Capitulo 6
Surpreendida e sem saber o que fazer, Walkiria limitava-se a sorrir. As pernas teimavam em fraquejar o que já era recorrente diante daquela mulher e o coração acelerado também já não era novidade. Não fazia o menor sentido, mas eram sensações tão nítidas que já não valia a pena negar. Era a surpresa de revê-la depois de tantos anos, tentava se convencer em meio ao turbilhão.
--Desculpa aparecer assim. Eu não costumo ser tão impulsiva quando minhas atitudes afetam a terceiros, mas...ah, sei lá. Queria ouvir a tua história e não pensei duas vezes. Estás ocupada?
Vê-la desarmada era tão bom. Apesar de mal conhecê-la, Walkiria tinha a sensação que ela não errava nunca, que estava sempre no controle, e isso, às vezes podia retrair.
--Ei, diga alguma coisa. Me mande embora, mas diga alguma coisa.
Ela estava ansiosa. Walkiria teve vontade de rir. Aquela mulher...
--Eu não estava à espera. Eu não costumo receber visitas e muito menos nesse horário...
--Ah, mas nem é tão tarde assim...
Ela fez uma expressão facial que convenceria qualquer um a abrir as portas e sabe lá mais o quê.
Walkiria riu e deu passagem para ela entrar. Mais uma regra quebrada...
--Obrigada. Prometo que não demoro muito e nem mordo. Já sabes que sou uma companhia agradável.
--E convencida!
--Não sou? -Provocou.
-Ah, deixa de ser doida. Queres ficar lá fora? Meu lugar favorito da minha casa, meu quintal com acesso à floresta e a céu parcialmente aberto.
--Claro que sim. E vejo um saco de boxe. É decoração ou temos uma mulher que adora dar umas porr*das?
--Sou da paz! Mas meu melhor antisstress, é sem dúvida, dar uns socos e chutes no seu saco.
--Imagino que seja bom...
--E tu, o que tira ou ameniza o teu stress?
--Sou mais calma que a senhora e consequentemente, meus níveis de stress são menores...yoga, boa música, boa conversa...
--Ah e como é que sabes que és mais calma do que eu? Tu nem me conheces...
--Do pouco que já vi...
--É, sou um bocado chata e exigente e...ah, mas não foi para me analisar que vieste bater á minha porta a essa hora.
--Vês? Muito stress.
Riram com vontade.
--Eu gosto de me sentar no chão e olhar as estrelas, mas podemos sentar nas cadeiras...
--No chão, claro.
Acomodaram-se num colchonete de campismo que ficava sobre o assoalho de madeira e Nahima parecia deliciar-se com o cenário.
--Tu vives no paraíso...
--Não posso me queixar, aliás, não há um dia em que não agradeça por essa bênção.
--Lembro-me bem como os teus olhos brilhavam quando falavas de como seria o teu hotel. Que feito, dona Walkiria!
--E nem sabes o peso que tens nisto...-Ela devaneava.
--Eu?
--Ah, desculpa pela forma rude com que foram recebidos ontem. Eu extrapolei e cometi um erro inaceitável. Logo eu...
--Ah, mas se pensarmos bem, eu só te ganho a partir do segundo round. As primeiras vezes nunca são boas, pelo menos, não para mim.
Walkiria riu às gargalhadas.
--Eu posso ser grossa, intransigente...
--Mas quebradas as objeções, é uma companhia bastante agradável. E se te acalma, eu não entendi a vossa conversa de ontem.
--Nada?
--Eu percebi que estavas irritada com alguma coisa, mas falavam tão depressa que não fui capaz de entender. Eu entendo a variante do Sal, aqui falam bem diferente.
--Sim, é muito diferente.
--E mais, eu estava tão atordoada com a tua presença, que não seria capaz de entender até uma simples frase em inglês.
Riram.
--Notaste logo que eu era a chata do Sal de anos atrás?
--Imediatamente. Estás muito diferente, mas eu reconheci logo e levei um susto tão grande que fiquei sem reação. O meu normal, seria abraçar-te e perguntar se não lembravas de mim e ainda brincar que sou inesquecível.
Mais uma gargalhada e as duas cada vez mais soltas.
--E eu que estava atormentada, crente que tinha dado um verdadeiro show de horror à frente dos meus clientes. Tive a sensação de que entendeste cada palavra do que foi dito...
--Eu apenas notei que estavas irritada e tudo o que queria era uma cama. Minha viagem até aqui foi bastante atribulada. Estava exausta e só por isso, te livraste do meu show.
--Isso tudo é tão doido...tu aqui...
--Acreditas que mesmo com o cansaço, com a irritação da confusão no outro hotel, depois que te vi, eu fiquei leve e dormi como um anjo...
--Ahh...
--É sério. Eu me senti agraciada com uma surpresa tão fora dos meus melhores sonhos, que não sobrava espaço para irritação. Eu quis muito te reencontrar. Sempre me perguntava se terias conseguido realizar o teu sonho. E teve uma altura em que eu andava pelas cidades do mundo e fantasiava que ia te encontrar num café qualquer, ou numa rua.
--É estranho, mas eu pensava quase as mesmas coisas. Mas não vou mentir, de há uns anos para cá, esqueci. Minha vida ganhou tanta intensidade e passou a exigir tanto de mim, que de repente, aquele encontro tão fora do comum, passou a ser uma miragem...
--Ah, não pense a senhora que passei cinco anos à espera de um milagre. Mas não é que a miragem se materializou no quintal da tua casa.
Riram felizes.
--Mas não é estranho?
--O quê?
--Tu, aqui. Logo aqui...
--Muito. Com tantas possibilidades, vim parar logo aqui. Quando me deparei com aquela confusão no outro hotel, quase me arrependi de não ter ficado mais um dia na capital. Estava tão cansada...
--As confusões lá no hotel da Dália são rotineiras, por isso a minha irritação quando chegaram...estou sempre a apagar algum incêndio e às vezes fico extenuada.
--Espero que essa labareda, tenhas gostado de apagar.
A expressão na face de Nahima provocou uma gargalhada tão intensa que Walkiria precisou buscar o ar com força.
-- Há fogos e fogos...digamos que essa labareda eu tive muito gosto em apagar...- Walkiria sempre entrava na brincadeira.
--Ou acender...depende do ponto de vista...
Essa mulher...
--E continuas a mesma...
--Hmmm?
--Adora flertar...
--Juro que agora eu não estava a flertar. É que gosto de te ver perder o prumo.
--Ah, que perder o prumo, não exageres.
E riram muito. O ambiente era cada vez mais descontraído. Pareciam velhas conhecidas com muita vontade de estar juntas.
--Mas, eu preciso me lembrar o que vim fazer aqui...
--Pois é, qual foi o motivo? Além de flertar descaradamente com uma pobre mulher.
Olharam-se com calma. Sorriam. Sorrisos plácidos e ao mesmo tempo misteriosos.
--Quero saber tudo. Como vimos parar aqui, tudo.
--É, e estamos as duas aqui. Surreal!
Sorriram.
--Depois daquele nosso encontro maluco e totalmente fora dos meus planos, eu resolvi seguir os teus conselhos. A princípio, de forma bem tímida e criando muitas desculpas para não agir. Até que comecei a ver alguns frutos da minha mudança de atitude. Abri a mente e me abri para o mundo. Conheci a Greta e parei para notar a sueca. Já tinham passado mil Gretas pela minha vida e eu simplesmente não via. A Greta era uma jovem sueca, filha de gente com muito dinheiro, que estava a divertir-se como guia turística de uma grande operadora de turismo internacional com negócios em Cabo Verde e que tinha como sonho, ter um hotel rústico nas montanhas. Ela só não tinha definido em que lugar do mundo. Fui bastante convincente, pelo meu sonho, me percebi capaz de fazer qualquer coisa.
Relatou tudo com detalhes, e Nahima absorveu tudo com alegria genuína.
--Falei demais. Meu Deus, quando me empolgo...
--Adorei, afinal foi para isso que vim bater à tua porta.
Riram.
--Não tenho nada para te oferecer. Costuma ter vinho cá em casa, mas hoje não tem nada. Eu trabalho tanto que esqueço desses pequenos prazeres.
--Esqueceste os prazeres? E as novinhas? - Provocou, rindo muito. Walkiria riu até lhe doer o maxilar.
--Mudei um bocado...
--Paixão avassaladora capaz de acalmar a fúria conquistadora de Wiki?
-- Ah pelo amor de Deus, até parece que eu era uma doida.
--Segundo aquela senhora da Pedra de Lume...
--Dina...
Mais risadas soltas.
--Saudades dela. Ela é exagerada.
--Tens namorada?
--Tenho um relacionamento, mas sem qualquer tipo de definição e não, ela não é novinha, é mais velha do eu.
--Estamos nesse mundo para evoluir. - Piscou o olho e sorriu.
--Queres um chá? De ervas do meu quintal. Ia fazer quando bateste à porta.
--Claro que sim. Adoro chá!
--Pensei que gostasses de vinho...- Brincou.
--Eu gosto das duas coisas...
Sentindo-se levemente embriagada, mesmo sem ter passado perto de álcool, Walkiria entrou em casa para fazer o chá. As pernas, que já tinham estado trémulas, agora pareciam flutuar. Nada ali fazia sentido, das suas reações ao estado de alma. Uma completa desconhecida que parecia mais íntima do que muitas amigas de uma vida.
Bateu a cabeça e cantarolando, começou a preparar o chá, ritual que era puro prazer. Como sempre, ficou parada observando a água levantar fervura e em seguida, colocou a erva. Gostava de apreciar o aroma de chá inundar o ambiente. A sensação era de paz. Respirou fundo e sorriu. A paz, às vezes vinha de lugares improváveis...
Depois de servir duas canecas de chá, Walkiria preparava-se para voltar ao quintal, quando foi surpreendida pela figura de Nahima encostada numa das paredes que separava o resto do loft do quintal. Ela mantinha os olhos fechados e parecia apreciar o aroma doce e fresco do chá de capim limão. Walkiria caminhou até ela e parou observando. A paz que transmitia era encantadora. Inadvertidamente, soltou um suspiro, talvez um gemido. Nahima abriu os olhos e o sorriso. Por onde andaria a racionalidade de Walkiria?
--Teu chá. - Estendeu-lhe a caneca.
--Tua casa é confortável. Acolhedora é a palavra perfeita. - Mais um sorriso. Ela vivia com aquele sorriso preso na cara.
-- Acreditas que todos acham uma loucura eu ter escolhido fazer minha casa dentro do hotel. Se bem, que hoje em dia, com toda essa confusão, nem sei mais o que pensar...
--O que aconteceu?
--História longa. Vamos por partes para não te cansares. Ei, vai ser como da primeira vez?
--Posso saber a quê exatamente a senhora se refere? - Sorriu enquanto se agachava para voltar ao colchonete.
--Só eu falo, despejo tudo da minha vida e de ti, não sei nada. Minha fama de discreta, seletiva e desconfiada, é desconstruída em segundos. Preciso ter algum mistério...
--Eu costumo ser uma excelente ouvinte e nada julgadora, portanto, estás em boas mãos ou ouvidos.
Riram.
--Essa vai ser mais uma viagem relâmpago? - Tinha uma certa ansiedade naquela pergunta, que Walkiria tentou disfarçar fazendo uma careta engraçada.
--Não...tenho até uma casa.
--Sim, eu me lembro de ouvir essa parte no dia que chegaste...
--Quando a senhora não me reconheceu. Minha autoestima sofreu um leve baque. - Brincou.
--Eu estava nervosa, com muita raiva. Fico cega e às vezes, uma idiota. Mas eu sabia que te conhecia e não sosseguei até chegarmos onde estamos agora. - Simulou uma respiração de alívio, arrancando mais uma risada de Nahima.
--Vim a trabalho. Devo ficar de um a dois meses. Aluguei uma casa numa aldeia aqui perto...não me lembro o nome agora, mas é lindíssima. Paixão fulminante.
--Vais ficar na Aldeia Vinniard?
--Isso mesmo!
--Ah, que escolha perfeita. Se fosses passar apenas alguns dias, nada seria melhor do que o meu hotel, mas para passar uma temporada, a Aldeia Vinniard é maravilhosa. É um condomínio construído de forma incrível, eles fizeram algo moderno, mas que não choca com a natureza rural da região. Lindo.
--Foi o que me encantou. É aqui perto, não é?
--Ah, se eu te contar que daqui onde estamos, existe um atalho pela mata que vai dar nas traseiras da Aldeia. 10 minutos a pé...bom, isso para mim que tenho aptidão em desbravar terrenos nem sempre fáceis.
--Ah, eu como mulher da cidade, não tenho condições. É isso? Não me desafies...
E riam, descontraídas.
--Eu sou de uma ilha plana e, no entanto, aprendi. Com esforço, chegas lá.
--Dois meses deve ser suficiente...
--Tens muita sorte. A aldeia é muito concorrida. Vais trabalhar em quê? E se eu passar do ponto, pule a resposta.
Mais gargalhadas.
--Até agora, nada invasiva.
--Graças a Deus, tenho uma reputação a manter. Mulher discreta e etc.
--Vou fazer um trabalho junto aos Rabelados. Investigação cultural. Sou jornalista, também formada em Marketing e com mestrado em antropologia cultural.
Os olhos de Walkiria brilhavam e o sorriso de admiração era inequívoco.
--Rabelados? Que lindo! Mas como vais comunicar com eles? - Arqueou a sobrancelha.
--Ah, terei o auxílio de um nativo. Depois eu te explico com detalhes em que consiste o projeto. Quem sabe não possas ajudar. Agora, podemos tomar o nosso chá?
--Podemos, claro. Estou parecendo uma investigadora, o que fazes comigo hein? Acho que é medo de perder alguma coisa. Traumas de anos atrás...- brincou.
--Temos tempo...dessa vez, não vamos perder nada. Ao nosso encontro tão inesperado e...
--Maravilhoso!
Brindaram. Depois de tomar um pouco de chá, Walkiria levantou-se e voltou a entrar em casa. De onde estava, Nahima podia ver todos os seus movimentos, e viu quando ela pegou alguma coisa dentro de um cesto.
--Duas mantas, porque estamos no outono e esfria muito à noite. - Estendeu-lhe uma manta fofa e quente que Nahima pegou sorrindo e imediatamente colocou sobre as pernas.
--Eu só não pedi algo assim há mais tempo, com receio de parecer mais inoportuna do que já fui...
--O que a senhora quer?
--Como assim?
--Já percebi que além de flertar descaradamente, a senhora gosta de...como direi? Mimos?
Nahima riu e deixou-se cair no colchonete. Walkiria acompanhou-a e ficaram ambas deitadas olhando para o céu estrelado.
--Eu gosto de mimos, quem não gosta. Mas, nesse caso, nem é isso. Agi no impulso e isso sim, não tem muito a ver comigo.
--Não? Tu és uma doida que inventa as coisas mais inusitadas para fazer e tudo de rompante.
Mais risos.
--Não costumo agir impulsivamente com as pessoas...e se levarmos em conta que estás certa...
--Sobre o quê?
--Nós mal nos conhecemos...
Olharam-se profundamente. Pressentia-se uma avidez em desbravar o mundo uma da outra.
--O céu está tão lindo...- Nahima precisou quebrar o encanto, ou...
--Ah, se tiveres sorte, vais ver uma estrela cadente...
--Ahhhhhh - Nahima gritou entusiasmada enquanto apontava para o céu. - Olha!
Não uma, mas várias estrelas pareciam ziguezaguear pelo céu em diversas direções.
Seguiu-se um momento de silêncio, de encantamento, de entrega sem expectativas.
Nahima, puxou sua manta até ao pescoço e gem*u feliz.
--Tive uma lembrança feliz...
Walkiria, puxou a sua manta também e permaneceu olhando para o céu. Parecia magia...
--Via muitas estrelas cadentes na Argentina. Memórias felizes da minha infância e adolescência...
--Argentina...mais histórias da senhora Nahima que eu ainda vou descobrir. - Sorriu.
--Muitas histórias. - Sorriu. - E eu também quero saber as tuas...- O tom de voz dela era cada vez mais baixo.
--Não sei se minhas histórias são tão interessantes quanto as tuas, mas agora com certeza se resolvermos reavivar a memória, ninguém ouvirá nada. A senhora mal sustenta os olhos abertos. - Riu.
Nahima esforçou-se para reagir, sem sucesso.
--Estou cansada. Não durmo bem há vários dias...e essas estrelas...esse cenário...
-Shhhh...descansa...
--Posso?
--Deve!
Nahima adormeceu rapidamente. Walkiria, extasiada com o momento, não demorou a fazer o mesmo.
*****
Os latidos de Zuri, ainda que distantes, acordaram Walkiria de um sono profundo e restaurador. Assim que abriu os olhos, não se reconheceu naquele ambiente. Nem era verão...
Olhou para o lado e sorriu batendo a cabeça. Claro, aquela mulher e seus efeitos nada ortodoxos. Lembrou da visita surpresa e ergueu as pernas no ar em sinal de contentamento. Ela dormia profundamente e aparentava uma calma que contagiava.
Walkiria pulou do colchonete ou não faria mais nada. Não sabia ao certo que horas eram, mas com certeza, já era hora de iniciar sua rotina diária.
Alguns minutos depois, já pronta para o jogging matinal, deu-se conta que ninguém poderia ver Nahima saindo de seu loft. As regras por ali eram claras. Nada de envolvimento com hóspedes. Ninguém do hotel podia de envolver com os hóspedes, pelo menos não dentro das dependências do mesmo, e nenhum hóspede podia dormir com estranhos no hotel. Regras ditadas por ela e sempre cumpridas à risca.
No quintal, a hóspede permanecia dormindo profundamente. E agora? Sem saber o que fazer, Walkiria andou de um lado para o outro. Entrava e saía do loft, à espera de uma ideia brilhante, que não vinha.
Parou à frente de Nahima, sem coragem para acordá-la. Afinal, ela estava tão cansada...
Nahima acordou, provavelmente sobressaltada pelos latidos de Zuri. Espreguiçou languidamente e pareceu tentar entender onde estava.
--Bom dia! - Saudou Walkiria com um leve toque de ansiedade.
--Bom dia! Dormi aqui? Que pergunta idiota. - Riu, sentando-se no colchonete. -Estava muito cansada e não resisti a essa calmaria.
--Conseguiste descansar?
--Minha cara amassada deve me contradizer, mas dormi como uma pluma. Sim, estou descansada. - Gem*u. - Tu é que não me pareces muito relaxada...
--Estou apreensiva e sem saber o que fazer. - Coçou a cabeça com a ponta dos dedos.
--O que foi? - Nahima ficou de pé ao perceber que algo não ia bem.
--Nenhum hóspede costuma dormir na minha casa, aliás ninguém dorme na minha casa, a não ser eu e Zuri. - Despejou sem respirar.
--Zuri...a namorada...- Nahima tentava entender a confusão visível no semblante de Walkiria.
--Não! Zuri é meu cachorro, vais conhecer...
--E eu sempre quebrando a tua rotina. - Lastimou.
--Ah, se queres que eu seja sincera, essa é a tua melhor característica.
Riram.
--Eu criei as regras, cumpro-as à risca e obrigo todo mundo a seguir sem prevaricar. - Justificou.
--Não duvido que o nível de cumprimento seja de 100%. General, Walkiria. - Brincou.
--Regras são regras.
--Mas a essa hora ninguém vai me ver, e se queres saber, estou adorando esse enredo, me sentindo a própria amante misteriosa e perigosa.
Riram às gargalhadas.
--Tu não tens juízo. Meu Deus, que mulher doida.
--Calma meu bem. - Tocou-lhe a face com a ponta dos dedos. - Não houve sex* escaldante a noite toda. A tua amante não se esgueirou na madrugada para a tua toca e nenhuma regra foi quebrada. Ah, e ficas ainda mais linda com vergonha. - Arrematou.
--Ahhhhh, porr* e eu ainda perco o meu tempo com essa doida. - Fingiu uma raiva que nem de longe sentia.
--Ah, vai me dizer que não passou uma noite bem melhor do que se estivesse aqui sozinha.
--E é convencida! Se faz bem para o teu ego, confesso, é muito bom ter-te aqui. Eu ainda não acredito...
--Nem eu...- Nahima pegou nas mãos dela e entrelaçou nas suas. - É real. - Ergueu o olhar e encontrou um par de olhos brilhantes, ansiosos, e com algo a mais que não conseguia decifrar.
--Vamos embora antes que esse lugar fique lotado. - Tinha pressa para sair daquele momento.
--Vamos, General Wiki. - Brincou. - E tu, vais fazer o quê agora?
--Correr, como sempre faço de manhã e depois ajudar a nossa cozinheira e pasteleira nos preparos do pequeno-almoço.
--Ajudas a preparar aquelas maravilhas que nos servem no café?
--Ah quem me dera. Eu me arrisco na cozinha, mas o mérito é todo da Diana. Ajudo na arrumação das mesas e na coordenação para que tudo fique impecável. Acho que já estou levemente atrasada...
--Tudo isso por causa de uma inconsequente que invadiu a tua casa, tarde da noite...
--Ela quer mimos, eu sei que ela quer mimos.
--Será? - Brincou usando seu melhor olhar sedutor.
Walkiria abriu a boca para dizer alguma coisa, mas conteve-se a tempo.
--O que ias dizer?
--É melhor ficar calada! - Bateu a cabeça.
--Medo de ousar? - Provocou.
--Tu ainda vais me pedir para parar.
Riram às gargalhadas.
--Preciso ir. Podes sair pelo quintal e fechar o portão de madeira, por favor.
--Sim. Até mais tarde...
--Com certeza.
*****
Seguindo por uma rota alternativa, Walkiria, chegou ao Miradouro. Ofegante, deslumbrou-se mais uma vez pela natureza prodigiosa. Respirou fundo o ar puro dos eucaliptos e a brisa fresca da manhã acariciou-lhe a face. Era tão bom viver ali...
Sentada numa rocha, apreciava ao longe os contornos da vizinha ilha do Maio. Que bênção era viver ali. Apesar de toda a confusão, das incertezas sobre o futuro, naquele instante, era capaz de voar. Sorriu e de olhos fechados recapitulou suas últimas horas. Que leveza! Parecia até irreal de tão bom. Era estranho como uma quase estranha a deixava tão sem máscaras. Já tinha sido assim da primeira vez...
Não ousava e nem queria racionalizar aquela avalanche. Aproveitaria o melhor que aquela situação tinha a oferecer, sem expectativas. Talvez ganhasse uma amiga das boas e como precisava...
Olhou o timer, e correu de volta ao hotel.
*****
--Dona Wiki, a corrida hoje foi boa...
--Sempre!
--Eu sei que gosta de correr, mas hoje parece que está uns 10 kilos mais leve.
Walkiria riu alto.
--Diana, se eu perder 10 kilos, desapareço.
--Ah, a senhora entendeu...quis dizer que parece mais leve. Não tem aquela nuvenzinha dos últimos dias...
--A nuvem ainda está aqui e nem é tão pequena. Mudei de ares, hoje fui ao Miradouro, deve ter sido isso...
--Ah, minha região é linda. Sabe dona Wiki, li em algum lugar que quanto mais alegres estivermos, melhores serão os acontecimentos no nosso dia.
--Diana, andas a ler muito autoajuda. - Riu.
--Sei lá se é autoajuda. Li essa frase num livro de uma colega e adorei.
--Então, vamos sorrir?
--Vamos! Muito obrigada pela ajuda aqui na cozinha. Hoje eu me atrapalhei um pouco...
--Logo hoje que eu me atrasei...
--O bom, é que no final deu tudo certo.
*****
O alarme tocou assustando Walkiria, que concentrada, tentava entender uma mensagem da gerente da conta da empresa. Olhou o telefone e entendeu o lembrete, reunião com Greta nas primeiras horas. Faltavam poucos minutos para as 9 e ela costumava ser pontual. Precisavam sentar, e juntas tentar encontrar alguma solução para aquele caos iminente. Fechou o laptop, bebeu mais um gole de água e saiu em direção ao hotel.
A caminho da área administrativa, desviou até ao lounge. A probabilidade de Greta estar por lá era grande. Ao contrário dela, sua sócia não abria mão de um bom café da manhã. Correu os olhos rapidamente pelo ambiente e nem um sinal de Greta, entretanto, sentada no lugar com a melhor vista, estava Nahima. Sozinha, admirando a paisagem e com uma chávena de café na mão. Sem dar tempo á formulação de qualquer pensamento lógico, dirigiu-se à mesa com a vista privilegiada.
--E eu que achava que a minha hóspede audaciosa estivesse a dormir. - Sorriu.
--A tua hóspede audaciosa não conseguiria pregar o olho. E mais, ela dormiu muito bem num colchonete de camping, protegida pelas estrelas.
Riram.
--Precisava me despedir desse café maravilhoso...
--Ah não, já vais embora de novo?
--Calma. Eu mudo de ideias com alguma rapidez, mas sou uma pessoa sensata. Eu disse que vim para trabalhar, lembra?
--Sim...
--Despedir-me do café maravilhoso do teu hotel. Hoje, vou para a minha casa, que segundo fui informada, é maravilhosa. - Sorriu.
--Ah sim. Ufa, respiro aliviada. - Brincou.
--Tomas café comigo? É minha despedida e como excelente anfitriã que és...- Sorriu de forma sedutora.
--Como regra, não tomo café da manhã.
--Quebra mais uma. Já quebramos algumas...- E o ar sedutor permanecia.
Sem hesitar, puxou uma cadeira e sentou-se. Ambas sorriram.
--Tenho dez minutos. O dever me espera e meu dia não vai ser fácil.
--O que queres comer? Eu vou lá buscar.
--Ah, estás doida? Era só o que faltava, minha hóspede me servir. Só vou tomar um café e eu pego.
Nahima riu do tom bravo de Walkiria que rapidamente estava de volta com sua caneca de café.
--Quando eu passar a ser apenas Nahima, terei algumas vantagens?
--Queres mais vantagens? Meu Deus, que mulher cheia de vontades.
--Muitas...mas é que ser tua hóspede é impedimento para quase tudo...
--E tu não tens freio. Tu já dormiste comigo. - Sussurrou. - Queres mais?
Nahima sorriu e o olhar tinha um brilho tão intenso que desconcertou Walkiria.
--Foi bom dormir comigo?
--Pelo menos não roncas.
A gargalhada espontânea fez eco pela floresta.
--Eu vou adorar passar o mês contigo, definitivamente. - Enfatizou.
--Não eram dois?
Riram mais uma vez.
Perto dali, eram observadas por Greta que tentava entender aquela cena. Era tudo muito estranho. Walkiria, numa conversa quase íntima com uma hóspede e sem desviar a atenção para mais nada. Pareciam totalmente embevecidas pelo momento. Walkiria? Sua sócia sempre tão sóbria...
Precisava acordá-la daquele sonho. Tinham uma realidade bastante desafiadora pela frente.
Fim do capítulo
Boa leitura.
Boa semana.
Não se esqueçam de comentar.
Obs. e vou perdendo a guerra. Essas mulheres minam minha capacidade de escrever capítulos de até 12 páginas. Sigo na luta rsrsrs
Com Amor,
Nadine
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Mille
Em: 15/02/2023
Oi autora
Nahima faz a Wiki quebrar todas as regras, ela tem o poder de deixar-lá leve.
E Greta vai tirar a amiga num interrogario.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Nahima tem bons truques...Walkiria ha de ter os seus rsrsrs
Bjs e muito obrigada.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 13/02/2023
Eita esse segundo encontro inesperado delas vai dá romance.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 13/02/2023
Eita esse segundo encontro inesperado delas vai dá romance.
Resposta do autor:
Rsrsrs, vamos lá ver no que vai dar.
Bjss e muito obrigada.
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rebarlow
Em: 12/02/2023
Minha linda, nós adoramos quando tu te empolgas kkkkkk.
Essas duas tem uma conexão maravilhosa. Nahima é sedutora, já estou sentindo uma quedinha por ela.
E seguimos, rumo as 15 páginas em diante rsrs...
Boa semana a todas!
Resposta do autor:
Pagando um preço alto pela minha empolgação rsrsrs, mãos doendo e eu sem tomar juízo, enfim...
Quedinha? Eu tombo pela Nahima kkkkkkk ah e quer saber, pela Walkiria tb rsrsrs
Muito obrigada. Bjs
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brunafinzicontini
Em: 12/02/2023
Que momento lindo as duas puderam experimentar! A história está ficando melhor a cada momento! Dormindo juntas sob o manto de estrelas...
Walkíria também sabe ser ousada, acusando Nahima de, além de flertar, gostar de mimos. Olhares ousados de ambas, querendo desbravar o mundo uma da outra, tudo sob o espetáculo das “estrelas cadentes” daquele céu de paraíso! Estou adorando conhecer mais dessa terra encantada de Cabo Verde, que você descreve tão bem, querida Nadine!
Pensar que uma caminhada de apenas dez minutos separa o quintal mágico de Wiki da casa pitoresca que acolherá Nimah nos próximos dias dá muita asa para nossa romântica imaginação...
Que delícia encerrar o domingo desta maneira! Muito obrigada, querida!
Beijos,
Bruna
Resposta do autor:
É, parece que a Nahima gosta de mimos rsrsrs de flertar não há dúvidas e Walkiria que lute rsrsrs
Muito obrigada, meu bem. Bjs
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Dandara091
Em: 12/02/2023
Alô autora!
Onde tem mulher boa se entendendo tem sempre uma moscuda pra fazer vacilação. Dá uma sapatada nessa mosca e vamo ser feliz debaixo das estrelas!
#sapatadanamoscuda
#soltaoscachorronax9
#vemserfelizsobasestrelas
É negritude lá e cá! TMJ!
Resposta do autor:
Alô Dandara!
Moscuda rsrsrsrs
E bora ser feliz sob as estrelas rsrsrs
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