Capitulo 6
ELISA
-- Que história é essa que você bateu na Gabi?
Ágata me olhou sem compreender. Ela caminhava pelo corredor da escola quando a avistei, estive procurando por ela para lhe perguntar sobre o que fiquei sabendo. Foi na manhã de segunda-feira, durante o intervalo das aulas, eu estava comprando um lanche quando encontrei com algumas meninas do time que cochichavam sobre algo, os boatos eram de que Ágata e Gabi haviam “saído no tapa” na sexta-feira no banheiro do restaurante em que fomos comemorar nossa vitória. Gabi exibia um olho roxo, o que só confirmava os boatos. Pelo visto, ela havia levado a pior. Lembrei que naquela noite, Ágata havia surgido bastante exaltada antes de irmos embora, apesar de ela ter dito que estava tudo bem, eu sabia que tinha algo errado, parecia que sempre havia algo errado quando se tratava de Ágata. Fiquei chateada por ela não ter me dito nada e por ser a última a saber de tudo. Por isso, quando finalmente a encontrei, não consegui medir as palavras.
-- Eu não fiz nada, Elisa. -- Defendeu-se Ágata.
-- Não fez nada? -- Perguntei, exaltada -- Você já viu como está o olho da Gabi?
Ágata tentou apaziguar a situação:
-- Elisa, calma. Não precisa ficar tão chateada.
-- Por que você não me disse nada sobre sua briga com a Gabi? Será que não confia nem um pouco em mim? -- Percebi que estava quase gritando, coisa que eu nunca fazia, respirei fundo e disse -- Eu sou totalmente sincera com você, Ágata, mas você não me dá abertura. Eu precisei saber de tudo pela boca dos outros...
Falei o que estava engasgado em mim. Ficamos em silêncio, Ágata me olhava sem compreender. Esperei que ela falasse algo, mas ela parecia estar sem palavras. Não pensei duas vezes, dei-lhe as costas e deixei-a sozinha. Talvez ela pudesse refletir sobre o que estava fazendo com nossa amizade, mas tinha sérias dúvidas se ela sabia como funcionava uma amizade. Na verdade, eu não sabia porque eu estava tão chateada, ela tinha o direito de decidir o que queria ou não me contar, mas o fato de ela não contar demonstrava que eu não era tão importante assim para ela. E isso me feria de uma forma que eu não conseguia dimensionar.
As minhas manhãs eram melhores desde que ela entrou em minha vida. Antes eu não esperava nada do colégio além de professores e tarefas de casa. As pessoas tampouco chamavam minha atenção. Mas Ágata era diferente, ela me fizera ter algo pelo o que esperar. Sua simples presença alterava meu dia. Não que ela fosse a pessoa mais animada do mundo, ao contrário, ela chegava todas as manhãs com aquele seu ar desinteressado. Eu gostava de sua autenticidade, Ágata não fingia nada para agradar as pessoas. Passei a nutrir por ela um sentimento novo que eu não sabia definir qual era, embora fosse diferente do que sentia por meus pais e de meu amor de irmã por Becca. Eu me importava com ela e queria que ela também se importasse comigo.
***
Tivemos treino de vôlei pela tarde. No vestiário, avistei Ágata, ela tentou se aproximar de mim, mas eu não lhe oportunidade, ainda estava bastante chateada. Dessa vez, se ela realmente queria falar comigo, teria que esperar.
Durante o treino, o clima ainda estava tenso entre Ágata e Gabi. Ninguém conseguia entender porque estavam se tratando tão mal. Gabi acertou uma bola de propósito no rosto de Ágata. A treinadora Helena foi obrigada a mandar as duas para o vestiário mais cedo e avisou que nenhuma delas participaria dos jogos até fazerem as pazes.
-- Temos que dá um jeito de elas se acertaram, não podemos ficar sem as duas para o próximo jogo. -- Comentou Natália.
Todas nós ficamos tristes com aquela situação que poderia afetar nosso rendimento no campeonato e abalava nossa união enquanto time. As meninas especulavam sobre o que poderia está acontecendo entre as duas, Gabi tinha um péssimo gênio e Ágata era sempre muito reservada. O que concordávamos era que elas precisavam fazer as pazes o quanto antes.
Depois do treino, eu me preparava para ir embora, quando avistei Ágata sentada sozinha numa arquibancada. Algo me dizia que ela esperava por mim, por isso, deixei meu orgulho de lado e fui até onde ela estava.
-- Sinto muito, Elisa. -- Falou Ágata quando sentei ao seu lado -- Você tinha razão sobre o que disse, eu não dou abertura. Por isso, sempre acabo afastando as pessoas.
-- Sinto dizer, Ágata que dessa vez você se deu mal - Falei - porque não sou uma pessoa tão fácil de afastar.
Ágata sorriu. A essa altura minha raiva já havia passado, acho que fui muito dura com ela, no fim das contas.
-- Olha, eu sou sua amiga, Ágata. Eu só queria que você soubesse disso. Você pode contar comigo quando precisar.
-- Obrigada, Elisa.
Ágata esfregava as mãos, nervosa, acho que ela queria me dizer algo mais e estava reunindo coragem. Decidi quebrar o silêncio:
-- Então, porque não me contou nada sobre a Gabi?
-- Não há muito para contar -- Disse Ágata -- Por outro lado, fiquei com medo do que você iria pensar de mim.
-- E o que eu poderia pensar de você senhorita Ágata Hoffman, que é uma encrenqueira?
-- Eu não sou encrenqueira -- Exclamou Ágata -- Os outros é que implicam comigo. Mas dessa vez, não tive culpa pelo que aconteceu. Falei a verdade quando disse que não fiz nada.
-- Então, me diz Ágata. O que aconteceu realmente naquele dia?
-- A doida da Gabriela inventou essa história que eu bati nela. Sabe-se lá onde ela conseguiu aquele olho roxo, o mais provável é tenha caído e se machucado de tão bêbada que estava. Ela me seguiu até o banheiro e me provocou, mas eu me desvencilhei dela e a deixei lá.
-- Por que ela te provocou? -- Perguntei, impressionada.
-- Porque ela é louca, desde que cheguei nesse colégio que ela me persegue. Digamos que ela quer “me jogar na parede e arrancar toda a minha a roupa”, palavras dela. -- Disse Ágata, enrubescendo.
-- Nossa! – Disse, embora não estivesse muito surpresa, Gabi sempre olhara diferente para Ágata. -- Por que não tenta explicar para ela que não foi sua culpa ela ter se machucado?
-- Eu tentei, Elisa, mas ela diz que vai manter a história a menos que eu...
As palavras morreram em sua boca.
-- Ágata, ela não pode obrigar você a fazer nada que você não queira. -- Falei, compreensiva.
-- Eu sei, mas você entende o que isso significa? Eu vou ficar fora dos jogos, a treinadora Helena deixou bem claro que tínhamos que resolver isso se quiséssemos jogar. -- Desabafou Ágata.
-- Tem que haver um modo de fazê-la mudar de ideia. Você não pode ceder às chantagens dela, Ágata. -- Falei, enfática.
-- Seria a última coisa que eu faria -- Falou Ágata, convicta. -- Nunca dê ao inimigo o que ele quer, isso só o torna mais forte.
Fiquei feliz com a atitude de Ágata. De repente tive uma ideia, e disse:
-- Precisamos vencê-la pelo cansaço.
-- Como assim? -- Perguntou Ágata, intrigada.
-- Querendo ou não, essa situação também prejudica a Gabi, pois a deixa fora do time. Olha, eu conheço a Gabi há um bom tempo e sei que ela adora esse time, ela não vai conseguir ficar de fora por muito tempo, escreve o que eu digo.
-- Essa é uma boa opção. Espero que esteja certa, e isso se resolva o quanto antes. Eu também não quero ficar longe do time, Elisa.
-- E só Deus sabe o quanto precisamos de você, Ágata.
Ela foi modesta e disse que eu estava exagerando.
-- O que acha de conhecer minha casa nesse fim de semana? – Perguntei, mudando de assunto.
-- Eu adoraria. -- Respondeu ela, surpresa com a pergunta -- Mas e os seus pais, não iriam se importar?
-- Que nada. Falei de você para minha mãe e ela quer muito conhecê-la.
-- Sério? -- Ela arregalou os olhos -- Você não poderia arranjar outro modo de me deixar mais constrangida, Elisa.
-- Acho que já te conheço suficiente para pensar em outros modos de te deixar constrangida, Ágata -- Disse, divertida.
Aquelas palavras tiveram efeito sobre Ágata que de repente ficou vermelha como um pimentão. Essa era uma das coisas que me encantavam em Ágata, como ela sempre reagia timidamente as minhas brincadeiras.
-- Falando sério, você vem mesmo?
-- Claro que sim, me sinto honrada, Elisa.
Pelo tom de voz dela, e pelo jeito sincero que me olhava, entendi que ela falava a verdade e estava realmente feliz com o convite.
-- Você é que nos honra com sua presença Ágata, nunca se esqueça disso.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]