o olhar qual seria a casa de James. Estava claramente a agir por impulso, mas essa era a menor de suas preocupações.
*****
-Desculpa aparecer assim...- Depois de agir, sentia-se um pouco estranha, mas para a sua sorte, James tinha um sorriso quase tão resplandecente quanto o de Nahima.
-Olá, minha querida, fico muito feliz com a sua visita.
-Na realidade eu não vim...eu fui procurar a Nahima e como ela não estava, passou-me pela cabeça que poderia estar aqui...
-Hmmm, vejo que a Nahima não teve como te avisar...
-Avisar de quê?
-Ontem, depois que foste embora, ela comentou que tinha esquecido de te avisar que passaria 3 dias na Praia.
-Ah...- Experimentou um desânimo que não fazia o menor sentido. Não poderia estar tão apegada aquela mulher...
-Ela foi para um evento das Nações Unidas e todos os participantes ficam alojados no mesmo espaço e claro que não fazia sentido esse vai vem entre as cidades. Eu também estou com saudades dela. Nossas conversas são a melhor parte do meu dia exaustivo e solitário.
-Tenho a impressão que escrever um livro é bem difícil...
-Desafiador, às vezes desgastante, mas eu me divirto tanto. Eu adoro o que faço, mas uma companhia tão leve e instigante como a Nahima, também tem muita valia. Adoro conversar com pessoas bem mais jovens, eu aprendo muito.
-E com certeza deve ensinar muito mais...- Sorriu ao se lembrar da conversa maravilhosa do jantar da noite anterior.
-O que vais fazer agora?
-Estava animada a experimentar uma prática de Yoga com Nahima, mas ela não está...e sigo resistindo ao novo. - Riu e foi acompanhada de James.
-Eu vou tomar um chá e adoraria ter a tua companhia. Aceitas?
-Claro!
-Olha que não és tão resistente às novidades. Aceitaste de pronto tomar um chá com um velho quase desconhecido. Se bem que essa frase tem novo e velho numa sequência desproporcional.
Riram às gargalhadas.
-Eu adoro chá e gente interessante. Ah, e não esgotamos nossos assuntos no jantar...
-A Nahima, além de muitas outras características abonatórias, tem um excelente gosto para as amizades. Eu estou lisonjeado e precisando vigiar esse meu ego.
Ouviu-se mais uma sonora gargalhada.
*****
Deitada no chão de madeira do seu quintal, Walkiria refletia sobre aquele dia que começara numa toada e agora terminava noutra completamente diferente. Depois do chá, que quase virou jantar com James, recebeu uma chamada que a deixou muito feliz. Sua amiga Leida, dos tempos da adolescência, estava na Praia para apresentar um megaprojeto da construtora para a qual trabalhava, e queria vê-la. Estava com pouco tempo, mas queria ao menos beber alguma coisa com ela. Walkiria decidiu que faria melhor, iria à apresentação e depois aproveitariam um happy hour em algum dos espaços maravilhosos da capital. Não via Leida há muito tempo, já que ela tinha ido tentar a carreira no estrangeiro. Na altura, Walkiria apoiara a decisão, já que ela era uma arquiteta com ideias muito progressistas para o mercado tradicional da terra. E estava certa, a amiga tinha alcançado sucesso numa grande empresa espanhola. Era tão bom ver o sucesso dos amigos. Riu ao lembrar das suas loucuras juntas. Leida era agitada, frenética, o posto dela e talvez por isso se complementavam tão bem. Estava cansada de ter de lidar apenas com problemas e falta de dinheiro. As risadas com a amiga eram garantidas e visitar a cidade sem ser para reuniões tensas ou compras para o hotel, também eram um bom chamariz. Estava feliz, mas precisava ir deitar porque levantava com as galinhas.
No quarto, depois do banho, quando se preparava para deitar, ouviu o som de mensagem no telefone. Correu para ver quem era e para seu desalento era Dália e mais uma de suas atitudes egoístas e sem noção.
"Gostosa, tem festa em São Lourenço. Amigas loucas, gente de vibe maravilhosa e sem paranoia. Passo aí para te pegar em 20 minutos. Vamos sacudir o corpo e depois a cama cá de casa. Beijo gostoso nessa boca maravilhosa e que é só minha."
Walkiria olhou o relógio e já passava das 22 horas. Revirou os olhos e desligou o telefone.
*****
Assim que se sentou na mesa do bar que Leida tinha escolhido para passarem algum tempo juntas, Walkiria imediatamente percebeu que estava um pouco aflita. O bar àquela hora estava repleto de pessoas querendo descontrair depois de um dia de trabalho e havia muita gente solteira e alegre. Nada demais para a Walkiria de tempos atrás, mas desde que se hibernara nas montanhas, tinha uma certa dificuldade em ficar sozinha em bares. Quase sempre, tinha que agir com rispidez, quando era abordada por algum homem e não estava com a menor paciência para inventar histórias que fizessem os homens correrem. Respirou fundo e pediu a Deus que Leida não demorasse.
Tinha ido ao lançamento, mas a amiga precisara de mais tempo para entrevistas e outros pormenores e tinha sugerido que ela a esperasse num dos bares mais tops da cidade. Leida não podia demorar muito porque ela ainda tinha que subir para Rui Vaz e tinha algum receio da estrada da serra á noite.
Agradecia a limonada que a atendente tinha servido quando ouviu uma voz que lhe aguçou todos os sentidos:
-Que as Deusas só olham para a frente eu já imaginava, mas a mortal aqui não aguentou ficar apenas admirando de longe. Oi! - O sorriso...
Walkiria tinha quase certeza que estava a delirar, até porque passara grande parte do dia pensando exatamente nela.
-Oi...que fazes aqui? Ah, desculpa...não estava à espera...- Sorria de testa franzida.
-Não me diga que só eu estou radiante com a surpresa de te encontrar aqui? - Nahima provocou com seu melhor sorriso.
-Senta aqui...se puderes. Acho que fiquei sem reação...- Sorria também e ainda exibia um semblante que misturava espanto e felicidade, que deixou Nahima encantada.
-Passaste por nós logo ali, mas parecias estar noutra galáxia. Vim aqui com amigos, na realidade vim com um amigo que conheci nos tempos que morei no Sal e ele estava à espera de uma outra pessoa que acabou de chegar.
-Eu vim beber alguma coisa com uma grande amiga a quem vim prestigiar hoje. Ela está de passagem relâmpago por cá e só temos essas horinhas. Ela ficou de chegar daqui a pouco e eu já estou incomodada...não gosto de ficar sozinha em bares...eu sei, parece coisa de gente doida e eu não era assim, mas...
-Não seja por isso, eu me sento aqui até tua amiga chegar. Posso?
-Já tinha te convidado. Os teus amigos não vão ficar chateados?
-Olha para lá, ali à esquerda - Apontou para um casal não muito distante. - Achas que estão com cara de quem vai se incomodar com a minha ausência? O César está a babar na menina.
Riram e Walkiria concordou.
-Realmente. Meu Deus, que bom que existem coincidências e que bom que moramos numa ilha...
Riram.
-E olha que essa é a maior de todas e a capital do país...nada nos impede de tropeçar uns nos outros. Neste caso, que maravilha!
Sorriram e por instantes encontraram-se numa intensa troca de olhares, algo que se assemelhava a uma busca desenfreada por alguma coisa muito preciosa.
-Fui procurar-te em casa do James, acreditas? - Walkiria saiu daquele torpor, ou...
-Naquele dia no jantar, depois da tua saída intempestiva é que me dei conta que não te contei dos dias que teria de passar aqui...
-Poderias ter telefonado, uma mensagem...-Walkiria arrependeu-se daquela atitude. Parecia cobrança e não tinha direito de cobrar nada e nem era disso.
-Tens razão, mas não quis perturbar o teu reencontro. A tua namorada parecia ansiosa para estar a sós, e sou contra atrapalhar casais apaixonados.
Ela olhou para baixo e depois para o lado, o que não passou despercebido a Walkiria. Pareceu-lhe uma reação que ainda não conhecia, ou não estava muito certa do significado. A única certeza que tinha no momento era que não queria perder seu tempo precioso e curto a falar de Dália.
-Estás a gostar do trabalho? James disse que estavas muito feliz com o convite.
-Muito! O César, que anos atrás era diretor financeiro do hotel onde morei e Yuran era diretor geral, agora é diretor de um projeto muito interessante na ONU. Mudou completamente o rumo da profissão e está mais feliz agora. Nos encontramos por acaso na internet e desde então temos estado próximos e veio o convite da agência dele. Estou muito feliz com esse encontro e seus desdobramentos.
-A tua alegria é contagiante. Fico feliz por ti...
-Ah, mas parte dessa alegria tem outro nome...
Sorriram e mais uma vez ficaram presas em algum universo paralelo.
-Vais dormir aqui?
-Não...só vou beber um copo com a Leida, conversar um pouco e voar para casa...
-Amanhã, depois do almoço eu já estou por lá...
-E eu vou para a aula de Yoga. Fui ontem, convicta que experimentaria, mas minha professora não estava...
Riram.
-Vai ser um prazer. Mas não é para desistires na primeira tentativa...
-Mas eu não desisto de nada. Por mais difícil que seja...não sei porquê, estou com a sensação que vais massacrar esse meu corpo sem flexibilidade.
Riram às gargalhadas. Tocaram-se. Mãos quentes nos braços uma da outra. Os olhares também incendiavam. Nahima, mais solta e espontânea, grudou seu corpo em Walkiria e por ali ficou. A recetividade do outro corpo era um convite a permanecer.
-Vamos tomar um branco gelado? Esse fim de tarde majestoso pede algo assim, concordas?
-Hum-hum...há muito que não vinha aqui, mas vale pela fama que tem.
-Eu adorei! Já é a segunda vez que cá venho em dois dias.
-Aproveitaste bem a passagem pela capital. Não sei o que é, mas estás com um brilho diferente e levemente bronzeada.
-O bronze explica-se pela praia de Kebra Canela. Eu vim ontem e hoje também, depois do congresso. Eu gosto do mar...do por do sol...sabes o que lembrei hoje ao mergulhar?
-Hmmm? - Walkiria estava tão envolvida com aquela conversa que já esquecera completamente o real motivo de estar naquele bar.
-Que estou com uma vontade doida de te ver com pele dourada carregada de gotículas de diamante. Quando vamos nadar? Ah, e dessa vez, farei fotos.
Walkiria riu alto e bebeu um gole generoso de vinho. Experimentou um calor subindo do pescoço, passando pela face e arrepiando-lhe o couro cabeludo. Nahima sorria, os olhos brilhavam, ela resplandecia e...tomava vinho. A conexão entre as duas naquele instante poderia ser sentida a quilómetros de distância.
-Acho que alguém bebeu algumas taças de vinho a mais. - Sorriu - E sim, vamos nadar um dia desses e vou te levar numa praia maravilhosa.
-Duas taças, essa é a terceira e asseguro-te que isso para mim é tranquilo, ainda não estou bêbada. Eu fiquei tão feliz com a tua chegada nesse bar...não estava à espera e se queres que eu seja bem sincera, estava com saudades das tuas chatices.
Riram muito.
-É, três dias é tempo de mais para estar longe da minha chatice carismática.
Mais gargalhadas.
-Sobre a praia maravilhosa contigo, vou adorar.
A intensidade dela deixava Walkiria confusa. Mas não era uma confusão que afugentava, pelo contrário, estava completamente encantada, tomada por aquele momento. Nahima era intensa, mas era assim com todos...ou não? Ah, pensaria nisso depois...
-Será que eu consigo convencer-te a vir jantar aqui comigo? Calma, não é hoje, mas um dia desses. Jantamos e depois voltámos para Rui Vaz...eu dirijo e prometo não beber mais de uma taça de um bom vinho.
Walkiria controlou-se para não perguntar o que ela queria efetivamente. Não sabia se era apenas uma mulher simpática, carinhosa, intensa, louca, ou...ou o quê? Não poderia sequer pensar naquela possibilidade. Já tinha confusão demais na sua vida. Respirou fundo e piscou os olhos algumas vezes. Sinal de nervosismo que poucos conheciam.
-Ok, já entendi. Estiquei a corda. - Riu com um semblante diferente, talvez estivesse levemente constrangida. - Retiro o convite para jantar na cidade, pode ser lá pelos nossos lados mesmo. Gostei da nossa primeira experiência...tudo bem que perdemos um pouco de controle no final, mas já está devidamente superado...
-É só não exagerarmos no vinho. - Walkiria entrou na brincadeira.
-Isso!
-Uma pena que tenhas respondido por mim...
-Virias? - O brilho nos olhos era de um magnetismo estonteante.
-Vais ter de fazer o convite e esperar para ver a minha reação. Não facilito a vida de ninguém.
-Ah, mas se soubesses que é exatamente por aí que mora o encanto...
Riram muito, sempre se tocando, estreitando a intimidade que saltava aos olhos.
O telefone de Walkiria tocou e ela quase derrubou o que sobrava do vinho.
-Leida, estou aqui à tua espera há bastante tempo...
Por poucos minutos ela conversou ao telefone com a amiga. Assim que desligou, soltou uma sonora gargalhada.
-Tu não vais acreditar?
-O que aconteceu?
-A frenética da Leida errou de bar. Ela estava a pensar num lugar e me deu o nome desse. Ela está lá há 15 minutos à minha espera. - Riu mais ainda.
-Mas não estavam juntas?
-Sim, num evento em que ela era o centro das atenções e estava mais frenética do que o habitual. Agora, vamos ter menos tempo para estar juntas, mas o bom, é que a loucura dela me proporcionou um momento maravilhoso.
-Eu só posso agradecer à mente confusa da tua amiga.
Riram.
-Preciso ir. Ela estava ansiosa ao telefone e mais doida do que nunca.
-Claro. Eu adorei...momento surpreendente e encantador.
Num ímpeto, abraçaram-se. Walkiria cheirou o cabelo de Nahima e ela gem*u dentro do abraço.
Walkiria foi embora flutuando. Nahima demorou alguns minutos até recompor-se e regressar à sua mesa.
-Ei, quem é? Amiga? Namorada? - Indagou a amiga de César.
-Namorada não é. Até onde sei, a Nahima só namora homens. Ainda continua assim?
Riram.
-Hum-hum, continua. Ela é minha amiga. Fiquei hospedada no seu hotel logo que cheguei aqui...
-Maravilhosa! Casada?
-Meu bem, quantas perguntas...- César tentou acalmar a veia investigativa da crush.
-Ah só quero saber. Informação é poder.
-Não é casada, mas tem uma namorada lindíssima e bastante intensa.
-Ah, ela namora mulheres. Tenho chances!
Nahima olhou para o seu amigo tentando entender alguma coisa que lhe escapava.
-Relacionamento aberto e ela é bissexual. Teu amigo, depois de velho, virou moderno.
Nahima riu do ar resignado do amigo. Entretanto, algum tempo depois, as perguntas insistentes da amiga dele sobre Walkiria, começaram a incomodar.
*****
Assim que desceu do carro de transporte coletivo que a deixou na entrada do hotel, Walkiria olhou as horas. Na realidade, era a décima vez que mexia no celular com esse intuito. Sua mente chata e controladora, estava abismada com o fato de voltar para casa àquela hora num dia normal de expediente. Já essa nova versão dela, cuja mente era bem mais flexível, estava ao rubro por deixar-se levar pela diversão. Sorriu ao olhar as horas e perceber que já passava da meia-noite. E por que não? Onde estava escrito que tinha que viver quase enclausurada, focada apenas em trabalhar e trabalhar mais um pouco? Estava tão feliz que podia jurar que seu corpo inteiro sorria. Queria mais daquilo. Merecia momentos assim. Estava tão feliz que sua mente fervilhava de ideias novas para ajudar a alavancar o hotel. Greta estava certa. Sua mãe estava certa, Carla também. Nahima estava certíssima. Nahima...
Que confusão boa. Parecia paradoxal, mas era boa aquela sensação de não saber nada e sentir muito. Sentimentos às vezes conflituosos, mas aos mesmo tempo estimulantes. Talvez não fosse nada demais e sua racionalidade gritava para que estivesse certa. Não importava a definição e sim o que lhe provocava. Riu ao lembrar do instante em que ela aparecera no bar. Olhou para as estrelas e agradeceu. Sentia-se nas nuvens ao passar pelo lounge. Queria ter a certeza de que todos os hóspedes já tinham se retirado. Dormiria mais descansada. Loucuras da sua mente controladora. Não podia mudar tudo num piscar de olhos...
No lounge, já não havia ninguém e tudo estava organizado para o dia seguinte. Só faltava agora passar rapidamente pela receção e conferir se tudo tinha corrido bem.
Entrou na receção e logo a rececionista ficou de pé, o que chamou a sua atenção. Era notório que a moça estava nervosa.
-Dona Walkiria, até quando pensa me tratar como peça descartável? - Dália usou seu tom mais sarcástico e a viva-voz.
Walkiria assustou-se. Não estava à espera de vê-la àquela hora e detestava escândalo em público.
-Boa noite, Dália. Tínhamos combinado alguma coisa? Desculpa se...
-Ah vá à merd*! Que cerimonia é essa? Agora tenho que marcar horário para te ver? - Gritou.
-Correu tudo bem por aqui? - Walkiria dirigiu-se à rececionista que respondeu afirmativamente com um gesto de cabeça.
Ela deu meia volta e saiu da receção. Não ia dar palco às loucuras de Dália.
Deu alguns passos para fora da receção quando sentiu mãos empurrando suas costas. Teve que usar da força de suas pernas para não tropeçar e cair com a cara no chão.
-Quem pensas que és? Ninguém me ignora, muito menos tu. - Dália esbravejou completamente possessa.
-Estás completamente descontrolada e eu não sou obrigada a conviver com destempero de ninguém. Estarei no lounge à tua espera para conversarmos civilizadamente. Se achas que consegues, me encontre lá, caso não seja possível, vá para casa descansar e volte mais calma.
Walkiria seguiu impávida e serena rumo ao lounge, deixando Dália sem qualquer reação.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Dandara091
Em: 28/03/2023
Alô autora!
Essa mulherada tá me deixando boladona! Wiki não é das minhas!!!! Se fosse eu baixava um Exu cospe fogo e fazia essa Dália murcha cantar pra subir no sapatinho tá sabendo? A Misteriosa também é classuda demais e não manda as X9 pra vala.
Autora tu castiga a vítima!
#vamoserfeliznasbrumasdessepico
#chegadeclassequeroverpassarinhapiar
#exucospefogonadaliamurcha
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
Alô, Dandara!
Rsrsrsrsrsrsrsrs, eu morro de rir com os teus comentários, mas já sabes rsrsrs
Ah, Nahima não vai pirar tão cedo, e nem é por ser classuda, ela é outra vibe. Não castigo nada. Nem imaginas o que essas duas vão aprontar ainda rsrsrs
Muito obrigada por sempre estar aqui e por me fazer rir rsrsrsrs
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mtereza
Em: 28/03/2023
Espero que agora a Wiki coloque um fim nessa relação tóxica com a Dália, afinal ela foi agredida.
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
Tomara que sim. Oremos! rsrsrsrs
Bjs e muito obrigada.
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HelOliveira
Em: 27/03/2023
Wiki acho que agora já passou da hora de mandar a Dalia passear....cada o respeito....
Wiki com Nahima são tão leves, são meus momentos preferidos em cada capítulo
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
Wiki precisa se conhecer melhor, só acho.
Nahima é uma luz na vida dela, tomara que seja capaz de iluminar a escuridão que vai nessa alma.
Bjs e muito obrigada.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 27/03/2023
Dei valor Wiki sem perengue manda Dália passear a fila andou.
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
Rsrsrsrsrs, a fila precisa voar.
Bjs e muito obrigada.
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patty-321
Em: 27/03/2023
Essa dália já deu. Wiki termine logo com ela,por favor. RS. A ela e a nahima juntas é maravilhoso.
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
Wiki é leeeeeeenta, cruz credo rsrsrsrsrs
Mas quem sabe não acontece alguma coisa que a faça querer agir de forma diferente...quem sabe?
Muito obrigada por sempre estar aqui.
Bjs
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brunafinzicontini
Em: 27/03/2023
Fiquei muito nervosa vendo Walkíria acordar na cama de Dália! Felizmente, nada aconteceu além de ter praticamente desmaiado depois do porre! O que também lamentei demais...
Estava imaginando que Nahima estaria muito contrariada pela atitude de Wiki, mas essa italiana tem um gênio sensacional! Mostrou a maior alegria ao encontrar Walkíria no bar - o que, imagino, teria sido a maior motivação a tê-la movido ao encontro com a amiga no Sal, embora talvez tenha sido um impulso inconsciente.
Dália, por sua vez, está se mostrando cada vez mais inconveniente, e Walkíria está sendo paciente além do limite aceitável para dar-lhe um "chega pra lá" definitivo. Espero que a próxima conversa esclareça de uma vez por todas que sua hora "já passou" e deve manter-se afastada.
Estou ansiosa, no momento, por duas coisas: a aula de yoga e o passeio delas à praia para nadarem juntas ao pôr do Sol.
Muito obrigada, autora querida, por nos presentear em pleno domingo com mais um capítulo especial! Que sua semana seja tão boa quanto merece!
Beijos,
Bruna
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
É, a Walkiria precisa amadurecer em alguns aspetos. Tomara que consiga até ao fim da história rsrsrs
Nahima contrariada? No way! Primeiro que ela não tem nada com a Walkiria e segundo porque ela é good vibes, não se stressa à toa rsrsrs
A Walkiria tem um excesso de paciência ou de lerdeza, que me irrita rsrsrs As coisas precisam transbordar para ela pensar em reagir, afffff
Aula de Yoga...ai ai ai, será que vem no 13? Nem te conto rsrsrsrs
O passeio...mulher, e mais não digo...
Eu que agradeço a vocês que comentam e me motivam a estar aqui, mesmo quando a minha vida está corrida.
Bjsss
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Mille
Em: 26/03/2023
Momento bom e reencontro com a Nahima e quando retorna vem uma tempestade acho que a Walkyria manda ela pro espaço. Mulher grudenta e falas contrangeradora.
Mais uma que ficará no pé da Walky.
Bjus e até o próximo capítulo
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
Walkiria...mulher de muitas nuances e nem sempre vamos gostar de todas rsrsrs, mas estamos nessa vida para evoluir, não é mesmo rsrsrs
Muito obrigada.
Bjs
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NovaAqui
Em: 26/03/2023
Dália sendo muito inconveniente. Acredito que ela vai perturbar bastante
E as meninas estão com sorrisinhos, encostadinhas! Já já acontece mais algum beijo
Eu agradeço muito pelo romance ![]()
Você responde nossos comentários sempre, escreve maravilhosamente bem e nos presenteia com essa história gostosa
Obrigada!![]()
Nadine Helgenberger
Em: 02/04/2023
Autora da história
De flor, só o nome rsrsrs
Espero que aconteçam muitos beijos. Vejo potencialidades nessas mulheres rsrsrs
Eu agradeço muito por vocês que comentam. Passei muito tempo longe do site e não sei o que mudou, mas se comparar com outros romances meus postados, esse está bem fraco de comentários. Confesso que se não fosse por vocês, 9 ou 10 que sempre estão aqui, eu já teria esmorecido rsrsrrs, afinal não me sobra tanto tempo assim. E se não há feedback, parece que a dedicação é em vão e em vão, nada na minha vida rsrsrsrs
Respondo sim, é uma questão de educação. Claro que vez ou outra, posso não ter como fazê-lo, mas se sobrar 1 minuto, estarei aqui.
Muitíssimo obrigada pela presença e pelo carinho.
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Nadine Helgenberger Em: 17/04/2023 Autora da história
Rsrsrsrs, vamos lá ver.
Bjs e muito obrigada