Narrativas mescladas no tempo e no espaço partir de 2019, após o casamento de Patrícia e Abigail. Atenção, pois vários momentos se misturam de acordo com as personagens em destaque.

 

 

Socorro e Paulinho venderam tudo que tinham em São Paulo e se mudaram de mala e cuia para Natal. Os dois trabalham tendo Vera como patroa.

 

--Paulinho, você vai levar Renato e Gleise pra fazer o trabalho que o pessoal de Mossoró tá querendo. Socorro vai comigo e João pra gente terminar a filmagem lá na via Costeira. – Vera orientou

 

--Ah, por que justo eu tenho que ir pra Mossoró? Lá é muito quente! – Paulinho reclamou

 

--Reclama não, sujeito! – Vera abriu a porta do carro e entrou – Tá na hora e daqui pra Mossoró é chão!

 

--Vai, amor! – Socorro orientou ao assumir o lugar da motorista – Toma teu rumo! – ligou o carro e partiram

 

Paulinho entrou no carro que deveria dirigir e partiu com os outros dois colegas de trabalho.

 

 

Érica continuou com seu escritório em São Paulo e vive muito bem, assim como sua família e funcionários. Mantém-se firme e forte cuidando dos interesses de sua melhor cliente.

 

--Oi, querida, tudo bem? – a advogada falava ao telefone – O senhor José Ramiro me procurou pra saber se você teria interesse em investir numa parceria com a empresa de turismo que ele montou em Santo André. – informava – O que ele espera no primeiro momento é contar com um hotel de qualidade pra receber três ônibus de turismo que seguem pra Natal agora em março. A preocupação é porque é o mês do carnaval e a procura é maior, embora vocês aí celebrem o carnaval fora de época. – explicava – Interessa? Quer o contato? – ofereceu – Eu já pesquisei e a empresa é séria. -- garantiu

 

--Oxe, mulher, e como quero! – Abigail exclamou de pronto – E vou te pagar uma comissão por ter me arrumado esse tanto de turista, não sabe?

 

Natasha e Veruska seguem firmes e fortes com seus trabalhos na ONG, contando com a ajuda de pessoas como Patrícia, Abigail, Sayruci, Vera, Latifah, Khadija, Diana, Bruna, Beatriz e algumas autoras da Academia Lésbica.

 

--Ai, nem acredito que a gente conseguiu emplacar esse festival sozinhas! – Veruska exclamou empolgada – O primeiro foi ideia da Say, mas agora que aprendi os caminhos, ninguém me segura! – riu divertida

 

--Mas uma mulher poderosa como você consegue tudo que quer! – Zu Clética respondeu cheia de charme – Sabia que já até escrevi um novo conto inspirado em... – deu uma olhada de cima a baixo – Tudo isso?

 

--Ui... – ficou toda arrepiada – E qual seria o nome desse conto, gentem? – perguntou espremendo os olhinhos

 

--A Pelve Que Habito! – respondeu de pronto – É a história de uma deusa que se faz mulher pra comandar uma ONG LGBT em São Paulo. – caprichava na sedução

 

--Aim... – mordeu o lábio inferior – “E ainda por cima autora, gentem? Me dei bem!” -- pensou

 

As socialites ex amigas de Abigail continuaram com sua vida de esbanjamento e luxo até que os efeitos da crise/pandemia de 2020 trouxeram grandes impactos aos seus negócios, fazendo com que mudassem de conduta. Apenas Quiqui Mendonça continuou por cima, lucrando bastante às custas de prostituição. No entanto, teve um AVC em 2024 e passou a necessitar de cuidados especiais.

 

Laura desistiu de buscar oportunidades através de mulheres ricas e passou a se dedicar à carreira de dermatologia estética. Moema Leão foi enganada por uma falsa socialite mas acabou se apaixonando por ela. As duas vivem juntas numa casa modesta e trabalham em uma loja de roupas.

 

Joelma se tornou avó com o filho ainda na faculdade. Em função do contato diário com a netinha, amoleceu o coração e passou a tratar os funcionários com educação e civilidade. Não grita mais.

 

Rita e o marido, após muita dificuldade, adotaram uma criança filha de uma ex prostituta que morreu no parto, escolhendo Jailson e Abigail como padrinhos da menina. Continuou como gerente do Hotel Dos Sonhos, mas fora promovida a um nível maior. Jailson assumiu o posto de gerente abaixo dela e segue bem com sua família.

 

--Rita, eu vou precisar ficar uns dia dedicada às menina da Casa, não sabe? – Abigail conversava com a amiga – A professora de Gilvane mandou me chamar porque parece que ela tá dando uns problema no colégio.

 

--Pode ver isso, mulher. Eu sei que embora Quézila teje mais em paz com a vida, a irmã ainda sofre com uns aperreio. – olhava para a outra – Deixe que Jailson mais eu damo conta junto com o pessoal! -- sorriu

 

--Eu confio! – sorriu também – Assim como confio que Gilvane vai superar os aperreio dela também, se Deus quiser! – afirmou com fé

 

--E com você do lado dela, com certeza vai! – sorriu para a amiga

 

Adriano e os demais funcionários seguem bem e orgulhosos por trabalhar onde trabalham. Abigail instituiu a participação nos lucros ao final do ano, deixando-os ainda mais satisfeitos e seguros. Todos receberam treinamento de primeiros socorros, combate à incêndio e fazem curso de inglês e espanhol, com ajuda de Sayruci e Patrícia. Algumas crises vieram depois, mas eles estavam preparados para enfrentar as adversidades.

 

--Quem veio pra cá dia desses foi aquele cabra, Ronald Rump! – Duarte empurrava o carrinho de bagagem de um hóspede – Veio cheio de ódio do presidente da Coréia do Norte, mas eu disse pra ele: homi, vá comer no restaurante do hotel, tome banho de piscina e faça um passeio de bugue que esses pensamento vão te sair da cabeça! Deixe de tanto aperreio! – mentia – Ele seguiu meus conselho e olha como que amansou!

 

--É mesmo? – o homem perguntava interessado – E o senhor além de tudo fala inglês?

 

--Of course I speako! E speako muito well! – respondeu se exibindo

 

Teodora está cumprindo liberdade condicional e trabalha auxiliando na limpeza da cidade de Maceió. Com a ajuda de Amaralina Luz, de quem se tornou amiga, está estudando para designer gráfica em um curso EAD (Ensino à Distância). Falando nesta autora, ela e sua amiga Crisálida Manhães têm seguido, sempre que possível, o ciclo de debates que Malu Capital e Camarada Sapa iniciaram pelo país afora após o triste resultado das eleições 2018. Graças a isso, as duas economistas continuam inteiras e vivas.

 

As demais autoras continuam ativas e produzindo seus textos. A dupla Soul Sapa&Tão reatou o namoro, enquanto Frog Krugger e Ales Bysex continuam juntas e apaixonadas.

 

--Essa sua gatinha persa é tão fofinha! – Letícia acariciava o animal – Coisa linda! – estava deitada no carpete da sala da outra

 

--Pois eu tenho duas gatas maravilhosas! – Carol se ajoelhou – A persa e a capixaba! – olhou insinuante para a mulher – Não sei qual das duas arranha mais gostoso!

 

--Não fala assim que eu fico louca! – sentou-se e rasgou a própria blusa – Vem aqui e me dá banho de língua! Me lambe toda!

 

--Ai, que pervertida! – Carol rasgou a própria roupa também

 

As duas se agarraram beijando-se com paixão e se jogaram no chão. A gata correu com medo.

 

 

Samir e Zorayde continuaram juntos, mas cada um morando em sua própria casa. Ele obedece fielmente a tudo que a mulher decide e passou a colaborar como voluntário em um grupo para recuperação de homens violentos. Continua muito atento a cada movimento da família Kahlain, tendo por isso mesmo ouvido os conselhos de Khadija e entrado em parceria com Abigail, Patrícia, Sayruci e Vera para montar um conglomerado de turismo, o qual inclui oportunidades de integração para ex prostitutas, mulheres vítimas de violência doméstica e pessoas trans. Zorayde segue na militância esquerdista, pratica yoga e tai chi chuan, além de defender a descriminalização da maconha, especialmente para usos medicinais. Os negócios de ambos foram impactados com a crise/pandemia, mas eles souberam permanecer no mercado.

 

 

Latifah se formou em advogada em 2021 e como trabalho de monografia apresentou a conquista que obteve para sua esposa.

 

--Olhos fechados, habibem! Só abre quando eu falar! – Latifah pediu

 

--Ai, amore, você tá me deixando nervosa! – dava pulinhos

 

--Aqui, -- pegou a mão da outra e colocou um documento – quando eu disser o três, você abre os olhos! – começou a contar -- Un, deux et trois! – estranhou que a esposa não abriu os olhos – Honey? – cruzou os braços – Conecta, amor! – estalou os dedos

 

Abriu os olhos. -- Você falou em francês, eu tava esperando o três em portu... – olhou para o documento – AHAHAHAH!!!! – gritou de alegria – Meu nome social, meu nome social! – chorava de emoção

 

--Khadija Nahim! – Latifah pronunciou orgulhosa – Agora ninguém tem mais o que falar! Graças à Deus e à advogada fodástica que Ele colocou no teu caminho, ou seja, euzinha, -- jogou os cabelinhos – sacramentou Khadija Nahim! – sorria – Só falta sacramentar nos papéis do casamento!

 

--Ai, eu te amo, minha deusa! – puxou-a para um beijo apaixonado

 

No ano seguinte, Latifah deu a luz à filhinha do casal. A pequena Zayah nasceu em Foz do Iguaçu, no final do mês de março.

 

--Gentem, olha só, jura que tem que colocar essa toquinha cafonérrima na minha cabeça? – a jovem advogada perguntou contrariada – Fiz escova ontem, o cabelo tá o must!

 

--Faz parte do procedimento, senhora. – a enfermeira orientava

 

--Minha baby diva prestes a nascer e eu com essa cafonice na cabeça? – Latifah revirou os olhos – Ainda bem que vim maquiada e passei perfume! – gesticulou – Tem alguém filmando? Cadê meu celular? Tem que jogar no meu canal, gentem!

 

--Por favor, amore, eu tô tão nervosa! – Khadija chegava na maternidade – Eu preciso saber imediatamente onde se encontra a musa Latifah Ajami Hafeez Nahim! A mulher mais poderosa que já pisou nesse lugar! – debruçou-se no balcão -- Ela tá dando a luz a uma baby diva e eu quero, eu preciso, acompanhar tudo! – falava nervosamente – E filmar pra jogar no nosso canal, of course!

 

A atendente estranhou. – Calma, senhora. – conferiu os registros – A senhora Latifah está na sala 3. Chegou há 20 minutos.

 

--Onde é isso?? – quase deitou no balcão – Mona, você não brinca comigo que eu tô a ponto de surtar! – ameaçou – Tenha medo!

 

--Mas a senhora é o que da futura mamãe? – queria saber

 

--Esposa, meu bem! E mãe da baby diva que vem por aí! – gesticulou com raça

 

--Oi?? – não entendia

 

--Basta você saber que metade dos cromossomos fashion dessa criança vieram do meu corpitho! – respondeu convictamente – Agora fala onde é essa sala 3, senão eu faço um escândalo nessa clínica! – ameaçou

 

--Calma! – levantou-se da cadeira para indicar – Siga esse corredor e dobre a terceira direita. – orientou

 

--Thanks! – saiu correndo – Amore, guenta firme que eu tô chegando! – esperava que Latifah escutasse – Trouxe até o pau de selfie!

 

Sentou-se. -- O pai da criança é um travesti? – a atendente tentava entender

 

--Senhora, por favor! – Samir e Zorayde chegavam esbaforidos – Por favor, -- o homem pediu – onde se encontra Latifah Ajami Hafeez Nahim? – perguntou nervosamente

 

--O que os senhores são da gestante? – questionou desconfiada

 

--Por favor, minha filha, sem tantos salamaleques! – Zorayde pediu nervosa – Eu e meu marido com o coração na mão e a senhora querendo saber de parentesco?

 

--Mas é que... – a mulher tentava se explicar

 

--Eu sou o pai da Latifah e minha mulher é a avó dela. Será que podemos entrar? – Samir perguntou impaciente – Onde minha filha está? -- insistiu

 

--Ah! – não sabia o que dizer – Pode... – autorizou -- Sigam esse corredor e dobrem a terceira direita. Ela está na sala 3.

 

Samir e Zorayde correram para a sala.

 

--O pai da gestante é casado com a avó dela? – a atendente buscava compreender – Mas que...?

 

--Olá, boa tarde, tudo bem? – Sayruci cumprimentou nervosamente – Por favor, onde se encontra Latifah Ajami Hafeez Nahim? – olhava para a outra – Ela é minha filha e quero acompanhar esse parto com minha esposa!

 

--Que sou eu, uai! – Vera levantou a mão rapidamente – Pode me considerar madrasta da Latifah. – pausou brevemente – Ou padrasta, tanto faz. – fez um gesto despreocupado

 

--Ah... a senhora é a mãe da dona Latifah? – olhou desconfiada para o casal – E a senhora é a... – chacoalhou a cabeça para tentar entender mas desistiu – Sala 3, sigam esse corredor e dobrem a terceira direita. – orientou

 

--Então tá então! – segurou a mão da esposa – Vem, Sayzinha!

 

--Ai, amor, eu vou ser avó, que emoção! – saíram correndo

 

--Gente, mas que confusão... – a atendente falava consigo mesma

 

--Com licença, jovem! – Rachid cumprimentou ao entrar – Minha esposa e eu procuramos pela jovem Latifah Ajami Hafeez Nahim.

 

--Uma linda dos olhos verdes maravilhosos! – Salma complementou

 

--E os senhores seriam quem, perdão?

 

--Os avós paternos da bebezinha! – Rachid respondeu orgulhoso

 

--Quer dizer, ex paternos, agora maternos também! – Salma gesticulava – Somos os sogros da Latifah, pronto!

 

--Nossa filha já chegou? – Rachid perguntou – Khadija, uma morena linda dos cabelos negros pela cintura? – descrevia a jovem

 

A atendente não entendia mais nada. – Olha, senhor, eu acho que sim. – levantou-se e apontou o caminho – Latifah está na sala 3. Sigam por aqui e quando virem um bocado de gente, é lá!

 

--Ótimo! – Salma bateu palminhas – Vem amor! Quero ver minha neta! – saiu correndo

 

--Ai, minha primeira neta! – correu atrás da esposa

 

--Dona Solange, -- a atendente seguiu para a sala da chefia – acho que a clínica vai precisar revisar urgentemente o conceito de família! – aconselhou

 

No dia seguinte...

 

--Essa deve ser a bebezinha mais fotografada do mundo! – Vera comentou enquanto tirava mais uma foto do casal com seu bebê

 

--Mas é isso mesmo, honey, filha de divas, divinha é! – Khadija respondeu orgulhosa

 

--Agora eu quero outra foto, Caipi! – Latifah pediu – A dinastia de mulheres em quatro gerações! – sorriu

 

--Ai, habibem, que ideia poderosa! – Khadija concordou ao se levantar – Vem Zo, vem Say, -- chamou as outras duas – vai ficar o must!

 

--E como vai ser? – Zorayde perguntou empolgada

 

--A gente senta aí com você? – Sayruci também tinha dúvidas

 

--Ó, eu tenho uma sugestão! – Vera falou – Pegar as cadeira, colocar ali perto do piano e deixa o resto comigo!

 

--Depois eu também quero tirar foto com minha neta! – Samir pediu empolgado

 

--Ai, eu também! – Salma falou – E quero uma foto de dinastia feminina com Khadija, Zayah e eu!

 

--Amei, mamys! – Khadija abraçou a mãe

 

Vera preparou o ambiente com a ajuda dos demais e Zorayde, Sayruci e Latifah se sentaram nas cadeiras, uma ao lado da outra. A jovem mãe segurava sua bebê no colo.

 

--Vai ficar massa! – a caipira caprichava, tirando várias fotos

 

--E todo ano a gente vai tirar uma igual! – Latifah pediu olhando para as demais – Vai ser a nossa tradição daqui por diante! – sorriu – E vai tudo pro meu canal!

 

--Vai ser nossa nova tradição, filha! – Sayruci beijou a bochecha dela – Vai ser!

 

--Ai, eu tô adorando isso! – Zorayde exclamou feliz – Agora eu quero tirar uma com a minha bisnetinha no colo! - pediu

 

Latifah e Khadija mantiveram-se muito ativas em sua militância e cidadania. Defensoras da liberdade, estavam totalmente conscientes de que deveriam respeitar se Zayah não se identificasse com a possibilidade de ser uma diva. Khadija segue à frente dos negócios da família e, vez por outra, realiza palestras motivacionais em várias cidades do país.

 

--Bom dia, meus amores! – Khadija saudou o púlbico -- Hoje eu tô aqui palestrando com a minha baby diva no colo porque minha esposa poderosérrima vai passar o dia em audiências. – falava ao microfone – Não é linda, gentem? Olha esses olhinhos verdes! – exibia a filha cheia de orgulho – O nome dela é Zayah, porque esse é o nome de uma mulher livre! – explicava – E ela será tratada sempre com muito amor e carinho da nossa parte, sem deixar de ter limites e disciplina, mas terá total liberdade de ser quem ela quiser! – olhava para o público – Eu demorei muito a me aceitar, a me assumir e depois que fiz isso passei por momentos terríveis, pensando até em me matar! – lembrava do passado – O tratamento de transição de gênero também me exigiu muito, porque não são só as mudanças corporais, mas uma verdadeira montanha russa psicológica e eu faço terapia até hoje pra me ajudar a me equilibrar. – caminhava pelo palco com a filha no colo – Quando finalmente em maio de 2019 o Catálogo Internacional de Doenças removeu a transsexualidade da sua listinha, a decisão foi comemorada por especialistas da área de saúde e dos direitos humanos, com a esperança de que a luta contra as discriminações ganhasse mais força. De fato ganhou, mas do outro lado os reacionários também fortaleceram seu discurso às avessas. – pausou brevemente – Não foi fácil, não é fácil, mas estou exatamente onde desejei estar e fazendo tudo que sonhei fazer, graças a Deus, graças à mulher maravilhosa que eu tenho e graças àqueles que se juntaram na minha vida pra somar. – reconhecia -- Então eu quero iniciar essa palestra dizendo três coisinhas pra vocês: -- fez sinal para uma jovem que projetou uma imagem num telão – enquanto esse planeta for como é, sempre vai haver gente contrária ao que de bom vocês quiserem fazer, mesmo que sua ideia seja o must e que suas intenções sejam as melhores. – olhava para o público – E vocês vão desejar morrer em alguns momentos por causa disso! – pausou brevemente – Só que, a terceira observação e a mais importante é: o Amor é a força que tudo supera! – emocionou-se – Tenham fé, tenham calma e nunca tenham medo de parecer ridículos! A gente precisa também aprender a se amar!

 

--É a mamãe! – Zayah falou olhando para ela

 

--Own... – muitas pessoas disseram

 

--Minha baby diva, gentem! – beijou a cabeça da criança repetidas vezes

 

Khadija foi a maior responsável e articuladora da união entre os negócios das famílias Nahim, Ajami e Hafeez junto aos projetos de Abigail, Patrícia, Sayruci e Vera, sendo exatamente por isso que todos conseguiram permanecer apesar das várias crises que vieram durante e após a pandemia. A jovem trans também promeveu um curso à distância sobre Business Intelligence para Samir, Sayruci, Vera, Abigail, Patrícia, Rita e Jailson. Posteriormente o curso foi replicado para outros funcionários dos hotéis de Foz e Natal. Zorayde e Latifah participaram da segunda edição.

 

Latifah se especializou em Direito de Família e Direito Homoafetivo e de Gênero. Também presta serviços gratuitos a famílias pobres.

 

--Meretíssima, tenho razões mega contundentes pra garantir a guarda dos menores pra minha cliente! – Latifah dizia – E se prepara porque o babado é fortérrimo! -- advertiu

 

--Protesto! – o advogado da outra parte contestou – Além da mãe da criança ser sabidamente lésbica, sua advogada sequer sabe se portar num tribunal!

 

--Recusado! – a juíza respondeu de pronto

 

--Não sei me portar, pois sim! – lançou-lhe um olhar de pouco caso – Não só sei me portar, como sei me apresentar muito bem, colega; sou toda antenada e não há tendência que eu não preveja! – olhou para a juíza -- Meretíssima, minha cliente é uma mulher de moral ilibada, trabalhadeira, excelente mãe como os próprios filhos atestaram e, diga-se de passagem, pode ser pobre mas é super estilosa. A outra parte, ao contrário, tem um monte de esqueletos no armário, como esses processinhos meigos que eu descobri aqui! – colocava os impressos sobre a mesa – Acusações de agressão, vadiagem, estelionato, depredação do patrimônio público, uma baixaria só! – revirou os olhos – Nunca foi numa reuniãozinha de pais e alunos, vive pulando de emprego em emprego e até hoje usa bermudão e mocacim sem meia, olha que coisa old fashion! – gesticulou afetada – Ah, e só um detalhe bem básico! – deixou o mais forte para o final – Encontrei esse processinho perdido lá em Aracaju e pasme! Uma tremenda acusação de estupro! – apresentou mais uma prova – E ele foi condenado, by the way!

 

--Mas como...? – o pai das crianças ficou boquiaberto – “Como que essa desgraçada descobriu tudo isso?” – não entendia

 

--Protesto, meretíssima! Provas fora de contexto! – o advogado apelou

 

--Negado! – a juíza respondeu de pronto

 

--Fora de contexto é essa tua gravata que combina com nada! – Latifah protestou afetada – Meretíssima, apresento as provas para vossa apreciação. – entregou o material nas mãos da mulher

 

Após uns minutos de leitura dinâmica a juíza declarou: – Mediante apreciação das provas, concedo a guarda dos menores Clair Ferraço Pimentel e Noah Ferraço Pimentel à senhora Janice Mendonça Ferraço! – declarou

 

--Ai, dona Latifah, que emoção! – Janice começou a chorar – A senhora é o máximo, muito obrigada! – sentia-se feliz – Eu nunca que ia conseguir se a senhora não tivesse descoberto tanto podre do meu ex marido!

 

--Sem o dona e o senhora, honey! – respondeu afetada – Nessa aí a gente lacrou, amiga! – sorriu orgulhosa – “E meus followers me deram todo o serviço da vida desse bofe direitinho!” – pensou satisfeita – “São três milhões de fãs espalhados pelo Brasil, tá pensando o que?” – sentia-se nas nuvens

 

Os irmãos de Sayruci começaram a frequentar a casa da mãe em suas respectivas férias e a família se aproximou como um todo. Telminha, a primeira homossexual assumida dentre os clã tradicionais de Foz, manteve-se militando e servindo de inspiração para muitos.

 

Vera se firmou em seu negócio de foto e filmagem com drones e montou uma empresa que prospera em Natal, apesar de todos os problemas. Sayruci está satisfeita com a sociedade com Abigail no hotel, no restaurante e na Casa da Paz, sendo bastante atuante nos dois últimos. Após a integração com os negócios das famílias de Foz, destacou-se ainda mais em suas propostas de alimentação alternativa e integração de pessoas. Vera e Sayruci realizam várias atividades comunitárias, tendo se apaixonado pelo Rio Grande do Norte e de lá não desejando sair.

 

--Tô com saudade da Zayah... Nem parece que elas foram embora ontem... – Sayruci comentou enquanto brincava com o pingente do cordão da amada – Ela adora essa lagoa...

 

--Ela gosta de ficar sentada nessa prancha comigo nadando. Chama de moto vovó! – achou graça – Aí eu programo o drone pra seguir a gente e tirar foto e ela fica doidinha! – riu brevemente

 

Sayruci e Vera estavam deitadas em uma prancha de stand up na lagoa do Carcará, no Rio Grande do Norte. A caipira de barriga para cima e a morena de lado, aconchegada em seus braços. Ao fim da tarde o sol estava ameno e a temperatura bem gostosa.

 

--Ai, mas aquela pequeninha é bem filha de Latifah e Khadija mesmo! – achou graça – Só quer saber de viver tirando foto! – levantou a cabeça e olhou para a amada – E essa vovó caipira faz todas as vontades, né? – beijou-a nos lábios

 

-- Não consigo negar nada a essas mulheres de olhos verdes. – beijou-a novamente – Começa na avó e termina na neta. – beijou-a

 

--Hum... – sorriu – Os anos passam e você não deixa de ser essa caipira galanteadora. – beijou-a – Minha safadinha... – deslizou um dedo pelo rosto da outra – Que pena que nossas pequenas férias terminam amanhã... -- lamentou

 

--E hoje ainda não terminou, uai! – fez um movimento brusco para virar a prancha e as duas caírem na água.

 

--Ai, sua safada! – deu-lhe um tapinha no ombro ao emergir

 

--Eu adoro te deixar molhada, Sayzinha! – provocou ao abraça-la pela cintura

 

--Sem vergonha! – envolveu o pescoço da outra com os braços e a beijou – Se aproveita que a lagoa tá quase vazia a essa hora pra abusar de mim! – beijou-a sem pressa de terminar

 

-- Você sempre me tira o fôlego! -- sorriu -- Olha esse pôr de sol! – mudou de posição e a abraçou por trás – Eu quero viver isso, de ver o sol nascer e se pôr, várias e várias vezes sempre com você! – sussurrava no ouvido – Até o fim do infinito, só você e eu!

 

--Own, eu te amo tanto! – virou-se de frente para a amada

 

--Também te amo tanto que chega dói, Sayzinha!

 

--Vem amor! – segurou-a pelos cabelos da nuca e beijaram-se ao submergir sob as águas calmas da imensa lagoa.

 

Após o nascimento de sua filha, Latifah conseguiu juntar provas contundentes para denunciar o doutor Salim Farjan ao Conselho de Classe e requereu a cassação do seu registro profissional ad referendum. Embora não estivesse mais atuando em Foz, Salim continuava promovendo tratamentos para a cura da homo/bi/transsexualidade em outra cidade paranaense, onde se estabeleceu. Em 2024 o processo foi concluso e a condenação e cassação se basearam no descumprimento da legislação brasileira, do Código de Ética Médica e das resoluções do Conselho de Classe.

 

--Depois de tantos anos de exercício de profissão... – o homem chorava – Não acredito que passo por isso... Não acredito...

 

--Cê fez duas coisas que não podia, meu bem! – Latifah olhava para ele – Prejudicou a vida de um monte de gente e, o pior de tudo: – falava desaforada – mexeu com a minha mamys! – gesticulou – Nessas horas eu faço justiça com vingança! – afirmou afetada – Passar bem! – jogou os cabelinhos e partiu

 

 

Tempos mais tarde, o pai de Vera a procurou para pedir perdão. Depois de tudo que sofreu ao ser abandonado pela esposa e desprezado pelos outros filhos, o homem pôde entender por experiência própria o peso que a rejeição impõe.

 

Valéria e Claudia estreitaram os laços de amizade com Sayruci e Vera, tornando-se amigas inclusive de Abigail e Patrícia.

 

Sayruci e Abigail publicaram mais um livro, coincidentemente na mesma época.

 

Patrícia continuou ativa em sua militância, organizando várias campanhas de ajuda e acolhimento a pessoas em vulnerabilidade financeira, trabalhando no apoio às ex prostitutas e lutando incansavelmente pelos direitos dos LGBTs. Frequentemente é convidada para participar de programas de televisão, debates ou então para palestrar em universidades. Mudou-se para Natal após o casamento com Abigail e não mais saiu de lá apesar dos inúmeros desentendimentos temporários entre elas.

 

Abigail dedica-se avidamente à causa da prostituição, combate à exploração da mulher e proteção aos menores em situação de vulnerabilidade financeira. Tornou-se um nome conhecido em seu estado em função desta luta e tem sido sondada para se candidatar como deputada federal. Administra seu hotel com zelo e consideração por hóspedes e funcionários, confiando a Rita e Jailson a gestão mais direta e diária do estabelecimento. É completamente apaixonada por Patrícia, sendo por ela correspondida, e vivem felizes um relacionamento marcado por altos e baixos. Em suma, o amor espalhafatoso, ou escandaloso, que tanto desejavam.

 

--Dona Abigail Trindade, hora de dar satisfações! – Patrícia cobrou assim que ambas entraram no quarto de hotel – Que negócio foi aquele de tanto riso, tanta fosquinha, com aquela leitora baiana no salão?

 

--Em primeiro lugar, dona Patrícia Gomide, uma vez que esse Congresso tá acontecendo em Salvador, o que mais tinha era leitora baiana, não sabe? E eu tenho que ser educada com as mulher! – retrucou de pronto – Vida de artista é isso! -- gesticulou

 

--Não me venha com o velho golpe da autora educada que eu não nasci ontem! – gesticulou – Eu falo daquela mulher que nunca saía do seu stand! – olhava para a esposa de cara feia -- Aquela do saiote curto! -- aproximou-se da outra -- Quem é aquela mulher e o que é que tá rolando? – exigia saber – Ou o que é que você quer que role?

 

--Pois fique sabendo que aquela do saiote curto é simplesmente a esposa de Black Velveteen! – defendeu-se – E a mulher nunca que me deu cabimento e nem eu fiquei de assanhamento com ela, ao contrário da senhora, que eu vi num tremendo desfrute! – acusou

 

--EU?? – perguntou em voz mais alta – Eu tava de desfrute?? – achou graça do absurdo -- Você parece até uma Thundercat: tem visão além do alcance!

 

– Thundercat? – não sabia o que era isso -- Oxe, não tente disfarçar que eu não sou cega e nem abestada! – gesticulava – Eu vi muito bem a senhora de mãozinha dada com aquela autora novata! – falava de cara feia – A tal da Tosa Tozani!

 

--Ora, ora, não tente usar de subterfúgios! – gesticulou – Todo mundo sabe que dou apoio às novatas! Não era nada disso de desfrute!

 

--Ah, dá, eu sei o que tu dá, visse, Paty Golezzo? – retrucou de pronto – Tu não me desse um tiquinho de apoio quando eu era novata e lembro disso muito bem! – gesticulava também – Já pra tal de Tosa, que miss simpatia você foi! – falou com ironia

 

--Eu nem sei como que você conseguiu ver tanta coisa! – reclamou – Seus olhinhos não se desviavam da baianinha da saia curta! – acusou – Mesmo sendo casada com Black Velveteen!

 

--Sayzinha, essa gritaria aí é no quarto de Paty e Abigail? - -Vera perguntou espantada – Parece até uma rinha de galo, uai!

 

--São elas, amor. – Sayruci despia-se para tomar banho – Acho bom você vir tomar banho comigo, antes que uma das duas venha pra cá pedindo ajuda. – recomendou – Ou ligando pra que uma de nós vá pra lá.

 

--Você não precisa de pretexto pra me fazer um convite desses, minha linda! – abraçou-a subitamente beijando-lhe a nuca

 

Sorriu. – Sem saliência, amor, é só um banho! – a morena salientou – Leva fé na minha advertência! – virou-se de frente e a beijou

 

--Pois eu não vou ficar aqui sendo acusada injustamente! – Abigail decidiu – Se sou casada e não posso nem conversar com uma mulher porque minha esposa não confia, que destino me espera? – fez um drama – Casamo em janeiro e bastou novembro chegar com um Congresso pra destruir essa relação!

 

--Pois é, em menos de um ano de casamento! – Patrícia concordou – Eu pensei que havia encontrado um amor, só que não! – lançou um olhar melodramático – Encontrei uma espada enfiada no meu peito! – pensou – Melhor dizendo, uma peixeira potiguar!

 

--Ah, é? Tá dizendo que te sou motivo de desgosto? – perguntou ensandecida – Então hoje isso vai acabar! – decidiu – Não quero ser acusada pelos teus seguidores mundo afora de ter sido a culpada pela desdita de Paty Golezzo! – gesticulava -- Vou agora mesmo pro Elevador Lacerda e me jogar de lá de cima! – andou até a porta do quarto – Adeus, Paty! – lançou um último olhar – E não se atreva a chorar no meu enterro!

 

--Pois quem vai se atirar do Elevador Lacerda sou eu! – Patrícia também foi até a porta – Não quero ser acusada pela morte da benfeitora do Rio Grande do Norte! – os olhos marejaram – Eu não peço muito! Quero apenas que minhas cinzas sejam jogadas nas águas do Arpoador por volta das 18h de um dia de sol, pra que os raios fúlgidos brilhando no céu da pátria na ocasião emprestem colorido aos meus restos mortais! – declamou

 

--Oxe, mulher, que isso foi tão bonito! – Abigail respondeu melosa – Fiquei até arrepiada, pia pra isso! – mostrou o braço

 

--Pois você vai ficar arrepiada é agora! – Patrícia puxou-a pela cintura e beijou-a com raça

 

--Tire essa roupa, mulher! – Abigail rasgava as roupas da parceira – Agora! – beijava-a e mordia-lhe com desejo

 

--Tire a sua também! – beijava e sugava cada pedaço de pele que encontrava

 

BUFF, CRASH, BOOM, PAM, TOIN! – barulhos se faziam ouvir

 

--Será que isso é porque elas se entenderam? – Vera perguntou enquanto a esposa ensaboava suas costas

 

--Acho que sim! – Sayruci riu brevemente – Como diz você, duas bicha doida!

 

Em 2021 os pais de Patrícia ficaram muito mal por conta da CONVIDE-0 e quase morreram. Algumas pessoas da família vieram a falecer em função da doença. O sofrimento que experimentaram os fez procurar pela filha no ano seguinte para pedir perdão, a qual prontamente os perdoou. Conheceram Abigail e tiveram noção do trabalho que ambas faziam. Vendo Patrícia com olhos justos, sem o peso dos preconceitos que anteriormente carregavam, aprenderam a se orgulhar dela como realmente era.

 

Patrícia e Abigail apreciavam o pôr do sol sentadas lado a lado aos pés do Morro do Careca.

 

--Já vi o pôr do sol por várias vezes na minha vida, mas confesso que assistir daqui é sempre muito lindo! – Patrícia comentou embevecida

 

--Quando eu era criança, a gente podia subir no topo dessa duna. – Abigail dizia – Mas de uns anos pra cá foi proibido, não sabe? Diz que é pra preservar a duna cartão postal da cidade. – pausou brevemente – Ver o mar sentada nessas areia tem história pra família Trindade.

 

--E eu amo dividir essas histórias com você! – olhou para a amada

 

--Você tá feliz, não tá? – a potiguar perguntou – Passar esses dia com seus pais parece que te deixou ainda mais radiante! – sorriu

 

--Foi tão importante pra mim, amor! – deitou a cabeça no ombro da esposa – Esperei tantos anos por eles... – derramou uma lágrima de emoção – Agora parece que todos os meus sonhos foram realizados!

 

--Então é hora de sonhar com coisas novas! – abraçou-a pela cintura – E me incluir nesses sonhos, não sabe?

 

--Você nunca vai deixar de ser incluída, amor! – respondeu enfática – Colocou aliança nesse dedinho aqui, meu bem,-- mostrou o anelar esquerdo – agora já era! – brincou

 

--Aliança essa que por três vezes já tirasse e jogasse da ponte! – lembrou magoada

 

--E a senhora já fez o mesmo, tá? Por três vezes também! – olhou para a esposa mas decidiu não brigar – Só que dessa vez é pra valer! Nunca mais tiro minha aliança! – prometeu

 

--Nem eu, nunca mais vou tirar! Nem pra tomar banho ou fazer sabe-se lá o que for! – prometeu antes de se beijarem

 

Mas, em 2024...

 

--Dona Patrícia Gomide, agora a senhora vai me dizer! – dirigia em direção a casa de ambas -- Que resfulengo foi aquele que se passou diante de todo mundo na TV?? – Abigail cobrava – Aquilo era um programa de bato papo ou um rendezvous ao vivo pro povo todo ver as patifaria? – fazia cara feia

 

--E é assim? – perguntou revoltada – Mal chego na cidade e sou tratada desse jeito? – cruzou os braços – Então foi por isso que a senhora me recebeu tão fria e calculista naquele aeroporto! – espremeu os olhinhos

 

--O que você queria? Me botasse um par de chifre bem pontiagudo diante do Brasil inteiro naquela pistinga de programa de TV e achou que ia ser recebida como? – reclamou – É muito descaramento!

 

--Chifre? – riu por achar absurdo -- Quem é você que nem sabe o que diz? – gesticulou musicalmente – Meu Pai do céu, que palpite infeliz! [1]

 

--Palpite infeliz, pois sim! – retrucou – Eu vi muito bem, visse? – lembrava do que assistiu – Tanto elogio, tanto chamego! Era um tal de queridinha pra lá, gostosinha pra cá, toda boa de acolá!

 

Achou graça. – Você sonhou! Em que hora teve isso? – olhou para a esposa – Além do mais, se aquelas meras brincadeiras te incomodaram tanto, se te deixaram tão enciumada, você deveria pensar melhor antes de ficar de tanta fosquinha com as leitoras que te escrevem e que te encontram nas mostras de livro pra pedir autógrafo!

 

--Lá vem você com essa! – riu brevemente – Sempre que é pega com a boca na botija, desvia com outro assunto!

 

--Outro assunto nada! – respondeu desaforada – Você fica de gracinha com a mulherada mas qualquer coisa que eu faça, faz um espetáculo!

 

--Mas é uma galeguinha descarada! – olhou brevemente para a outra – Pois bastou a senhora colocar os pés naquele Rio de Janeiro que tudo se transformou! – acusou

 

--Eu fiquei na casa dos meus pais, tá legal? Enquanto isso, a senhora ficou aqui sozinha, fazendo sabe-se lá o que! – cruzou os braços

 

--Ah, é, sabe-se lá o que? – respondeu com ironia – Trabalhando no hotel, na Casa da Paz, infernizando a vida dos deputado pra investir nos programa de apoio às ex prostituta, repassando a contabilidade com Say... – enumerou brevemente – Ou seja, todo tempo do mundo pra vadiar!

 

--Fala como se só você trabalhasse! – retrucou

 

--Eu disse isso? – respondeu de imediato – Ói, tá chegando num ponto que não dá mais, não sabe? – fez um drama – É muito sofrimento prum só peito!

 

--E eu por acaso não sofro com esse amor bandido? – alegou melodramática – Você e esse seu ciúme são de matar qualquer uma! – gesticulou – Dia desses vou ser encontrada morta, sufocada por essa consumição toda! – fez um tipo

 

--Ah, é? Então é assim que a senhora pensa? – arrancou a aliança do anelar esquerdo – Então termina por aqui, Patrícia Gomide! – abaixou o vidro – E tome de outra aliança lançada no mar, não sabe? -- jogou a aliança pela janela ponte abaixo

 

--O que?? – arregalou os olhos – É assim, né?? – arrancou a aliança também – Então também jogo esse amor no vento ponte abaixo! – abriu a janela e faz a mesma coisa – A senhora nunca mais enfia nada nesse dedinho aqui, fique sabendo! – respondeu desaforada – Nem nesse dedinho e nem em lugar nenhum!

 

--Então acabou-se, danou-se e eu não quero saber de nada mais! – os olhos marejaram – Eu te amei com tudo, galega, e só me desse desilusão! – dramatizou

 

--Pare esse carro, agora mesmo! – pediu fazendo uma cena – Quero vagar sem rumo pelas avenidas potiguares pra esquecer esse amor bandoleiro que me come toda! – gesticulou com fé

 

--Pois eu vou te mostrar o que é te come toda! – desviou a trajetória bruscamente e parou o carro na beira da praia – Vou te mostrar e é agora!

 

--Pois quem vai te mostrar sou eu! – pulou no colo da outra – Vem, meu amor, tira essa roupa! – buscava despir a outra apressadamente – Cê sabe que não tem ninguém na minha vida! – beijava-a com desejo – É só você! – sentia as mãos da amada arrancando sua roupa também – Só você!

 

--Não me atiça com outras mulher, galega! – beijava-a enquanto a despia – Não faz isso! – mordeu-lhe o lábio inferior

 

--Eu não faço! – olhava nos olhos – Não faço! – beijou-a com paixão

 

Fizeram amor de forma selvagem com o carro parado (mas chacoalhando) no estacionamento da praia do Forte.

 

Em 2025, Sayruci e Abigail começaram a escrever uma história juntas. A obra se chama O Amor Que Mudou Minha Vida.

 

--Sayzinha, você tem certeza que vai dar certo esse trem de escrever história junto com Abigail? – Vera perguntou intrigada – Hoje quando passei de carro pela casa dela, ouvi a voz da Paty fazendo um fuzuê que chega doía nos ouvido! Imagine isso! – mencionava o fato

 

--Nossa, e de dentro do carro você pôde ouvir? – surpreendeu-se – Meu Deus! – massageava as costas da caipira

 

--Pude, uai! E se a história que vocês tão escrevendo é sobre um amor que mudou tudo, toda vez que elas brigarem Abigail vai ficar sem inspiração! – concluiu – Vai levar mais de dez anos pra terminar esse conto!

 

A morena achou graça. – E desde o começo, ainda na época daquele sarau sobre Cassandra que a gente organizou, quantas vezes aquelas duas arrumaram confusão? Imagina, uma salta do bugue em movimento, a outra pula atrás e é daí que rola o primeiro beijo! – lembrava divertida --Aí foi aquilo da tal prova de fogo que até hoje não entendi. – pressionava os músculos das costas da outra com as pontas dos dedos -- Depois foi o pedido de casamento com ambas se jogando quase na Garganta do Diabo, lá em Foz! Saiu no jornal e tudo! – achou graça novamente – E o próprio casamento com aquela performance maluca que quase terminou em acidente! – deslizava as mãos abertas nas costas da parceira – Enfim, desde que se casaram, quantas vezes Patrícia e Abigail jogaram a aliança do alto da ponte? E depois que acontece, fazem logo as pazes e compram um novo par de alianças! – massageava o pescoço da amada -- Elas armam esse fuzuê todo mas nunca se separam! -- sorria – Elas se amam e tão sempre apaixonadas!

 

--Eu hein! – acabou achando graça também – Eu que não queria isso de amor espalhafatoso! – sentia prazer com os toques da amada

 

--Se elas são felizes assim... Mas, sinceramente creio que com o tempo as duas amadurecem e entendem que o amor pode até ser espalhafatoso mas pacífico. – arranhou lentamente as costas da esposa – Eu prefiro... – reclinou-se para sussurar no ouvido – Um amor bem mais tranquilo... – mordeu-lhe a pontinha da orelha – Como o nosso...

 

--Tranquilo? – sentiu o corpo se acender – Eu diria o que você disse antes: pacífico! – inverteu as posições e deitou a morena de costas na cama – Porque tranquilo, -- deitou-se sobre ela – nosso amor tá longe ser, minha linda! – beijou-a com paixão

 

“Ai, essa minha caipira safadinha...” – abriu as penas e acomodou a amada entre elas

 

 

--Ai, você ainda me mata disso! – Patrícia sorria deitada de barriga para cima no chão da sala – Não aguento nem me mexer muito que tá tudo ardido! – suspirou satisfeita

 

--E eu, Ave Maria! – Abigail sorria igualmente satisfeita – Hoje me arranhasse com fé! – fechou os olhos – E destruísse minhas roupa! – riram

 

As duas mulheres estavam completamente nuas.

 

--Você vai mesmo se candidatar a deputada pras próximas eleições? – virou o rosto na direção da esposa – Porque se for, tá mais que na hora de fazer tua campanha. – sorria – E você pode contar comigo e meus milhões de seguidores... – ofereceu

 

Virou o rosto na direção da outra. – Eu ainda não me decidi, visse? – sorriu – Mas contar contigo eu quero até o fim da vida, minha galeguinha linda...

 

--Hum... – beijou-a – E você vai, amor! – deitou-se de lado – A vida toda! – respondeu melosa

 

Deitou-se de lado também. – É só o que me interessa! – abraçou-a pela cintura e a beijou apaixonadamente

 

 

Margô continuou escrevendo contos lésbicos e deixou o emprego de governanta na casa de Samir em 2023, quando se assumiu e iniciou um relacionamento com uma mulher que conheceu nas atividades organizadas por Latifah e Khadija. Decidiu juntar suas economias e arriscar a sorte na carreira de escritora LGBT. Em 2025 lançou seu primeiro livro, no qual relatou suas experiências encarando a pandemia de CONVIDE-0 e a forma como percebeu que as pessoas ao redor, além dela mesma, encararam uma crise sem precedentes. Foi um longo caminho até que tivesse coragem de se assumir, mas, felizmente, ela conseguiu e se sentia livre e feliz.

 

“Portam itineri dici longissimam esse”

 

Dizem que numa viagem o percurso mais longo é o da porta

 

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Natal, 2026. Sayruci e Abigail entraram em acordo quanto à conclusão de seu livro conjunto e decidiram iniciar o processo de edição para publicação de versões impressas e na forma de e-book. Também se preparavam para postar no site da Academia Lésbica.

 

--Ao mesmo tempo que me dá uma alegria danada de terminar também dá uma tristeza... – Abigail comentava melancólica – Quando a gente escreve um conto, é como se as personagem vivesse junto, ali, mais nós. A gente dorme e acorda e elas tão lá... – olhava para a amiga – E sendo um livro baseado no que nós vivemos, fica ainda mais difícil de aceitar que chegamos ao fim, não sabe?

 

--Entendo perfeitamente e também me dá muita pena de “dizer adeus”. – fez aspas com os dedos – Eu simplesmente amei escrever esse conto com você e revisitar tudo que aconteceu parece que me fez amadurecer um pouco mais! – confessou

 

--Eu também sinto assim! – concordou de imediato – Acho até que minhas breves e espalhafatosas desavenças com Paty diminuiram muito depois dessa releitura do que vivemos juntas. – admitiu – Quando a gente escreve, a gente se doa, se descortina e acaba até se conhecendo um pouquinho mais...

 

--Sim! – segurou as duas mãos da amiga – E cada obra que terminamos é uma semente que deixamos pro mundo. Semente essa que pode germinar de várias formas a depender do que vai no coração de cada pessoa que tiver paciência de nos ler. – sorria – Vamos desejar que nós tenhamos criado uma boa semente e que ela encontre muitos e muitos terrenos férteis por aí!

 

--Se Deus quiser! Pelo menos nós tentamos criar essa boa semente, não sabe? – sorria também – E que venham outras oportunidades pra gente sonhar e fazer sonhar com novos contos que surjam dessas nossas cabeças de bicha doida! – as duas riram

 

--Foi um prazer, querida! – abraçou a potiguar – Um imenso prazer!

 

--Pra mim também, Say! – abraçou-a com força – Pra mim também!

 

E para esta caipira que vos escreve também foi um imenso prazer! Espero que tenha sido recíproco!

 

Fim do capítulo