Capitulo 22
ELISA
O carro parou em frente ao grande portão enquanto este abria para dar passagem.
-- Vou descer. -- Anunciei, sentada no banco de trás do carro.
O motorista me olhou através do retrovisor com uma interrogação no rosto sério.
-- Roberto, diga a meu pai que volto já. Estarei na casa dos Frota.
Ele assentiu.
Em todos os anos em que Roberto trabalhara em minha família lembro-me de ouvir o som de sua voz uma ou duas vezes apenas. Sempre discreto, Roberto parecia saber mais do aparentava. E sempre fora leal aos meus pais que confiavam apenas nele para me proteger, a flor mais delicada da árvore dos Freitas.
Desci a rua a pé e foi preciso caminhar apenas alguns metros para chegar à casa de Becca. Desde que havia deixado o sombrio apartamento de Ágata, me sentia triste e confusa. Precisava conversar com Becca com urgência. Sabia que a encontraria em casa àquela hora.
Becca ficou surpresa ao ver meus olhos vermelhos e logo soube que havia algo errado comigo. Éramos inseparáveis desde sempre e capazes de saber exatamente o que se passava uma com a outra.
Ela esperou até que eu estivesse pronta para contar. Após me ouvir com paciência, Becca disse:
-- Lisa, eu lamento que isso tenha acontecido entre você e Ágata, mas o que você me diz é um absurdo.
-- Então, Ágata mentiu? - Perguntei, séria.
Becca respirou fundo.
-- Bem, talvez aja um fundo de verdade. -- Admitiu ela, contrariada.
-- Que fundo de verdade? -- Falei, elevando minha voz.
Eu sabia o quanto minha amiga costumava ser dissimulada quando algo ou alguém não a agradava, fazia parte de sua personalidade. Por isso, suspeitei de sua culpa que naquele momento estava estampada em seu rosto.
-- Calma, Lisa. Não é nada tão grave. Talvez eu tenha exagerado um pouquinho na minha caça às bruxas com a Ágata. Mas, você sabe que eu estava com ciúmes e a garota é um pé no saco.
-- O que você fez? -- Exigi saber.
-- Disse algumas coisas desagradáveis para Ágata, mas foi só isso, juro!
-- Becca! -- Repreendi.
-- Lisa, não tentei nada contra ela. -- Defendeu-se Becca -- Com certeza essa história de “Boa Noite Cinderela” é uma invenção daquela safada da Gabi. Agora eu compreendo por que não me lembro de ter ido para cama na noite do seu aniversário... Mas aquela morena sem vergonha me paga, não é de hoje que me estranho com aquela sapatão... Desculpe Lisa.
-- Becca, me incomoda o que você anda fazendo sem eu saber. Você me devia a verdade. Não pense que eu sou boba, que não noto seu ódio pela Ágata. Mas não me peça para entender o porquê disso. Você disse que me apoiava com Ágata. De todos, você era a única que achei que entenderia, sem me julgar...
-- Querida, eu entendo. -- Disse Becca, afagando meu rosto. Mas recusei seu gesto de carinho, me afastando dela.
-- Não consigo gostar de Ágata. -- Disse Becca, derrotada.
-- Só a deixe em paz, Becca, de uma vez por todas. -- Pedi -- Não precisa gostar dela.
-- Não posso prometer isso, Lisa.
Olhei para Becca, surpresa.
- - Sou sua amiga e não gosto que lhe façam de besta. -- Explicou ela, decidida -- Não vê que Ágata está envolvida com a Gabi.
-- Não tenho certeza disso.
-- Lisa, você acabou de me contar que não sabia nada dessa amizade entre elas. Ágata mentiu para você.
-- De certa forma sim, mas ela acabou dizendo a verdade, não é? -- Retorqui.
-- Então vai deixar por isso mesmo?
-- Não, não vou negar que essa história da Ágata com a Gabi acabou comigo. -- Disse, triste -- Não sei o que fazer ainda.
Levantei-me da cama de Becca onde estivera sentada até então e completei:
-- Eu estou com tanta raiva, Becca. Preciso ficar sozinha.
Dei às costas a minha amiga e andei em direção à saída, mas antes de me deixar ir embora Becca me puxou pelo braço e disse:
-- Lisa, está tudo bem entre nós?
Olhei para Becca enquanto ela ansiava por uma resposta.
-- Não, não está. Você é minha melhor amiga e ameaçou a garota que eu amo pelas minhas costas -- Respondi, o rancor engasgado na garganta.
Ao notar a tristeza de Becca, acrescentei:
-- Mas as coisas vão ficar bem, só preciso de um tempo.
-- Certo. -- Aquiesceu.
Voltei para casa e após cumprimentar meus pais, fui imediatamente para cama. Seria uma longa noite e um tortuoso caminho a percorrer até o sono chegar.
Fim do capítulo
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