CAP. 24 – Saudades
Acordei cedo na segunda, desci para tomar café com meu avô e de lá seguimos para a empresa, não estava com o humor muito bom, não consegui falar com Sam na noite passada, e a saudade estava apertando no peito, segui pela avenida com ele, praticamente calada, dei apenas um bom dia para Ellen quando chegamos e fui para minha sala onde me enterrei na papelada e só parava para tomar uma dose ou outra de café.
Passei a mão na cabeça organizando as planilhas de vendas das filiais da P&H Coffee, eram seis dentro do país. Além da filial na Espanha, e agora em Portugal. Estava cansada já quando meu celular tocou, olhei o visor e pela primeira vez naquele dia meu sorriso bobo apareceu, atendi:
– Bom dia, amor!
– Bom dia meu bem, como você está?
– Com dor de cabeça por conta dessas planilhas todas aqui – sorriu do outro lado, estranhei aquele sorriso tirando os olhos da tela do computador perguntando – aconteceu alguma coisa Sam, Diana está bem? Dona Eliza?
Hesitou um pouco, mas disse em seguida com a voz arrastada:
– Estamos bem sim, porque a pergunta?
– Estou estranhando sua voz.
– Deve ser cansaço, não dormi bem essa noite.
Levantei seguindo para a janela e olhei para os prédios na minha frente processando o que ela disse, ficamos em silêncio por algum tempo depois disse manhosa:
– Estou com saudades!
– Também estou Bia, Diana então, não para de falar de você, o que fez com minha filha?
Sorri feliz, gostei muito da pequena maravilha também, não via a hora de estarmos juntas novamente, Samantha e sua família trouxe para minha vida a paz que eu precisava. Há muito não me divertia tanto, estava pensando nisso quando ouvi a voz dela do outro lado e sorri dizendo:
– Desculpa Sam, não ouvi o que disse.
– Percebi, estava voando? – Sorriu, disse feliz:
– Pensando na felicidade que você trouxe para a minha vida depois que nos conhecemos.
– Você me faz muito feliz também, amor...
Hesitou novamente, sua respiração estava pesada, perguntei preocupada:
– Tem certeza que está tudo bem Sam? Estou sentindo que aconteceu alguma coisa! – sorriu triste do outro lado dizendo:
– Deve ser saudades de você amor, me acostumou muito mal! – estava chorando?
– Own amor, não faz assim – estava realmente preocupada e disse decidida – vou para Guarulhos, não estou gostando de ver você assim.
Ela ficou em silêncio, sua respiração se alterou e eu a chamei duas vezes, na terceira ela falou:
– Bia, você não pode vir para Guarulhos, não agora! Por favor, me promete!
– Sam, o que aconteceu, está me assustando!
– Nada, eu só... eu só... Só preciso falar de você para meu irmão, ele não sabe que sou lésbica! Estou triste por conta disso, amor.
– Ah, é isso? Nossa, você me assustou! – inspirei aliviada, sorri dizendo: – Não sabia que morava com seu irmão?
– Não moramos juntos, quero dizer, ele mora próximo, – sorriu nervosa – mas preciso conversar com ele sobre nós primeiro, tá bom?
– Tudo bem meu amor, então não fica triste não, na próxima semana nos veremos, e prometo te ligar mais tarde quando sair da empresa!
– Eu ficarei bem... Bom trabalho, meu amor!
– Obrigada, dá um beijo na pequena maravilha e um abraço na dona Eliza, estou com saudades delas também!
– Eu dou, meu amor!! Adoro você!
–Também te adoro, Sam! Até mais!
Desliguei o celular e ainda fiquei olhando para a janela, o telefone tocou. Fiquei naquela ligação por quase meia hora, em seguida Ellen bateu na porta, entrou perguntando:
– Você não vai almoçar?
Olhei para ela intriga e depois para o relógio, passava das 14h, me admirei passando as mãos no rosto dizendo cansada:
– Nossa, nem vi as horas passarem!
– Pois é, e por conta disso que vim avisar, quer que eu peça alguma coisa para comer aqui?
– Você é um anjo sabia? Agradeço, preciso terminar com essas planilha, mas estou sentindo falta de algumas.
– Te passei todas que me enviaram.
– Sim, mas está faltando duas, uma de Recife e outra de Pernambuco.
– Vou pedir seu almoço e verifico para você!
– Depois veremos isso, tenta contato por favor, com a filial de Recife, fala com Daniele Ribeiro, diga que quero falar com ela, por favor!
– Sim, farei isso agora!
– Obrigada, Ellen!
Meu almoço chegou e comi ali mesmo em minha sala, não estava muito afim de sair. Até porque tinha esse hábito, culpa do meu avô, que sempre me chamava para comer com ele em sua sala, e agora adquiri a mesma mania. Depois de comer, tentei relaxar um pouco no sofá e voltei para aquelas planilhas, passava um pouco das 17h quando Ellen me ligou:
– Bia, disseram que Daniele Ribeiro está de licença maternidade, aproveitei e falei com Alessandra, a administradora responsável, e pedi os documentos.
– Obrigada, Ellen – olhei uma foto sobre a mesa e disse – ainda assim quero falar com ela! Liga no celular pessoal e me passa a ligação, por favor!
– Certo!
Cerca de dez minutos, Ellen passou a ligação, agradeci e peguei o telefone:
– Dani?
– Oi Bia, é o Junior, tudo bem?
– Estou bem! Você e Dani, como estão?
– Estamos bem, ganhamos um bebê.
– Como é que é?
Estava distraída e voltei a atenção para ele que dizia bobo do outro lado:
– Uma menina, Bia! Perfeita! – Estava eufórico do outro lado, foi impossível não rir, continuou: – A Dani foi maravilhosa, ambas são.
– Hei seu babão, porque não me avisou antes?
– Foi tudo muito rápido Bia, ontem ela sentiu umas dores e pensamos que fosse alarme falso, mas quando chegamos na maternidade já estava quase nascendo.
– Se demorasse mais um pouco teria ganhado o bebê em casa.
Sorri e ele gargalhou concordando, complementou:
– E você acredita que a doida da sua amiga nem queria ir para o hospital?
– Mentira?
– Poxa, você a conhece, quando coloca algo na cabeça não tira mais.
– Vou puxar a orelha dela quando for aí – ele gargalhou do outro lado, perguntando:
– Queria falar com ela não é?
– Sim, fiquei preocupada quando minha assistente tentou contato mais cedo.
– Bom, eu acabei ficando com o celular dela, estou trabalhando e vou mais tarde buscá-las no hospital, quando estivermos em casa te ligo, pode ser?
– Pode sim, vou ficar aguardando ansiosa.
– Que bom que ligou Bia, outro dia estava falando com a Dani que você tinha sumido.
– Cheguei de viagem há poucas semanas meu amigo, passei uma temporada na Espanha, estou em falta com vocês, desculpa.
– Tudo bem Bia, vamos combinar e você vem nos visitar no próximo feriado.
– Vamos combinar sim, – Ellen entrou avisando que meu avô estava me esperando e voltei ao telefone com meu amigo. – Junior, preciso ir agora, me diz uma coisa, qual o nome da sua pequena?
– Bianca, minha princesa.
– Lindo nome, mas porque não colocaram Beatriz em minha homenagem?
Gargalhei e ele me acompanho, conversamos mais um pouco e nos despedimos.
SamO avião aterrissou, saímos do aeroporto e fomos para casa, Rebeca não estava lá, mas sabia que a qualquer momento chegaria. Disse para Eliza ir tomar banho e se arrumar que eu me encarregaria de Diana, essa que ao tomar banho e o leitinho quente adormeceu, na sala barulho e meu coração disparou. Estava no quarto de Di, não poderia adiar mais, ao chegar lá, ela estava vindo da cozinha, como se tivesse sido atraída para a sala Eliza apareceu e falei com ela:
– Liza, por favor! Fique com Diana e aconteça o que acontecer não saia de lá com ela.
– Dona Samantha...
– Me prometa! – quase supliquei e concordou:
– Sim senhora...
Tocou meu rosto e foi para o quarto de Diana, encarei Rebeca que me olhava com os olhos vermelhos de raiva e disse assim que Liza saiu da sala:
– A vadia da minha mulher achou o caminho de casa, estou impressionada!
– Vai começar a nossa conversa me insultando?
Se aproximou e eu recuei, sorriu dizendo irônica:
– Está com medo?
– Eu não reconheço mais você Rebeca, não é a mesma mulher com quem me casei!
– Mas sou a mulher de quem você quer o divórcio, não é?
– Não nos amamos mais, você não percebe?
– Percebo – gargalhou histérica. – Na verdade, percebo tanto que tive que ouvir uma vadia qualquer dizer que sentia falta da minha mulher na cama com ela!
– Não fala assim da Bia, você não a conhece!
Ela se aproximou e grudou em meus braços, gemi de dor enquanto ela gargalhava em meu rosto dizendo:
– Então estava com a famosa “Tia Bia”? – de seus olhos a fúria e meu medo aumentou: – Não conheço, e torça para isso não acontecer ou a sua preciosa “Bia” poderá se arrepender!
– O que quer dizer com isso, está ameaçando-a? Por acaso você está doida?
E me jogou no sofá, passou a mão nos retratos que tinha na estante e jogou tudo no chão gritando louca:
– Você é minha, Samantha, e se acontecer de você sair mais uma vez dessa casa e levar a minha filha seja lá pra onde for, eu a levarei embora e nunca mais você à verá!
– Você não pode fazer isso comigo, não sou sua prisioneira...
Levantei e fui ao encontro dela desesperada, o que ela estava pensando? Mas, sem esperar virou as costas da mão em meu rosto e caí sentada com os lábios sangrando enquanto ela ria e dizia:
– A partir de hoje ficarei de olho em você, e quando eu não estiver, deixarei alguém em meu lugar e se você sair daqui desse apto com a minha filha você irá se arrepender.
– Eu trabalho Rebeca, você não pode me impedir de ir trabalhar.
– Não estou impedindo você, embora eu possa fazer isso, mas não o farei! Pode sair e se encontrar com o seu “amor” e ficar ao lado dela na cama quando acordar, sua desculpa para viajar é essa, mas voltará sempre para casa, porque terá um motivo para isso.
– Você não pode fazer isso comigo – estava aos prantos.
– Você quem procurou isso, deve estar saindo com ela antes mesmo do nosso casamento ir parar no fundo do poço, você não presta e ela menos ainda.
– Não fala assim da Bia, você não é nem metade da mulher que ela é...
Senti meu rosto arde novamente tamanho o tapa que ela me deu e depois se sentou ao meu lado no sofá, puxou meu cabelo e me prendeu em seus braços dizendo com raiva:
– Não irá contar para ninguém o que aconteceu aqui hoje, nem para a sua preciosa amante e nem para o seu querido irmãozinho – pegou em meu rosto apertando e me fez olhar para ela que sorria diabólica – e diga para Eliza também não o fazer, ou muitos sairão feridos nessa história, me entendeu?
Beijou meu rosto e senti ânsia com aquele contato, passou a mão em meu corpo sussurrando obscenidades em meus ouvidos, minhas lágrimas caíram pelo meu rosto... Ela levantou e antes de sair disse:
– Tenho amigos meus de olho em você e na sua família, e em breve terei gente de olho na sua namoradinha também – riu vitoriosa – não vá contra as minhas ordens Samantha, que nada acontecerá, tudo vai depender de você!
E saiu batendo a porta, soltei a respiração e comecei a chorar, senti braços carinhosos me abraçarem e um sussurrar em meu ouvido:
– Dona Samantha, a senhora tem que fazer alguma coisa, não pode suportar mais isso!
– Ouviu o que ela disse Liza, ameaçou a Bia – chorei desesperada nos braços dela dizendo – isso tudo é culpa minha... culpa minha.
– Não fala assim minha filha, não prevemos por quem iremos nos apaixonar, tem pessoas como a dona Rebeca e tem pessoas como a dona Beatriz, infelizmente não sabemos quem são realmente por dentro, mas sei que podemos confiar na dona Beatriz, ela poderá proteger a senhora...
– Não Liza, eu não posso fazer isso – inspirei fundo, ainda com as lágrimas rolando em meu rosto. – Não vou colocar a Bia em perigo, não irei me perdoar se algo acontecer a ela.
– Dona Rebeca pode estar blefando para colocar medo na senhora!
– Se for isso, ela está conseguindo.
Olhei para Liza querendo acreditar naquilo, mas não. Rebeca estava falando sério, ela chegou minutos depois que nós em casa, e se alguém tivesse contado a ela que havíamos chegado? E se fosse mesmo verdade que tinha alguém me vigiando? Não poderia ir mais para o Rio ou colocaria a Bia em perigo, ainda mais do que ela já está.
Pedi para Liza ficar com a Di enquanto tomava banho, quando olhei no espelho vi o estrago em meu rosto, minha boca estava cortada no lábio superior, e meu olho estava marcado também. Chorei na frente do espelho e no chuveiro sem conseguir conter o meu pranto.
A todo o momento o rosto da Bia aparecia flutuando em minha mente, sorrindo... Com Diana nos braços, as duas sorrindo... Podia ouvir ao longe o riso feliz de minha filha quando a Bia brincava com ela, um sorriso bobo se formou em meus lábios enquanto as lágrimas corriam em meu rosto.
Acalmei meu coração e voltei para o quarto e me arrumei, fui para o quarto da Di, Liza pediu para ficar conosco e eu concordei, tinha o bercinho dela, mas também tinha uma cama grande onde nós três ficamos. Abracei minha filha e fiquei conversando baixinho com Liza, mas logo ela pegou no sono e eu virei a noite acordada. Rebeca chegou em casa passava das quatro da manhã, rezei baixinho para ela não bater no quarto e graças a Deus ela não o fez.
Não atendi as ligações da Bia e nem visualizei suas mensagens, com certeza ela estaria preocupada. Quando amanheceu liguei para ela, era impossível me manter longe, meu peito doía de saudades. E ao ouvir sua voz era como se tudo ao redor não existisse mais, somente eu e ela. Perceptiva, ela notou que eu não estava bem, e tive que inventar uma mentira para não vir até nós, a cada segundo que passava eu estava me afundando mais.
Quando encerramos nossa ligação entrei em prantos, estava com medo... Meu corpo todo tremia se rendendo a ele. Nunca pensei que fosse passar por uma situação assim, tudo o que eu mais amava nessa vida, estava sendo ameaçado, e por dentro me rasgava inteira por saber que a culpa era somente minha.
Fim do capítulo
Boa tarde meninas... Passando para deixar mais um caps... Estou atrasada com as postagens, mas logo me localizo...
Sobre o caps de hoje... Sem comentários :(
Ótimo final de domingo a todas!
Bjs... se cuidem
Bia
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HelOliveira
Em: 30/05/2022
As coisa só pioram para a Sam e as mentiras só aumentam....
Se Rebeca louca chegar na Bia primeiro tudo só vai ficar pior..
Sam sofreu agressão pq não dunucia e some pra ficar com a Bia
Bjos
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