Capitulo 2
Capítulo II
Clarisse deixou os dois filhos na escola naquela segunda-feira pela manhã, antes de ir trabalhar. João era um garoto quieto de onze anos, de pele oliva e olhos amendoados, era vaidoso com seu cabelo negro, só saia de casa depois de fazer uma onda perfeita na parte da frente. Jardel tinha dez anos e era uma criança comunicativa, adorava conhecer pessoas e comer doces. Estava acima do peso e vivia com seu cabelo castanho cacheado bagunçado. Ambos foram adotados ao mesmo tempo, quando tinham quatro e três anos respectivamente, vieram de um abrigo social para crianças até doze anos em Cotia, onde Clarisse trabalhou por quase dez anos.
O acordo judicial com Sabrina permitia que ela passasse dois finais de semana e dois dias de semana por mês com seus filhos, no restante do tempo eles moravam com sua ex-esposa, uma morena de temperamento forte e que não havia perdoado Clarisse pelo desaparecimento do filho mais velho, há quase três anos.
O casamento durara nove anos, os últimos dois anos foram de crise, e os últimos meses foram um inferno, época que Clarisse tenta apagar da memória, sem efeito. Vivia numa eterna luta com seu peso, na época posterior à separação e perda do filho entregou-se à depressão e compulsão alimentar, foram os piores meses da vida da psiquiatra, que isolou-se na casa dos pais, em Campos de Jordão, por oito meses.
Controlada a depressão, foi morar em Cotia, morava sozinha numa grande casa que pertencia aos seus pais. Corria pelas manhãs, enfrentava pelo menos uma hora de trânsito até o novo emprego no abrigo São Vicente, e ao retornar para casa, mergulhava em duas paixões: pintura e o projeto de pesquisa que desenvolvia na USP, juntamente de sua amiga médica e professora titular, Roberta.
Naquela tarde teria a segunda consulta em grupo, estava curiosa sobre a presença de duas garotas atendidas na semana passada: Francine e Maria Paula. A primeira, despertara sua atenção pelo comportamento imprevisível e por reconhecer seus quadros. A segunda, a deixara alerta por suas entrelinhas autodepreciativas.
Era um dos dias mais frios daquele ano, seu consultório parecia gelado e seu casaco de lã não era espesso o suficiente. Estava incomodada com as duas caixas de papelão depositadas ao lado do arquivo metálico, eram coisas do antigo médico, ainda não removidas. Além dos quadros, havia levado seu notebook, uma cafeteira e material de limpeza para sua nova sala, higienizava a mesa e sua cadeira assim que chegava, todas as manhãs.
Havia almoçado ali perto e já estava de volta, aguardava a reunião do grupo as duas da tarde, encheu sua caneca com café fresco e foi para o lado de fora beber, observando a grande movimentação no pátio do térreo, era um horário de chegadas e partidas no abrigo.
Enquanto bebia calmamente seu café viu a chegada de uma de suas pacientes, a loirinha arredia, sempre com seu casaco de moletom branco, agora usava também um boné negro virado para trás, uma mochila que parecia com temática infantil, e um skate na mão.
Era inevitável para a psiquiatra a observação alheia, sem perceber se pegava criando perfis e levantando padrões comportamentais. Porém, não esperava se tornar também alvo de observação. A garota parou o passo já próxima da entrada para o corredor dos quartos e virou-se para trás, lançando um olhar curioso na direção do primeiro andar, na direção do consultório psiquiátrico. Ela só não esperava encontrar com a doutora já a observando, a fitou por um instante e desviou o olhar sem jeito.
Clarisse tentou melhorar a situação, lhe acenando de forma contida e com um pequeno sorriso. A garota não retribuiu, apenas virou as costas e seguiu para seu quarto.
Para sua surpresa, Francine já estava na sala da terapia em grupo quando entrou, mais tarde. Na verdade, havia uma quantidade maior de pacientes naquele dia, quase trinta, o que a deixou satisfeita e ainda mais motivada.
— Vocês também estão morrendo de frio? — A médica perguntou ao largar uma pilha de papeis sobre a mesa. — Essa sala é ainda mais fria que a minha.
Escutou-se apenas um burburinho de respostas e resmungos indecifráveis.
— Como eu disse na semana passada, pretendo seguir uma sequência com vocês, que seria acolhimento, habituação, treinamento de habilidades, prevenção de recaída e finalização, porém alguns de vocês não ficarão aqui por mais um ano, que é o tempo do ciclo deste trabalho, mas não tem problema, farei a adaptação para vocês. Por gentileza, quem estiver em seu último ano aqui, erga a mão.
Seis adolescentes ergueram a mão, entre eles Pablo, Maria Paula e Francine. Clarisse anotou os nomes e pediu que os seis formassem um grupo, permanecendo próximos.
— Não vou ficar perto da cara cortada. — Manifestou-se Maria Paula, uma jovem de cabelos negros e de baixa estatura.
— Eu que não quero ficar perto de você. — Retrucou Francine, que apesar de ser uma das mais altas ali, tinha aspecto retraído.
— Vai a merd*, aberração!
— Hey, já chega. — Clarisse intercedeu, se aproximando do círculo de cadeiras.
— Só digo que não vou ficar perto dessa louca, quando ela se zanga quebra tudo que vê pela frente, inclusive as pessoas.
— Doutora Clarisse, eu nunca fiz nada para essa garota, eu nunca machuquei ninguém. — Francine se defendeu.
— Quando deu em cima de mim ficou putassa com minha resposta e foi para o quarto quebrar o armário.
— Ela não é sapatona, sua vagabunda mentirosa! — Bradou Matheus, a defendendo.
Francine ficou vermelha e irritada, levantou e ia saindo da sala, quando a médica intercedeu.
— Francine, até quando você vai sair correndo quando aparecer um problema?
Ela estancou a fuga, pensou por um instante e retornou para a sala.
— Mas eu não sento do lado dela. E o que ela disse é mentira, eu nunca dei em cima dela.
— Ok, sente no outro canto.
— Não vou fazer parte de nenhum grupo com ela. — Maria Paula voltou a falar.
— Não sei se você já percebeu, mas você está fazendo parte de um grupo com ela neste instante, e com todas as pessoas dessa sala.
— Desde que eu não precise ficar perto dela.
— Quer sentar na minha cadeira?
— Não, obrigada.
— Podemos prosseguir?
— Fique à vontade.
— Ótimo. Vou distribuir para vocês uma folha com três perguntas, peço que respondam com toda sinceridade, fiquem tranquilos que ninguém vai ler em voz alta se não quiser, vai ficar apenas entre nós dois. Com isso vamos mapear as principais dificuldades que vocês enfrentam por conta dos transtornos, e vamos trabalhar nas próximas sessões em cima disso, ok?
A médica distribuiu todos os papéis e iniciou-se uma algazarra por conta de canetas, alguns não tinham, mas se arranjaram e finalmente todos começaram a escrever suas respostas em meio a conversas paralelas. Se aproximou de Francine, que estava sentada na última cadeira do semicírculo, o mais distante possível de Maria Paula, e pousou a mão em seu ombro, a assustando.
— Está tudo bem? Não está conseguindo escrever? — A doutora fitou a folha ainda em branco no apoio da cadeira da adolescente.
— Eu não sei o que escrever... — Respondeu baixinho, olhando também para o papel.
— Tente lembrar de situações que você não conseguiu fazer algo por conta dos seus transtornos.
— Dizem que é tudo besteira minha, que posso fazer se realmente quero algo.
— Você acha isso também?
— Sei lá.
— Eu não acho que seja besteira, já lidei com casos parecidos com o seu, então pode escrever o que quiser, eu juro que não vou achar besteira.
— Eu fui demitida do meu emprego anterior porque faltei dois dias seguidos, não conseguia sair do quarto.
— Esse é um ótimo exemplo, pode colocar na segunda questão.
— Tá bom.
— Não está com frio, com esses braços de fora?
— Um pouco.
— Cadê seu casaco?
— Coloquei para lavar.
— Não tem outro?
— Não serve mais.
A médica tirou seu casaco e a entregou.
— Tome, estou com uma blusa grossa por baixo.
— Não precisa.
— Me devolva no final do dia.
Hesitante, a jovem apenas olhou para cima, para a médica e para o casaco.
— Vista e volte a escrever. — Disse e deixou o casaco sobre as pernas dela.
— Tá bom, depois levo para a senhora.
Clarisse fez uma careta.
— Guarde o ‘senhora’ para suas orações, ok? — Respondeu com bom humor, ela sabia que todos os internos eram incentivados a fazer orações três vezes por dia.
— Sim, senhora. — Retrucou e vestiu o casaco.
***
— Doutora? Posso entrar? — Era Francine devolvendo o casaco no final da tarde.
— Entre.
A médica não estava de bom humor, havia recebido uma ligação desagradável da ex mulher pouco antes.
— Obrigada pelo casaco, o meu já secou. — Disse já trajando seu casaco branco de moletom e o skate na mão.
— Foi útil?
— Bastante, hoje está um friozão.
— Quer ficar com ele até amanhã?
— Não precisa, esse aqui dá conta, coloquei um cachecol também, minha sala de aula é fria.
— Está indo para a aula agora?
— Estou.
— Vai de skate?
— Sim, é aqui perto.
— Ok, não quero te atrasar. — Estendeu a mão tomando o casaco de volta.
— Obrigada, de novo.
— De nada, Francine.
— Pode me chamar de Fran, se quiser.
— Se você não me chamar de senhora, eu penso na possibilidade de te chamar de Fran, combinado?
— Pode ser.
Francine ensaiou sair da sala, mas voltou-se para a médica novamente.
— Que perfume a senhora usa? Quer dizer... Que você usa.
— Gostou?
— Uhum, é bom.
— É um Issey Miyake, já ouviu falar?
— Nunca. Mas eu poderia cheirar isso o dia todo.
— Você cheirou meu casaco?
— Não, claro que não. — Respondeu já vermelha, mentindo.
— Ok. Precisando, sabe como me achar.
— Até amanhã, doutora.
— Até amanhã?
— Tenho horário com você amanhã.
— Você disse que não vinha.
— Então não posso vir?
— Pode sim, se você quiser.
— Beleza, fui nessa. — Disse e se mandou dali rapidamente.
“Pelo menos dessa vez ela se despediu”
***
No dia seguinte, Francine chegou do trabalho por volta de meio-dia e meia, entrou no quarto coletivo e encontrou uma sacola de papel embaixo de seu edredom. Largou mochila e skate e abriu a sacola, encontrando dois casacos em seu interior, uma jaqueta cinza de nylon forrada e ainda com a etiqueta, e um casaco de moletom verde escuro, com capuz. Encontrou também um bilhete que dizia:
Espero que seja útil.
C
— C de Clarisse? — Deduziu.
— Tá rolando brechó onde? — Amanda a pegou de surpresa, a abordando.
Guardou rapidamente o bilhete debaixo da perna.
— Não sei.
— Onde você comprou esses casacos? — A amiga disse já provando o casaco cinza. — Adorei esse.
— Eu ganhei.
— De quem?
— Não sei, deixaram aqui.
— Por engano?
— Acho que não, são para mim.
— Como sabe?
— Sabendo.
— O que você está escondendo?
— Nada, oras.
— Mais alguém ganhou?
— Sei lá, mas esses são meus.
— Tá bom, tome seu casaco novo. — Disse já tirando o casaco. — Mas você vai ter que me contar quem é seu admirador secreto.
— Não enche, Mandy.
— Já almoçou?
— Não, cheguei agora.
— Então almoça logo, Matheus conseguiu uma massa da boa pra gente, pra bolar lá no telhado, vai dar pra fazer uns sete cigarros.
— Eu tenho hora com a psiquiatra hoje.
— Você disse que não ia mais.
— Mas eu vou.
— Vai deixar de curtir um esquema de primeira para ir para lá ficar quieta?
— Depois da sessão eu subo lá com vocês, guarde um para mim.
— Eu fui hoje de manhã, aquela mulher é mais louca que a gente, tem mania de limpeza, sabia?
— Doutora Clarisse?
— É, fui pra não ganhar amarelinha, mas não falei nada, fiquei sentada no sofá lendo revista.
— A gente tá só gastando o tempo dela, não tá certo isso.
— Você também ficou calada na sua.
— Mas tá errado.
— Você tá chatona, vou subir lá, os meninos já subiram.
— Fume um por mim.
***
— Foi a senhora que colocou aqueles casacos na minha cama? — Francine abriu a porta do consultório de mansinho e foi logo perguntando.
— Boa tarde, Fran, como está seu dia? Quer entrar?
Balançou a cabeça concordando e sentou-se no sofá.
— Desculpe, boa tarde.
— Serviram? — A médica largou a caneta e esticou-se para trás em sua cadeira.
— Sim, os dois. Obrigada.
— Ficou chateada por isso?
— Não, claro que não, aqui a gente vive assim.
— Assim como?
— De doações, ou no máximo a gente compra algo no brechó, quando tem salário.
— Você trabalha?
— De manhã, sou jovem aprendiz num banco.
— E estuda o que à noite?
— Estou no terceiro ano, me formo no final do ano. Doutora Clarisse, a sessão já começou?
— A sessão é uma conversa, e estamos conversando. Fico feliz por você ter vindo, e por estar falando.
— Desculpe nossa babaquice de ficar em silêncio, a senhora só está tentando fazer seu trabalho.
— Se você continuar me chamando de senhora eu que ficarei em silêncio.
— Você.
— Bem melhor. Você pode tirar os tênis se quiser, e colocar os pés para cima do sofá, tem gente que fica mais confortável assim.
— Posso ficar assim sentada?
— Claro, o sofá é seu nos próximos quarenta minutos.
— E o mesmo sofá de sempre?
— É sim. Há quanto tempo você senta nesse sofá?
— Desde que cheguei.
— E quando foi isso?
— Quando tinha treze anos. Faz muito tempo.
— Você sempre tomou a medicação que toma agora?
— Doutor Edson às vezes mudava de dose, mas quase sempre são os mesmos.
— Você se dá bem com esses remédios?
— Sei lá.
— Tente ser mais específica, você acha que eles evitam suas crises?
Balançou a cabeça, pensativa.
— Reduz a ansiedade, mas às vezes ainda tenho as crises de raiva.
— Tem efeitos colaterais?
— Tenho sono nas horas erradas, e insônia à noite. Tenho sede também. Às vezes me sinto dopada, tonta, não gosto de me sentir assim. Você vai mudar meus remédios?
— Pretendo diminuir gradativamente, você está se encharcando de remédios, isso nunca é bom.
— Mas daí eu vou piorar, vou perder meu emprego.
— Não se preocupe, Fran, vamos reduzir aos poucos e com meu monitoramento, a última coisa que eu quero é prejudicar você.
— Você não faz anotações?
— Só depois que o paciente sai, prefiro conversar sem anotar. Prefere que eu sente nessa poltrona ou que eu continue aqui atrás da mesa?
— Pode sentar na poltrona.
Clarisse sentou-se numa poltrona de courino marrom, ficando mais próxima da paciente. Usava uma saia preta até os joelhos, cruzou as pernas com cuidado.
— Você pode me perguntar qualquer coisa hoje, ok? — Francine disse, parecia muito mais aberta ao diálogo agora.
— Posso?
— Até sobre a cicatriz.
— No seu histórico diz que você ganhou essa cicatriz aos nove anos, confere?
— Foi sim. — Não conseguiu evitar de levar os dedos sobre a cicatriz no rosto.
— Quer me contar como foi?
— Foi meu pai, ele me bateu com um facão, esses de cortar capim, sabe? Ele às vezes cortava capim para os bois de um cara lá.
— Você se recorda do motivo disso?
— Não, eles viviam me batendo por qualquer coisa, deve ter sido mais alguma besteira que eu fiz.
— O facão acabou cortando seu rosto, então? Foi um acidente?
— Foi.
— Você se recorda bem desse episódio?
— Eu lembro de ver muito sangue, de sentir uma dor danada, de ir no carro do vizinho para o hospital. Eu vi quando costuraram meu rosto, estava acordada. Lembro do médico dizendo que eu precisava tomar mais cuidado e não brincar mais com facas. E depois eu passava os dedos por cima e sentia os pontos.
— Você acha que sua vida mudou depois disso? Ou nunca fez diferença?
— Eu preferiria não ter essa cicatriz. — Falou com a voz mais baixa, cabisbaixa. — As pessoas falam, riem de mim, colocam apelidos. Mudam os lugares, as pessoas, mas sempre falam as mesmas coisas.
— Você saiu da escola depois disso, não foi? Eu li suas fichas.
— Eu vivia arrumando briga com os babacas que zombavam de mim, tomava suspensão, bronca do diretor. Meu pai mandou eu parar de ir para a escola.
— Quanto tempo você ficou sem estudar?
— Dos dez aos treze, mas eu fiz um curso aqui em São Paulo de aceleramento, agora estou quase no ano escolar certo.
— Daí você ficava em casa sem fazer nada?
— Não, eu arrumava a casa de manhã e vendia balas na rua à tarde e à noite.
— Você passou três anos vendendo balas nas ruas de Ribeirão Preto?
— Vendia chocolates às vezes, mas bala vende mais.
— Nunca aconteceu nada com você nesses três anos nas ruas?
— Não. Só às vezes uns homens nojentos tentavam me fazer entrar no carro deles, mas eu sempre conseguia fugir. Alguns me ofereciam dinheiro para entrar, ou para ir num motel com eles, mas nunca fui.
— Que bom. Alguém orientava você sobre essas coisas?
— Eu tinha uns colegas de rua, eles diziam para ficar esperta e nunca entrar nos carros. Eu também li alguns livros que me ajudaram a ficar ligada nesses perigos.
— Você sempre gostou de ler?
— Acho que sim, desde que aprendi a ler. Eu tinha um amigo no meu bairro que estava montando uma biblioteca na garagem da casa, o Chico, ele ganhava livros dos outros, e eu às vezes escapava e ficava lá na garagem dele lendo. Às vezes meu pai ia me buscar e me batia, ele tava sempre bêbado e minha mãe sempre trabalhando fora.
— Como você faz para ler agora?
— Eu pego emprestado nas bibliotecas públicas, mas também estou fazendo minha coleção, eu compro nos sebos, já tenho onze livros.
— Um dia você pode me mostrar seus livros?
— Quer que eu vá lá buscar?
— Não, não precisa. Um dia você traz.
— Você tem livros?
— Tenho alguns, a maioria referente à medicina, mas tenho alguns de literatura também. Seus livros são de que?
— De literatura, mas eu leio de tudo, eu tenho lido livros sobre concreto armado agora.
— Concreto armado? — Clarisse inclinou-se para frente, envolvida pela conversa.
— Eu quero ser engenheira civil.
— Vai prestar vestibular esse ano?
— Vou, mas eu sei que não vou passar. Ano que vem eu vou estudar mais e acho que vou passar, se não passar eu vou continuar tentando.
— Você é boa aluna?
— Não sou a melhor da turma, o Renato sempre tira as maiores notas, mas eu costumo tirar notas boas.
— Então quem sabe você consiga ainda esse ano.
— Engenharia Civil é concorrido demais, mas um dia eu vou entrar.
— Acredito que sim, você me parece uma garota inteligente.
— Só com esse tantinho de conversa?
— É, eu sou boa observadora.
— Nós nunca falaremos de você? Só falaremos de mim?
— Essa é a ideia.
— Nem de fora das sessões?
— Sua vida é mais interessante, eu nem sei andar de skate.
— Eu posso te ensinar, a gente costuma andar numas pistas aqui perto, tem a praça do Melão, com dois bowls e um half massa.
— Essa língua eu não domino, mas obrigada pelo convite.
— Você pratica algum esporte?
— Agora só dou umas corridinhas, mas quando era jovem eu gostava de tênis.
— E você não é mais jovem?
— Sou menos jovem agora.
— Você deve ter a idade da minha mãe e ela é jovem. Se bem que não sei como ela está hoje em dia, faz tempo que não a vejo.
— Ela não vem te visitar com frequência?
— Ela nunca veio. — Respondeu tristemente.
— Você gostaria que ela tivesse vindo alguma vez?
Francine corria os dedos pelo tecido do sofá, fazendo desenhos enquanto pensava na resposta.
— Sei lá, agora não quero mais. — Disse com mágoa.
— Sente falta de seus pais?
— Já deu os quarenta minutos? — Desconversou.
— Ainda não, quer ir?
— Quero.
— Aceita um café? — Apontou para a cafeteira numa mesinha.
— Tem Nescau?
— Não, infelizmente só café.
— Ah, então não, mas valeu. Vou nessa.
— Você vai continuar vindo?
— Vou sim.
— Vai continuar falando?
— Não me prefere de boca fechada? — Disse com um sorriso torto.
— Prefiro você conversando comigo, gostei do seu papo.
— Sério?
— Com certeza.
— Beleza, vou nessa então, doutora.
— Cuidado com o skate. — A médica disse apontando para os joelhos ralados na calça jeans da loirinha.
— É normal, a gente cai.
— Você usa equipamentos de segurança?
— Meu boné. — Riu e saiu da sala com um aceno. — Fui.
Fim do capítulo
Próximo capítulo deve ser postado na segunda ou terça-feira.
Comentar este capítulo:

Vanderly
Em: 22/11/2022
Bom dia!
Olha eu aqui novamente!
Parece que que foi simpatia, ou seria amor a primeira vista? Se bem que nenhuma das duas percebeu.
Tadinha, a Fran sofreu bastante. E a Clarisse também sofre. E eu acredito que uma será a confidente da outra em algum momento, e também o ombro.
Adorando!
Ansiosa para ler o próximo.
Abraços pro cês!
Vanderly
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Lea
Em: 19/11/2022
Já quero saber mais sobre a vida da Clarisse e da Sabrina,e como o filho desapareceu. Se ainda está vivo!
*
Fran parece ser uma boa moça!
Resposta do autor:
Aos pouquinhos vamos conhecendo esses detalhes e informações, inclusive se o menino está vivo ;)
Obrigada por ler!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 19/11/2022
Fran está mais tranquila e falante.
Resposta do autor:
Logo logo vai estar soltinha... rs
Obrigada pela leitura e comentário!
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Gio
Em: 19/11/2022
Adolescentes sendo Adolescentes com seus moletons inseparáveis ×D
Coitada da Clarisse e da Sabrina, eu nem posso imaginar como é essa situação de "não saber" o que aconteceu com um filho. Não surpreende que o casamento tenha desmoronado, muito difícil lidar com isso, imagino.
Tô curiosa pra saber mais sobre essa parte hehe
Uma vez, fui buscar minha irmã mais nova na escola (ela tinha 7 anos) e quando cheguei ela não estava no portão onde costumava me esperar, por uns 10 minutos eu não soube onde ela estava, ninguém na escola sabia responder e eu quase fiquei doida. Foi um alívio tão grande quando ela só estava no parquinho, porque eles foram liberados uns 15 minutos antes.
Pense essa sensação numa desaparecer? E nem era minha filha.
Até o próximo!
Resposta do autor:
Essa trama do filho vai aparecer mais pro final, até lá vamos sofrer um pouquinho.... rs
Ainda bem que Kati apareceu! Deve ser um sentimento horrível não saber o que aconteceu, se está vivo, se está bem. Uma vez meu irmão saiu pra jogar bola, anoiteceu e ele não voltou, bateu um desespero, queria sair procurando. Mas ele acabou voltando são e salvo.
Obrigada por ler e comentar! :)
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Zaha
Em: 19/11/2022
Oiee, again!!!!
Nesse vimos Fran e Clarisse !!! Parece que Fran está mais aberta, a xongefekost mais, porém, falar da mãe n foi fácil, capaz a mãe TB n entendia os sintomas gerados pela Patologia que ela traz... Com o tempo a deixou ou ela fugiu...
Sabe, hj em dia os terapeutas já falam mais sobre si, antes tinha essa ideia de espaço Mt grande, espero que Clarisse responda algumas, isso TB ajuda na confiança e Fran n confia em ninguém....mas Clarisse conseguiu chegar nela vendo suas necessidades... Curiosa pelo desenrolar da estória!!!!
Beijosssss
Resposta do autor:
Fran vai se abrindo aos poucos, às vezes volta uns passos, mas vai se soltar.
Clarisse vai soltar informações devagarinho. ;)
Obrigada por ler!!
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