9.     Reencontro

 

Próximo do final do ano e prestes a retornar do seu intercâmbio, Thayná decidiu escrever um e-mail para Mônica. Comentou que já tinha uns cinco meses que estava no Canadá, citou sobre toda saudade que estava sentindo:

 

- Sinto falta do calor corporal, em específico, do calor do teu corpo junto ao meu, do seu abraço quentinho, protetor e acolhedor. Eu não imaginava que a saudade tem sabor e descobri que é amargo, saudade dói. A distância gera reflexão, tenho passado muito tempo sozinha e com isso tenho pensado bastante, principalmente em nós, fico a pensar se entre nós pode ter solução. Você sabia que a solidão gera empatia, sororidade e intensifica o amor? Ah, sinto falta dos seus beijos, dos seus olhares, da sua voz, dos seus carinhos, da sua presença, do seu toque, dos nossos momentos juntas e sinto anseio em te rever. Nunca utilizei nenhum tipo de droga, mas, atualmente compreendo o que é passar por abstinência e eu tenho fortes crises de abstinência, por conta da tua ausência.

 

Mônica leu uns dias depois, quando terminou todas as suas provas e focada em tirar boas notas, não tinha se atentado antes ao e-mail, nem nos seus sonhos imaginava ler tudo aquilo, precisou até reler em voz alta para acreditar, chorou antes de responder.

 

- Quando você partiu, eu também parti, só que aos pedaços. Chorei e sofri. O tempo tem passado com vagareza, a espera maltrata e o coração aperta. Descobri que a saudade não tem nenhuma piedade, ela se instala sem aviso e é inimiga dos apaixonados. Já a solidão, é um veneno, um quebra cabeça sem solução e gera tanta angústia no coração. Volta logo, já perdemos muito tempo e você faz muita falta sua chata. Guardo comigo, todas as marcas que você deixou, carrego como tatuagem cada digital.

 

Ambas finalizaram deixando claro que se amavam e era tudo que precisavam. Thayná também chorou quando leu a resposta, encaminhou uma mensagem informando o dia e hora prevista do seu retorno para o Brasil. Mônica avisou que fazia questão de busca-la no aeroporto, reservou um hotel, pois, optou por viajar no dia anterior, já que a viagem era longa e cansativa para fazer ida e volta num dia só, passou várias horas na estrada.

Uma hora antes do horário de chegada do voo, ela já aguardava no saguão, com uma plaquinha: senti saudades, Thay, seja bem-vinda de volta. Quando elas se viram novamente, todas as borboletas já adormecidas em seus estômagos acordaram, foi um reencontro lindíssimo, elas se aproximaram, se abraçaram e se beijaram, sem se importar com todas as pessoas que passavam, para elas nada mais importava. Conversaram muito durante toda a viagem de regresso, muitos meses longes, então não faltou assunto. Já próximo de Franca, a mãe da loira ligou para saber se já estavam chegando e para avisar que estava preparando o jantar, que foi muito agradável.

 

- Seus pais pareceram felizes com o meu retorno.

 

- Não mais que eu e eles gostam que você coloca juízo na filha deles.

 

- Vi e até curti algumas fotos suas nas redes sociais, andou aproveitando bastante.

 

- Logo que você viajou fiquei baixo astral por um tempo, meio que deprimida, por aproximadamente um mês, durante as férias, depois passei a sair com frequência, sosseguei, quando levei um susto.

 

- Como assim? Que tipo de susto?

 

- Meio que imprudência da minha parte, bebendo mais que o normal, me vi numa situação tensa, uma amiga me chamou para ir num local, acabou que éramos só nós duas e vários caras, liguei para o meu irmão que nos buscou e acabou tudo bem.

 

- Que perigo! Trouxe alguém para cá? (Perguntou apontando para o quarto).

 

- Não. Fiquei com algumas garotas, mas, nenhuma era você e acabei frustrada.

 

- Tenho até receio do que vou perguntar, mas, quero saber, foi para cama com alguém?

 

- Meio que iria, estava carente, sai com uma moça, cheguei até a ir na casa dela, mas, foi um fiasco, ela acabou até brava, esperava mais e não rolou, não consegui. Então acabei nem indo para cama com ninguém, meio que travei e fiquei pensando em nós.

 

- Nem sei o que dizer.

 

- E você não ficou com ninguém?

 

- Não. Meu coração estava ocupado e fiquei focada nos estudos. Nem mesmo beijei ninguém durante todos estes meses, os passeios que fiz foram mais culturais, acabei não fazendo amizades e saindo raramente a noite, fiz mais contatos profissionais mesmo.

 

- Acha que consegue me desculpar?

 

- Você não precisa pedir desculpas, você meio que terminou comigo antes da viagem, então não estávamos namorando, apesar que no meu caso sim, mas, no seu não, sendo assim você não fez nada de errado, não me traiu, estava curtindo sua vida de solteira.

 

- Só que você não e sei lá me sinto mal por conta disso (ponderou desconfortável).

 

- Você estava chateada comigo e com razão, vacilei por não ter contado com antecedência sobre o intercâmbio, no seu lugar ficaria muito mal e peço desculpas.

 

- Relaxa, já passou.

 

- Quero tomar um banho e descansar da viagem.

 

- Vou pegar uma toalha para você.

 

- É que eu prefiro ir para o apartamento.

 

- Estou com tanta saudade, fica comigo (pediu).

 

- Nós ficamos meses sem nos falarmos, acho que precisamos alinhar tudo com calma.

 

- Entendo, eu te levo.

 

- Obrigada.

 

Como as malas já estavam no carro nem precisaram carregar nada.

 

- Trouxe presente para você, só tenho que encontrar.

 

- Não precisava, mas, agradeço. Estou tão feliz que você voltou.

 

- Eu também estou, foi muito legal da tua parte me buscar no aeroporto, com plaquinha e tudo.

 

- Estava com saudade do teu sorriso largo e do teu olhar doce. Espero que a gente consiga ficar bem.

 

- Eu também.

 

- Bom, já vou indo. Bom descanso!

 

- Muito obrigada, te acompanho até o carro.

 

Se despediram com um abraço e um selinho. Mônica também estava cansada, foram várias horas dirigindo, estava doida para tomar um bom banho e dormir.

 

- E aí mana, acertadas?

 

- Ainda não, ela nem ficou com ninguém nestes meses todos, disse que seu coração estava ocupado (narrou se recordando da conversa séria que tiveram).

 

- O seu também, mas, as mãos não, ela sabia dos riscos, tanto tempo longe e você como sempre foi sincera, por isso, ainda não estão matando as saudades loucamente.

 

- Poderia ter omitido (lamentou fazendo uma alto cobrança).

 

- Aí não seria você. Notei ela usando as duas alianças.

 

- Ela não tirou a dela, tinha dito que continuaria usando e falou também que guardaria a minha, porém, não imaginava que usaria no colar que dei para ela de aniversário, achei que deixaria numa gaveta. Eu vi ainda no aeroporto e nosso reencontro foi incrível.

 

- Vocês se amam muito.

 

- E você, apaixonado?

 

- Essa palavra é muito forte, gosto da Liza, ela tem uma vibe boa, estamos saindo. Estou pensando em convida-la para viajar conosco.

 

- Ela vai adorar. Vou chamar a Thay, mas, não sei se ela vai aceitar, vou jogar uma água no corpo e descansar.

 

Antes de dormir mandou mensagem para morena desejando boa noite e rapidamente adormeceu. No dia seguinte, aproveitando que já estava de férias da faculdade e do trabalho, encomendou salgadinhos, para usar como desculpa para visita-la.

 

- Alô!

 

- Oi, estou aqui embaixo, trouxe aqueles salgadinhos.

 

- Que delícia, suba!

 

Ela subiu toda feliz e passaram a tarde toda juntas.

 

- Muito obrigada pelos salgadinhos e por ter me ajudado a desfazer minhas malas.

 

- Não precisa agradecer.

 

- Tatuagem nova (comentou apontando para o coração).

 

- Sim. Senti falta da aliança e resolvi fazer, gosto de eternizar na minha pele meus amores. Tenho tatuagens em homenagem aos meus pais, fiz uma com o meu irmão e essa simboliza nós duas (contou com o objetivo de deixar evidente seus sentimentos).

 

- Entendi, ficou linda.

 

Elas ficaram alguns minutos em silêncio, sem saber o que dizer e muito menos como proceder. Ao mesmo tempo que só queriam saber de matar toda saudade que sentiram, não estavam confortáveis para simplesmente fingir que nada tinha acontecido.

 

- Falei com meus pais, eles combinaram de vir me buscar no final de semana, vou ficar uns dias em Ribeirão Preto.

 

- Vai ser bom para matarem as saudades.

 

- Sim.

 

- Minha família decidiu passar o natal por aqui mesmo e o réveillon no litoral, quero te convidar para viajar conosco e passar o ano novo comigo.

 

- Vocês vão quando?

 

- No dia vinte e oito. Vou amar poder contar com a sua companhia. Combinamos de retornarmos no dia três, a casa que meus pais alugaram é bem próxima da praia.

 

- Vão ficar uma semana por lá.

 

- Isso, você topa?

 

- Vou ver certinho e te aviso.

 

- Combinado, já vou indo, se precisar de algo me liga, se quiser fazer alguma coisa antes de ir para Ribeirão me chama, bom a gente se fala.

 

- Sim, nos falamos e achei teu presente, vou pegar.

 

Ela ganhou um conjunto de roupa e um kit de maquiagem de uma marca que ela adora.

Trocaram várias mensagens, não voltaram a se encontrar, pois, em dois dias Thayná viajou para sua cidade. Tiveram bastante tempo para refletir.

Murilo resolveu dar uma forcinha, pediu o celular da irmã emprestado, alegando que queria testar um aplicativo, disse que estava dando erro no seu aparelho, mas, na verdade pegou o número da outra. Quando a irmã estava concentrada lendo um livro, aproveitou para tirar uma foto dela e mandou com a seguinte mensagem:

 

- Ela te ama, sofreu muito com todo o distanciamento, ficou animada com teu retorno, agora anda cabisbaixa, preocupada e sem saber o que fazer para ficar bem contigo.

 

Seu coração acelerou, respirou fundo, estava indecisa, não sabia se aceitava o convite.

O seu natal em família foi maravilhoso, mas, sabia que ainda estava faltando algo para ficar completamente feliz e não queria que a Mônica ficasse triste novamente, foi então que resolveu comprar passagem e retornar para Franca no dia seguinte.

 

- Alô!

 

- Oi, tudo bem?

 

- Sim e por aí tudo certo?

 

- Tudo em ordem, liguei para te dizer que aceito viajar contigo, precisamos nos acertar.

 

- Concordo, nós precisamos mesmo e fico feliz que aceitou, quer que eu vá te buscar?

 

- Não precisa, já comprei passagem para amanhã.

 

- Então te busco na rodoviária. Eu te amo!

 

- Eu também te amo.

 

 

 

Fim do capítulo