DESABROCHANDO
São Paulo, estado do São Paulo
Elza caminhava deslumbrada pelo pátio do CEFET em busca do mural onde encontraria o horário das aulas do primeiro ano de seu curso técnico.
--Meu, essa Escola é tão grande, tão linda, tão da hora! – falava sozinha – Caramba, nem acredito que tô prestes a estudar num lugar desse! – sorria satisfeita
Após alguns minutos avistou um grupo de jovens alunos olhando para um mural e deduziu que era ali que seu horário deveria estar afixado. Aproximou-se com dificuldade e encontrou seu nome na lista da turma 1AEL.
--E agora pra anotar esse horário cheio de matérias? – tirou o caderno de dentro da mochila – Caderno da capa mole não ajuda... – resmungava consigo mesma
--Escreve nas minhas costas, garota! – ouviu uma moça de sotaque carioca oferecer – Aí depois você me deixa tirar xerox! – propôs bem humorada – Capricha na letra, valeu? -- pediu
Achou graça do que ouviu. -- Ah, tá bom! – aceitou timidamente – Meu nome é Elza e o seu? – perguntou com simpatia – “Ela parece legal!” – pensou
--Alessandra, mas pode me chamar de Alê. – virou-se de costas – Manda ver, copia aí!
--Tá bom. – apoiou o caderno nas costas da outra e começou a copiar o horário – Minha turma é a 1AEL e a sua? – reparou nos cabelos da outra – “Ela tem o cabelo bem preto e liso!” – pensou invejando – “É uma garota bonita.”
--Tamos na mesma turma. – respondeu de pronto – Ótimo, porque já sei que vou colar contigo. Cê tem a maior cara de CDF! – comentou – E esse curso de eletrônica tem jeito de ser difição!
Achou graça. – E tem isso, cara de CDF? – continuava copiando
--Meu sexto sentido é animal! Nunca falha! – respondeu orgulhosa – Copia depressa aí pra gente sair daqui logo e não passar por caloura. – falou um pouco mais baixo – Não tô a fim de tomar trote!
Achou graça. – Tô copiando, calma. – prestava atenção no que fazia – Mas não esqueça que tem a tal da aula magna pros calouros. Vai ser difícil não saberem que a gente é aluna nova. – mordeu os lábios
--Relaxa e vai na minha onda que a gente vai assistir essa aula aí, sair dela e nenhum veterano vai pegar a gente! -- prometeu
***
--Você não achou essa Escola o máximo? – Elza perguntou empolgada – E viu só as matérias que a gente vai fazer? Logo no primeiro ano com eletricidade básica, laboratório de eletricidade, eletrônica digital... – falava que nem criança – Tem tanto recurso, tanta máquina! – os olhos brilhavam – E viu a educação física? Tem natação, atletismo, vôlei... Acho que vou escolher atletismo e você? – mordeu o brioche
Achou graça. – Não disse que era a maior cedêzinha? – sorriu – Meu sexto sentido nunca erra, eu sabia! – comeu o último pedaço do brioche – Mas diz aí, -- falou com a boca meio cheia -- tu é da onde? – perguntou curiosa após limpar os lábios com guardanapo– Eu sou carioca, nascida e criada no bairro de Madureira, tenho 15 anos e tô na casa da minha tia Malu, que é maneirona, mora aqui em Sampa, é solteira, cabeleireira, não tem filhos e me dá liberdade total! – gesticulava
As duas garotas terminavam de lanchar sentadas nas escadas do último andar do prédio mais alto da Escola.
Limpou os lábios com guardanapo. -- Eu nasci aqui na cidade, na vila militar do bairro de Santana, perto da estação do metrô Tietê. -- olhava para a outra -- Mas a gente se mudou pra São José quando eu tinha 8 anos. Pra estudar aqui, tô morando na casa de uma prima da minha tia Gracinha. – contava – Ela é tranquila.
--Ah, tu é filha de milico? Logo vi! – fez um gesto despreocupado – Por isso que é desse jeito toda certinha, toda na disciplina... – reparava na colega – Cheia de medo de fugir da aula magna antes do fim pra escapar dos veteranos! – riu brevemente – Mas relaxa que eu te coloco no jeito. Daqui até as férias do meio do ano te deixo descolada que nem eu assim!
--Humpf! – fez um bico – Você se acha, né, Alê? – perguntou franzindo o cenho mas acabou relaxando – “Não dá pra ficar com raiva dela...” – pensou
--E cê mora lá em São José com quem? – continuava querendo saber da vida da outra – Tem irmão, tem namorado, como é que é? – passou a mão nos cabelos – Eu moro com minha mãe e tenho duas irmãs mais velhas, -- gesticulava -- uma de 17, chamada Aline, e outra de 18, chamada Alana. Todo final de semana Aline e eu saímos pelas matinês da vida pra barbarizar pegando os gatinhos! – sorriu
--Ah, eu... – abaixou a cabeça – Sou filha única, órfão de mãe e moro com meu pai, que é militar... – pausou brevemente – Não tenho namorado... – afirmou envergonhada – Nunca nem tive...
--Taí outra coisa pra gente trabalhar! – bateu uma palma – Mas confia que vou botar uns gatinhos na tua fita, é só me dar tempo de conhecer a galerinha daqui! – prometeu
Achou graça. – Mas me fala uma coisa, Alê... – voltou a olhar para a colega – Seu cabelo... – pensava em como perguntar – É assim mesmo, você faz algum tratamento...? – silenciou e mordeu os lábios
--É Renê Rená no pixaim! – assumiu de pronto – Sou filha e sobrinha de cabeleireira, meu amor! Minha mãe e tia Malu deixam qualquer preta com cabelo de índia Potira! – fazia a propaganda – Tá a fim de dar um jeito no teu cabelo? Se quiser, falo com a tia Malu e ela te deixa toda gata! – ofereceu
Tinha vontade de aceitar mas não sabia o que fazer. Precisava de dinheiro para cuidar da aparência.
--Cê também se veste muito assim, tipo garotinha. É hora de usar umas paradas mais mulher! – aproximou-se da outra – Eu sei que você ainda vai me ajudar muito com essas matérias do curso, então eu vou retribuir te fazendo deixar de ser essa menininha tímida pra ser um mulherão! – olhava nos olhos – E tu vai pegar todos os gatinhos que quiser! – sorria
Elza ficou feliz com o que ouviu. “Só não sei se são mesmo os gatinhos que eu quero pegar...” -- pensou
São José dos Campos, estado do São Paulo
--E a Escola é tão maravilhosa, tão linda, tão da hora! – Elza comentava empolgada – Nessa primeira semana a gente não teve aula normal, foi só aquela coisa de apresentar a Escola, os laboratórios, explicar como tudo funciona, dar palestras, explicar da profissão, tudo tão legal! – sorria -- E na educação física escolhi atletismo! – olhava para os demais – A professora disse que a gente vai fazer corrida de 100, 200 e 400 metros rasos, revezamento e salto e mais um monte de coisas!
--Mens sana in corpore sano! (Mente sã em um corpo são!) – Machado exclamou satisfeito em latim – Minha filha, -- olhava para a jovem -- estudando numa Escola deste nível vós conseguireis lograr êxito em qualquer concurso de ingresso para nossa amada Aeronáutica! – vislumbrava em sua mente a imagem de Elza usando farda – É muita emoção neste peito varonil de pai! – sorriu
Pai e filha estavam na casa de Graça e Goulart. Haviam encerrado o almoço mas permaneceram na mesa.
--É verdade, filha. E a Aeronáutica valoriza muito a formação técnica! – Goulart estava orgulhoso da jovem – Dedique-se a esse curso e poderá construir uma carreira brilhante!
--Mas eu vou me dedicar, tio! E vou fazer faculdade também pra entrar logo como oficial! – respondeu resoluta
--Minha filha, meu rebento, oficial da Aeronáutica! – Machado suspirou embevecido
--Isso tudo é ótimo, é importante pensar no futuro, mas vamos ao hoje! – Graça interferiu sorridente – E como foi na casa da minha prima? Vocês tão se dando bem, tudo certinho?
--Ela é bem tranquila, tia! – dizia o que pensava – E quase não fica em casa, porque além do trabalho é cheia de compromissos com amigas, negócio de bingo, clube... A enteada dela é outra que não esquenta lugar. – comentou – Já recebi até as chaves da casa!
--Mas como pode ser isto? – Machado ficou pasmo – Perdoe, minha senhora, -- olhou para Graça – mas vossa prima não me parece ter muita responsabilidade.
--E não tem mesmo! – Goulart concordou enfático – E desde quando Auxiliadora mora com uma enteada? – estava surpreendido e descontente – Pensei que sua prima morasse sozinha! – olhou para a esposa – Não gostei disso de ter uma enteada no meio, que não se sabe nem quem é, e da mulher ainda viver pela rua o dia inteiro! Elza é muito nova pra ter as chaves de uma casa!
“Maldita hora que eu fui falar!” – a jovem pensou arrependida
--Também não sabia disso. – olhou para o homem -- Nunca nem soube que Auxiliadora tinha enteada e nem que vivia batendo perna o dia inteiro. – também não gostou das novidades -- Além do mais, até onde eu sabia, ela tava separada.
--Ela tá separada, tia. – Elza esclareceu de imediato -- Mas a filha do ex companheiro preferiu ficar com ela.
--É cada coisa! – Goulart achou absurdo – Que pai! – fez um gesto de contrariedade
--Que tipo de genitor é este que abandona uma companheira e ainda deixa o rebentinho de outra relação com ela? – Machado perguntou estranhando – Esse sujeito frequenta vosso ambiente doméstico, Elzinha? – ficou preocupado – Imperioso saber!
“Se ele visse o tal rebentinho a gata que é!” – pensou -- Não, pai. – negou com a cabeça – Parece que ele já tem até outra mulher.
--Mas... – Graça queria saber mais detalhes – Essa moça, qual o nome dela? É jovem da sua idade, mais nova, mais velha? O que ela faz da vida?
Elza não entendia o motivo de tanta preocupação. -- Ela se chama Carla, tem 15 anos e estuda numa escola estadual perto da igreja que frequenta. – disse o que sabia – Mas a gente mal conversou porque ela passou a semana viajando numa excursão da igreja.
--Perdendo aula? – Goulart perguntou surpreendido
--Deve ser, tio. – não sabia o que dizer
--Eu hein! – Graça achava muito estranho – Desde que você não faça coisas do tipo, tá tudo bem.
--Depois dê um telefonema pra sua prima, por favor! – Goulart pediu à esposa – Pra dar uma enquadrada nela, como quem não quer nada! – gesticulou brevemente – Essa situação na casa dela não é nada boa!
Machado concordou balançando a cabeça.
--Querido, eu pedi um favor! – respondeu de pronto – Não posso enquadrar ninguém! – pausou brevemente -- O máximo a ser feito é deixar claro pra ela que a gente fica sempre de olho no que tá acontecendo!
--Mas não tá acontecendo nada! – Elza argumentou timidamente – Eu vou pra Escola todo dia, faço minha parte e é isso! – mordeu os lábios
Graça decidiu mudar de assunto. – E no CEFET? – sorriu novamente -- Você fez amizade com alguém? Que achou dos outros jovens?
--Lá não tem muitas garotas e no esquema que foi a primeira semana, não cheguei a conhecer minha turma direito. – pausou brevemente -- Mas fiz amizade com uma garota muito legal chamada Alessandra! – comentou animada – Ela é da minha turma também, mora com a tia e é carioca! – sorria – Tem 15 anos e é super descolada, sabe? Graças às ideias dela nem tomamos trote! – contava -- E depois que proibiram o trote por causa de uma confusão que aconteceu numa turma da mecânica, nos livramos de vez!
--Que bom! – Graça gostou de saber – Ainda bem que essa sua nova amiga tem tino pra fugir de confusão!
--Detesto isso de trote! – Goulart comentou de cara feia
--Compartilho do vosso pensamento, prestimoso capitão! – Machado concordou
Quando todos estavam prestes a se levantar da mesa, Elza tomou coragem e decidiu falar o que desejava: -- A tia da Alê é cabeleireira! – olhou timidamente para Graça – Vocês têm que ver o cabelo dela! É lindo! Bem preto, liso... nem parece um cabelo de negra... – abaixou a cabeça e levantou novamente – Ela disse que a tia pode fazer a mesma coisa no meu... – torcia para que concordassem
--Filha, não vos precipiteis! – Machado respondeu de pronto – Não podeis entregar vossas madeixas nas mãos de qualquer uma sob pena de perdê-las! – advertiu
--Você mal conhece essa moça, Elza! – Goulart concordou com o amigo – Sabe lá se essa tia dela é mesmo cabeleireira que se preze?
--Isso não é coisa de necessidade, meu bem! – Graça também não gostou da ideia – E depois, se a tia dessa moça não for digna da propaganda que ela faz, você ainda vai ficar decepcionada!
Elza respirou fundo e nada respondeu. “Decepcionada já tô!” -- pensou chateada – “Com vocês...”
***
Elza chegava na casa de Auxiliadora. – Tia? – chamou ao entrar – Tem alguém aí? – fechou a porta – Acho que não... – seguiu para o quarto – Sabe o que vou fazer? Tomar logo banho! – decidiu
Após o banho, a jovem guardou suas coisas no armário e decidiu vestir a camisola para se deitar. “São quase nove da noite. Melhor ir dormir que amanhã é dia de acordar cedo!” – pensou – “E essa viagem de hoje foi muito cansativa com a Dutra do jeito que tava!” – preparou-se para subir a escadinha da beliche
--Já tá com sono?! – uma voz quebrou o silêncio do ambiente – Misericórdia!
--Ui, que susto! – olhou espantada na direção da voz – Como você entrou aqui sem fazer barulho?
--Eu sei ser discreta! – Carla piscou para a outra – Cê realmente tá com sono? – achava incrível -- Nossa, mas nem criança dorme tão cedo! – brincou – Ainda nem são nove horas, garota! – deixou a bolsa de viagem sobre a mesinha e tirou os sapatos
--Na verdade tô só um pouquinho cansada... – encostou-se na escadinha -- E amanhã é dia de acordar cedo, né? – sorriu timidamente
Abriu a bolsa e tirou uma bolsinha de dentro dela. – É, mas não exageremos! – olhou para a colega – Vou escovar os dentes e tomar um banho. Não demoro. – sorriu – Vê se fica acordadinha pra gente bater um papo. – pediu bem humorada -- Afinal, mal tivemos chance de trocar umas palavrinhas. – tirou uma toalha de dentro da bolsa
--Tá bom... – sentia-se constrangida na presença de Carla – Se incomoda se eu sentar na sua cama?
--Imagina! – fez um gesto despreocupado – Fica à vontade. – repentinamente tirou o vestido – E tá calor, né? – tirou o sutiã olhando para a jovem
“Minha nossa!” – Elza caiu sentada na cama da outra – “Meu Deus, ela é muito gata!” – pensou envergonhada ao desviar o olhar
– Deixa eu tomar meu banho pra refrescar o corpo. – tirou a calcinha e seguiu para o banheiro levando a toalha e a bolsinha – Vê se não vai dormir! – falou em voz mais alta
“Dormir como, depois de ver o que eu vi?” – não sabia nem o que fazer com as mãos
***
Carla estava sentada na cama e recostada em seu travesseiro. Elza estava sentada do mesmo jeito, porém recostava-se na outra ponta. As duas conversavam, uma olhando para a outra.
--Cê não sente calor, Elza? Tua camisola é mais tampada que a da minha vó! – comentou jocosamente
“Enquanto isso a camisola dela parece um band-aid nas partes íntimas.” – pensou -- Não tá tanto calor assim... – não conseguia se sentir à vontade com a morena
Gastou uns segundos calada observando a negra. -- Então... – cruzou as pernas esticadas sobre a cama – Pelo que entendi do que você me falou, sua vida sempre se limitou ao esquema de: escola, vida doméstica e um pouquinho de lazer. Tudo sempre politicamente correto. – passou a mão nos cabelos – E sendo criada com dois militares ali de plantão não deve ser mole. Essa sua tia Gracinha também deve ser mais uma sargentona pra te regular! -- concluiu
--Ah... – não sabia o que dizer – Não é bem assim... – cruzou os braços – E a tia Auxiliadora, por onde será que anda que não chegou até agora? – queria deixar de ser o tema da conversa
--Num domingo à noite? – riu brevemente -- Com certeza jogando baralho na casa de uma amiga dela, aqui do final da rua. – respondeu convicta – E se não chegou até agora, espera que só vai aparecer lá pra meia noite ou mais!
Estranhou o que ouviu. – Mas e o trabalho dela amanhã?
--O batente começa lá pelas nove e fica aqui perto... ela não se estressa. – olhava fixamente para Elza – E você? Como foi na primeira semana de CEFET?
--Foi legal. E você, como foi na excursão da igreja? – fazia um esforço para ser natural mas não conseguia – “Ela me olha de um jeito!” – pensou intrigada
–Foi boa! Pena que acabou... – ficou uns segundos calada – Elza, deixa eu te perguntar... – sorria – Cê não frequenta igreja, centro, nada? Religião é a maior legal pra se conhecer gente, socializar... – gesticulava -- A igreja que eu vou tem um grupo de jovens da nossa idade que é super da hora!
--Eu nunca fui de frequentar nada disso... – respondeu com a verdade – Lá em São José de vez em quando a gente ia na Catedral São Dimas... tipo assim, no dia de natal, em alguns feriados santos ou quando meu pai cismava. – comentou – Mas eu nem conheço ninguém de lá, só o padre Estêvão.
--Ah, então vamos na minha igreja num final de semana desses aí? – convidou empolgada – Padre Leon é bem tranquilo e a galera do grupo jovem é super show! – sorria – Eu acho que você vai gostar!
--Tá bom... – abaixou a cabeça e mordeu o lábio – “Eu acho que ela só quer mesmo é fazer amizade.” – pensava – “É que o jeito dela é muito diferente do meu.”
--Cê é tímida, né? – achava engraçadinho – Confessa aqui, aposto que cê nunca nem beijou numa boca!
Sentiu as bochechas arderem. – Não... – continuava de cabeça baixa
--Elza, você é muito travada, garota! – afirmou em tom brincalhão – Tem que aprender a explorar a sensualidade que toda negra tem! – aconselhou – Olha só você! – engatinhou na direção da outra – Coxas grossinhas... – apertou uma das coxas dela – Sem barriga... – tateou o abdômen da jovem – Os seios é que são pequenos ainda... – roçou os dedos levemente no bico de um seio – Não devia se esconder tanto... – sentou-se no colo de Elza – Não acha que tá mais que na hora de deixar a flor desabrochar? – tocou o queixo dela com os dedos e levantou-lhe a cabeça – Cê não é mais uma criancinha... – olhou nos olhos
Sentiu o corpo todo arrepiar e não teve resposta. “Meu, o coração parece que vai explodir!” – pensou nervosa e excitada
--Meninas, tão em casa? – Auxiliadora chegava fazendo alvoroço – Hoje eu detonei no jogo de biriba! Só dava eu! – comentou falando alto – Vocês tão aí?
--Tamos sim, tia! – Carla se levantou rapidamente – Pensa no que te falei! – cochichou para Elza e se encaminhou para a sala – Conta aí, a senhora foi às forras dessa vez? – perguntou brincalhona
--Meu Deus! – levantou-se também sacudindo a camisola – Agora tá calor! – abanava-se
***
--Olha a nêga do cabelo duro, que não gosta de pentear, – alguns rapazes cantavam dentro da sala de aula – Quando passa na boca do tubo, o negão começa a gritar! – batiam palmas
--Pega ela aí, pega ela aí! – duas moças cantavam em corinho
--Pra que? – os rapazes cantavam --Pra passar batom!
--Que cor? Violeta! – as moças continuavam cantando – Na boca e na...
--AI!!! – os rapazes gritaram
--Pega ela aí, pega ela aí! – as moças insistiam – Pra que? Pra passar batom!
--Que cor? Cor azul! Na boca e no olho do... AI!!! – gargalhavam
--Aí, Elza, me passa um tufo do teu cabelo pra eu limpar minha moto? – um rapaz zombou
A jovem negra estava sentada em um cantinho na sala, controlando-se para não explodir de raiva. Mordia os lábios nervosamente.
--Aí, pessoal, o pixaim da Elza vai ser massa na hora de esconder a cola pras prova! – outro jovem zombou também – Olha a nêga do cabelo duro... – incentivava o pessoal a cantar novamente – Que não gosta de pentear!
Fricote - Luiz Caldas [1]
Alessandra entrou na sala a passos firmes. Já do corredor ouvia a zombaria e se irritou. – Porr*, de novo essa merd* aqui? – parou em um lugar ao lado de Elza e deu um soco na carteira escolar – Qual é, gente? Que babaquice! – fazia cara feia
--Ih! Chegou a mucama vagaba dos carinhas do segundo ano! – um rapaz provocou debochado
--Eu pego quem eu quero, babaca, não é um boca de fossa que nem você, que me deu mole e eu não quis! – respondeu desaforada
--UH!! – outros jovens gritaram
--E vocês, hein? – Alessandra olhou para as moças que também zombaram de Elza – A gente é mulher, somos poucas, tinha mais era que se unir! – gesticulava – Aí vocês colam com esse bando de marginal de classe média pra sacanear nossa amiga?
--Sempre advogada da Elza, né, Alê? – o rapaz mais debochado da turma perguntou – Qual é, as aranha tão se atracando? – insinuava um relacionamento entre elas
--Por que, tá com inveja? -- debochou -- Só porque não tem competência pra pegar a garota, apela pra baixaria? – falava alto
Elza estava admirada. “Alê é o máximo!” – sentia-se mais segura
--Por que tanta gente dando chiliquinho por causa do cabelo dela? – Alessandra continuava tomando satisfações – Toda hora é uma merd* dessa!
--Por que o cabelo é escroto, só isso! – uma das moças respondeu. Vários jovens riram
--Já se olhou no espelho, branca azeda? – Alessandra provocou – Ou não consegue? Fantasma não reflete, né?
--UH!!! – jovens gritaram
--Posso saber o que é isso aqui? – o professor de matemática entrava na sala de cara feia – De lá do início do corredor dava pra ouvir a balbúrdia de vocês! – colocou dois livros em cima da mesa – Vão sentar pra assistir a aula ou os graciosos já sabem a matéria toda e encaram uma provinha surpresa agora?
Os jovens se calaram e foram se posicionando em seus respectivos lugares.
--Eu digo o que foi, professor! – Alessandra continuou de pé – Aqui tem um bando de gente que não admite que uma negra frequente esse lugar! – falava com sentimento – Zombando da nossa colega Elza por causa do cabelo dela! Me chamando de mucama vagabunda porque vim em defesa dela! – tentava se controlar – Pra estudar aqui tem que ser branco do cabelo liso, é isso mesmo? Eu não vi restrição de cor no edital do concurso! – respirou fundo e se sentou
--Quase todo dia é isso, professor! – Elza teve coragem de timidamente se queixar – Mais de um mês nesse inferno...
--Mas era só uma brincadeira... – um rapaz quis justificar – O senhor já teve a nossa idade, sabe que a zoação é normal...
--Elas tão exagerando, professor! – uma das moças tentava se defender
O professor chegou na porta da sala e chamou o inspetor que estava passando. Conversaram rapidamente em voz baixa e o inspetor se retirou. Voltando para dentro da sala, o homem começou a falar: – Acho que os senhores e senhoras sabem que a população brasileira é uma grande mistura entre brancos, negros e índios. – caminhava por entre os alunos – Então embora as cores de pele de cada um aqui não sejam idênticas, não há quem nessa turma, nessa Escola ou talvez mesmo nesse país que não tenha sangue de ancestrais negros correndo nas veias. – pausou brevemente – Além do mais, acho que os senhores e senhoras sabem que isso aqui é uma Escola Técnica, sabem que estão em um curso profissionalizante que objetiva entregar profissionais competentes para o mercado de trabalho. E devo lhes dizer: -- olhava para os jovens – competência não é só técnica, mas também ética! Um bom profissional sabe respeitar e se dar ao respeito! – falava com firmeza – Fiquem cientes que eu não vou admitir que se repita o tipo de coisa que aconteceu aqui hoje e, pelo que ouvi, vem acontecendo há mais de um mês! – gesticulou com o dedo em riste – Essa Escola não tolera esse tipo de conduta e acabei de pedir ao inspetor para levar o ocorrido à ciência do Diretor Geral! – voltou para perto da mesa – Se eu ouvir um pio de qualquer um aqui, zombando da colega Elza, da colega Alessandra, ou de qualquer outro colega, porque é negro, branco, mulato, índio ou seja lá o que for, é suspensão na semana de provas! – ameaçou – E na segunda ocorrência, é expulsão!
--Dedo duro! – um rapaz rosnou para Alessandra
--Alguma dúvida, Jonas? – o professor perguntou ao jovem, que abaixou a cabeça – Alguém aqui não entendeu o que eu quis dizer??
A turma ficou em silêncio total.
“Meu, não acredito nisso!” – Elza pensou sentindo-se vingada – “Finalmente alguém que não se limitou a me pedir paciência!” – estava feliz
***
--Cara, não pode ser assim, não! – Alessandra gesticulava – Você não pode passar por esse tipo de coisa e ficar muda, Elza! Tem que reagir, porr*! – aconselhou revoltada
--Eu não sou corajosa como você, Alê. – justificou-se de cabeça baixa – Eu nunca tive uma amizade sequer que me defendesse numa hora dessas! E foi a primeira vez que passei por uma coisa daquele tipo e um professor ficou do meu lado, porque no geral, ou eram omissos ou me tratavam como se eu fosse a culpada de tudo ou me pediam pra ter paciência...
As duas moças caminhavam em direção ao ponto de ônibus.
--Mas antes você era criança, agora não é mais! – respondeu de pronto – Elza, puta que pariu, você parece que vive numa jaula! Pensa bem, a gente se conhece desde o primeiro dia de aula e nunca saímos juntas pra lugar nenhum! Cê nunca nem foi na minha casa e nem eu na tua! – continuava reclamando – Porr*, você mora com a prima da tua tia e a enteada dela que passam a maior parte da vida na rua, tem ninguém aqui pra te regular, e ainda assim teu esquema é só de casa pra Escola e da Escola pra casa! – passou a mão nos cabelos – Tá na hora de deixar de ser menininha, já te disse isso!
--E você quer que eu faça o que? – perguntou angustiada – Eu não sei ser de outro jeito!
--Mas me responde, olha pra mim! – virou-se de frente para a amiga – Você quer ser assim, travada, pra sempre? – olhava para ela
“É a segunda pessoa que fala que eu sou travada.” – lembrava do que ouviu de Carla
–Ou quer mudar e ser uma mulher independente, segura de si e pegadora? – a negra insistia
Acabou achando graça. – Você e essa coisa de pegadora... – continuava de cabeça baixa – Eu não conseguiria fazer como você, que encara de cabeça erguida até quando te ofendem porque já namorou uns e outros na Escola. – mordeu os lábios
--Levanta essa cabeça, amiga! Por favor? – pediu gentilmente e ela obedeceu – Não nasci assim, minha mãe me ensinou a ser assim. E ela passou por muita barra pesada pra criar minhas irmãs e eu sozinha depois que meu pai deu no pé. – segurou uma das mãos da outra – Você é inteligente, culta, educada, um amorzinho de pessoa! Não pode se deixar sacanear por essa porr* de racismo que vai nos perseguir a vida inteira porque não nascemos brancas! – falava com ênfase – A nossa vida vai ser sempre uma luta pra sobreviver com dignidade, amiga!
--Não sabe o quanto eu queria ser branca! – confessou sem pensar – Eu não gosto do meu cabelo duro, dos meus lábios grossos, da minha pele tão escura... – suspirou – Mas vai ser assim até eu morrer e eu não sei lidar com isso! – envergonhou-se por desabafar
--É por isso que você vive mordendo os lábios e se enchendo de creme pálido? – deduziu – Acha que comendo a boca ela vai ficar fininha? Ou que um banho de hidratante vai te fazer branca? – balançou a cabeça negativamente -- Vamo fazer a coisa do jeito certo, Elza! – propôs – Hoje você vem comigo pra casa da tia Malu! – decidiu – E podes crer, amiga! Quando você voltar pra São José na sexta à noite, teu pessoal vai surtar!
Elza tinha pontos de interrogação na cabeça, mas estava disposta a arriscar.
***
--Uau, para tudo!!! – Carla entrava no quarto fazendo algazarra – Quando a tia Auxiliadora me contou que você dormiu fora e apareceu com um look novo não acreditei! Só eu dormia fora, você nunca! – sorria admirada – E chegando mais tarde em casa, olha... O que tá rolando?– perguntou assanhada – Conta tudo agora! – aproximou-se reparando a jovem de cima a baixo – Tá bem maquiada, ui! Adorei o modelito! – gostava do que via -- Tá pegando alguém?
--Não é nada disso... – respondeu envergonhada – Dormi na casa da minha amiga Alê e a tia dela alisou meu cabelo e me deu umas dicas de maquiagem. – dizia a verdade – “Além de ter me dado um estojo de maquiagem.” – pensou satisfeita – E hoje depois da aula, Alê e eu fomos no shopping e por isso que cheguei agora.
--Resolveu torrar a graninha que te deram pra estudar com modelitos novos? – deslizou uma das mãos no ombro da colega – Tá certa! Adorei!
Afastou-se de Carla receosamente. – Olha, eu tava me preparando pra tomar banho, então deixa eu pegar minhas coisas e ir pro banheiro, tá? – juntava seus pertences com pressa
Cruzou os braços e se encostou na porta do armário. – Já que você decidiu se soltar, que tal pensar naquele convite que te fiz há um tempão? – não deixava de reparar na outra – Vai ter uma excursão com o pessoal do grupo jovem da igreja que vai descer pra Praia Grande agora na sexta à noite. Tem duas vagas sobrando, vem com a gente? – convidou – Não precisa voltar pra São José em absolutamente todos os finais de semana!
Surpreendeu-se com o convite. – Nossa, eu... – paralisou com a toalha de banho nas mãos – Até agora nunca deixei de voltar pra casa nos finais de semana... E pra ir numa excursão dessas tem que ter autorização dos pais, né? – olhava para Carla
--Autorização de um adulto responsável, ou seja, tia Auxiliadora. – piscou para a negra
--E tem que pagar alguma coisa! – concluiu o óbvio – Eu não tenho mais dinheiro pra gastar com nenhum extra. – dizia a verdade – “Já vou ter que pedir mais algum pra poder me manter aqui até o fim do mês.” – pensou preocupada
--Pede pra tia Auxiliadora que em nome da fé ela te empresta. – riu brevemente – Ela acabou de sair, mas quando voltar, eu mesma posso pedir por você. -- ofereceu
Não sabia o que dizer. “Ai, mas bem que eu queria ir...” – pensava
–Para de ficar pensando e aceita logo! – pediu fazendo um dengo -- Ah, vai, cê só tira notão no colégio! Não será um final de semana com a gente que vai te fazer perder matéria ou se dar mal. – insistia – Só falta mais um mês antes das férias, dá tempo de sobra de você estudar pras últimas provas do semestre!
--Por que você quer tanto que eu vá? – queria entender
–Porque sim... – aproximou-se novamente – Amanhã eu digo pro padre Leon que você quer conhecer o grupo pra ver se faz parte dele de vez! – olhava nos olhos – E depois de amanhã, de noite, é pé na estrada! – sorria -- Essa viagem é um evento religioso, meu bem, não tem com o que se preocupar. – esclareceu – Nem o teu pessoal haveria de ver algum mal nisso, faça-me o favor!
“Se ela soubesse que meu pai, tia Gracinha e tio Goulart são super cismados com ela e até com tia Auxiliadora...” – pensou – “Se eu for, vou ter que inventar alguma história...”
***
Elza seguia em um pequeno ônibus de viagem rumo à Praia Grande. Logo cedo havia ligado para seu pai e também para a casa de Goulart avisando que deveria ficar em São Paulo por conta de um trabalho de grupo a ser entregue logo na segunda-feira. Foi a primeira vez que mentira para a família desta forma, e por isso até sentia um certo remorso, mas, ao mesmo tempo, estava feliz e empolgada por viajar com um grupo jovem e, o mais importante, ao lado de Carla.
Estimulados pelo seminarista Washington, os jovens cantavam e batiam palmas.
“Quando o Espírito de Deus se move em mim,
Eu canto como rei Davi!” – duas palmas
“Eu canto como rei Davi” – duas palmas
“Eu canto como o rei Daviiii!”
--Você acha mesmo que se alguém ligar e perguntar por mim a tia Auxiliadora não vai me entregar e dizer que viajei com o grupo pra Praia Grande? – perguntou receosa
--Claro que não! – batia palmas – Ela achou super certo de você vir e desaprova a caretice reguladora que fazem contigo em São José, especialmente depois de uma ligação que sua tia Gracinha fez pra ela há um tempo atrás! – batia palmas
“Quando o Espírito de Deus se move em mim,
Eu danço como rei Davi!” – duas palmas
“Eu danço como rei Davi” – duas palmas
“Eu danço como o rei Daviiii!”
--E como é que vai ser isso, esse evento pra onde a gente tá indo? – perguntou curiosa
--Relaxa, que na hora certa cê vai saber! – Carla olhou rapidamente para a outra – Agora vai no embalo e canta. – continuava batendo palmas -- Quando o Espírito de Deus se move em mim, eu danço como rei Davi! – cantava alto
Música Religiosa - Rei Davi [2]
Elza não conhecia a letra da música, mas começou a bater palmas animadamente.
***
--E aí, Elza, gostou do dia de hoje? – Amanda perguntou com simpatia – Afinal de contas é a primeira vez que você vem com a gente. – sorria
--Eu adorei isso de dia de louvor! – respondeu de imediato – Foi legal distribuir o sopão pras famílias pobres e depois vir assistir os shows aqui na Praia Aviação. – sorria também – Até o nome da praia tem tudo a ver comigo, que quero entrar pra Aeronáutica! – olhava para os novos colegas
--Hoje foram os shows gospel -- segurou o braço da jovem negra – e amanhã serão as encenações religiosas, com danças e apresentações teatrais. – Carla explicava – Só que tudo termina mais cedo porque às seis da tarde a gente tem que tá dentro do ônibus pra voltar pra casa! – sorria com o rosto próximo ao da outra
--Ah, legal! – sentiu o coração acelerar com aquela proximidade
--O pessoal tá começando a se dispersar! – Marta cruzou os braços – Eu empolgava de passar a noite em claro na praia e vocês?
--Tô dentro! – Herbert concordou de pronto
--Galera! -- um rapaz se aproximava do pequeno grupo -- Ivan disse que vai tocar violão e puxar um luau ali perto do palco, agora que os shows acabaram. Topam vir? – convidou sorridente
--Ótima ideia, mas antes... – Carla continuava de braços dados com Elza – Deixa eu mostrar pra minha amiga aqui o que tem de interessante na noite de Praia Aviação. – respondeu sorridente – Logo a gente vai tá lá com vocês!
Engoliu em seco. “Meu Deus, haja coração!” – pensou nervosamente – “Queria que essa noite durasse pra sempre!” – desejou sonhadora
***
--E então, gostou daqui? – Carla perguntou dengosamente – Essa lua cheia só veio pra ajudar, né?
--Eu nem sei o que dizer... tô achando tudo maravilhoso... – sentia-se nas nuvens
As jovens caminhavam de mãos dadas pela areia da praia. De quando em vez fugiam das águas que arriscavam molhar-lhes os pés.
--Você... não vai querer ir pro luau que o pessoal tá fazendo? – perguntou receosa
--Por que? – soltou a mão da outra e parou diante dela – Tá tão ruim assim ficar aqui comigo? – perguntou insinuante ao parar de andar – Já quer fugir de mim pra ficar perto dos outros? – fez beicinho
--Não... – sentia-se presa àquele olhar – Sabe, você... Você é tão enigmática, tão indecifrável, Carla... – respondeu meio hipnotizada – Por vezes me busca pra conversar, depois some e quando volta mal para em casa e não trocamos mais que duas ou três palavras... – olhava nos olhos – Depois vem, me busca de novo, me dá atenção. Agora é isso aqui! – abriu os braços brevemente – O que você quer afinal? Eu não consigo te entender...
--Eu vou te ajudar! – puxou-a pela gola da blusa e a beijou nos lábios
“Meu Deus!” – sentiu a língua da outra pedindo espaço e abriu a boca – “Que beijo!” – não conseguia pensar em mais nada
--Agora cê entendeu? – segurou o rosto de Elza com as duas mãos
O coração estava a ponto de sair pela boca. – Eu... – mal sabia o que dizer – E se vier alguém e...?
--Shii... – silenciou-a com um beijo rápido – Essa parte da praia é um recanto das meninas, se é que me entende. – sorriu – Mas eu sei onde a gente pode ficar bem mais à vontade. Quer ir?
“E tem como dizer que não?” – pensava em êxtase
***
--Você é inacreditável! – achava graça – Como conseguiu até as chaves do ônibus? – acariciavam-se as mãos
--Eu consigo tudo que eu quero! – beijou-a nos lábios – Tudo! – puxou-a para mais junto de si e fez com se deitassem
Elza estava sentada no último assento do ônibus, o qual havia sido previamente reclinado por Carla, que estava sentada sobre ela.
--Não tem risco... de... chegar alguém? – perguntou entre beijos
--Quer deixar de ser estressada? – achou graça – Só eu tenho as chaves e ninguém vai chegar. – beijou-a – Não te falei dos meus esquemas com o motô? – beijou-a mais uma vez – Eu acoberto ele, -- beijou-a – e ele me dá essa moral aqui... – beijou-a mais uma vez – Relaxa... – mordeu-lhe o lábio inferior
Elza deixou rolar e se entregou ao que sentia. Logo estavam em um gostoso amasso. Surpreendeu-se com uma das mãos da outra apalpando-lhe um seio, mas não a impediu de continuar. Timidamente, buscou fazer a mesma coisa e se deleitou com prazer de sentir aquela parte do corpo da morena sob sua mão.
--Aprende rápido... – sorriu antes de voltar a beijá-la
“Ela me deixa louca!” – pensava – “Essa Carla é uma perdição...”
Perdidas entre beijos, mordidas e muitas carícias, Carla aproveitou o clima e arriscou introduzir um dedo entre as pernas da jovem.
--Não! – interrompeu instintivamente – Espera! – ajeitou-se no assento e passou a mão nos cabelos – Assim não! – afastou-se um pouco e sentou no banco ao lado
--Por que, hein? – mordiscava-lhe a orelha – Ninguém nunca te tocou assim? – perguntou ciente da resposta
--Sabe que não... – respondeu titubeante – Eu... nunca estive assim... com ninguém. – confessou
--Hum, que lindinha! – segurou-a pelo queixo e a beijou – Tudo bem, amorzinho. A gente vai até onde você quiser... -- sorriu
“Se ela soubesse que com esse sorriso me faz querer qualquer coisa...” – pensou embevecida – E o que você quer comigo? – perguntou insegura – Só ficar nessa viagem?
--Eu quero... – esfregou o nariz no nariz da outra – Namorar você, assim... – beijou-a – Escondidinho... – beijou-a novamente – Porque nem tia Auxiliadora, liberal como é... – beijou-a mais uma vez – Aceitaria isso... – mais um beijo
“E quem aceitaria...?” – pensou decepcionada com o mundo – Então eu quero também... namorar você! – beijou-a – Só não sei porque alguém como você me quer... – não entendia – Uma sem graça como eu...
--Você tá longe de ser sem graça! – sorria – Ainda mais agora, toda de cabelo liso, visual trans*dinho, toda gata... – acariciou os cabelos de Elza – Mas escuta aqui, presta atenção ao que eu vou te dizer! – sentou novamente no colo da outra – Minha mãe dizia que a gente é o que pensa que é! E é desse jeito que os outros vão nos ver! – olhava nos olhos – Se você acreditar que é gata, -- beijou-a -- poderosa – beijou-a novamente -- e inteligente... – mordeu-lhe os lábios – É isso que todo mundo vai achar de você!
Elza sentia-se no céu.
***
Machado e Graça esperavam por Elza na rodoviária de São José dos Campos. Goulart estava de serviço e por esta razão não os acompanhava.
--Duas semanas sem vislumbrar o rosto do meu rebento, mexem deveras com este peito varonil de pai! – o sargento dizia emocionado – Não vejo a hora de aconchegá-la em meus braços em seu momentâneo regresso ao lar.
--Também morro de saudades. – Graça concordava – Mas logo ela vai chegar. – olhou para o relógio
Elza vinha no ônibus admirando a paisagem pela janela. Trajando uma calça jeans justa, blusa vermelha cintada no corpo e um casaco jeans de marca, sentia-se bem como nunca havia se sentido. As unhas pintadas e bem feitas combinavam com a cor de seu batom. O rosto cuidadosamente maquiado disfarçava o volume de seus lábios como sempre desejou. Orgulhosamente, de quando em vez, passava as mãos em seus cabelos lisos. Instintivamente sorriu ao se lembrar que ninguém mais zombava dela na Escola, muito pelo contrário. Embora ainda sentisse o peso do racismo em alguns eventos, nos últimos tempos recebia muitas cantadas. Lembrou-se de Carla e do orgulho que sentia em tê-la como namorada, ainda que escondido de todos.
Por instantes viu o pálido reflexo de si mesma na janela do ônibus e deixou-se invadir pela música que começou a tocar no seu walkman no momento em que se aproximava da rodoviária da cidade.
“Os meus olhos coloridos,
Me fazem refletir,
Eu estou sempre na minha,
E não posso mais fugir...”
“O tempo em que eu vivia encolhidinha acabou!” – pensou resoluta
“Você ri da minha roupa,
Você ri do meu cabelo,
Você ri da minha pele,
Você ri do meu sorriso...”
“E ninguém nunca mais vai ficar rindo de mim!” – decidiu
“A verdade é que você,
Tem sangue crioulo,
Tem cabelo duro
Sarará crioulo...”
O ônibus parou no local reservado para aquela viação. Elza pegou a mala que estava a seu lado e se levantou.
“Sarará crioulo,
Sarará crioulo...”
--O ônibus dela chegou! – Graça exclamou animada – Daqui a pouco ela aparece aí! – olhou para Machado
--Minha filha! – ficou em posição de sentido – Acalmai-vos coração militar! -- disse para si mesmo
“Sarará crioulo,
Sarará crioulo...”
Elza cruzou a entrada da rodoviária e logo avistou quem lhe aguardava. Sorriu para ambos e se aproximou rapidamente.
--Oh! – Machado se surpreendeu com a jovem e saiu da posição – Elzinha? – arregalou os olhos
“Sarará crioulo,
Sarará crioulo...”
--Nossa, mas você... – Graça estava boquiaberta – Parece até outra garota! – reparou de cima a baixo
--E eu sou, tia! – respondeu resoluta
“Sarará crioulo,
Sarará crioulo...”
Sandra de Sá – Olhos Coloridos [3]
--Aquela Elza que vocês conheciam não existe mais! – passou a mão nos cabelos lisos
Machado não sabia o que dizer.
Fim do capítulo
Músicas:
[1] Fricote. Intérprete: Luiz Caldas. Compositores: Luiz Caldas / Paulinho Camafeu. In: Magia. Intérprete: Luiz Caldas. Nova República PolyGram, 1985. 1 disco vinil, lado B, faixa 6 (3min22)
[2] Rei Davi. Música religiosa. Compositores: Humberto Mello e Paulinho Makuko. (2min43)
[3] Olhos Coloridos. Intérprete: Sandra de Sá. Compositor: Macau (Osvaldo Rui da Costa). In: Sandra Sá. Intérprete: Sandra de Sá. RGE Discos, 1982. 1 disco vinil, lado A, faixa 1 (4min26)
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Sem cadastro
Em: 17/01/2025
Algumas pessoas pensam que pessoas pretas aguentam tudo. Eu sei que Elza é forte! Mas espero que ela entenda que não precisa ser sempre.
Eu não entendo esse tipo de "brincadeira" onde só um ri. Essa incapacidade de entender que o outro sofre.
Quando você ouve, por muito tempo, que seu cabelo é duro, feio, que é um bucha, bombril...
Você passa a não amar o seu cabelo!
Ou que seu nariz é grande, de batata, de panela...
Você passa a não amar o seu nariz!
Que seus lábios são enormes, que você é beiçuda, bicuda, beiçola...
Você deixa de amar seus lábios!!
Ou que você é feia e que sua cor é suja...
Você deixa de se amar!
Começa um processo, onde a pessoa passa a desejar ser o que não é.
Até ela entender, que o conjunto da obra é o que a torna linda, já se perdeu um tempo.
É o que acontece com a Elza! Ela se tornou introspectiva, tímida, acuada, distante...e, não necessariamente, faça parte da personalidade dela. E não precisa ter a pele retinta pra passar por isso.
Sem falar no fato de objetificar o corpo preto. Ou como se todas tivessem que ter bunda grande, peito grande...ou como se não fôssemos merecedora de afeto e cuidado.
A questão do alisamento do cabelo é muito pessoal. Na década de 80 pra 90, quando a música Fricote tava no auge, eu lembro que a letra da música era sempre alterada pelas pessoas e nunca de maneira favorável, e era cantada por todo mundo. Não se tinha a consciência que se tem hoje. As mulheres alisavam os cabelos com ferro ou produtos químicos, pra se enquadrarem no padrão de beleza... Mas muitas sofriam, até pouco tempo, com corte químico ou não se reconheciam.
Eu curto esse passo que a Elza deu. Se vai ser bom pra ela, eu não sei... é relativo. Mas eu curto o fato dela está saindo da inércia.
Eu odiava meu cabelo, antes. Alisei, porém não me encontrei. Resolvi cortar pela primeira vez curtinho. Me apaixonei! Me apaixonei, enquanto ele crescia kkk me libertei.
Minh@linda!
Em: 17/01/2025
Eu tenho certeza que você vai conseguir!!!
Eu acredito nisso, de verdade.
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PaudaFome
Em: 27/06/2024
Você foi tão demais nesse retrato da Elza adolescente que parece até que viveu tudo isso. A trilha sonora como sempre tudo a ver. Estou amando crescer com elas. Agora vamos a Yara
Solitudine
Em: 10/07/2024
Autora da história
Olá querida,
Sendo bem sincera sobre o que escrevo: há coisas que vivi e descrevi, outras vivi e adaptei com mudanças, outras presenciei e retratei e por fim, há umas que simplesmente me vêm.
Beijos,
Sol
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Ontracksea
Em: 16/01/2024
Jasin Solitudine bom dia! Vi no Face do Lettera que essa história foi a mais lida de 2023 e vim ler. De cara gostei da Elza e da Yara e tô gostando muito. É super necessário uma história que trate de racismo e da questão indígena com seriedade. Amando!
Até criei esse perfil só pra te dizer isso e comentar!
Saludos!
Solitudine
Em: 16/01/2024
Autora da história
Olá querida!
Que bom que o Facebook do Lettera serviu de incentivo para você vir aqui me dar um alô. rs Fico feliz que você esteja gostando da história, das personagens e da pertinência delas. Muito obrigada!
Feliz que você tenha criado perfil por minha causa! Quando vocês dizem isso a Caipira pira! rs
Beijos,
Sol
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jake
Em: 09/12/2023
Eita que a Carla fez oque queria ,pensei que a noite seria com a Ale.Gosto mais da Ale do que da Carla algo me diz q ela irá fazer Elza sofrer.So acho quero ver a cara da família .Elza chegou poderosa
Solitudine
Em: 09/12/2023
Autora da história
Olá querida,
Carla se encaixa bem dentro dos sonhos de Elza. Vejamos até que ponto estes sonhos se encaixam dentro da realidade.
Alê é uma grande amiga. Elza não a vê com estes olhos.
Sim, nesta fase da vida começa a primeira reviravolta de Elza. Vejamos as próximas! rs
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 30/03/2023
Amoreeee tô gostando de ver! Altos coments! Arrasa!!! Bjuss
Solitudine
Em: 31/03/2023
Autora da história
kkkkkkkk E você se empolga, não é, garota?
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 29/03/2023
Autora, você tinha que ser PROIBIDA porque vicia a gente! kkkk Eu nem podia tá aqui agora sabia?
Tô adorando ler sobre essas meninas e tá sendo bem legal essa alternância. Mas eu acho que essa Carla é do tipo chave de cadeia!
Solitudine
Em: 29/03/2023
Autora da história
kkkkkkkkkkkkkkk
Que bom que está gostando tanto! Mas cuida de sua vida por aí, viu, fi? Depois volte para cá quando puder. rs
Beijos,
Sol
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mtereza
Em: 29/12/2022
A Carla e a Alê estão sendo perfeitas nesse processo de empoderamento, amadurecimento e descobertas da Elza mais algo me diz que vêem ainda muitos conflitos e percalços nesse caminhada dela. Como sempre amando as suas histórias Sol bjsss
Resposta do autor:
Olá querida!
Com certeza, será uma longa caminhada! Vamos ver aonde ela vai chegar pelos caminhos que tem escolhido.
Beijos,
Sol
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Joabreu
Em: 20/12/2022
Bom dia,
Elza tankou muita merda, natural que desse o grito de liberdade. Deixa ela desabrochar milicada!
BBS
Jo Abreu
Resposta do autor:
kkk Eita, que ela mata a caipira!
Ando pesquisando na internet para entender esses trens... rs
Sim, Elza aguentou muita coisa calada (acertei?) e ela queria deixar de viver na berlinda, ser mais aceita... Ela deu seu grito de liberdade da forma como entendeu que podia naquela época.
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 22/10/2022
Olá, Sol!
Esse é pro caps 4! Me confundi e não dá pra copiar e colar ...
Farei um comentário breve.
Bem, capítulo detalhando um pouco do despertar sexual de Yara!
Ela bem que me lembra Zinara, versão adolescente....
Existem lésbicas que já nascem prontas.... Yara parecia ter tudo muito claro para uma pessoa que nem sequer beijou. Ao meu ver, achei um pouco inverossímil algumas cenas e também pela educação que teve, estava com a cabeça bem aberta,mesmo achando ser um pecado, como vc mostrou a personalidade dela no início, fiquei assombrada, pois a reação seria diferente, mas tudo bem, estou colocando meu julgamento sobre como vejo as coisas. Talvez hj em dia as meninas são assim. Se até adulto, muitas estórias mostram mulheres inseguras, então achei um pouco fora da realidade
Bem, Yara levou bem seus sentimentos e até para expor para quem sentia atração
Sua forma de escrever a cena estava mais visceral, de acordo com o contexto.
Yara se encantou e entrou de cara, isso sim se encaixa mais numa atitude adolescente e de ingenuidade do mundo Apesar que aí é normal. Geralmente, a primeira paixão é intensa, avassaladora.
Bem, as duas freiras: Leila e Clotilde são rancorosas e estavam fora de si. Só por causa de um dildo.. julgando Yara, que nunca auto afirmou santa, apenas devota a Deus e nem era celibatária, mas essas duas eram e tinham inveja pela proteção que tinha do padre.Bem, cada um faz o que melhor lhe convém, mas esquecem que tudo volta bem mais forte.....tanto para o bem quanto para o mal
Quanto a "traição" da namorada, bem, ela é adolescente, se assustou com a possibilidade do que viria. Quem somos nós pra culpar? Cedo ou mais tarde,mesmo em outra situação,ia passar a negação da intimidade...Yara, poderia ter dito algo das irmãs, porém é MT ética ou tava assustada...
Yara agora tomará um novo caminho. Escolheu não se tornar freira. Um caminho mais difícil ou mais fácil seria? Melhor do que a incertidumbre? Mas acho que valeu a pena pegar essa carona. Algo fez que as lembranças retornassem e ela se conectou com a própria essência e disse em voz alta quem era. Logo verei por que caminhos passou.... possivelmente, vc deve ter saltado no tempo!
PS: Esqueci pq escrevi rápido mais cedo ..qnto eu e Samira = amiguitas . N sei, será? O tempo dirá ou n..
Beijos
Resposta do autor:
Olá Lailets Sadikii Amica!
Entendi que o comentário saiu no capítulo errado. Você está tão amiga minha que já apronta até caipirices! kkk
Vamos por partes, pois muito foi dito.
Sim, há pessoas que desde a infância já se sentem bem homo ou transexuais, mesmo nunca tendo beijado ou ficado com alguém de qualquer maneira. Yara e Elza se sentem homossexuais desde cedo e não tiveram dúvidas a respeito disso; a não ser insegurança, medo+, uma certa culpa. Yara tem muito o conceito de pecado enraizado na cultura dela e isso faz com que ela viva fugindo das tentações. Quando Padre Ignácio falou que se o que ela sente for do coração, portanto será de Deus, a tranquilizou mais em relação aos sentimentos que nutria por Edivânia.
Quanto à situação ser inverossímil, pior que não é. Trabalhei por uns anos com um grupo de acolhimento a pessoas LGBT e parte da vida de Yara foi baseado no relato de uma das lésbicas. Claro que a mulher não era indígena, não vivia em Olinda, mas ela foi criada em um internato de freiras. E nem havia um padre Ignácio para suavizar, a coisa lá era punk. Então te afirmo com muita tranquilidade que essa parte é nada inverossímil.
Lembre-se que Yara também, assim como essa mulher que comentei aqui, não é uma menina de hoje em dia. Ela era adolescente no início da década de 90. Importa a gente também lembrar que a cultura tem influência, claro que tem, mas a pulsão sexual existe e, de acordo com a pessoa, ela vai se manifestar, mesmo que isso, de certa forma, "traia" a cultura e até mesmo os valores que a pessoa tem.
Mas você está certa em sempre questionar o que te parece estranho. É uma de suas características que mais gosto!
Concordo com você sobre Edivânia. Ela também era uma jovem em condições de vulnerabilidade e se apavorou com a hipótese de voltar a viver sob o fantasma do abuso sexual.
Yara é acusada e se cala. Ela ainda não consegue ter forças para se defender nestas horas. Ela viveu esmagada pela maior parte da vida. Pessoas assim têm mais dificuldades de se posicionar, salvo exceções sempre existentes.
Você verá o que Yara vai fazer e verá se saltei no tempo ou não. rs Confia na caipira, amiguitha!
O tempo dirá sobre essa amizade. Ele sempre diz.
Beijos mega caipirérrimos,
Sol
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Zaha
Em: 18/10/2022
Boa tarde, Sadikii!!Tudo bem????
Fiquei doida no princípio quando Alê e Elza estavam se apresentando. N é importante, mas o lance de onde moravam e com quem me pareceu contraditório, mas tudo bem. Eu fiquei embolada com as informacoes...Bem, então começamos vendo Elza com um novo começo, nova cidade, nova escola cheia de possibilidade, gente nova, família preocupada igual. Bem, de novo vendo o de fora, mas bem como não, é comum na nossa sociedade tão ligada a um padrão de beleza . Eu mesmo já estive aí, até que vc aprende que um é como é.. Elza escuta muita coisa, essas zuações que um toma como brincadeira, que na verdade tão falando o que pensam, deixam marcas... até se fosse na brincadeira... Alê, é legal, mente aberta, descolada e não deixa por menos, apesar de escutar tb, outros tipos de coisas. O professor falou tudo, as pessoas se iludem achando que pq a pelezinha nasceu clarinha não tem descendência africana? Um estudo foi feito com várias pessoas de países diversos. E muita gente que vinha de famílias por gerações nascendo brancos e bem loiro ou ruivo, tinha os genes, vinham de descendência africana. E se um for pesquisar vai saber sobre as primeiras raças. Bem, Elza ainda não sabe como se impor e como se nem ela se aceita, n pode defender algo que não acredita! Mas o professor deu um incentivo importante e pela primeira vez, além da família, ela foi apoiada, defendida. Elza ainda vive dentro de um casulo e se fazendo de vítima e desde quando somos do mesmo jeito, pra mudar temos que pensar diferente tb. Ela se comporta assim como nunca foi incentivada a pensar de outra forma... Alê tá abrindo o caminho. Só achei que dá uma mudada no visual não ajuda em se aceitar como é, mas será um passo na transformação, pois as coisas passam devagar e isso ajudará com a auto confiança, até que na vida ,as coisas ao redor e ela mesma descubra sua verdadeira essência . Ela falou algo tão forte:" Eu queria tanto ser branca". O que ela quer é ser igual, se encaixar, pq tudo que ela houve sobre seu físico, é negativo, logo seu conceito de beleza tb. Mas isso vai passar, ela sabará quem é e o que quer ser ...
Serei sincera, não está sendo meu melhor capítulo, mas, coisa minha mesmos, não sua escrita, ela tá ótima e detalhada!!! Olha de onde Ttaja( Kavasttaja) tirou "Mens Sana in corpore sano" kkkkk Agora entendi pq ela disse q deixei escapar algo...rs Carla deixando Elza doida.... Mas Elza tb, não pôde vê mulher,todas deixam ela zonza...nunca vi! Já falei sobre Carla, a pra frente....mas Carla gosta dela como é( me refiro ao físico), pode ser ou se comportar como for ou viver sua vida da forma que acha ..e claro, agora mais ainda. Essa viagem já dava pra saber, né?! Carla fará bem a ela, mesmo sendo passageiro...mas coração quebrado sempre ajeita!!! Só me pergunto onde Carla se mete que consegue tudo que quer....essa deve ter um par de namoradxs, peguetes,rum... Evento religioso, mas ninguém é celibato ikkk. Tinha uma amiga batista que era a maior pegadora dessa terra e adorava um negão!!! O q eu tinha que escutar.... Esse final foi ridículo Elza ( n é pra vc Solvisky). Pior momento da sua vida, se deixou engolir pelo sistema....claro, desde quando te deixam de ferir pq vc tá fantasiada de outra pessoa!!! Vai se ferir mais e pior, ficará tão acostumada a essa armadura que quando tentar sair, vai sofrer muito e espero que n se transforme a ponto de ser o que outros era. É fácil, quando começam a te elogiar, esquecer pelo q passou e começar a ser superficial, mudar completamente seus ideias em pro da aceitação hipócrita....
Crítica do comentário anterior...
Capaz, não entendi, mas como vc fez alguns pulos no tempo e não desenvolveu a parte da infância de Yara, fiquei um pouco perdida nessa parte de Yara,n acho que Yara vivia em negação pelo trauma da infância, já que nem se lembrava , tinha ataques de pânico, pelo pouco que foi mostrado....Alice n deu suporte a ela, claro, n foi por mal. Excesso de zelo? Medo? Ou estava muito metida na causa? Acho q os três... Engraçado pq ela lutava por uma causa e ela tinha a mesma em casa... Sobre a igreja, mas isso não implica a aprender ter fé, n sabemos ainda, ops, eu n sei ainda, vou ver a medida que ela passa pelas dificuldades, se a fé é tão grande, digo, pq são poucos criados na igreja que realmente tem fé, pois eles apenas seguem como gado e qndo vêem que foram manipulados, toda essa fé se foi pq ela foi deturpada dizendo q TD ia ficar bem, Deus sabe o q faz ..TD no seu tempo.. frases que considero de negação de problemas a menos que vc fale, mas seja proativa!! Quanto a descobertas de sua própria sexualidade, a igreja deu força, mas a sociedade é a culpada....mas em resumo concordo c vc sobre a igreja, ainda que não em toda sua %. Vc n saiu tão mal ikkk. Suponho que sua dificuldade não tenha vindo da igreja, capaz da família, do meio onde se encontra agora e tudo que teve que lutar pra chegar onde tá e ainda quer alcançar....isso é um pequeno preço a pagar .. até que vc consiga... Então , é isso mon ami !!!!!! E n podde faltar..... Beijão caipirérrimosss!!!!
Resposta do autor:
Olá Lailitcha Dahabii Doré!
Você resumiu muito bem quando disse que tudo que Elza quer é se encaixar. A sociedade, nossos coletivos, somos contraditórios demais. Temos as regras sociais do conviver, que precisam existir mas devem ser sempre revisadas, questionadas e aprimoradas. Porém acaba funcionando mais ou menos assim: eu não posso ser quem eu quero, então você também não será. Ou coisa do tipo: você é mulher/homem, negro/ branco, pobre/rico, etc não pode se comportar assim. Então nós, enquanto sociedade, nos podamos reciprocamente e não nos deixamos vivenciar o direito de ser, como deveria ser. Elza ouve zombarias há anos, especialmente por viver em ambientes onde os negros são a minoria. Então tudo que ela quer é caber no espaço que dizem que ela deve ocupar. Elza ainda não amadureceu para questionar isso e buscar ocupar o espaço que ela merece e pode ocupar. É todo um processo e cada pessoa tem seu ritmo nesse aprendizado. Ela ainda vive na negação da identidade que tem.
Carla é a aceitação que Elza tanto deseja e a possibilidade de viver uma experiência amorosa como gostaria. Vamos ver se Carla será mais realidade que sonho ou mais sonho que realidade e como tudo se dará. Vai lendo aí, fi! rs
Mas, como assim Elza não pode ver mulher? Ela é até muito mansa. Yara é bem mais atiçada! kkk
Em relação a sua crítica: esse conto começa com o nascimento/infância das meninas e salta-se no tempo em vários momentos, sem a intenção de detalhar. Deixo as ideias no ar para vocês irem interpretando de acordo com suas percepções. Acho que sua interpretação, por exemplo, foi muito boa. E ao decorrer do conto, você verá se a firma ou se muda alguma coisa. Mas a ideia é essa. Farei outros saltos no tempo. rs
Beijos bisous mon cher,
Sol
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Heloar
Em: 13/10/2022
Boa noite!
Parabéns pela escrita que me envolveu e que trouxe até mim, uma leitora que ama as coisas que envolvem com realidade, o conto que eu queria encontrar para ler. Me percebo em Elza, durante a adolescência vivenciei processos muito semelhantes...
Quanto a Yara, é uma persona também muito potente... Representa a força que nós, enquanto nação, estamos cotidianamente esquecendo... Que bom que você veio nos relembrar, querida!
Dou-lhe a sugestão de substituir a expressão "mulata" se perceber que vai de encontro com seus ideais o que vou explanar... Essa palavra começou a ser associada, na época da sociedade brasileira escravagista, às pessoas que como eu tem tons de peles negras menos retintas para lhes vincular ao animal chamado de mula que só servia aos brancos europeus como animal que carregava grandes cargas em suas costas.
Continuarei acompanhando essas duas histórias de autoconhecimento, resiliência, romance, erotismo, críticas sociais e +. Valeu! Até já no próximo capítulo...
Resposta do autor:
Boa noite!
Fico feliz que o conto esteja te envolvendo. E mais feliz ainda por você vir aqui me dizer que, inclusive, se percebe na nossa Elza. Eu tento sempre tratar a realidade no que escrevo, apenas uso um olhar romântico para tentar mostras às pessoas que, apesar de dura, a vida pode ser lindíssima. Acredito nisso plenamente. Tudo depende da gente e de como lidamos com as diversas situações. Um aprendizado diário. rs
Fico também lisongeada que você tenha percebido a força da Yara em nossos ancestrais indígenas.
Aceito a sua sugestão e peço perdão pelo emprego do termo. Foi apenas a reprodução de um aprendizado que me disse que a miscigenação entre pessoas negras e brancas gerava pessoas mulatas. Não houve o intuito de reproduzir um preconceito.
Obrigada por se dispor a continuar acompanhando o conto. Volte sempre, viu? Comentários são mais que bem vindos! rs
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 10/10/2022
Cararra tu deu o título do capítulo inspirada em mim!!! Tô com moral hehe
Gostei da Ale ela é das minhas! Chega botando pra fu@#! na porra toda quando uns e outros vem sacanear. Espero que ela seja gay friendly que aí fica perfeita hehe Essa Carla nos poréns... sei lá não passa firmeza. Elza é muito passarinha pra dormir com essa morcegona! Aprendi essa contigo! hahahahaha Elzinha contando mentirinha pra dar uns pegas na Carlinha.... sei lá não confio. Mas o capítulo foi foda e como sempre até na trilha sonora tu dá show! Hoje vou começar com A Autora que vou batizar de AA. Comigo tudo é no resumo hahaha
Resposta do autor:
Bas noite, garota!
E como você não teria moral? Mega comentadora, super atenta e divertida! É o mínimo.
Alessandra é como você? Bom saber! rs
Carla é líder no quesito despertar desconfiança. Vejamos o que ela fará.
kkkk Você tem encorporado minhas caipireces escritas. Cuidado, que isso pega! rs
Obrigada por ler todos os contos que escrevo e deixar sempre comentários tão espirituosos! Já te respondi lá em A Autora!
Beijos,
Sol
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 10/10/2022
Olá! Tudo bem?
Capítulo muito intenso e sensual — ''...Coxas grossinhas... – apertou uma das coxas dela – Sem barriga... – tateou o abdômen da jovem – Os seios é que são pequenos ainda... – roçou os dedos levemente no bico de um seio...'' Eita, Kasvattaja ficou toda arrepiada... —, mas que no final deixa-nos um pouco chateada com Elza: ela está tomando o caminho errado. Mas, errado para quem? Todos sabemos o quanto é difícil a aceitação, e não importa qual: uma verruga aqui, uma espinha ali, pelos a mais, pelos a menos e por ai vai.
É tenso!
Falando em música — Kasvattaja adora, mas vocês já sabem disso —, aí vai outra canção do Gilberto Gil, tipo A CANÇÃO...
“Branco, se você soubesse o valor que o preto tem.
Tu tomava um banho de piche, branco e, ficava preto também.
E não te ensino a minha malandragem.
Nem tão pouco minha filosofia, porquê?
Quem dá luz a cego é bengala branca em Santa Luzia.”
segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=yozNoeqos9A
É isso!
Resposta do autor:
Olá queridíssima!
Estou adorando a forma como você tem feito esta caipira feliz! Volte sempre, volte sempre! rs
Ficou arrepiada? A gente quando escreve acaba ficando também... rs Você sabe!
Essa observação do errado foi perfeita. A negação do direito de ser força as pessoas a seguirem por caminhos que, muitas vezes, não seriam adotados em condições normais. Faz parte do amadurecimento (e do tempo e momento de cada um) saber lutar para viver "a dor e a delícia de ser o que é". Elza está no início de seu longo caminho.
Olha eu, por exemplo! Já fiz tanta coisa, já travei (e travo) tantas lutas, muitas até bem fortes, mas até hoje não vivo assumida e plenamente a dor e a delícia de ser o que sou. A caipira segue seu caminho e sabe Deus se chegará ao cume desta montanha durante essa existência de... Solitudine.
Conheço esta canção e gosto muito. Obrigada por compartilhar!
Beijos,
Sol
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Dandara091
Em: 09/10/2022
Alô autora,
Elza parece que melhorou #sqn
Ela tem sentir a negritude!
#negritude
#orgulhodacor
#orgulhonegro
Resposta do autor:
Olá querida!
Eu me atrevo respeitosamente a dizer que em um ambiente racista deve ser muito difícil sentir a negritude. Mas as coisas mudam. Leva fé na caipira!
Obrigada por vir sempre mostrando esses hashtags tão representativos.
Beijos,
Sol
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Mille
Em: 09/10/2022
Oi Sol
Elza repaginada acho que o desejo de ser diferente de si, é como um pouco de nós querendo mudar o que nos faz sofrer preconceito.
Gostei da Ale defendendo a Elza e espero que ela não se afaste quando souber que a Elizinha não quer gatinhos.
Rapaz esse namorado dela com a Carla será que vai longe ou quando a Carla tiver a noite de amor irá abandonar???
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá querida!
Falou muito bem em sua percepção sobre a atualidade de Elza. Quem não quer se sentir aceito? Ainda mais uma adolescente tão presa dentro de si mesma!
Vamos ver como Alessandra vai reagir quando souber. Aguarde! rs
Carla desperta muitas suspeitas em vocês, como percebo. Vamos ver se ela mudará essa imagem ou não.
Beijos e obrigada por sempre vir!
Sol
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Irina
Em: 09/10/2022
Kotinha,
Como tu consegues? Elza está a me lembrar de mim quando esta que vos escreve era moçoila. Envolvida no conto! Desejo que venham mais mil capítulos e não estou a brincar. É literal!
Com carinho, Irina
Resposta do autor:
Olá querida!
Eu fico toda feliz quando vocês me dizem que sentem qualquer tipo de identidade com as personagens. Tomara que eu seja digna de fazer a Elza te representar.
Mil?? kkk Com certeza não posso atender a essa expectativa, mas creia que ainda temos muito chão.
Obrigada por vir, minha comentarista mais erudita!
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 09/10/2022
E a caipiralha posta caps novo e não me diz!!! Tô sem email amoree não tem mais notificação! Adorei o CAPS a Alê a vida na Escola essa versão Elza repaginada masss ela ainda tem que ter orgulho de si! Tipo eu!! Huahuahua Essa pegação com Carla foi fofinha mas não confio nessa garota! Quero ver o pessoal de SJC como vai reagir huahuahua Você ressuscitou uma música que eu adoro!!!! Bjuss
Resposta do autor:
kkkkk Caipiralha? Ressuscitou isso, garota? kkk
Gosto de te fazer surpresas, querida. Não negue pois sei que você adora uma, apesar de ser curiosa. rs
Que bom que você gostou. Sabe que sua opinião é muito importante para mim.
Elza vive um dilema comum às pessoas que sofrem a negação do direito de ser. Ela quer aceitação e nesse processo a negação de si, pelo menos parte de si, foi o caminho que ela entendeu viável.
Carla despertando desconfianças em todo mundo! rs Vejamos no que vai dar isso tudo.
Mas, o fato da Elza mentir por causa dela. Isso não é bom, mas ela é jovem, se vê diante de muitas amarras e ainda não consegue perceber isso.
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 17/01/2025 Autora da história
Olá querida!
Estou adorando estes comentários mais "você mesma" e a forma como (parece) que você está se identificando com o conto e com nossa querida Elza. Também estou adorando conhecer o seu processo de aceitação da identidade. Que bom que se apaixonou e, mais ainda, se libertou.
Nesta parte da liberdade, um dia, quando eu crescer, quero ser igual a você. E me assumir integralmente.
Beijos,
Sol