APRESENTANDO: A INVISÍVEL
Manaus, estado do Amazonas
--Foi horrível, inacreditável! Se eu não tivesse testemunhado tudo com meus próprios olhos, diria que se trata de um delírio, de uma alucinação, mas não foi... – Alice narrava em meio às lágrimas – O povo Kenko Wiwa fazia suas celebrações às margens do rio e todos aguardávamos os visitantes de mais duas aldeias próximas. Cinco outras aldeias já haviam chegado. – tentava conter o choro -- É que esse ano de 1979 é muito emblemático pra eles e por isso essa celebração seria grandiosa! – pausou brevemente para tentar se recompor – Daí Kramna Cayê, esposa do cacique dos Kenko Wiwa, deveria assumir o comando das mulheres para iniciar as danças, mas sua filhinha chorava sem parar e ela estava aflita com isso. – lembrava – Então eu me ofereci pra ficar com a pequena Yara e ela assim me permitiu. – secou o rosto com o lenço -- Deduzi que seria melhor ficarmos em um lugar mais sossegado e fui andando com a criança em meus braços pra perto da pedra sagrada de Alalaê Canã. – olhou para o homem diante de si – E foi o que nos salvou, abaixo de Deus! – benzeu-se
--E o que aconteceu?? – padre Camilo perguntou aflito – Nunca vi você da forma como chegou aqui! -- olhou rapidamente para a criança que dormia em uma caminha improvisada – Parecia uma figura destruída, totalmente perdida e com essa pobre menina no colo!
--Aconteceu que pouco depois da menina se acalmar, ouvimos o ronco de um avião que se aproximava e os índios subitamente pararam de celebrar porque o barulho se tornava cada vez mais alto. – os olhos marejaram – Quem estava dentro das malocas saiu pra entender o que se passava e todas as crianças correram animadas pra ver. – derramou lágrimas – Então, de repente, o avião despejou uma espécie de pó que caiu em cima de todos eles. – interrompeu o que dizia para não chorar
--Pó?? – Camilo não entendeu
--Era um veneno, uma arma química, biológica, não sei... – passou o lenço no rosto mais uma vez -- Mas quase que imediatamente esse pó começou a queimar a pele de todos eles e eu fiquei desesperada e paralisada com Yara em meus braços!
--Meu Deus! – Camilo escandalizou-se – Graças a Deus o pó não foi despejado em cima de você e da menina!
--Acho que o piloto do avião não conseguiria nos ver. – concluiu – Mas não foi só isso... – respirou fundo para se acalmar – Enquanto os índios sofriam e gritavam, surgiram vários homens brancos invadindo a aldeia por terra. Eles pareciam vir de toda parte! – visualizava as cenas em sua mente – Vieram com revólveres, facas, foices e tudo mais que se possa imaginar! – balançou a cabeça nervosamente – Foi uma chacina fria e cruel!
--Cristo Santo! – benzeu-se – E como você conseguiu escapar com essa menina? – queria saber – Quantas pessoas sobreviveram a esse inferno?
--Sobreviventes? – sorriu com tristeza – Somente nós duas, padre. – abaixou a cabeça – Somente nós duas... – passou a mão nos cabelos – Eu me embrenhei com Yara pela mata adentro e graças a Deus, incrivelmente, ela não chorou. Parecia em choque, não sei. – pausou brevemente – Se eu estava em choque, imagine ela! – levantou-se e andou um pouco para um lado e outro – Ficamos escondidas na mata não sei por quantos dias e me virei como pude com essa pequena pra cuidar. – narrava os tristes fatos – Retornei com ela pra aldeia quando não vi mais saída e chegando lá ... – olhou para o homem – Vimos uma infinidade de cadáveres, muitos deles decapitados!
--Virgem Santa! – Camilo se levantou também – Mas isso é demoníaco demais! – estava apavorado
--Foi por Deus que pouco tempo depois do nosso retorno chegaram dois indigenistas missionários e um rapaz da tribo Tikaya. – cruzou os braços agoniada – Eles disseram que encontraram dezenas de índios mortos perto do baixo Alalaê; -- pausou brevemente -- eram os últimos visitantes que esperávamos pra cerimônia que foi interrompida por essa chacina.
Benzeu-se mais uma vez. – Pai Amado! – não deixava de se escandalizar – E foi com estes homens que vocês conseguiram chegar aqui em Manaus?
--Sim, depois de muita dificuldade. – caminhou até o altar da igreja – Não é de se estranhar minha aparência nessas circunstâncias...
Camilo não sabia o que dizer e novamente olhou penalizado para a criança.
--Preciso de sua ajuda, padre! – afirmou bruscamente ao se virar de frente para ele – Precisamos sumir, ficar invisíveis! Yara e eu! – aproximou-se do homem – Somos as únicas sobreviventes de um massacre! As únicas testemunhas de tudo que aconteceu!
--Ah! – sentia-se perturbado – Mas... – gesticulou perdidamente – Você sequer sabe quem ordenou isso, quem fez isso e duvido que tenha visto o rosto de algum daqueles homens! – afastou-se sobressaltado – Você não pode achar que está correndo risco porque...
--O massacre foi uma decisão do governo! – interrompeu a fala do homem
--O que?? – chocou com o que ouviu – Ora, Alice, mas como você...?
--O avião era militar! Vi isso muito bem! – respondeu de pronto – E não é de hoje que denuncio os absurdos que essa ditadura vem fazendo com os índios por causa do Plano Geral da Nação! – afirmou resoluta – A construção daquela maldita hidrelétrica e os interesses das grandes mineradoras de olho nas riquezas da região, além dos garimpeiros e grileiros de sempre são as causas de tudo isso! – andou em círculos – Pra mim é tudo muito claro: foi uma forma duríssima de desocupação do território pra satisfazer os poderosos!
Ficou apavorado. – Meu Deus, Alice, meu Deus! – caminhou a ermo pela igreja – Você não tinha nada que se meter nisso de viver por essas aldeias procurando problemas! – esfregou as mãos uma na outra -- E como vai ser isso, me diga? Será que em algum momento você parou pra pensar? – perguntava preocupado – Você não pode simplesmente chegar aqui com uma criança órfão e me pedir ajuda pra sumir! – andava nervosamente de um lado para o outro – Além do mais essa menina tem que ser entregue às autoridades competentes pra que seja encaminhada à adoção!
--Mas ela será adotada por mim! – percebeu que Camilo a olhou em choque -- Como se fosse filha saída do meu ventre. A filha que eu não tive! -- respirou fundo e parou diante do padre. -- Entenda que se eu ou ela ficarmos aqui, eles vão nos matar; simples assim!
--E como vai ser isso?? – insistiu com a pergunta – Alice, por Deus, se eu lhe ajudar e o bispo souber disso...
--Não juramos o sacrifício de nós mesmos em amor ao próximo? – perguntou provocadora – Posso ter saído da Ordem Religiosa mas nunca abdiquei desse juramento!
Camilo respirou profundamente e nada respondeu. “Oh, meu Pai, tende piedade!” – clamou em pensamento
***
--E os gritos, você parou de ouvir? – a psicóloga voluntária gentilmente perguntava – Aqueles sons e imagens confusas que passavam pela sua cabeça não te perturbam mais? – olhava para a criança
--Agora eu quase já não escuto mais. – Yara respondeu com a verdade – Nem os gritos, nem os tiros e nem o barulho de avião. Também não vejo mais os vultos e as coisas estranhas que eu via. – explicava – Mamãe e eu pedimos a Deus todos os dias diante do altar da Virgem pra tudo isso sumir da minha cabeça e eu acho que tá dando certo. – contava – Também quase não tenho pesadelo. – olhava para a outra – Mas quando tenho é sempre igual.
--Como são esses pesadelos sempre iguais? – queria saber
--É com uma mulher que eu não vejo direito e diz que é minha mãe. – ajeitou-se na cadeira – Ela diz que sente a minha falta e que eu não tô sendo quem deveria ser. – gesticulou brevemente – Aí acontece um monte de coisa, eu fico confusa, fico cheia de medo, e depois vêm as águas correndo perto dos meus pés e eu acordo.
--Interessante. – cruzou as pernas – Mas, me diga, meu bem. – prestava bastante atenção – Alice me disse que você sabe que é adotada, então será que essa mulher dos seus pesadelos não seria a imagem que você projeta da sua verdadeira mãe? Ou então uma lembrança lá longe, bem guardadinha na sua cabeça, de quem ela era?
Incomodou-se com o que ouviu. – Minha mãe é Alice Saraíba e eu sou Yara Saraíba, filha dela! – respondeu resoluta
--Veja, eu não disse que não era. – esclareceu gentilmente – Mas é que muitas lembranças ficam presas no nosso subconsciente e...
--Eu quero esquecer! – interrompeu a psicóloga – Por favor... – pediu com cara de choro – Pra sempre!
--Tudo bem, querida. Vamos trabalhar isso. – respondeu com mansidão – Você só tem seis anos. Não se preocupe tanto...
***
--Eu lamento ter que incomodar a senhora chamando pra vir aqui, mas ontem Yara nos deu um susto tremendo em plenas festividades do colégio! – a professora falava com Alice – Aliás, sua filha nunca participa das atividades extra classe. Ela parece até que vive se escondendo!
--Como assim, vive se escondendo? – perguntou disfarçando o constrangimento – Que motivo ela teria pra se esconder? E se esconder de que? – olhava para a outra mulher
--Eu não sei, mas ela parece viver assim! – respondeu com jeito – Sempre senta no fundo na sala, quase não fala... – gesticulou brevemente – É uma boa aluna, se destaca com boas notas, mas parece que vive tentando ser invisível! – mostrava-se preocupada – Tinha que ver como que Yara ficou quando o general Linhares chegou na escola ontem! – contava – Afinal de contas o dia do Exército coincide com o dia do Índio e ele queria assistir as festividades que preparamos! – pausou brevemente – Sua filha se apavorou ao ver o general e simplesmente desapareceu! – dava queixa – Passamos horas procurando até que fomos encontrar ela escondida atrás do muro dos fundos! Por isso que pedi que a senhora viesse aqui hoje! Isso não pode se repetir, dona Alice! – falava com seriedade – Sua filha é criança mas já tem oito anos! Sabe que o que fez é errado!
Deu um sorriso sem graça. – Ora, professora, ela é apenas uma menina tímida! – cruzou as pernas – Nada há de anormal nisso. Eu mesma na idade dela era um bichinho do mato! – tentava não levantar suspeitas – “De repente já é hora de nos mudarmos de Bacabal!” – pensou preocupada
***
--A Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus acredita que cerca de 50 mil indígenas sem aldeias vivam naquela cidade. – a pesquisadora palestrava para alunos da rede pública cearense de ensino -- Mas não existe uma política de moradia pros povos indígenas, que em geral deixam suas terras devido à alguma forma de coação bem violenta. – gesticulava – E na falta de uma política habitacional indígena, as famílias chegam pra morar nas cidades sem dinheiro, sem formação profissional, sem emprego ou qualquer fonte renda – olhava para os jovens -- e daí vão parar em ocupações irregulares, muitas vezes sendo ameaçadas por traficantes de drogas. – explicava – E poucas escolas, para não dizer raras, garantem o ensino de línguas indígenas junto com o português. Nesse processo muitas famílias se separam e vão perdendo suas tradições culturais. – pausou brevemente – Talvez vocês achem que isso é uma bobagem e talvez até acreditem na narrativa preconceituosa que diz que os índios passam por tantas dificuldades por serem vagabundos, mas NÃO É ISSO! – frisou a última parte de sua fala – A situação dos nossos povos originários é comparável à dos refugiados do Oriente Médio por causa das guerras que assolam aquela região. – queria fazê-los entender – Só que o sofrimento dos indígenas e a própria existência deles é invisibilizada! E isso não acontece sem razão!
--Você é índia, né? – uma menina ao lado de Yara perguntou – Como veio parar aqui? – olhava para ela
--Eu não sou índia! – respondeu de cara feia e se levantou apressada, deixando a sala a passos rápidos
***
--Tem certeza que a gente já tinha que se mudar de novo, mãe? – Yara perguntou olhando para a mulher mais velha – Eu até que gostava do Crato... – lamentou
--Você não disse que já andava chateada de tanta gente te perguntando sobre negócio de índio na sua escola? – olhava para a menina – Então, se vamos mudar de escola, mudamos logo de cidade e partimos pra outras aventuras, por que não? – beijou a testa dela
Alice e Yara viajavam de ônibus durante a noite.
--É... – olhou pela janela – Eu tenho mais cidade que idade na minha vida! – considerou – Pelo menos dessa vez a gente mudou depois de eu passar de ano!
Alice acabou achando graça. – Você só tem onze anos, meu bem. Assim é fácil ter mais cidade que idade na sua vida.
--E a gente tá indo pra onde dessa vez? – olhou novamente para a mãe
--Olinda. – segurou a mão da filha – Você vai gostar de lá. – sorria – “E se Deus quiser, vamos poder nos aquietar sem medo de sermos descobertas...” -- pensou
***
--Eu vim para que todos tenham vida... – cantavam – Para que todos tenham vida plenamente...
Yara ajudava padre Ignácio na catequese dos jovens da sua faixa etária. Durante o cântico, não conseguia tirar os olhos de uma jovem negra trajando um vestido bem justo.
--Eu vim para que todos tenham vida, para que todos tenham vida plenamente... – o padre gesticulou suavemente para encerrarem a canção – Meus jovens, oremos! – ao seu sinal todos se levantaram
Hinário da CNBB - Eu Vim Para Que Todos Tenham Vida [1]
“Ave Maria, olha se isso é roupa de vir pruma catequese?” – Yara pensou ao fechar os olhos – “Essa garota aí é uma indecente!” – tentava focar os pensamentos no que deveria – “Vou dar queixa pro padre pra ele falar com ela sobre essas roupas!” – benzeu-se
***
--Não desprezeis minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus feito homem, mas dignai-vos de ouvir a minha prece e de me alcançar o que vos rogo, amém! – Yara se benzeu e beijou o terço antes de se levantar
--Mas tu é uma beata mesmo, Ave Maria! – uma voz de menina se fez ouvir
--Oxe! – virou-se de frente para quem lhe falava – “Ih, meu Deus, é ela!” – pensou ao dar de cara com uma jovem negra – E tu tem o que a ver com isso? – respondeu desaforada – Devia era cuidar de saber se portar num ambiente santo, isso sim! – fazia cara feia – “E a desgraçada só vive de vestido colado, misericórdia!” – pensou ao reparar
--Saber me portar, pois sim! – cruzou os braços desaforada – Tu fosse fazer fuxico a meu respeito com padre Ignácio e ele veio me passar carão na frente de minha madrinha! – falava de cara feia – Levei surra de vara quando cheguei em casa, visse?
Por um momento se arrependeu do que havia feito e ficou sem graça. – Ora... – não sabia o que dizer – E não adiantou a surra, né? Você continua se mostrando de vestidinho colado na igreja da mesma forma!
--E por que meus vestidos te incomodam tanto? – pôs as mãos na cintura – Ou será que é bem o contrário? – aproximou-se da outra – Pensa que não reparo que tu não tira os olhos de mim quando eu chego na catequese? – sorriu debochada – Qual é a tua, projeto de sapatão?
--Oxe? – afastou-se da outra nervosamente – Eu fico olhando porque... – pensava no que dizer – Porque eu fico escandalizada com teu descaramento! – preparou-se para partir – E isso aqui é uma igreja não é casa de baile, não! – benzeu-se e se afastou rapidamente
***
--Perdoa-me, padre, porque pequei! – Yara iniciava sua confissão
--E o que angustia o seu coração, minha jovem? – padre Louzada perguntou gentilmente – Estranhei que tivesse vindo a mim ao invés de procurar padre Ignácio, com quem você tanto trabalha.
--Tive muita vergonha de me confessar com ele. – admitiu – Tanto quanto tenho agora aqui com o senhor, mas... – pausou brevemente – Estou com padre Ignácio todos os dias na igreja. Seria mais difícil pra mim deixa-lo saber desses meus pecados.
--E que pecados seriam estes? – duvidava que houvesse algum – Fique tranquila que não estou aqui para julgá-la, assim como padre Ignácio no meu lugar também não estaria. – queria deixa-la tranquilizada – “Essa menina vive de estudar e trabalhar na igreja. Não creio que tenha qualquer pecado digno de nota!” -- pensou
--Maus pensamentos... – respondeu em voz bem baixa – Ultimamente luto muito pra não ceder a eles, mas... tem sido mais forte do que eu!
--Maus pensamentos? – pausou brevemente – Que tipo de maus pensamentos? Algum rapaz tem afogueado o seu coração?
--Não, não é isso... – pensava em como dizer – É que... algumas garotas vão pra igreja com umas roupas que... – respirou fundo – Nem parece que tão dentro de um lugar santo! Eu não consigo deixar de reparar!
--E você se incomoda, não? – entendia – É uma situação difícil, filha. A gente espera que as pessoas tenham bom senso, que orientem suas filhas, mas que nada! Entendo você.
--Sim, isso me incomoda, mas... – sentia as bochechas queimarem – Não é só isso, é que ao mesmo tempo... Eu não consigo deixar de olhar, sabe? – admitiu – Olhar com... atenção demais!
--Como assim? – começava a se preocupar
--Por exemplo... – lutava para conseguir dizer a verdade – Tem uma garota que deve ser da minha idade chamada Edivânia e ela tá fazendo a catequese agora. É uma morena assim mulata, que só vive de vestidinho colado na igreja. – lembrava da outra – Eu não consigo deixar de reparar no corpo dela todo marcado naquele vestido. – visualizava a imagem da jovem diante de si – Aquela cintura fina, os seios pontudos, as coxas grossas, a bundinha empinada e aquela coisa toda cheia de glória aos Céus com aleluia... -- empolgava-se -- E que boca boa de...
--Yara?! – o padre a interrompeu em choque – Mas o que é isso??
--Ave Maria! – abaixou a cabeça – Eu também queria saber o que é... – silenciou por uns instantes – Me sinto tão perdida... e quando ela chega perto de mim, mesmo que pra me dizer desaforo, aff... Só Deus sabe o que me vem!
--Hum... – coçou a cabeça preocupado – Tudo bem... – pensava no que dizer – Daqui a pouco você completa treze anos, entrando na pré adolescência e é normal nessa fase que alguma confusão se forme na nossa mente. – considerou – Mas eu vou lhe orientar quanto ao que fazer e você vai seguir tudo que eu disser, entendeu?
--Sim senhor, padre! – concordou
***
--Eu sei que o segredo da Confissão não deve ser compartilhado com ninguém, mas uma vez que a situação aqui é muito ímpar decidi cometer esse pecado em nome de um Bem Maior. – padre Louzada iniciava com formalidade – Espero que a senhora saiba agir da melhor forma diante do que vou lhe dizer, dona Alice. – olhava para a mulher – Estou muito preocupado com Yara!
Sentiu o coração disparar. – E por que? – queria saber – “Será que tem alguém perseguindo a menina?” – pensou apavorada
--Sua filha é uma menina exemplar. – gesticulou brevemente – Aluna dedicada, cristã devota, excelente serva da Imaculada Conceição... padre Ignácio é só elogios quando se fala de Yara.
--Mas então... o que o preocupa, padre? – estava intrigada
--Yara está sendo tentada pelo Inimigo da pior forma que poderia ser! – afirmou solene – Ele está confundindo a cabeça da menina com pensamentos impuros!
--Ah! – não entendia a preocupação do homem – Ora, por favor, padre Louzada... – sorriu brevemente – Pensamentos impuros... na idade dela, quem nunca...?
--Com meninas! – salientou
--O que?? – levou um susto
--Isso mesmo que a senhora ouviu: -- olhava nos olhos da mulher – Yara tem sido atormentada com pensamentos impuros com MENINAS! – frisou o detalhe
--Oh! – não sabia o que dizer – “Por essa eu não esperava!” – pensou surpreendida – “Como nunca percebi nada?” – questionava-se
--E grande parte disso é responsabilidade da senhora! – acusou
--Minha?? – arregalou os olhos – Mas por que, o que eu fiz? – discordava
--Muitas coisas! – levantou-se e começou a andar de um lado a outro – Em primeiro lugar a senhora abandonou a Ordem das Missionárias da Imaculada Conceição para viver à caça de aventuras no Amazonas!
--Não é verdade! – levantou-se também – Eu deixei a Ordem pra continuar meu trabalho na luta em defesa dos índios! Não estava caçando aventuras como o senhor afirma! – protestou
--E desde que adotou Yara, em circunstâncias muito suspeitas, diga-se de passagem, a senhora não esquenta lugar! – continuava acusando – Já esteve em dezenas de cidades e só Deus sabe quanto tempo continuará em Olinda! – olhava para a mulher – Fico surpreso que tenha conseguido completar ao menos dois anos aqui!
“E como ele sabe de tantos detalhes da minha vida?” – pensou intrigada – Aonde quer chegar, padre? – perguntou desafiadora
--Sua trajetória de judia errante confunde a cabeça da menina! – acusou novamente – Ela mal sabe quem é; com isso o Inimigo encontra a porta aberta pra confundi-la sob outros aspectos também!
Balançou a cabeça contrariada. – E na sua percepção o que eu devo fazer pra livrar Yara de uma vida invertida? – queria saber
--Faça dela uma noiva do Senhor! – respondeu de imediato – Somente assim ela se verá livre desse mal!
--Eu não posso fazê-la se tornar uma freira se ela assim não desejar! – retrucou de pronto – Esse tempo já passou, padre Louzada!
Respirou fundo e pegou a sombrinha. – Bem, creio que já disse tudo que achava que deveria. – ajeitou o chapéu na cabeça – Agora é com a senhora! – fez um gesto breve – Passar bem, dona Alice. – abriu a sombrinha e saiu
--E mais essa? – cruzou os braços contrariada – E agora, eu faço o que? – falava consigo mesma – Será que ele tem razão e foi tudo culpa minha? – perguntava-se preocupada
***
--Eu acho que a gente não começou bem, né? – Edivânia falava após finalizar seu cachorro-quente – Mas também tu desse uma de fuxiqueira e me deixasse de bexiga lixa, visse? – limpou os lábios com o guardanapo e sorriu
“Ave Maria, Minha Nossa Senhora da Conceição, que sorriso...” – pensou abobalhada mas logo se recompôs -- Tá certa... me desculpe. – limpou os lábios também – Mas eu acho que pelo menos agora me redimi contigo... – sorriu – Ou não?
As duas moças conversavam sentadas em cadeiras de uma barraca de cachorro-quente na Praça João Pessoa.
--Depois de me livrar daqueles dois traste e ainda me pagar cachorro-quente? Acho que sim. – respondeu bem humorada – Só faltou o refrigerante! – brincou
Achou graça. -- Aí o dinheiro já não dava... – jogou o lixo fora na latinha do vendedor
--Dessa vez passa. – brincou novamente e jogou o lixo fora também
--Foi muita sorte a sua eu tá por perto justo quando aqueles dois besta vinham cheios das mãos pra te pegar na marra. – lembrava dos rapazes – Sorte que eu vinha de enxadeco e facão à tira colo. – deu um tapinha nas duas ferramentas perto de si – Não fosse isso podia ter sido até estuprada!
--Sorte mesmo! – concordou – Mas ainda bem que em pleno sábado à tarde você vinha de uma emocionante capina no quintal da Igreja do Carmo e me salvou! – respondeu zombeteira
--Humpf! – não gostou da brincadeira – Vê se depois dessa você aprende a não viver se mostrando por aí com esses vestidos apertados! – retrucou – Parece até que tá nua, olha pra isso! – apontou para as pernas da outra – “E que coxas, ô, valha-me Deus!” – pensou ao desviar o olhar
Riu brevemente. – Por que se mete tanto com minhas roupas, hein? Cada pessoa é de um jeito! – também não gostou do que ouviu – Eu não me imagino sempre de camiseta branca e saia jeans abaixo do joelho que nem você! – reparava na outra também – Além do mais, se os tarados só atacassem quem se veste como eu, as criancinhas tavam a salvo e não é bem isso que a gente vê acontecer!
--Acho que tá na hora de cada uma tomar seu rumo, né? – decidiu acabar com a conversa – E minha mãe não vai gostar muito de saber que gastei o pouco dinheiro que tinha pra chegar em casa lisa que nem um coco. – movimentou-se para se levantar
--E tu mora onde? – perguntou curiosa – Deixe de peitica e fique aí. Ainda tá cedo. – olhou brevemente para o relógio – Deu nem quatro horas. – não manifestava vontade de partir – Deixe eu te curiar um pouco, vá? – pediu sorridente
“Ela tem interesse em saber de mim?” – pensou empolgada – “Yara, lembra do que padre Louzada te orientou! Não era nem pra tá aqui de trololó com essa garota!” – debatia-se em pensamento – “Mas também eu salvei ela dos tarados, então isso é uma boa ação. Não deixa de ser uma coisa cristã!” -- concluía – “Essa conversa aqui não é pecado! Não tem nada demais!” – balançava a cabeça pensativa – “De repente até convenço ela a ser uma cristã mais devota e recatada!”
--Ei, tu me ouvisse? – deu um tapinha no braço da índia
--Ouvi, ouvi... – ajeitou-se no banquinho – Eu moro aqui pertinho com minha mãe na Casa das Religiosas. – apontou mostrando a direção – Somos umas vinte mulheres ali. Irmã Justina é quem coordena lá.
--Ah, você mora numa casa de religiosas? – surpreendeu-se – Hum, isso explica tudo! – reparou novamente na outra – “Uma garota de treze anos que se veste igual velha!” -- pensou
--Qual o problema? A vida toda moramos assim, em casas do tipo. – respondeu com naturalidade
--E a tua vida é sempre assim? – perguntou em choque – Só estudo, reza nas igreja e nada de amigas, de beijar na boca, de se divertir, nada?
Sentiu as bochechas arderem e desviou o olhar. – Oxe! – ficou envergonhada – Eu tenho amigas. – pensava nas mulheres religiosas – E ainda tô muito nova pra isso de... – pausou brevemente – Beijar na boca.
Riu. – Eu beijo na boca desde os onze!
--Ave Maria! – surpreendeu-se – Mas você é uma perdida mesmo, desconjuro! – benzeu-se
--E eu aposto que tu já deve andar doidinha pra se perder, visse? – zombou novamente ao cruzar as pernas – E usar umas roupas assim tipo eu! – passou as mãos sobre o decote do vestido
“Ô, me perder entre essas pernas, entre esses peitos...” – pensou abestalhada – Ah! – levantou-se de um pulo – Você só fala besteira! Fique sabendo que... – percebeu que padre Louzada vinha se aproximando – Que eu vou mimbora! – pegou as ferramentas de capina e saiu quase correndo
Edivânia riu gostosamente. – Essa aí é uma beata doida! – falava consigo mesma – Mas eu vou converter ela não demora muito! – observava o jovem subindo a rua rapidamente
***
Yara terminava de estudar para uma prova. Ao juntar seu material percebeu que a mãe a observava.
--Que foi, mamãe? – perguntou desconfiada – Aconteceu alguma coisa?
--Não. – aproximou-se da mesinha e se sentou de frente para a filha – Só estava prestando atenção em você. – sorriu – Na moça que se tornou. – olhava para a jovem com carinho
--Ah... – abaixou a cabeça – Nada de mais em mim. Apenas uma garota nem magra, nem gorda, nem branca, nem morena, dona de um cabelo liso e de uma carinha larga que as missionárias adoram apertar as bochechas. – zombou de si mesma
--Uma moça linda! – segurou o queixo da outra com delicadeza e levantou-lhe o rosto – Por dentro e por fora. – acariciou o rosto da jovem
--Isso são os olhos de mãe. – ficou toda prosa com o que ouviu
--E nem sempre os olhos de mãe conseguem ver tudo que precisam ver. – segurou uma das mãos da filha – Conte pra mim, querida. Tem algo perturbando você? Te deixando agoniada? – perguntou com suavidade – A adolescência é uma fase muito complicada e eu sei que um mundo de dúvidas rondam nossa cabeça quando temos pouca idade mas ao mesmo tempo deixamos de ser crianças.
“Por que será que ela me pergunta isso?” – pensou desconfiada – “Será que padre Louzada falou do que contei em confissão?” – perguntava-se – “Não, ele não cometeria tamanho pecado!”
--Não vai me responder? – insistiu com brandura
--Eu não sei o que dizer, mãe. – desviou o olhar – Sei lá... – pausou brevemente – E a gente se muda tanto, nem sei se vamos mesmo ficar em Olinda...
“Talvez o padre tenha razão e essa nossa vida errante esteja confundindo ela.” – pensou – Podemos ficar de vez se você disser que quer. – ofereceu – “A ditadura acabou, teremos eleições presidenciais não demora muito... talvez não haja mais porque fugir e se esconder.” – considerou
--É, eu queria... – olhou para a outra – Acho que gosto daqui! – sorriu
--E... será que Olinda já apresentou alguém que mexa com seu coração? – perguntou com cuidado – Você está na idade das primeiras paixonites. – brincou ao dar um tapinha na mão da jovem
--Tem paixonite, não, mãe. – pegou os livros e cadernos e se levantou para guardá-los – Por enquanto eu tô mais interessada em passar de ano, ajudar na igreja e botar juízo na cabeça de umas garotas que vão rezar com roupa de baile de rua! – abriu o armário – Já até falei com padre Ignácio e padre Louzada sobre isso. É uma coisa que eu reparo muito e peço até perdão a Deus pelos meus pensamentos impuros!
--Como assim? – queria entender
--Porque eu fico chateada e fico pensando que elas não sabem se comportar nos lugares santos. – contava parte da verdade – São pensamentos impuros, né? Tô julgando os outros... – mentia – “Se padre Louzada andou falando alguma coisa, tenho que despistar!” – pensava
“Acho que o padre entendeu tudo errado!” – pensou aliviada – Julgar os outros não é bom. – levantou-se também – Não seja tão dura com essas garotas. – aproximou-se da filha – Tente mostrar a elas, com muita diplomacia, que há hora e lugar pra cada tipo de roupa e a igreja é lugar de respeito. – beijou a cabeça da moça – Mas não fique julgando elas porque isso não nos convém. – aconselhou
--Eu sei, mãe. – concordou
--Agora eu vou ajudar irmã Tereza com os preparativos da festa de Santo Antônio. – sorria – Se quiser se juntar a nós será mais que bem vinda! – convidou
--Daqui a pouco eu vou. – fechou a porta do armário
--Tá bom. – deu tchauzinho e saiu
“Eu não gosto de mentir pra minha mãe, mas não podia deixar ela sonhar em saber do que anda me infernizando o juízo.” – pensava – “Vai que alguém acaba convencendo ela de me fazer freira?” – temia que isso acontecesse – “Gosto de servir às causas de Deus, mas isso seria meio demais!”
***
Yara escovava os dentes no banheiro do colégio quando duas garotas entraram reclamando.
--Merda de garoto, pia pra isso! – uma das jovens se olhava no espelho – Sujou a blusa do meu fardamento de mostarda em tudo que foi canto! – procurava as manchas no espelho
--Aproveita que tá calor e lava! – a outra aconselhou
--E eu vou fazer é isso mesmo! – começou a desabotoar a roupa
Yara terminou a escovação e pegou sua toalhinha para se secar. Lutava para não olhar a colega tirando a blusa. “Essas garotas já gostam de se amostrar, Ave Maria!” – pensou enquanto espiava com o canto dos olhos
--Ajuda aqui com o sutiã? – pediu a amiga – Tem mostarda até no biquinho do meu peito!
--Vixe, que merd*! – desabotoou o sutiã da outra
“Oh, Glória!” – Yara engoliu em seco ao dar de cara com a colega nua da cintura para cima – “Que peitos!” – lutava para não olhar
--Acredita que tudo isso foi um garoto babaca que fez? – perguntou para a índia – Me cagou toda de mostarda! – reclamou
--Esses garotos são nojentos! – respondeu sem nem saber o que dizia – Fazer isso... – suspirou – “Ah, se ela me pedisse pra limpar... Lavava a blusa e até botava pra quarar!” – pensou – Mas olha, -- pegou a mochila apressadamente – boa sorte aí! – saiu do banheiro quase correndo
--Eu, hein, garota esquisita! – uma das jovens comentou
“Mas o que acontece comigo, minha Virgem Santíssima?” – Yara pensava angustiada – “A visão dos peitos daquela garota me deixou...” – sentia-se excitada – “Eu tenho que rezar muito Pai Nosso, Ave Maria e Crê em Deus Pai ajoelhada no milho!” – benzeu-se – Ô, tentação!
***
--A batalha dos Guararapes, que acabou com as pretensões holandesas no Brasil, é um dos eventos mais relevantes da nossa história, não só pensando no nosso estado de Pernambuco mas no país como um todo! – o professor dizia -- Em 19 de abril de 1648, uma aguerrida tropa composta por brasileiros natos, dentre estes, brancos, negros e índios, além de muitos portugueses, lutou bravamente pra expulsar os invasores holandeses. – projetava slides na parede -- Essa data acabou sendo adotada como o nascimento do Exército brasileiro.
--Mas não é também o Dia do Índio? – uma garota perguntou
--Sim, é verdade. – o professor de história concordou – Isso porque em 19 de abril de 1940 representantes de várias etnias indígenas da América Latina se reuniram no que foi chamado de Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, um evento que foi muito relevante para os povos originários. – explicava – A data foi instituída no Brasil pelo presidente Getúlio Vargas, que foi muito influenciado por relevantes indigenistas, que apoiavam seu governo.
--Eu acho a maior bobeira isso de dia de índio! – um garoto comentou – Exército é importante mas índio serve pra que? – gesticulou – Bando de vagabundo que só dá despesa pro país!
Yara ouviu e ficou revoltada mas não teve coragem de retrucar.
--Não é correto você dizer isso, Vicente! – o professor rebateu – Os índios são os povos originários, os donos de todo esse país quando os portugueses chegaram aqui! E se não fosse por eles, os europeus, e depois os brasileiros natos, não teriam conseguido fazer muita coisa simplesmente por não conhecer o território, seus perigos e particularidades!
--Ah, professor eu concordo com ele! – uma menina argumentou – Os negros ainda trabalharam e fizeram muita coisa, mas os índios? Fizeram o que? Não à toa o norte do Brasil é a parte mais atrasada!
Yara novamente se aborreceu. “Mas eu não sou índia, não tenho que me incomodar com isso!” – pensava
--Eu não sei o que vocês aprenderam em história na sexta série mas já vi que eu vou ter que quebrar algumas ideias erradas que colocaram na cabeça dessa turma! – o professor estava pasmo
--Tem uma índia na turma, professor, por que não pergunta o que ela acha? – uma garota observou – Aproveita e conta pra gente como que saísse do meio do mato e viesse parar aqui! – olhou para Yara
--Eu não tenho que falar nada! – levantou-se com raiva e deixou a sala de aula
***
--Yara, foi por Deus que chegasse mais cedo! – irmã Berenice veio logo correndo ao ver a menina – Sua mãe! – segurou as duas mãos dela – Tava só te esperando pra voltar pro hospital!
--Hospital?? – o coração disparou – O que aconteceu com ela?? – os olhos marejaram
--Foi atropelada por um caminhão quando saía do mercado. Parece que o cabra dobrou a rua sem sinalizar e... – achou por bem não detalhar – Vamos simbora! – pediu
“Ai, meu Deus, minha Virgem Santíssima, não deixa minha mãe morrer!” – Yara suplicava em pensamento
***
--Até que enfim consigo ver você... – Alice falava com voz fraca – Pareceu uma eternidade esse tempo em que não pude ver o seu rostinho...
--A senhora ficou três dias desacordada, mãe. – acariciava a mão dela – Mas agora que acordou é sinal que tá tudo bem! – falou esperançosa
--Se Deus quiser... – respondeu sem muita firmeza – Mas eu queria aproveitar o momento pra lhe dizer algumas coisas.
--Mãe, descansa. – beijou a testa da mulher – Tem tempo pra conversar quando a gente voltar pra casa. – falava com carinho
Sorriu. – Aprenda uma coisa, filha: nunca se deve deixar pra depois aquilo que o coração te manda fazer no agora!
Yara não respondeu.
--Essa coisa toda me fez refletir, porque mesmo desacordada minha cabeça não parou de funcionar. – falava lentamente – Eu acho que na ânsia de te proteger, acabei te fazendo muito mal...
Não entendeu. – A senhora não me fez mal, por que diz isso?
--Você sabe que te adotei, mas eu nunca entrei em detalhes sobre o que aconteceu, meu bem. E talvez não tenha te dado muito espaço pra perguntar. – decidiu que era a hora de falar – Eu fazia um trabalho missionário na tribo dos seus pais, a aldeia Kenko Wiwa, localizada perto do rio Alalaê Canã, na fronteira entre Amazonas e Roraima. – explicava -- E num dia que deveria ter sido muito especial, o governo militar ordenou uma chacina brutal que deixou apenas você e eu como sobreviventes. – pausou brevemente – Eu escrevi sobre tudo isso em detalhes naquele diário da capa verde que você já viu tantas vezes em minhas mãos.
--Por que tá me dizendo isso, mãe? – não queria ouvir – “Levei muito tempo pra esquecer dos gritos, daqueles sons e deixar de ter pesadelos...” – pensava
--Com ajuda do padre Camilo Roldó, que trabalhava na Arquidiocese de Manaus, consegui adotar você e fugimos pra Santarém. Só que não ficamos nem um ano por lá. – continuava falando – Sempre que eu tinha medo que alguém pudesse descobrir sobre nós, aprontava tudo pra que nos mudássemos. E com isso, moramos em dezenas de cidades, como você bem sabe. – Yara nada comentou – Eu tive muito medo que tirassem você de mim, que te fizessem algum mal, que descobrissem tudo... – derramou uma lágrima – E nisso tirei de você algo muito importante que foi a sua identidade...
--Não diz isso, mãe... – derramou uma lágrima também – Graças a senhora, abaixo de Deus, sobrevivi.
--Mas não aprendeu a ter orgulho do que é, de quem é, de suas origens... – suspirou – Eu defendi os indígenas pela maior parte da minha vida, defendi a luta pela demarcação dos territórios ancestrais, mas não lhe ensinei a valorizar nada disso. Sequer a ensinei a falar a língua dos seus pais...
--Não muda nada pra mim, mãe! – derramou outra lágrima
--Pois deveria mudar, sim! – retrucou – Você precisa ser quem é e essa pessoa é uma indígena! – aconselhou – Não deve mais se esconder! A pior coisa é não ter o direito de ser e, mesmo com boas intenções, tirei isso de você! – chorava contidamente – Não importa o que e nem a quem você desagrade, mas nunca abra mão de ser você mesma, minha filha! – pediu – Pois se eu pudesse te ensinar uma única coisa nessa vida, seria isso!
Yara chorava contidamente. “Será que ela me diria isso se soubesse que eu...” – não conseguia completar o pensamento
--E lembre-se sempre, meu bem! – apertou a mão da filha – Eu te amo!
Reclinou-se para abraçar a mulher com cuidado. – Eu também, mãe! – fechou os olhos – Não me deixe! – pediu – Não me deixe... – chorava
***
Yara subia a ladeira sentindo-se triste, sem rumo e sem esperanças. Fazia uma semana que Alice havia falecido por conta do atropelamento e das consequências da hemorragia interna que ele causou. Após a missa de sétimo dia, a jovem só queria ficar sozinha.
Pensando em tudo que vivera até ali e nas dúvidas que sentia quanto a própria sexualidade, concluiu que talvez não soubesse quem ela era e sentia falta de quando pensava o contrário.
“Alô, mãe
Você sente minha falta?
Porque eu também sinto falta de mim...”
Lágrimas rolavam de seus olhos sem brilho.
“Alô, mãe,
Canta que o corpo transpassa,
O tempo e nos faz resistir...”
Pensava em tudo que fizera tanto esforço para esquecer.
“Deixei meu cocar no quadro,
Retrato falado, escrevo: "Tá aqui",
Num apagamento histórico,
Me perguntam como é que eu cheguei aqui...”
Pensava em todos os comentários preconceituosos que ouviu sobre os indígenas.
“A verdade é que eu sempre estive,
(Nos reduzem a índios, mitos, fantasias),
A verdade é que eu sempre estive,
(E depois dizem que somos todos iguais)...”
Pensava em todos os massacres de indígenas sobre os quais ouviu, fosse nas salas de aula, fosse em suas próprias origens.
“Vou te contar uma história real:
Um a um morrendo desde os navios de Cabral...”
Pensava que sequer sabia o nome de seus pais e nunca teve vontade de saber por desejar esquecer.
“Nós temos nomes, não somos números,
(Galdino Pataxó, Marçal Guarani, Jorginho Guajajara),
Nós temos nomes, não somos números,
(Marcinho Pitaguary, não somos)...”
Parou de caminhar e se posicionou de frente para o mirante, contemplando a visão do mar.
“Pra me manter viva, preciso resistir,
Dizem que não sou de verdade,
Que eu não deveria nem estar aqui...”
“O que vai ser da minha vida de agora em diante, meu Deus?” – pensou com tristeza – “O que vai ser...?”
“O lugar aonde eu vivo,
Me apaga e me incrimina,
Me cala e me torna,
Invisível...”
Kaê Guajajara - Território Ancestral [2]
“Eu não quero mais ser invisível!” – decidiu – “Não quero!” – chorava
Fim do capítulo
[1] Eu Vim Para Que Todos Tenham Vida. Hinário da CNBB. Compositores: José Weber e Reginaldo Veloso (3min31)
[2] Território Ancestral. Intérprete e Compositora: Kaê Guajajara. In: Hapohu. Intérprete: Kaê Guajajara. SAKKARA. 2019. Faixa 2 (4min55)
O drama da chacina da tribo de Yara é ficcional mas inspirado na história real resumida em
https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2019/04/ditadura-militar-waimiri-atroari-massagre-genocidio-aldeia-tribo-amazonia-indigena-indio-governo
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Sem cadastro
Em: 16/01/2025
Pensando em Yara, há vejo como a Txai. Guerreira, forte e lutando por tudo que a representa. Me senti fascinada ouvindo ela falar na COP e em um programa de tv.
Confesso que não lembro de já ter ouvido falar ou lido nada em relação a esse massacre, na época da ditadura. Não lembro de ter estudado sobre isso na escola..o que é espantoso! A não ser, quando são assassinados por ruralistas ou tem seu território invadido por garimpeiros.
Lembro do descaso durante a pandemia, do surto de malária, da fome, do marco temporal e das crianças mortas enquanto uma parcela passava a boiada.
Vi uma vez o depoimento de uma modelo e militante indígena onde ela falava que teve que fugir de sua terra, para não ser mais abusada.
Vi um trecho de um documentário, recentemente, na tv, de como algumas tribos adotaram um pouco da nossa cultura e de como isso pode influenciar nas gerações futuras, no apagamento de alguns costumes, no idioma e crenças.
São tantas as situações ruins que os atingem que, chega a ser inimaginável, pela importância que eles têm para a nossa história e para o mundo.
Yara terá uma luta difícil e árdua! Precisará se reconhecer e se aceitar. Entender sua sexualidade que está bem aflorada kkk. Lidar com preconceitos, encarar seu papel e o chamado dos seus. Buscar por justiça e dá visibilidade as suas lutas.
São muitas coisas...mas acredito que as duas juntas dê conta.
Minh@linda!
Em: 17/01/2025
Eu estou amando este conto! Elas não saem da minha cabeça! Mexem com as minhas emoções. Com certeza eu boto fé, uai kkk
Você tem muito valor e, eu aprendo muito com você.
Confesso que as músicas apresentadas neste conto, eu não conheço. Também não tinha ouvido falar nos artistas. Mas, a maioria identificadas nos outros contos, são músicas que eu gosto de ouvir.
Minh@linda!
Em: 18/01/2025
Estava ouvindo Território Ancestral
Muito bom!
Coloquei na minha playlist
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Sem cadastro
Em: 27/06/2024
Que personagens incríveis! Você descobre até uma cantora indígena pra fazer a trilha! Você é incrível! Já estou amando como sempre!
Solitudine
Em: 10/07/2024
Autora da história
Esse veio repetido.
Obrigada pelo carinho.
Lettera, por favor, não apague!
Beijos,
Sol
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Sem cadastro
Em: 26/06/2024
Que personagens incríveis! Você descobre até uma cantora indígena pra fazer a trilha! Você é incrível! Já estou amando como sempre!
Solitudine
Em: 10/07/2024
Autora da história
Olá querida,
Tive a grata surpresa de conhecer a Kaê durante a pandemia. Gostou dela?
Fico feliz com sua empolgação e carinho!
Beijos,
Sol
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jake
Em: 09/12/2023
Eita que história triste que luta pela sobrevivência, Yara é uma guerreira .
Solitudine
Em: 09/12/2023
Autora da história
Olá querida,
Yara também é uma parte do que sofrem os indígenas no Brasil. E ela também crescerá muito. Continue acompanhando! ;)
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 21/10/2023
Agora sim na conta certa! Huahuahua
Esse CAPS essa música...
Tempus Agendi na veia!
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
kkkkkkkkkk
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Samirao
Em: 28/05/2023
Tô até escrevendo mais bonito notou honey? Huahuahuahua
Solitudine
Em: 24/06/2023
Autora da história
Notei. Por que será, doutora? Kkkk
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 28/05/2023
Habiiibeem!!! Cadê você sua caipira doida? Tá chegando a hora de mais um conto!
Aproveita que eu voltei mas vou partir de vez. Como que vai ser você sem.musa inspiratriz pra suas indiscretas cenas Hot? Huahuahuahua
Bjusss
Solitudine
Em: 24/06/2023
Autora da história
Olá querida!
Estou aqui na correria de sempre! Desculpe a demora.
Kkkkk Sem comentários, dona musa!
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 28/03/2023
Senhorrr o que foi isso? Que capítulo, uau! Duro como a sina dos povos originários mas eu amei! Esse conto é provocador e eu simplesmente AMO esse tipo de coisa!
Infelizmente só poderei voltar na sexta não tenho certeza. Mas já viciei no seu latim! rs
Solitudine
Em: 29/03/2023
Autora da história
Que bom que você gosta de textos provocadores. A caipira provoca de diversas formas, ou pelo menos tenta. Aqui, está mais acintoso, vamos dizer. rs
Um vício manso, não tenha medo! ;)
Beijos,
Sol
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mtereza
Em: 29/12/2022
Que maravilha poder ler mais uma história sua Sol sei que vou rir e me emocionar e como sempre tratando de temas espinhosos com toda sensibilidade como racismo bullying e o genocídio dos povos originários praticado durante a ditadura militar você é maravilhosa nessas narrativas .
Bjs Sol ansiosa pelo desenrolar das histórias de Elza e Yara.
Resposta do autor:
Olá querida!!!!!!!! Que bom que você voltou!
Desejo que seu final de ano tenha sido muito bom e que 2023 lhe ilumine com as mais belas bênçãos de Deus. E que isso se estenda aos amados do seu coração!
Obrigada pela gentileza e pelo carinho de sempre! Continue aqui conosco!
Estou atrasada nas respostas, mas vou me atualizar e depois postar um novo capítulo.
Vai comentando, viu, fi? rs
Beijos,
Sol
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NeyK
Em: 20/12/2022
É tão atual isso, tão semelhante do que vem acontecendo, infelizmente.
A pequena Yara tão nova e já com essa bagagem pesada, mas invisível não mais.
Resposta do autor:
Ney Kercis, você voltou!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Desejo que seu final de ano tenha sido muito bom e que 2023 venha cheio de coisas boas para sua vida e a dos seus! Feliz ano novo!
Obrigada por ter vindo! Volte mais, de preferência em todos os capítulos! rs Some não! Já basta eu para viver sumindo! kkk
Beijos,
Sol
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Joabreu
Em: 20/12/2022
Bom dia,
Impactante e muito visível, mesmo se invisibilizado. Stalkeando você!
Jo Abreu
Resposta do autor:
Olá querida!
Que bom que esteja se envolvendo e se senbilizando com as questões levantadas no conto!
Perdoe se nem sempre eu entender o que você diz, mas sou caipira e sempre atrasada com o vocabulário do momento. rs
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 15/10/2022
Basnoite, Sadikii Solvisky!!!
Olha quem eu conheci, Yara e Alice!
Que horror o que se passa na Amazonia, tendo que migrar do seu próprio lar para sobreviver, e ainda vivem em extrema pobreza, sofrem discriminacao,sem atendimento médico adequado. Ou seja, antes tinha a Casai e agora,além do preconceito que sofrem por serem indígenas, sofrem o mesmo que qualquer pessoa em estado de pobreza pq aqs políticas públicas de saúde foram criadas pra dentro das aldeias. Muitos ficam dependendo de doacoes pra sobreviver, vivem de artesania(eu mesmo tenho uns animais feito com um tipo de madeira ,n sei se sao os wichi. Pq tem tantos nomes que eu realmente n gravo. Tb tenho dois de apitos que compramos em Valencia- BA. Sabia que os wichi sao os primeiros povos originarios da Argentina a receber a bíblia em seu idioma. Foi um projeto que fizeram. Mas hoje 50% da populacao sao analfabetas em su próprio idioma. Estao perdendo sua cultura, sua identidade....
!Mas, bem,tem que implementar mais projetos para ajudar as aldeias a serem preservadas, protegidas e sua cultura tb. N se pode destruir um lugar com a maior biodiversidade do mundo!!Cada vez mais vao perdendo os diversos idiomas que existem de cada aldeia, sao muitassssssss com as migracoes e matanca, extinguindo cada vez mais.Mas bem, sabemos que as terras indígenas tem grande potencial economico e o pq querem expulsá-los. A ganancia sempre ganha , n importa o que vai ser destruído no caminho....
Vamos voltar ao texto,é que me empolgo com alguns temas....
Yara,assim com o Elza é uma garota que nao aceita sua origem, sua identidade, ela mesmo se discrimina ao ficar chateada qndo a chamam de índia. Sua aparencia assim como a de Elza nao passa desapercebida.Ela se tornou uma menina preconceituosa ou diria, que o diferente a incomodava, pois teve a criancao assim e Alice nao estava lá para acompanhar por pensar que estava bem por tá na igreja e ir bem na escola. Ficou muito tempo longe. A luta que ela combatia precisava dela, mas Yara tb, porém a vida dá uma reviravolta e agora Yara sabe quem é, de onde veio. Yara terá que descontruir tudo que aprendeu na igreja e n sei em que raio de escola tava tb que nao ajudou a se perguntar, refletir sobre as coisas que lhe foram ensinadas e agora com o nascer da sua sexualidade, que esteve presente desde cedo,que já por si, é difícil , terá uma grande batalha interna ,deevido aos ensinamentos intoleraqntes dessa Igreja.
Me pergunto se todo o ataque de panico qaue tinha voltará,pois, assim como disse sobre a crianca negra ou qualquer crianca, tudo que Yara viu no massacre, foi incorporado, processado, mas foi tao forte para ela lidar no momento e dps, comecou aparecendo, querendo vim a tona, seu comportamento era normal para o que ela sofreu....o general, n sabemos quem ela viu ou o que, pode ter visto um militar e isso causou uma " lembranca" um fica ansiosa, com medo...quer fugir...elas viviam fugindo, assim que n sabemos o que estar por acontecer se aparece algo que desperte de novo esses comportamentos.
Sabe que escrevi o de cima sobre os indíginas antes de chegar em Yara e a psicóloga, assim que nem vou mudar o que coloquei q é basicamente o q vc escreveu, só que mais bonito!! Acho que me fiz entender..
A mae faleceu e agora virá mais dificuldades, a vida dela sempre foi intensa, cheia de mudancas e nao acho que a criancao dela deu o suporte necesário para o que virá,sinceramente falando, mas as pessoas nos sorpreendem ao poder lidar com as adversidades da vida....veremos pra onde Yara vai...nova cidade,nova escola, novas " tentacoes"? Elza e Yara, duas adolescentes ingenuas, inocentes, sem malícia, mas uma com uma mente mais fechada, principalmente para o que sente...poderá viver com o que sente, ser ela? Poderá encontrá-se buscando de onde veio? Duas garotas em busca do que sao se ajudaram para encontrar sua verdadeira essencia e em meio disso, seu primeiro flechaco? Espero que n demora muito. Sei que vc n é de juntar garotas no final, mas meio no meio, mas sempre com adversidades no caminho do casal....
" Glória ao Deus com Aleluia" kkkkkkk. Me mata!!! O misera, onde vc encontra essas frases.."bexiga lixa". Cheia das caipiragens essa estória, ameiii!!
Um presente!!!
Beijos super caipirerrímo!!!
PS:Tive que reler sua mensagem em frances, li rápido e tem verbo que n aprendi ainda, vc foi um doce, me emocionou, me desculpo pelo frio....
Vamos pelo 3 logo, fique ligada...
Resposta do autor:
Bas noite, Lailikii Habibi Dah!
Concordo com o que escreveu sobre o sofrimento dos povos originários. Em toda parte do mundo, os verdadeiros donos da terra sofreram e sofrem pilhagens, experimentando toda sorte de dores, perseguições, abandono e preconceito. Quis dar um pouco de visibilidade a isso através da Yara, que viveu muitos anos de negação de si, não só por um preconceito mas para fugir do trauma que passara na infância. Alice deu a ela tudo que podia, tudo que tinha e ao fim da vida percebeu que falhou sob alguns aspectos; não por maldade mas por excesso de zelo.
Yara foi criada dentro do ambiente das igrejas e isso foi bom e ruim. Bom porque aprendeu a ter fé, a ser solidária, a ser humilde e ruim porque tem medo da própria sexualidade "desviada" que começa a despertar. Mas, assim como Elza, ela é jovem e tem um caminho de aprendizado pela frente.
Você gosta das frases caipirescas, não? kkkk E eu adoro suas análises sobre os capítulos
Estou orgulhosa por perceber que está aprendendo francês! Muito bom! Você está sempre me surpreendendo para o bem!
E, sim, estou ligada. Você pediu capítulo novo, não foi? Quer dizer, pediu não, ordenou! kkkk
O capítulo veio!
Beijos caipirérrimos!
Sol
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Samirao
Em: 13/10/2022
Amoreee posta mais no findi??? Chukraaan
Resposta do autor:
Não garanto, amor. A internet da roça está tão ruim... E eu ainda tenho que sentir os capítulos. Saí escrevendo como louca e não fiz isso. Como o momento não é bom. não confio no resultado sem uma revisão.
Beijos
Sol
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Seyyed
Em: 02/10/2022
Autora preferida!! Demorei porque tô cum c@ na mão e Lula no coração ?? hehehe Quue porra de primeiro turno foi essa puta merda! Capítulo foda! Gostei da Yara ela merece ser feliz e sair dessa prisão religiosa A mãe não fez errado ela tava certa em proteger mas tudo demais é ruim. Essa garota tem que desabrochar tipo Elza também tem. Torcendo!
Cararra a música do final foi foda! Onde tudo acha essas? Muito boa! Amanhã é Convide partiu! Hehe
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkkk Que doideira essa, menina? Ri muito! Essas eleições são sem comentários. Mas desde que esse presidente saia, já é um lucro!
Obrigada por estar lendo meus contos com tanta empolgação! E obrigada pela ideia do "desabrochar". Creia que influenciou. rs
Eu ouço muitas músicas. E Território Ancestral foi uma que me marcou muito.
Já te respondi em CONVIDE-0. Obrigada novamente!
Beijos,
Sol
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Marta Andrade dos Santos
Em: 02/10/2022
É O Brasil nunca foi descoberto e sim invadindo Pelos Portugueses.
Resposta do autor:
Olá, Marta! Você não poderia ter dito melhor!
Aliás, esse país é invadido até hoje. Só muda a bandeira dos invasores que vêm nos saquear (a mais das vezes, sob colaboração dos que nos governam).
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 02/10/2022
Aim cachorrona nem pra me dizer que tinha caps novo!!! Mas tá descobri e gostei muito da forma que vc trouxe o assunto indígenas. Sofri com Yara mas até ri dela se confessando huahuahua
Empolgada do lado de cá amore. E morrendo de saudades da minha caipirinha. Bjuss
Resposta do autor:
Eita, que hoje a caipira está em tempo real! rs
Também sindo saudades. Cuide-se por aí!!!
Fico feliz que esteja gostando. Você entende o sentido de tudo isso.
Beijos, queridíssima!
Sol
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Irina
Em: 02/10/2022
Kotinha!
Fizeste-me chorar. Pesar pelos vossos povos originários, que a exemplo dos meus, amargaram os grilhões da dor.
Linda história com que tu nos presenteia mais uma vez.
Gratidão a ti por viver a nos mostrar outras visões e outros caminhos.
Beijos ,
Irina
Resposta do autor:
Olá querida!
Desta vez te respondo quase em "tempo real". rs
Nossos povos originários sofreram e sofrem o peso destes grilhões, os quais se mantêm sustentados também por toda uma ideologia favorável. E quem foi que disse que ideologias são exclusividades das esquerdas (ou dos "comunistas")?
Eu que lhe sou grata por ler o que escrevo e por vir me comentar sempre com tamanha doçura.
Beijos,
Sol
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Dandara091
Em: 02/10/2022
Eu também invisibilizava os índios. Perdão!
#povosoriginarios
#salveamazonia
Resposta do autor:
Olá querida,
E tenho certeza de que não fazia isso por mal. Somos levados por este caminho. O importante é rompermos com isso. O importante é agir, porque os tempos são chegados.
Obrigada por vir comentar.
Beijos,
Sol
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 02/10/2022
Olá! Tudo bem?
Querida Solitudine, Autora querida, capítulo denso e pesado.
É triste e pesaroso ver que o desejo material, principalmente nos dias de hoje, faz com que o ser humano — apesar de ser complicado achar que alguém que faz isso possa ser chamado de ''humano'' — assassine, roube, violente. Triste. E no nosso pais de hoje isso está sendo levado quase ao extremo.
Torcendo para que Yara percorra seu caminho com menos dores e dissabores.
É isso!
Post Scriptum:
''A ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade, e acaba a acumulá-la como objetivo. ''
Charles Caleb Colton,
Escritor
Resposta do autor:
Olá Kasvattaja!
Que bom que você veio me "ver" duas vezes seguidas! Mantenha o hábito, viu? Faça uma caipira feliz, especialmente neste tempos de vida dura. rs
A Terra, como um planeta de expiação e provas que ainda é, tem sido palco de toda sorte de malvadezas em nome deste desejo material e, até mesmo, ilusoriamente em nome de Deus.
Os povos originários, como mais frágeis diante desta corrida por acumulação, sofrerem (e sofrem) toda sorte de abusos. Eu nem vou pegar muito forte neste aspecto, porque o tempo que tenho não me deixará explorar como gostaria, mas pretendo jogar essa realidade na mesa. Pretendo ajudar, mesmo que minha contribuição seja uma gota no oceano, para que a invisibilização ao sofrimento indígena seja rompida.
O Brasil de hoje não difere muito daquele 1979 vivido por Yara.
Confia na caipira. Yara chegará aonde deve, precisa e deseja.
Beijos,
Sol
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Mille
Em: 02/10/2022
Muito triste para a Yara perdeu de forma brutal os pais e sua tribos pela ganância do governo que devia ajudar e não se beneficiar com os ricos. Isso é revoltante. O governo só quer está no poder para ter como tirar pra si e o seus e esquece do povo e suas dificuldades.
Sozinha e confusa só espero que ela consiga alguém que a ajude a se aceitar e dar um pouco de paz.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille!
Tudo bem, querida?
Infelizmente, muitas são as Yaras por aí. A vida dos povos originários é muito massacrada, apesar de várias pessoas dizerem que os índios vivem na vagabundagem. A primeira vez que lidei com indígenas fiquei muito condoída, mesmo que na ocasião fosse aquele contato de turista. Depois, ouvindo certos relatos, fiquei ainda mais impactada. É muito triste!
Vamos ver o que aguarda nossa querida Yara. Confia na caipira. rs
Obrigada por vir sempre me dar um retorno.
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 17/01/2025 Autora da história
Olá querida!
Já que minha indígena te foi devidamente apresentada, e você gostou dela, fico feliz que as duas protagonistas tenham sido aprovadas!
Está gostando deste conto como gostou dos outros? Ele já pode se considerar como daqueles com os quais você fez amizade e bota fé? rs
Infelizmente o drama indígena não recebe a visibilidade que deveria. Quando eu soube dos massacres há anos atrás, gelei. Demorei para lhes dar o devido relevo (e quem sou eu, aliás, né? Grande coisa!). Mas tanto Maya quanto Tempus têm duas índias guerreiras que lhes foram entregues com todo carinho: Suzana de um lado e aqui, Yara.
Beijos,
Sol
PS: Está gostando das músicas? Aliás, você gosta das trilhas sonoras caipirescas