Esta história está completa. Tem em torno de 60 capítulos. Vou postando aos poucos.
:)
Capitulo 10
ELISA
I don't mind spending everyday
Out on your corner in the pouring rain
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she wants to stay a while
And she will be loved
- She will be loved (trecho).
-- Elisa!
Uma voz de anjo me chamava, achei que ainda estivesse sonhando, mas quando abri os olhos, ela estava lá. Deu-me um sorriso encantador.
-- Feliz aniversário! - Sussurrou Ágata, com o rosto próximo ao meu.
-- Obrigada - Respondi, tímida.
Ágata estava deitada ao meu lado com as cobertas puxadas para si. As lembranças da noite passada me vieram ainda bastante vívidas. De repente, me vi assombrada por dúvidas quanto às consequências do que havia acontecido. Não mais soubemos o que dizer. Acho que ambas não saberíamos expressar com palavras o que antes havíamos compartilhado com todos os nossos sentidos.
-- Que horas são? - Perguntei, alarmada.
-- São quase nove horas -- Disse Ágata, checando o relógio.
-- Droga! Meus pais chegarão a qualquer momento.
Levantei atordoada e vesti minha blusa com pressa. Ágata observava minha confusão, e disse:
-- Calma, Elisa, vai dá tudo certo. Após a festa de ontem, ninguém vai acordar tão cedo.
-- Mesmo assim, meus pais vão chegar e querer saber de mim.
-- Entendo - Respondeu Ágata - Você precisa ir.
Olhei para ela sem saber o que fazer. Havia tanto a dizer e mesmo assim...
-- Nos vemos mais tarde? -- Perguntei, hesitante.
Ágata confirmou, esboçando um sorriso.
Andei pelo corredor, descalça, carregando minhas sandálias na mão e tentando não fazer barulho. Precisava me arrumar o quanto antes, talvez mais tarde eu pudesse por em ordem a confusão de sentimentos que agitavam meu coração. A noite passada havia sido algo totalmente novo em minha vida, como disse anteriormente, nunca me deixei ser guiada por minhas emoções. Mas elas finalmente haviam me atingido com um tapa na cara. Não podemos fugir de nossas emoções, cedo ou tarde elas nos encontram e caímos totalmente em sua teia, nos tornamos reféns delas. Pela primeira vez na vida, eu não sabia o que iria acontecer. O destino era apenas uma nuvem nebulosa de possibilidades.
Mal cheguei a meu quarto, fui surpreendida por uma voz.
-- Aí está você!
Senti-me sendo “pega no flagra”. Virei de costas para dar de cara com Becca que parecia furiosa.
-- Oi, Becca -- Falei, culpada.
-- Lisa, por Deus, onde você andou?
Pedi a Becca para entrarmos em meu quarto. O fato de eu ainda está usando a roupa do dia anterior, descabelada e descalça não passou despercebido por minha amiga. Ela arregalou os olhos, e perguntou:
-- Lisa, onde você passou a noite, melhor dizendo, com quem?
-- Com ninguém... quer dizer, sei lá, Becca. Acordei na praia, acho que foi a bebida.
Becca aproximou-se de mim, examinou meu rosto, meu cabelo e depois apontou um dedo acusador para meu pescoço.
-- E esse ch*pão aqui no seu pescoço, não vá me dizer que também foi a bebida?
Corri até o espelho e observei, chocada, o pequeno hematoma em minha pele, estava ali, embora não tão perceptível não passou batido pelos olhos astutos de Becca.
-- Então, Lisa, me diz com quem passou a noite?
Becca não parecia muito animada com a situação. Ela odiava ser a última a saber das coisas. Eu não queria mentir para ela, mas era a única maneira, não saberia explicar o que estava acontecendo entre mim e Ágata. Por enquanto, decidi não contar nada a Becca.
-- Becca, já disse que não lembro muito da noite passada. Já se esqueceu da minha festa de dezesseis anos? Pois é, aconteceu a mesma coisa.
Ela com toda certeza não havia esquecido minha “pirotecnia digestiva” que me causou amnésia pós-alcoólica naquela ocasião.
-- Quer dizer que você nem lembra com quem andou tendo uns amassos? -- Desconfiou Becca - Tudo bem. Hoje é outro dia e temos muita festa pela frente. A propósito, feliz aniversário.
Becca me abraçou. Fiquei emocionada com sua demonstração de afeto o que só me fez sentir cada vez mais culpada por mentir para ela.
-- Amo você, Lisa.
-- Também te amo, sua boba. -- Disse eu.
Becca não conseguiu segurar as lágrimas.
-- Odeio quando fico emotiva. -- Disse ela -- O melhor é você ir se aprontar logo Lisa, seus pais estão vindo e quero ver você linda hoje, afinal, esse é seu dia.
Fiquei sozinha novamente, me despi e fui direto para o chuveiro. Deixei a água morna escorrer por meu corpo e fechei os olhos. Que loucura, disse baixinho tocando o lugar em que os lábios dela haviam, literalmente, deixado sua marca. Impossível não lembrar o arrepio que isso me provocara. Impossível não fechar os olhos e pensar nela, em seu cheiro, sua pele. Ágata, sussurrei. Deixei minha mão percorrer meu corpo enquanto lembrava seu toque, as sensações ainda vívidas em mim. Com ousadia, acariciei meus seios sentindo os mamilos enrijecerem. Lembrei a língua dela enquanto os sugava com vontade. Senti despertar em mim o prazer adormecido, como uma corrente elétrica circulando por meu corpo. Sem mais me conter, me entreguei àquelas sensações. Eu já não tinha controle sobre mim. Levei uma das mãos ao meu sex* que latej*v* e me permiti tocá-lo, fazendo movimentos suaves e constantes. Imaginei como seria ser tocada ali pelos lábios dela. Logo, senti-me explodir num gozo arrebatador. Minhas pernas fraquejarem e me apoiei na parede com as mãos, a água ainda escorrendo pelo meu corpo, sentindo as batidas do meu coração se acalmarem enquanto minha respiração voltava ao normal.
Só então me dei conta do quanto estava perdida. Perdidamente apaixonada por Ágata.
***
Passei o resto da manhã ocupada em companhia de meus pais, eles estavam muito felizes e me deram muitos abraços, mamãe até chorou dizendo que seu bebê havia crescido. Fomos caminhar na praia e falamos sobre o futuro. Meus pais queriam que eu escolhesse o melhor para mim. Qualquer que fosse minha escolha, se eu estivesse feliz, eles também estariam. Almoçamos em casa com os demais convidados, Becca havia programado um verdadeiro banquete de aniversário.
Tremi ligeiramente quando vi Ágata se juntar a nós. Minha mãe ficou feliz em vê-la e convidou Ágata para sentar ao seu lado à mesa, nossos olhares se cruzaram em um momento para depois o baixarmos constrangidas. Todas as sensações do dia anterior se tornaram presentes. Enrubesci ao lembrar o que havia feito no chuveiro e evitei olhar para Ágata. Após o almoço, fui descansar em meu quarto. Deitada em minha cama, eu só conseguia pensar nela, e com sua lembrança me vinha uma sensação de leveza e de felicidade indescritíveis. Parafraseando um filme que assisti certa vez, ela fazia meu coração bater mais rápido e mais lento ao mesmo tempo.
Pela tarde, enquanto os outros convidados foram divertir-se na praia pedi a Becca para ajudá-la com os preparativos para a festa que ocorreria à noite na piscina.
-- Ficou louca? A aniversariante não deve se incomodar com os preparativos da festa, Lisa. De onde tirou essa ideia?
Becca foi bem enfática e me mandou ir fazer companhia a meus convidados. Na verdade, eu não queria me encontrar com Ágata agora. Eu não sabia como falar com ela sobre a noite passada, embora mais cedo ou mais tarde isso tivesse que acontecer. No fim das contas, não precisei me incomodar com isso, pois Ágata não estava na praia com os demais. E muito menos a vi durante o resto da tarde. Sem dúvida, este era mais um de seus sumiços. E como das outras vezes, esperei pelo seu retorno.
Enfim, chegou a hora de me produzir para a “grande noite”. Becca havia planejado uma festa mais formal, por isso, pus um vestido que ganhei de minha mãe especialmente para a ocasião. Becca me ajudou com a maquiagem e com o cabelo.
-- Pronto. -- Disse ela, quando acabou -- Minha obra-prima. Lisa, como disse você é a aniversariante mais linda.
Virei-me para me olhar no espelho e me vi caprichosamente arrumada. Sem um fio de cabelo fora do lugar e com uma maquiagem impecável. Uma verdadeira boneca Barbie. Agradeci a Becca por seu trabalho. Hoje todos os olhares realmente estariam sobre mim e eu precisava desempenhar bem o meu papel de protagonista dessa festa.
***
Estava tudo muito lindo, em torno da piscina havia cordões com luzes pendurados que piscavam em todas as cores. Um bar improvisado servia todo tipo de drinques. Uma banda pop havia sido chamada para tocar e quando cheguei algumas pessoas já caíam na pista.
Como em todos meus aniversários, recebi muitos presentes. Quase tinha me esquecido dessa parte que só não era mais constrangedora do que o momento de cantar “parabéns pra você”. Nunca fui boa para receber presentes, por isso ficava muito sem graça e agradecia efusivamente a todos. Dessa vez, ganhei roupas, sapatos e também livros. Érica, do clube de matemática, me presenteou com um livro de cálculo avançado. Becca que estava ao meu lado torceu a cara e quando estávamos sozinhas ela comentou:
-- Nunca poderia imaginar presente pior.
-- Eu achei o máximo -- Falei, excitada.
Becca aproveitou para entregar-me o seu presente. Era uma bolsa de uma marca famosa, que devia ter custado os olhos da cara. Era costume meu e de Becca sempre nos presentearmos mesmo sem uma ocasião especial. Da parte dela era sempre algo extravagante.
-- Obrigada, Becca, adorei, é muito bonita.
-- Não me engana Lisa, acho que você gostou mais daquele livro de matemática idiota. Mas como dizem, o que vale é a intenção.
-- Para disso, Becca, eu gostei de verdade.
Becca me acompanhou até o bar, procurei algo leve para beber. Apesar de grande variedade de bebidas, preferi optar por um refrigerante. Desta vez, eu precisava estar sóbria para tentar ter controle de minhas emoções. Becca ficou de paquera com o barman que fazia malabarismos com as garrafas para servir as bebidas tal qual as meninas de Show bar. Enquanto isso, eu fingia me concentrar em meu refrigerante. Disfarçadamente, eu olhava em volta procurando avistar Ágata. Comecei a ficar preocupada se ela viria. Para espantar meu nervosismo, observei a banda, era composta por quatro jovens rapazes e uma garota com estilo de voz bastante potente que era a vocalista. No momento, eles tocavam uma música internacional muito bonita, foi fácil me prender a letra, quando Becca me distraiu:
-- Aquela é a Ágata? -- Disse ela, boquiaberta.
-- Onde? -- Perguntei, acompanhando seu olhar. Foi quando a avistei se aproximando. Tive que tomar mais um gole de meu refrigerante para me recuperar do susto.
Ágata usava um vestido preto, colado a seu corpo esguio e que deixava a mostra seu belo par de pernas. Seus cabelos longos estavam soltos, no rosto uma maquiagem leve. Ela estava se aproximando e meu coração parecia querer sair pela boca, se Becca pudesse ouvir suas batidas agora eu com certeza me denunciaria.
-- Essa garota me surpreende a cada dia. -- Falou Becca.
Assenti, mas evitei comentar qualquer coisa.
-- Ela está vindo para cá -- Constatou Becca - Melhor deixar vocês, vou checar como anda a festa.
E virando-se para o barman:
-- Beijo. Até mais tarde.
Becca se retirou.
Ágata estava perto, caminhava confiante, mas algo em sua voz quando falou denunciou que ela também estava nervosa.
-- Olá, Elisa. Mais uma vez, feliz aniversário...
Ela me abraçou. Um abraço seco, rápido. Mas mesmo assim pude notar que ela também tremia.
-- Obrigada -- Disse, tímida.
Então reparei que ela trazia algo na mão.
-- Não é grande coisa, mas é de coração -- Disse ela, sem graça e me estendeu um pequeno embrulho.
Sentia que ia explodir de emoção. Desembrulhei o presente e me deparei com uma caixinha. Com os dedos trêmulos, abri-a.
-- Ágata, isso é... É muito lindo, obrigada.
Segurei a corrente entre as mãos, o pingente era lindo. Espantei-me ao constatar que o cordão era de ouro.
-- Deve ter lhe custado uma nota. Eu não posso aceitar.
-- Isso não é nada, Elisa, você merece o melhor. Por favor, aceite. Além do mais, é uma ofensa não receber um presente...
-- Eu sei, é só que...
Desisti de tentar ser modesta. Ela tinha razão, seria uma ofensa. Ao mesmo tempo, estava lisonjeada. Pedi a ela para me ajudar a colocá-lo. Senti seus dedos roçarem em minha pele e suspirei fundo. Ágata não disse nada, mas eu podia ouvir sua respiração.
-- Por onde andou o dia todo? -- Perguntei, depois de um tempo.
-- Bem, fui explorar um pouco. Essa região é muito linda.
-- Sério? Eu adoraria ter ido com você.
-- Desculpe, eu não poderia sequestrar a aniversariante, não é?
Sorri.
-- Tem razão, Becca te mataria, depois mataria a mim.
-- Não apenas por isso, eu precisava de um tempo para ficar sozinha.
-- Entendo. -- Falei desviando o olhar.
Ficamos em silêncio. Eu sentia tantas coisas ao mesmo tempo que não poderia explicar. Ela também parecia confusa com nossa situação.
-- Ágata, acho que temos que conversar...
-- Tem razão, mas aqui não é hora nem lugar. -- Disse ela, séria -- Que tal mais tarde?
-- Tudo bem.
-- Eu procuro você -- Prometeu ela.
Um pouco depois, Becca subiu ao pequeno palco montado para a banda se apresentar, ela pegou o microfone e pediu a atenção de todos.
-- Bem, como todos aqui já sabem esta é uma ocasião muito especial. Estamos aqui para parabenizar nossa querida amiga, Elizabete Freitas.
As pessoas presentes deram uma salva de palmas, alguns assobiavam animadamente. Eu simplesmente não sabia onde esconder a cara.
-- Conheço essa garota desde quando usava fraldas. -- Continuou ela para meu maior embaraço -- E posso dizer que não existe pessoa mais doce nesse mundo...
Mais palmas. Foi então que Becca me chamou para ir ao palco.
Assim como os demais, Ágata me encorajava a ir.
-- Você deve está adorando isto -- Comentei, ao seu ouvido.
-- Nem faz ideia do quanto -- Respondeu ela, brincalhona.
Mesmo com o rosto fervendo, caminhei até lá.
-- A aniversariante gostaria de dar algumas palavrinhas?
Era tudo o que eu não queria, pensei. Sem escolha, agradeci a todos por comparecerem e disse que me sentia muito honrada em tê-los naquele momento, o que em parte era verdade, a maioria das pessoas ali, pelo menos até onde sabia, eram pessoas legais. Agradeci também a meus pais e a Becca pela excelente organização de tudo.
Depois de meu discurso, Becca convidou todos a cantarem parabéns para você. Aquele momento onde você não sabe onde enfiar a cara, não sabe se bate palmas ou sai correndo. Depois Becca chamou meus pais. Pensei que ela também faria eles discursarem, em vez disso meu pai disse:
-- Filha, você achou que iríamos esquecer seu presente?
Por essa eu não podia esperar. Todos os olhares se voltaram para uma das portas que dava para as garagens enquanto esta se abria lentamente. Olhei estupefata para um carro luxuoso novinho em folha. Eu havia aprendido a dirigir há algum tempo com meu pai, mas ainda não tinha habilitação. Agora, com a maioridade isso seria possível. O carro era um exagero. Deveria ter custado os olhos da cara. Mas o veículo teria sua utilidade, eu não poderia reclamar.
A banda recomeçou a tocar e a diversão continuou. Meu pai fez questão de mostrar o carro. Após a surpresa e agitação criadas em mim, tentei avistar Ágata, mas ela não estava lá. Lembrei sua promessa de me procurar mais tarde. A música estava realmente boa, então decidi aproveitar minha “grande noite” para dançar como se não houvesse amanhã. Vibrei bastante quando a banda cantou One Way or another da banda Blondie. Precisava extravasar de algum modo minha ansiedade pelo momento que se aproximava. O momento de encarar a verdade com Ágata.
Por volta de uma hora da manhã, meus pés doíam e meu corpo era puro cansaço. Meus pais já haviam se retirado há um bom tempo e algumas pessoas caíram na piscina de roupa e tudo, enquanto outros subiram para a praia.
Exausta, me joguei em uma cadeira próxima e lá fiquei. Não vi Becca em lugar algum. Suspeitei que ela estivesse por aí com o barman bonitão a quem ela flertava descaradamente durante a festa. O tempo havia passado, a festa já chegava ao fim e nada de Ágata. Comecei a ficar bastante irritada com ela que não aparecia. Ela parecia querer me torturar com aquilo. A banda parou de tocar e foi substituída por uma caixa de som que tocava músicas melosas, de dor de cotovelo. Definitivamente queriam me torturar ainda mais. Aquela noite, quase todo mundo estava acompanhado de alguém, não sei se era a música, o clima ameno, o luar no céu cheio de estrelas ou em alguns casos, o álcool. Mas, enfim, o amor estava no ar.
Foi então que me deparei com uma cena inusitada e um pouco curiosa. De onde eu estava vi a vocalista da banda, a de cabelo esquisito que cantava como Avril Lavigne, perder-se a caminho da praia, acompanhada de ninguém menos que Gabi.
-- Ela não perde tempo mesmo -- Falou uma voz conhecida ao meu ouvido, com um singelo tom de sarcasmo. Olhei para trás, sobressaltada. Deparei-me com dois grandes olhos pretos, me observando com interesse.
-- Ágata, você me assustou! -- Disse eu, atordoada.
-- Desculpe. Não foi minha intenção. Só que você estava distraída e eu não sabia como me aproximar -- Explicou ela, preocupada.
-- Tudo bem. Só não faça mais isso. -- Falei, bastou olhar para ela para que toda minha irritação por sua demora passasse. Por que tinha que ser tão linda e olhar para mim com tanta doçura? -- Ágata, por onde andou?
-- Escuta, Elisa por que não vem comigo caminhar pela praia. Podemos conversar lá. -- Sugeriu ela sem responder minha pergunta.
-- Claro que sim. Vamos, mas antes acho melhor irmos buscar uns casacos. Está esfriando...
***
Caminhamos pela praia, sentindo a brisa fria que vinha do mar. Andávamos descalço e a areia se enroscava em nossos dedos dos pés. Escolhemos um lugar mais afastado e sentamos em frente ao mar.
-- A lua está linda! -- Falei contemplando o mar que refletia a claridade da lua -- Sabe, sempre gostei do mar, da sua vastidão, faz a gente se sentir tão pequenos e ao mesmo tempo tão esperançosos. Sabe, vejo a criação de tudo isso como um milagre. Dizem que Deus está nos detalhes...
Ágata me olhava atentamente, depois desviou o olhar para o mar.
-- Nunca acreditei muito na vida -- Falou ela, ressentida. Depois disse baixando a voz -- Até a noite passada...
Fiquei calada, contemplado o mar e deixei que ela continuasse.
-- Depois que meus pais se foram deixei de acreditar nessas bobagens de milagre. Nessa “força” que criou o universo. E se ela existisse, não gostava de mim. Mas, não sei, de uns tempos para cá, acho que talvez possa haver algo para mim, algum propósito nisso tudo que eu não sei qual é. Mas que pode ser algo bom.
Então, ela levantou os olhos para mim e sorriu. O sorriso mais lindo já visto. Ela sustentou o olhar, senti estar corando, mas ainda assim não fugi. Observei o brilho do seu rosto sob a luz do luar. Ela me olhava como se sua vida dependesse daquele momento e eu queria mais do que tudo puxá-la para perto de mim.
-- Acho que eu precisava sobreviver, Elisa. E viver o bastante para conhecer você.
Eu tremia por inteiro.
-- Ninguém nunca havia me dito algo assim antes, Ágata.
Ficamos em silêncio, ouvindo o barulho do vento. Tive a impressão de ouvir ao longe uma velha canção de amor.
-- Sua festa estava ótima -- Elogiou Ágata, quebrando o silencio.
-- Você diz isso, mas não ficou nem a metade dela. -- Comentei com uma pontada de amargura.
-- Na verdade, eu estava lá o tempo todo, ao longe, observando...
-- Sério? Por que não quis curtir a festa?
-- Eu estava reunindo coragem para falar com você. -- Disse, sincera -- Elisa, sobre o que aconteceu entre nós foi... foi...
Ela parecia travar uma luta interna.
-- Confuso -- Falei, cautelosa.
-- Eu quis dizer maravilhoso -- Falou ela, finalmente. -- Para mim, foi maravilhoso.
Sorri, tímida.
-- Eu nunca... você sabe. -- Disse eu, hesitante.
-- Nunca havia ficado com uma garota? -- Interrompeu Ágata, de repente.
Confirmei com um aceno de cabeça.
-- Não se preocupe com isso, eu também não.
-- O que? -- Perguntei abruptamente sem esconder minha surpresa -- Eu imaginei, sei lá, como sou idiota...
Ágata riu da minha confusão.
-- Mas você já gostou de alguma garota? – Perguntei, curiosa. Eu sentia que pela primeira vez havíamos quebrado o gelo entre nós e que poderíamos ser cem por cento honestas uma com a outra.
-- Você quer saber se já me senti atraída por uma garota alguma vez? Bem, teve uma vez que gamei numa professora no colégio, mas foi apenas uma paixonite passageira.
-- Então foi só dessa vez?
- Até você entrar em minha vida. E como que por mágica, isso aconteceu. Simplesmente aconteceu.
-- E o que vamos fazer agora?
Então, ela se aproximou de mim e me abraçou, com ternura. Senti seu calor e quis me perder em seus braços.
-- Agora? Bem, acho que agora não precisamos nos preocupar com nada.
Ágata me dizia isso com toda a doçura do mundo. Entendi o que ela queria dizer, pois naquele momento nada mais existia a não ser nós, o resto do mundo não existia e as preocupações sobre o futuro muito menos. Por isso, procurei seus lábios e a beijei sem pudor. As sensações da noite passada retornaram, sentia meu corpo inteiro desejando o dela. Minhas mãos deslizavam por seu corpo, ela sentia meu desejo e respondia com igual intensidade. Quando finalmente nos soltamos, ainda estávamos ofegantes. Deitamo-nos na areia abraçadas e esperamos amanhecer. Depois, caminhamos de volta para a casa, lá tivemos que nos separar, deixei Ágata em seu quarto e fui para o meu. Estava com muito sono e caí na cama sem trocar de roupa, acho que adormeci instantaneamente. E dormi um sono sem sonhos.
Fim do capítulo
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 16/09/2022
Olá! Tudo bem?
Gostando da interação suave e pouco turbulenta, por enquanto, de Ágata e Elisabete, mas pela quantidade de capítulos que você, Autora, disse que a história tem, prevejo muitas idas e vindas, já que a palavra ''trágico'' foi mencionada.
Espero que o final seja bom para as duas.
É isso!
Post Scriptum:
''Mas só de ouvir a sua voz eu já me sinto bem
Mas se é difícil pra você tudo bem
Muita gente se diverte com o que tem
Só de ouvir a sua voz eu já me sinto bem
Mas se é difícil pra você tudo bem
Muita gente se diverte com o que tem
Se diverte com o que tem
Só por uma noite''
''Só Por Uma Noite'', canção de Charlie Brown Jr.
Compositores: Alexandre Magno Abrão/Marco Antonio Valentim Britto Junior/Renato Eres Barrio. Letra De Só Por Uma Noite © Sony/ATV Music Publishing LLC.
Resposta do autor:
Olá! Tudo bem?
Obrigada pelo comentário! Sim. Tem algo trágico nessa história, mas considero um bom final.
Não tantas idas e vindas assim. Logo conseguirei postar tudo!!
;)
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