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A tragicomédia de Morgana por shoegazer

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Palavras: 3746
Acessos: 458   |  Postado em: 05/12/2022

Fama inegável

E aqui estou eu, mais uma vez, sentada em um sofá com uma psicóloga olhando pra minha cara enquanto analisa uma pequena resma de papel. É uma sala simples em tons beges, um sofá marrom escuro e sua cadeira acolchoada na mesma cor.

Ela é jovem, não deve ter mais do que trinta anos, mas, segundo minha tia, tem especialidade de lidar com gente como meu caso. Malucos sem causa? Não quis perguntar, mas ela está há uns cinco minutos olhando pra esse papel. Formulário de internação dependendo do que falar agora, talvez?

— Morgana – sua voz é calma e serena – eu quero te explicar alguns procedimentos antes de começarmos a conversar.

Não disse? Vão me amarrar e me jogar dentro de uma ambulância. Olho para os lados. A sala não tem sequer janelas, não tem pra onde fugir. Olho mais uma vez, e acho que ela percebe o meu iminente nervosismo.

— Eu quero que saiba que sua tia, quando entrou em contato comigo, me deixou a par de sua situação... – e ela aponta para os papéis – então eu entrei com um pedido pra ter acesso aos seus prontuários, mas só pra entender a sua condição e a melhor abordagem, nada relacionado a uma reinternação.

Ela está mentindo? Não dá pra saber, esses psicólogos são muito convincentes.

— Então... O que gosta de fazer no seu tempo livre?

A sessão não é ruim. Ela mais fala de mim e sobre o meu modo de ver as coisas do que realmente perguntando sobre minha vida. Talvez vá fazer isso depois, já que se ela sabe de mim, com certeza vai começar com aquela conversa da minha relação com pai, mãe, irmã e afins, como eu me senti de fato, lidei com isso, suicídio, inseguranças, medos, etc. que me faz sair chorando toda vez ou abandonando pela metade.

Então eu sigo de volta pro trabalho, onde sou recepcionada de uma maneira, no mínimo, inusitada por Jaqueline.

— Olha, chegou nosso grande talento!

Cerro as sobrancelhas, confusa.

— Por que está falando isso?

— Você ainda pergunta? – ela diz surpresa, pegando o telefone e dando alguns cliques na tela – Olha!

Quando olho pra tela, meu coração gela, assim como todo o resto do meu corpo. Lá está eu, compenetrada em frente ao piano, tocando enquanto tem uma ou outra pessoa também filmando ou somente assistindo. Minha tia está ali no canto, me olhando, e na tela está escrito “alguém sabe quem é? Ela toca demais!”

Encaro Jaqueline sem expressão além dos olhos arregalados de temor.

— Onde está isso? – aponto para a tela, nervosa.

— Eu não sei, me enviaram no grupo, viram e te reconheceram – ela parece animada – por que nunca disse que tocava?

— Quem enviou? – digo em um tom mais assertivo, e ela olha despretensiosa para o contato.

— Foi a Olívia, por quê?

Assinto com a cabeça e desço até a parte das gravações. Ao chegar lá, pra piorar, sou recebida com ainda mais animação do que Jaqueline, com Mateus gesticulando como se tocasse um teclado.

— Eu nem tenho roupa adequada pra receber Beethoven – ele diz em um tom descontraído, mas vou logo com Olívia.

— Onde você viu esse vídeo? – pergunto pra ela, que cerra as sobrancelhas, fazendo um bico com os lábios, como se não entendesse o motivo da minha pergunta.

— Foi no TikTok, alguém postou e eu te reconheci na hora.

— O que é um TikTok?

Ambos olham confusos pra mim e ignoram meu comentário. Olívia pega o telefone, me mostrando o vídeo novamente.

— Já tá pra mais de três mil curtidas e comentários.

Isso é bom ou ruim?

— Você já é um viral – Mateus segura meus ombros, sorrindo.

— Não tem como tirar isso daí?

— Por quê? – Olívia diz confusa – Isso é ótimo, sem contar que vai dar um engajamento enorme pra...

— Não – digo assertiva – não quero misturar as coisas. Nem se eu falar pra pessoa tirar, ela tira?

— Isso é meio impossível – Mateus pondera – se alguém compartilhou, ou salvou o vídeo e compartilhou mais uma vez, não tem como ter controle de quem já viu ou tem.

— Merda... – fecho os olhos e pressiono minhas têmporas. Não esperava que fosse acontecer isso.

— Mas o que tem de tão ruim nisso? – Olívia para ao meu lado – Você é ótima.

— Eu só não queria... – respiro fundo – exposição desse jeito.

— Se servir de consolo, logo esquecem dessas coisas – ele diz dando com os ombros – mas, se fosse eu, com todo esse talento, ia gostar.

— Não é talento – digo olhando para ele de soslaio – é treino. Muito treino.

— Ah, Morgana – Olívia ainda diz no tom animado – além de você ser uma roteirista excelente, é uma ótima pianista. Se isso não é talento artístico, o que mais é?

— Ela está sendo modesta pra não humilhar – ele leva as mãos para o ar – dá pra entender.

Balanço a cabeça aturdida, e vou para fora dessa conversa. Segundo Mateus, sou uma coisa viral, ok, mas logo vão esquecer disso. Primeiro que espero que não me reconheçam, segundo que esqueçam disso logo, logo mesmo.

O que não dá pra esquecer é que ando ignorando as pessoas que entraram em minha vida. Não é por mal. É que ando num nível de esgotamento mental tão grande que acredito que me afastando delas estou fazendo um grande favor.

Mas eu sinto muitas saudades delas, então estou começando a ignorar meu achismo pra poder dar vasão aos meus sentimentos.

Dezesseis mensagens não lidas, cinco ligações não atendidas. Durmo a maior parte do tempo, e ignoro as coisas ao meu redor o tempo inteiro. Só venho ao trabalho por obrigação, só converso com as pessoas por necessidade. Não tenho vontade de comer nada.

Também sinto saudades do meu espaço, e fico sempre com a impressão de que estou incomodando minha tia, mesmo ela dizendo que não. Mais um motivo que me faz lembrar porque fui pra outro lugar e não pra casa dela. Ela está longe de me tratar mal, na verdade me trata melhor do que eu espero, mas a sensação de incômodo sempre está comigo.

Sem contar que ainda tenho que pedir desculpas a Isa por tudo. Talvez esse seja um bom primeiro passo.

E também porque eu quero muito vê-la.

Onde fica a galeria que ela trabalha mesmo? Pego meu telefone e procuro pelo nome. Fica a quinze minutos de ônibus daqui.

Saio e sigo pelo caminho mostrado. Hoje está abafado, mas ainda assim, pego a condução parcialmente lotada e, depois de vinte e poucos minutos, chego no seu trabalho. Já é fim de tarde, e sei que dia de hoje ela fica até mais tarde.

Caminho pela galeria, e pergunto por ela. Uma moça indica que ela está na sala de curadoria, e bato na porta. Isabela que me atende, surpresa, com um pincel espanador em mãos, e sorri, vindo me abraçar a ponto de sentir meus pés levantando do chão.

— Entra! – ela me leva para dentro da sala branca cheia de quadros – Bah, arrecém estava pensando em ti e tu me aparece!

— Estou atrapalhando? – olho ao redor.

— Capaz! – ela me abraça mais uma vez, e gesticula para que a siga – Você tá melhor?

— Levando, eu acho – dou com os ombros.

— Vai voltar pra casa quando?

Engulo em seco, e ela percebe que fico temerosa.

— Tu vai voltar, não é?

— Eu... – pressiono os lábios – Não sei.

— Faz isso comigo não, Morgana – ela me olha séria – isso foi por causa do que aconteceu na última vez?

— Eu vim aqui pra te pedir desculpas, Isabela – tento falar olhando pra ela, mas sem sucesso – por ser um problema na sua...

— Shhh! – ela coloca o indicador na minha boca – Já vai falar besteira!

— Mas, olha o vexame que eu...

— Vexame é esse tu parando de falar comigo porque teve um problema! Não é porque fica com as rédeas soltas vez ou outra que vai jogar essa conversa pra mim.

É nessas horas que não consigo entender nada do que ela está dizendo, mas acho que ela está me repreendendo.

— Sinto sua falta, poxa – ela faz uma cara triste – você fica abichornada, some, fico pensando como tu tá. Não só eu, sabe disso.

Fico em silêncio, de cabeça baixa.

— Por que tu não se muda lá pro meu apê?

Eu? Morar com alguém? Levanto a cabeça, surpresa, e ela ri.

— Por que não? Eu quero companhia, e você já fica por lá... – ela dá com os ombros, cruzando os braços – Pelo menos até tua irmã voltar.

— Eu... – começo a ficar envergonhada – Mas e sua...

— Tem nada a ver isso não! - ela gesticula pro alto – Vamos, a gente vai pro aniversário da mãe e de lá, se me aguentar todos esses dias, já vai direto pra casa.

— É... – pisco os olhos algumas vezes – Quando é mesmo?

— Esse final de semana – ela cerra os olhos – já tinha esquecido?

— Desculpe, é que... – já é agora? – Pensei que fosse só semana que vem.

— Mas você vai, não vai?

— Vou sim, claro – assinto com a cabeça, e ela se anima.

— Fiquei com um cagaço de tu dizer que não! – ela coloca a mão contra o peito – Porque já avisei pra mãe que vou te levar.

Três dias no interior do Sul, por que não? Vai que eu encontre meu paraíso parnasiano e fique por lá mesmo, sem contar que me sinto em dívida com Isabela por tudo que ela me faz, mesmo tendo a impressão de que não vou ser a companhia mais animada para isso.

— Não quer chamar sua prenda não?

— Minha o quê? – pergunto aturdida.

— A Raquel, bah – ela faz uma careta – a casa lá é grande, dá pra vocês...

— Não – nego logo com a cabeça – ela é ocupada, e... Estou sem falar com ela.

— Por quê?

Insegurança, medo, receio. A imagem criada na minha cabeça dela jogando as coisas na minha cara e rindo ainda me assombra.

— Por besteira minha.

— Pensei que vocês fossem amigas... - ela dá com os ombros.

— Não quero ser um incômodo pra ela.

— Morgana, sinceramente - Isabela fala em um tom sério - por que você sempre fica achando isso dos outros? As pessoas não podem simplesmente gostar de estar na tua companhia?

— Podem? - a frase sai sem que eu perceba, e ela olha para os lados, distraída.

— Sabe que se tiver com algum problema... Pode falar comigo, não sabe? - ela volta a me olhar, concisa - Quando digo isso, é qualquer coisa. Você pode confiar em mim.

— Eu sei, mas... - mordo os lábios devagar - sei lá, me desculpe.

“Você se desculpa demais.”

— Eu não ando sendo a pessoa mais sincera, e isso anda me... Incomodando muito.

Isabela se apoia na mesa atrás dela, com as mãos para trás, e nada diz por um tempo.

— Eu já imaginava, mas... - ela respira profundamente - só espero que isso não seja o motivo que esteja te levando a fazer isso contigo mesmo.

Engulo em seco, e olho pro chão.

— Todas nós temos problemas, mas não significa que temos que carregar tudo isso sozinha - ela gesticula no ar - pra isso que serve os amigos, não? Conversar, se distrair...

— É difícil entender que não estou mais sozinha.

E olho para ela de relance antes de abaixar a cabeça por mais uma vez. Não consigo encarar ninguém por muito tempo.

— E não está mesmo - ela estica os braços para tocar meus ombros - porque pelo menos eu estou aqui, tá bom?

E me dá um longo abraço. Fecho os olhos. Está aí uma coisa que não sabia que precisava.

— E aí, vamos pra casa? - ela diz já se afastando de mim - Por favor, eu coloco alguma coisa pra assistirmos. Vai ser tri legal.

Aceito a proposta, contando que eu não tenha que entrar em casa e reviver as memórias recentes. Ela pede pra sair mais cedo, e vamos para o apartamento. Ligo para minha tia avisando que dormirei com Isabela, e ela diz que não há problemas, até incentiva eu sair um pouco de casa.

Troco de roupa, ela coloca algum filme besteirol chamado Nunca fui beijada, faz pipoca na panela e joga dentro de uma grande tigela. Eu realmente esqueço de tudo que aconteceu e ela, com suas longas pernas, as apoia no sofá e se encosta do meu lado.

Eu começo a cogitar em falar sobre tudo que aconteceu pra ela, já que ela me viu nas piores situações em que eu poderia estar, então... O máximo que ela pode falar é que já imaginava que eu não fosse neurotípica, afinal se você encontrasse sua vizinha sob efeito de medicamentos falando coisa com coisa sabendo que a irmã dela não se diferencia dela, e que foge de vez em quando e acha que ninguém gosta dela, possivelmente ia pensar que ela tem, no mínimo, problemas pessoais não tratados.

— Vai gostar lá de casa, Morgana - ela fala em um tom animado - tem muita comida, muita festa, a mãe vai te adorar e...

Alguém toca no interfone do lado, e ambas olhamos pra porta.

— Estão tocando lá na tua casa, Morgana.

— Pois é... - levanto confusa, e vou até lá. Quando abro a porta, vejo que é Raquel do outro lado, com a cara franzida, e assim que me vê, fica ainda mais.

— Raquel, eu... - digo levemente envergonhada - Oi.

— Eu acho que me precipitei - diz ela em um tom sério.

— Desculpe, eu... - pressiono os lábios, encarando-a - não...Entendi?

— Em pensar que você se importava o mínimo comigo - ela mostra o telefone - faz praticamente uma semana que tento falar contigo e você não me responde.

Minhas mãos suam, e respiro devagar. Ela está visivelmente chateada, e sinto que Isabela olha pra situação por trás.

— Venho na sua casa e nada - ela o guarda novamente - sério, você vive sumindo da minha vida e voltando. Eu não entendo o que quer comigo, de verdade.

Estou completamente sem reação. Não sei o que dizer. Como é que eu digo que sumi porque eu surtei se eu não quero que ela saiba que eu surto a esse ponto? Ela cerra os dentes, e balança a cabeça em negativa.

— Desculpe, isso é problema meu - ela levanta as mãos como se rendesse - você não tem nada a ver com isso. Pode continuar... - ela aponta com a mão direita para o ar - Fingindo que eu não existo mesmo.

Raquel deixa o ar sair pelo nariz. Continuo em choque. Sei que ela espera uma resposta, mas não sei o que dizer, então ela só me olha, faz um barulho entre os dentes e dá as costas, indo embora.

— Morgana, faz alguma coisa - Isabela fala por trás de mim, e só consigo sentir minhas pernas tremerem - vai deixar ela ir embora assim?

— Eu quero, mas... - meus lábios tremulam - não consigo.

Morgana tem uma crise que abala toda sua vida construída desde então. Morgana mente pra todos que está tudo bem. As pessoas se afastam porque Morgana não consegue mantê-las na sua vida porque está em crise.

Eu aceito que elas se afastem ou falo a verdade?

Ela viu o vídeo na Internet, talvez, e viu que estava tudo bem? Se alguém sumisse como eu... Também ficaria chateada e me sentiria desprezada. É justo o que estou fazendo? É justo comigo?

Cada dia que passa, eu aceito que não posso mais manter toda essa farsa para as pessoas, mas também não quero que elas mudem os sentimentos delas por mim. Eu queria que fosse a mesma coisa...

Ela está indo embora, e sinto meu coração apertar. Não é por questão amorosa somente porque não construímos isso, mas... É saber que isso está acontecendo por algo que a cada dia que passa, fica mais difícil de controlar.

“Espero que suas crises não sejam por estar mantendo isso”, mas é justamente isso.

Meu peito começa a doer.

Não posso manter isso por mais tempo, pelo menos não com ela. Eu preciso tentar...Eu preciso aceitar isso. Eu já pensei nisso tempo demais.

Corro e desço pelo elevador, onde é mais rápido. Só consigo fazer alguma coisa nesses momentos de ansiedade. Eu preciso tentar, pelo menos com ela.

Eu...preciso...

Ali está ela, entrando no carro. Bato no vidro do motorista até que ela abra a porta, e ali eu entro. Mal consigo respirar.

— Então? - ela diz sem tirar os olhos da frente.

— Eu gosto de você, mas eu tenho medo de me envolver, e eu...

— Como vou saber se você sequer fala comigo?

Se ela for embora depois disso, pelo menos eu já terei aceitado que tentei. Se fosse com Isabela, eu não sei...

— Por que está me dizendo isso? - ela pergunta confusa, e volto a falar assertiva.

— Nunca falo disso porque eu finjo que não é comigo, e aconteceu tanta merd* na minha vida durante os últimos anos que... - respiro fundo, e continuo - Tenho medo de me envolver porque sei que, quando descobrirem que eu sou uma pessoa cheia de angústias, vão me abandonar.

Ela fica calada, e eu continuo.

— Eu sempre fico sozinha, no final. Eu vivi sozinha todo esse tempo, eu... Não sei o que é alguém realmente gostar de mim, e eu não quero te trazer pro meio dessa bagunça que sou eu. Eu... - meus lábios tremem - sou um grande desastre, Raquel. Me desculpe ter me metido na sua vida.

Ótimo, agora eu quero chorar.

— E não é que eu não goste de estar contigo, eu... Só estou com medo disso tudo que ando sentido e você... Você não merece ter alguém como eu estragando a sua vida.

Pressiono os lábios com força, e vou pra abrir a porta do carro, mas ela segura meu pulso.

— Você não é um empecilho na minha vida.

E me olha com seriedade.

— Eu gosto de você do jeito que você é.

Meu peito acelera, e minha respiração fica descompassada.

— Está falando sério?

— Tenho cara de quem estou brincando?

Ela nunca tem cara disso.

— Só quero que seja sincera comigo sobre o que está acontecendo.

— Se eu for... - Digo em tom irônico - vou passar a noite falando.

— Bom - ela desliga o carro - tenho a noite toda pra isso.

— Pelo menos podemos ir pra um lugar que não seja meu apartamento? - rio nervosa - Não quero voltar por lá.

— Se quiser damos uma volta, ou vamos pra casa e depois te trago de volta - ela puxa o freio de mão - pode ser?

Assinto, e ela dá a partida. Seguimos andando pela cidade, onde começo a falar que estou passando por problemas emocionais, e que tenho uma batalha contra a minha condição mental. Ela ouve tudo em silêncio. Falo como é difícil ter uma irmã alcoólatra e uma mãe ausente. Ela pergunta do meu pai, mas não entro no assunto. Falo como o trabalho me exauriu e da minha briga com a diretora, e ela continua calada.

Até que falo o que aconteceu, e é nesse momento que ela volta a atenção pra mim. Digo que tomei um medicamento pra poder apagar, mas que acabou tendo efeito contrário, e que por isso estava ausente. Ela me olha com certo remorso, como se culpasse por ter falado do jeito que falou comigo, mas como ela saberia? Ela tem razão, eu nunca falo nada.

— Você aguenta muita coisa calada - ela diz dando o retorno no carro - deveria falar disso com alguém às vezes.

— Já providenciei isso - ou melhor, minha tia, que por mim eu estava jogada às traças.

Seguimos até sua casa. Ela estaciona o carro na garagem, e está tudo silencioso.

— Onde está o pessoal?

— Saíram pra um evento - ela diz tirando o casaco - quer comer alguma coisa?

— Não, estou sem fome.

Subimos para o seu quarto. Ela fecha a porta assim que entramos, e me sento na sua cama macia, tocando o edredom com as mãos.

— Quer ouvir alguma coisa, então?

— Pode ser.

Ela escolhe alguma música de um artista que não conheço em seu reprodutor de música acoplado no telefone, e se senta do meu lado. O som é suave e melódico, bem diferente do que ela costuma ouvir.

Toco a sua mão, chamando atenção.

— Obrigada por ter me ouvido.

— Não é nada demais - ela dá com os ombros - gosto de te ouvir falar.

— O que te faz me achar interessante, Raquel? Digo... - engulo em seco - O que eu tenho demais?

— Hm... - ela balança as pernas de um lado a outro - porque você não se importa com o que eu tenho, e sim com o que eu posso oferecer.

— Como?

— Você não liga pro meu status - ela ri com sarcasmo - pouco se importa com os prêmios ou com minha família. Você parece estar interessada só em conversar comigo, entende?

— E porque eu deveria me importar com isso, exatamente?

Faço essa pergunta séria, mas ela ri, balançando a cabeça.

— Por isso mesmo.

Ela segura o meu queixo e toca meus lábios. Não recuo. No fundo, eu também quero isso, e dou continuidade. Ela me abraça com firmeza, e nos deitamos na cama.

Eu me apoio em seu peito. Fecho meus olhos. Talvez eu esteja começando a me sentir melhor novamente a ponto de me questionar se eu a convido pra casa da Isabela no final de semana. É uma boa ideia? Não sei, não sou conhecida por ter as melhores ideias, mas, se sim, fico me questionando no que isso vai dar.

Fim do capítulo


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Comentários para 26 - Fama inegável:
Billie Ramone
Billie Ramone

Em: 06/12/2022

Olá querida autora. Criei uma conta só para te pedir: continue. Estou me identificando muito com várias situações, e esperando que a Morgana supere suas sombras e tenha uma vida minimamente estável para uma neuroatípica. Forte abraço!


Resposta do autor:

Desde já agradeço por estar lendo e dando uma chance para essa obra! Espero que esteja gostando. Apesar de tratar de temas delicados, acho que é pertinente mostrar que como na vida de qualquer um há altos e baixos - mesmo que esses baixos sejam mais intensos que os normais - sem contar toda a carga de vida que ela leva. Manterei a postagem no ritmo diário <3 e, estarei no aguardo do seu feedback nos capítulos posteriores. Um abraço!

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Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 05/12/2022

Viver já é complicado com uma família dita normal imagina com uma família igual a dr Morgana.Ta barril!


Resposta do autor:

Realmente, é uma situação de barril, e os parentes passam longe de ajudar... Pelo menos tem pessoas que querem o bem dela - acho, mas ainda assim, não deixa de ficar sentida. Será que melhora ou piora essa relação?

Responder

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