Capitulo 49
“Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador. É como o vento, também às vezes doce, brando, claro, bailando alegre em torno de seu oculto núcleo de fogo”. - Ferreira Gullar
ÁGATA
Elisa continuava agarrada a mim. Ela parecia menor, encolhida em meus braços. Aos poucos ela foi se acalmando. Vê-la assim tão frágil me partia o coração.
-- Vai ficar tudo bem -- Prometi, mesmo não estando certa da verdade daquelas palavras.
Após um bom tempo, Elisa me encarou. Ajudei-a enxugar uma última lágrima em seu rosto. E a fiz prometer não mais chorar, pois mesmo que ela não acreditasse nisso, Elisa era forte. Só bastava a ela acreditar em sua própria força e na sua capacidade de mudar o mundo ao seu redor.
-- Por que a felicidade tem que ser tão fugaz? -- Questionou ela, com a voz embargada.
-- A felicidade é uma cilada, Elisa -- Filosofei -- Ela é insidiosa, traiçoeira. É uma ilusão*.
-- Acho que você está certa. Mas, se a felicidade é realmente uma ilusão, vamos fingir que seremos felizes para sempre. -- Sugeriu Elisa, pela primeira vez abrindo um sorriso.
-- Elisa, isso é tão fácil quando eu estou ao seu lado. -- Confessei.
-- O que é fácil, fingir? -- Perguntou ela, enlaçando seus braços em torno do meu pescoço.
-- Ser feliz...
Com ela assim tão perto, era impossível não desfazer a distância entre nós em poucos segundos e beijá-la.
-- Espera! -- Disse ela, interrompendo o beijo. -- Me deu um nó na cabeça... Se ser feliz é fingir, somos ou não felizes?
Ela me olhava confusa.
-- Por que não vem comigo para meu quarto e descobrimos? -- Sugeri, com um sorriso descarado.
-- Pára! -- Disse ela, enrubescendo -- Não conheci você assim, Ágata...
-- Você despertou isso em mim -- Falei, sincera -- Quanto ao que falei faz sentido. Se vamos nos enganar, o que melhor do que nos rendermos aos prazeres carnais?
Ela riu.
-- Bom argumento.
-- Sabe, eu estava ansiosa para conversarmos. Vê se as coisas entre nós poderiam melhorar, mas outra parte de mim, esperava ansiosamente para tirar sua roupa...
-- Meu Deus! Eu criei um monstro -- Disse ela, zombeteira.
-- E esse monstro quer saber se você aceita ou não a proposta...
-- Não precisa nem pedir. -- Falou ela -- Eu sou sua, Ágata.
Tê-la só para mim, como eu desejei por muito tempo. Meses atrás essa era apenas uma possibilidade. Talvez não remota, ainda assim apenas uma possibilidade. Tê-la em meus braços, ainda que com a incerteza sobre o futuro. Mas o futuro não poderia nos atingir, não naquele momento em que tudo era possível, momento em que podíamos fingir ser para sempre. Porque de fato, era. Ser eterno, como somente o amor verdadeiro pode ser.
Amamos-nos com desejo e paixão. Com impetuosidade e fúria, mas também com muito carinho. Elisa era como uma flor delicada, sua pele era macia e clara. Tão clara que meus beijos mais sutis eram capazes de deixar marcas avermelhadas em sua tez de algodão. Às vezes, eu não controlava a vontade de mordê-la, deixando marcas ainda mais perceptíveis. Seus suspiros e gemidos me enlouqueciam. Ela se movia de modo gracioso de encontro a meu corpo na ânsia de consumar sua volúpia, despertando mais ainda meu desejo.
Quando a conduzi ao meu quarto, Elisa ajudou-me a me livrar de minha roupa, eu ainda era escrava daquele irritante tensor ortopédico no braço. Isso limitava um pouco as minhas pretensões de amá-la sem restrições e de explorar com eficácia os pontos mais sensíveis e excitáveis de minha amada. Mas Elisa não reclamava, ela estava feliz o suficiente em me ter submetida às suas carícias mais ousadas. E nisso ela já parecia perita.
Em poucos instantes, Elisa me despira e logo estava tirando a própria roupa. Ela fazia isso já sem nenhum constrangimento e me presenteou com o melhor dos sorrisos quando eu não disfarcei minha satisfação ao ver seu corpo maravilhoso completamente desnudo diante de mim. Um dia foi mais do que suficiente para me deixar morrendo de saudades daquele paraíso de deliciais inomináveis. Elisa tinha razão, ela havia criado um monstro. Uma fera irracional dominada pelos instintos mais primitivos. Mas um desejo guiado pelo amor que eu sentia por ela. Eu a amava por completo.
Ela colocou as mãos em minha nuca, depois enterrou os dedos em meus cabelos enquanto nos beijávamos. Eu sugava sua boca e com minha mão acariciava seus seios intumescidos. Eu lhe arrancava suspiros, mas sua libido inflada era exigente e queria mais, muito mais. Entre beijos ardentes, alcancei seu sex* molhado. Ela gemia e movimentava cada vez mais os quadris buscando aumentar o atrito com meus dedos. A olhei pedindo permissão para prosseguir. Ela estava excitada e não fez objeção. Tive medo de machucá-la e, com cuidado, penetrei-a com um dedo. Senti-a se retrair e não me movi.
-- Você está bem? -- Sussurrei.
-- Ágata, não quero que você pare, por favor... eu confio em você.
Eu sabia o quanto poderia ser desconfortável a primeira vez, então me esforcei para deixa-la à vontade. Com todo meu amor, comecei a me mover dentro dela devagar, notei-a desconfortável no início, aos poucos ela foi relaxando. Excitada, movia-se cada vez mais rápido, eu ia prestando atenção aos sinais de seu corpo e ao meu próprio desejo que só aumentava ao vê-la explodindo em prazer pelos meus toques. Em uma dança perfeita de corpos suados, ela alcançou o êxtase.
Observei seus olhos fora de órbita, sua respiração ofegante. Ela encostou a cabeça em meu peito, enquanto retornava a razão há pouco esquecida. Em minha limitada experiência pelos caminhos do amor com Elisa, eu já aprendera a decifrar seu corpo. Uma das coisas que aprendi sobre ela era que quando atingia o clímax, Elisa ficava sonolenta.
-- Isso foi... -- Sussurrou ela.
-- Eu sei.
-- Você não quer...
-- Não. Estou bem. -- Disse, acariciando seus cabelos.
-- Obrigada, Ágata -- Disse ela, tímida -- Você foi incrível.
-- Não precisa agradecer, Elisa. Você que é incrível -- Respondi -- Por que não dorme um pouco.
Ela se aninhou ainda mais em meus braços.
-- Boa ideia. -- Disse, de olhos fechados. -- Dorme também.
-- Melhor não, Johnny prometeu vir mais tarde pegar uns documentos, lembra?
Ela balbuciou algo em resposta e logo estava entregue aos braços de Morfeu. Era bom vê-la assim dormindo, relaxada, sem as preocupações que cedo ou tarde tomariam conta dela. Zelei por seu sono, enquanto evitava pensar em como seria ir para longe, com meio mundo de distância dela.
***
Johnny veio como prometido. Vesti um short e uma camiseta para recebê-lo. Elisa ainda dormia tranquilamente. A garota tinha um sono inabalável. Já Johnny quando me viu, me olhou desconfiado. Ele era o tipo que pegava as coisas no ar. Reparou na porta de meu quarto fechada e em meus cabelos despenteados.
-- Desembucha -- Disse ele -- Tem mais alguém aqui com você?
Não era boa em mentir para Johnny, nem estava muito afim. Ele já sacara o que havia entre mim e Elisa mais cedo no shopping, naquela hora eu havia me esquivado. Não tinha certeza como Elisa receberia a notícia de que eu ia para longe. Eu não poderia saber que ela já soubera disso por Gabriela. A morena estava presente quando eu falava sobre com meus avós, com certeza ela entreouvira a conversa e tirara suas conclusões. Assim como Johnny, Gabi pegava as coisas no ar.
-- Elisa está aqui. -- Revelei.
-- Uau! Você é das minhas, priminha -- Disse ele, sorridente. -- Maior gata a loirinha. E aqueles olhos. De que cor são, cor de mel, cor de céu? Não sabia que você preferia as loiras, deve ser por isso que dispensou aquela morena.
-- Fala baixo, Jon. -- Pedi -- Não quero que Elisa acorde.
-- Ok. Vou ficar quietinho. -- Prometeu Johnny -- Sabe, eu gostei da menina. Ela é um doce, embora eu ainda prefira as selvagens como aquela morena... Logo saquei que havia um lance rolando entre vocês. Não via esses teus olhinhos brilhando desde que você era pirralha, antes do acidente. Manda a real, você tá amando?
Fiz que sim com a cabeça, me sentindo encabulada com todo aquele discurso de meu primo sobre olhinhos brilhando.
-- Oh, que fofo! Minha garotinha está amando? Minha garotinha está amando! -- Comemorou ele.
-- Shiii! Assim você acorda Elisa.
-- Desculpe, mas é que estou tão feliz por você. Meu coração está dando vários saltos. Minha garotinha amando! Quem diria! Crescem tão rápido...
-- Jon, deixa disso.
-- Qual é, gatinha. Há pouco você era só uma garotinha egoísta, um bichinho do mato com aversão a qualquer tipo de carinho. Só queria ficar com seus números matemáticos. E agora está aí toda adulta, namorando. Cê tá feliz? Pelo seu rostinho você está feliz. Mas, tem algo mais, não é? Sempre tem. Conta aí para seu priminho, Jon.
Johnny era bastante esperto quando se tratava de desvendar o que se passava comigo.
-- É o lance do Canadá. -- Falei, triste.
-- Ah, sim. Tem razão, você vai para longe. Logo Canadá, né? Longe para cacete, seus velhos são aventureiros. Mas, porque não leva a loirinha com você. Vai ser ela também gosta de mudar de ares, conhecer lugares novos.
-- Eu queria que fosse assim tão simples, Jon -- Deixei-me cair no sofá -- Mas Elisa não pode me acompanhar. Sabe o colégio que eu estudo? É da família dela. Elisa é filha única, e ela sempre esteve ciente da responsabilidade de levar o negócio da família adiante. E eu não queria, nem quero, na verdade, não posso pedir isso a ela.
-- Entendo, Ágata.
Jon realmente me entendia, ele mesmo se sentiu arrasado em morar distante dos pais, embora sua natureza sempre tenha sido aventureira e desbravadora. Não é fácil ir quando se deixa um lar, quando se cria raízes.
Entreguei toda a documentação de que Johnny necessitava para fechar negócio. Havia algo que ainda não havia contado a ele. Aquele era o momento.
No início, ele recusou veementemente, utilizou todos os arroubos artísticos e dramáticos para declinar de minha proposta que ele julgou absurdo. Mas, se Jon era teimoso, eu era mais. E ele acabou tendo de aceitar.
-- Você tem mesmo certeza disso, Ágata? -- Perguntou ele, pela milésima vez.
-- Eu já disse que sim, Johnny. Comemore! Abrace-me! Só não grite para não acordar Elisa. Mas não deixe de recusar, é de coração, é meu presente para você.
Jon me abraçou apertado. Ele estava emocionado.
Decidi aumentar a porcentagem de meu primo na trans*ção da venda do condomínio. Ele ficaria com sessenta por cento do valor e eu, com quarenta. Podia parecer pouco, mas Jon não tinha nada e eu tinha o apoio de meus avós que pagariam meus estudos e garantiriam um futuro para mim. Johnny faria grande uso daquele dinheiro. Ele enfim poderia abrir seu negócio. Tinha certeza que ele faria um bom investimento.
-- Meus pequenos agradecem.
-- Mas você ainda não tem filhos, Jon.
-- Mas terei, muitos.
Quando Johnny deixou o apartamento, retornei ao quarto e me deitei ao lado de Elisa. Já anoitecera e ela ainda estava naquele sono fora de hora.
Com carinho, acordei-a. Ela abriu os olhos e sorriu.
-- Pensei que você era um sonho. -- Falou Elisa.
-- Não, eu estou mesmo aqui.
-- Ainda assim é um sono. -- Ela me sorriu novamente.
-- Engraçadinha.
-- Por que está vestida? -- Protestou Elisa.
-- Johnny esteve aqui. Veio pegar os documentos.
-- Sério? E eu aqui dormindo. Desculpe, não pretendia dormir tanto... é que foi tão gostoso... Acho que eu perdi sentidos.
-- Não peça desculpas. Adoro te observar dormir.
-- Vem cá! -- Pediu ela.
Elisa deixou o lençol cair e me beijou.
-- Será que eu vou ter que tirar sua roupa novamente? -- Perguntou ela ao meu ouvido.
-- Talvez. Melhor mais tarde. Você deve estar faminta.
-- Estou sim. -- Admitiu.
-- Olha o duplo sentido. -- Adverti -- Não é você que reclama da minha alimentação. Agora, só quer saber de fazer amor.
-- Porque eu quero aproveitar cada instante com você.
Dizendo isso ela me beijou novamente.
-- Isso é golpe baixo. -- Falei -- Porque não dorme aqui comigo hoje. Podemos ter a noite toda pela frente...
-- Preciso ligar para meus pais. Depois que sai naquela chuva eles começaram a pegar no pé. Mas, eu acho que mamãe vai acabar cedendo. Ela sabe que estou com você.
-- Isso é ótimo. Então, fica comigo?
-- Claro que sim. E, afinal, eu preciso retribuir o orgasmo maravilho que você me deu...
Dessa vez quando ela me beijou não pude mais me desvencilhar de seus braços tão cálidos. O jantar teve que ficar para depois.
***
No dia seguinte, fomos despertadas com o barulho do interfone tocando. Mas, o toque não era o bip normal, em vez disso um chiado ensurdecedor e repetitivo.
-- Deve ter quebrado. -- Especulei.
O barulho irritante continuava. Decidi ir até a portaria ver com Seu Antônio o que estava acontecendo.
-- Também vou -- Ofereceu-se Elisa -- Eu não posso ficar aqui com esse zumbido ou vou enlouquecer.
Quando chegamos à portaria, nos deparamos com Becca. Ela parecia desesperada. O que ela estaria fazendo ali?
-- Eu não fiz nada juro! Não fiz nada -- Repetia ela.
-- Becca, o que está acontecendo? -- Perguntou Elisa.
Ela continuou a afirmar que não havia feito nada e se jogou nos braços de Elisa, chorando. Com a sensação de que algo estava muito errado, me aproximei do balcão onde Seu Antônio ficava. Foi só então que me deparei com o horror. Seu Antônio jazia no chão. Imediatamente me aproximei do pequeno corpo do idoso e verifiquei seus sinais vitais. Mais era tarde demais para ele. A morte havia novamente invadido nossas vidas, rápida, trágica e inevitável.
*A felicidade é a mais insidiosa das prisões. V de Vingança.
Fim do capítulo
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 04/10/2022
Olá! Tudo bem?
Becca is again!!!
Eita! Eita! Eita! Será que nossas meninas não terão paz? Autora, Autora, já estamos no capítulo 45! Já não era a hora das meninas começarem a planejar o hoje e o amanhã?
Ai, ai!
Vamos que vamos e torcendo muito para um final feliz.
Ferreira Gullar é top!
É isso!
Post Scriptum:
''Uma Parte De Mim
É Todo Mundo:
Outra Parte É Ninguém:
Fundo Sem Fundo.
Uma Parte De Mim
É Multidão;
Outra Parte Estranheza
E Solidão.
Uma Parte De Mim
Pesa, Pondera;
Outra Parte
Delira... ''
Ferreira Gullar,
Escritor.
Resposta do autor:
Olá!!
Sim, falta pouco para o final!
Vou dá um spoiler que não é bem um spoiler. Tem uma história que escrevi após essa que está postada aqui e tem uma pequena participação das duas. Se chama Ela vale milhões, não lembre o capítulo, depois vou resgatar!
Amo Ferreira Gullar, esse poema que você postou se não me engano foi musicado pela Adriana Calcanhoto. Vale a pena ouvir! Bjs!
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