Bia

Acordei cedo na manhã seguinte, tomei banho e desci para tomar café com meu avô e Ângela, depois seguimos juntos para a empresa. Hoje o dia seria bem corrido e provavelmente não teria tempo nem de almoçar. Chegamos às oito da manhã lá, segui para minha sala, precisava enviar alguns e-mails. A reunião estava marcada para às dez, então aproveitei aquele intervalo e liguei para Sam.

– Bom dia! Acordei você?

– Não! – ela disse sonolenta: – A Di já tinha me acordado, como você está?

– Estou bem, sentindo saudades... dormiu bem?

– Dormi sim, só um instante Bia... – parecia conversar com alguém e voltou ao fone sorrindo. – Na verdade não durmo muito bem com minha pequena que fica se atravessando em cima de mim. – Sorri encantada.

– Quando eu e ela, iremos nos conhecer pessoalmente, hein?

– Vou ver se consigo levá-la esse final de semana, mas não prometo... Preciso ver com Eliza se ela poderá me acompanhar.

– Quem é Eliza mesmo? – perguntei interessada.

– A babá dela, não comentei sobre Eliza pra você?

– Deve ter comentando e eu não lembro, desculpa.

– Tudo bem... O que fará hoje?

Inspirei fundo caminhando até a janela e olhando os prédios da cidade, sorri dizendo:

– Entrarei em uma reunião daqui a pouco, e possivelmente ela durara o dia todo... Dr. Paulo está com um projeto de expansão e chamou alguns dos acionistas para uma reunião extraordinária.

– Entendi, então o dia será agitado.

– Nem me fale, na última vez fomos até as dez da noite.

– Nossa, é muita coisa!

– Concordo, mas precisamos nos reunir para resolvermos essas questões.

– Sei bem como é, igual ao meu projeto, só que em escala maior... Dez vezes maior.

Sorri, o interfone tocou, era Ângela, dizendo que a reunião iria começar em alguns minutos, agradeci dizendo que já estava a caminho e voltei ao celular com Sam:

– Eu preciso ir agora, não sei quando terei tempo para te ligar, mas vou deixando algumas mensagens quando for possível, está bem?

– Own Bia, você é tão atenciosa... não sei se mereço tanta atenção.

– Hei, não fala assim... Você merece toda a atenção do mundo... Dá um beijinho na pequena maravilha.

– Pode deixar que dou... Boa sorte!

– Obrigada Sam, se cuida... Assim que der mando mensagens.

– Tá bom, te adoro!!!

– Também adoro você! Beijos!

Desliguei o telefone e fiquei um tempo ali olhando para o céu, iria chover a qualquer momento. Segui para a sala de reunião, entrei saudando todos e me sentei a direita de meu avô. Alguns dos gerentes da empresa se encontravam ali também... Inclusive Ana, Fernanda e Jonas, meu avô apreciava muito as ideias deles e os mantinham por perto em reuniões assim.

E como prometido a reunião iria durar o dia todo, o almoço foi servido na empresa mesmo. Sugeri e todos concordaram, Willie organizou tudo, nesses intervalos mandava mensagens para Sam, e ela me enviou o vídeo da pequena Diana abrindo o presente que mandei. Parecia empolgada ao rasgar o embrulho aos gritos. Depois que pegou a boneca a agarrou, ficou dançando com ela.

Realmente Samantha tinha razão, a boneca era um pouco maior que a criança, mas isso não a impediu de curtir o presente. Ela parecia ter gostado muito, falei rapidamente com Sam, por mensagens de voz e ela me dizia que a pequena tinha gostado e muito do brinquedo, agradeceu carinhosamente.

Durante o dia, recebi fotos das três com a boneca, Sam, Diana e a outra senhora que se chamava Eliza. Também recebi fotos com um casal abraçando a menina e a boneca, era irmão de Sam com a esposa. Os dois se pareciam muito visivelmente, adorava ver que estava participando assim da vida daquela mulher maravilhosa. Me sentia especial. Depois dessa sessão de fotos não mais consegui tempo para falar com Sam.

A noite quando cheguei em casa até tentei ligar para ela umas duas vezes, mas só dava caixa postal. Deixei uma mensagem, tomei banho e caí cansada na cama, adormecendo no momento em que minha cabeça alcançou o travesseiro.

Acordei, para variar, com Diana com os pezinhos em meu rosto, sorri agarrando ela e fazendo cócegas, abraçando-a forte. Sinto muita falta dela quando viajava, ela é e sempre será a minha inspiração para viver. Ficamos brincando até meu celular tocar e ver que era a Bia, sorri e atendi conversando com ela. Minutos depois Eliza apareceu para pegar a Di e levar para dar banho e o café da manhã.

Fiquei alguns minutos conversando com aquela mulher incrível, confesso que depois que falei com ela naquela manhã, meu dia foi maravilhoso. Quando desligou corri para o banheiro e tomei um banho relaxante, para tomar café com as duas, constatei que Rebeca não havia dormido em casa. Senti alívio e angustia ao mesmo tempo, cenas da noite passada vieram em minha mente, mas logo tratei de desviar a minha atenção. Rebeca não estragaria o meu dia, não hoje.

Voltei para o quarto de Diana e minha filhota já estava arrumadinha, vestia um macacão jeans e uma botinha, cabelos preso em um rabo de cavalo. Linda demais e eu babava por ela. Fomos tomar café, conversando animadamente com Eliza contando o que ela havia aprontado no dia anterior e estávamos as gargalhadas, quando terminamos, seguimos para a sala com ela no colo, fui dizendo:

– Mamãe trouxe presentes.

– Eba... Eba... Eba... Vamos Liza, abi pesentes, mamãe toxe.

Sorri para a senhora e peguei os pacotes que eu comprei para ela que abriu sem muita atenção, aí eu peguei o que a Bia deu... Entreguei e ela abriu com os olhinhos admirada. Peguei o celular e comecei a gravar desde o momento em que ela rasgou o papel de presente até o momento em que tirou a boneca maior que ela, abraçando e pulando pela casa.

Quando terminei a filmagem enviei para a Bia, ela não estava online, mas quando abrisse o Whats a primeira coisa que veria, seria o vídeo, peguei minha filha no colo perguntando:

– Gostou dos presentes, amor?

– Simmmm... – aquele grito ensurdecedor, olhei para Liza e sorri piscando, apertei a pequena nos meus braços e disse: – Esse grande foi da tia Bia.

– Tia Bia... Tia Bia...

– Sim meu amor, tia Bia.

– Boneca... Boneca...

Ela realmente gostou muito da mini mulher maravilha, precisavam ver o brilho em seus olhos e nos meus próprios de imaginar que a Bia não só estava me fazendo feliz como estava acertando em cheio com a minha filha. Durante o dia senti olhares de Eliza em minha direção e um sorriso discreto, Diana estava radiante e isso me deixava feliz.

Durante a manhã passei em casa com elas, tirando foto e enviando para a Bia, queria ela presente na minha vida de todas as formas. Um pouco antes do meio dia meu irmão me ligou nos convidando para almoçarmos juntos, aproveitando que não iria trabalhar naquele dia, seguimos as três para a casa dele, no caminho Eliza me olhava intrigada, no carro olhei para ela perguntando:

– O que foi Liza, porque tanto me olha?

– Desculpa dona Samantha, mas percebo que a senhora está mais radiante depois que voltou dessa viagem.

– Sério? – olhei para ela sorrindo e de volta na avenida, continuou:

– Não queria ser indelicada, mas antes a senhora parecia abatida e triste e ontem quando voltou, mesmo depois daquela discussão com a dona Rebeca a senhora não mudou... Está feliz. – inspirei fundo dizendo:

– Você ouviu?

– Sim senhora.

– Liza eu... – tentei explicar, mas ela segurou em meus braços dizendo carinhosa:

– A senhora não precisa explicar nada para mim, estou feliz de ver que está feliz, apesar de tudo. Não merece o que está passando com a dona Rebeca.

– Liza, ela me ligou outro dia perguntando quem era a Bia, como soube? – pensou um pouco e começou a narrar:   

– Eu e a Di estávamos na sala brincando, dona Rebeca apareceu, a filha a chamou para brincar, ela até sentou por uns cinco minutos e interagiu com a menina, mas logo perdeu o interesse quando recebeu uma ligação. – pareceu hesitar e me olhou, a incentivei a continuar e ela disse: – Naquele momento estava passando alguma coisa sobre a mulher maravilha na tv e a dona Rebeca voltou, a menina correu para os braços dela dizendo que a “Tia Bia” chamava ela de pequena Maravilha. Aí ela me olhou perguntando quem era ela e eu dei de ombros dizendo não saber quem era.

Olhei admirada pelo retrovisor para Diana que estava brincando com a boneca e sussurrei:

– A Bia a chamou assim acho que umas duas ou três vezes, como ela decorou isso? – sorriu concluindo:

– Diana é muito inteligente dona Samantha, ela ficou repetindo isso para mim, o final de semana todinho, aí quando viu a mãe achou que ela deveria saber, isso de certa forma se tornou importante para a menina.

Fiquei pensando no que a senhora tinha acabado de dizer, eu era inexperiente com crianças, e essa era a fase de absorção e estava perdendo longe de minha filha, precisava definir as nossas vida para não perder mais nada de importante sobre ela. Sorri para Liza que falava animadamente ao meu lado, mas no fundo, eu estava pensando na Bia e em como ela havia virado a minha vida de cabeças para baixo.

Encostei o carro na frente da casa de meu irmão e ele veio nos recepcionar, Diana já saiu aos gritos mostrando a nova descoberta dela para ele que me beijou, logo Claudia, minha cunhada, saiu para nos receber também, me abraçou sorridente dizendo:

– Faz tempo que não vejo você dona, por onde tem andado?

– Estou viajando para o Rio nesses dias, recebi uma proposta de emprego tentadora lá, além disso a realização de nosso sonhos também.

– O Luiz me falou, sobre o projeto... Conseguiram a quantia que estavam atrás?

– Bem mais que isso, amor. – Luiz se aproximou abraçando a mulher, concluindo: – Sam conseguiu conquistar uma ótima aliada também.

– Quero saber sobre essa “ótima aliada”, não quero ter problemas no futuro. – Olhou avaliando o marido que disse sorrindo:

– Não precisa se preocupar Amor, parece que a moça só tem olhos para a minha irmã.

– Cala a boca, Luiz.

Dei um tapa nele, mas este desviou e a mancha do aperto que Rebeca me deu na noite passada ficou visível pouco acima do meu pulso, não passando despercebido aos olhos de minha cunhada que perguntou quando meu irmão se afastou:

– Quero conversar com você sobre Rebeca e sobre isso aí no seu braço.

Inspirei fundo concordando, finalmente poderia desabafar com alguém e porque não com minha cunhada e amiga de longas datas? Ela sorriu e me abraçou me guiando para o interior da casa, lá o almoço foi servido e conversamos animadamente na mesa. Diana não desgrudava da boneca, inclusive tirou fotos com os tios, essas que achei muito engraçada e acabei enviando para a Bia também.

Ela me mandou mensagem de voz para agradecer o vídeo e falar sobre as fotos, me afastei um pouco indo em direção a janela de onde pude observar o pessoal em volta da minha filha que fazia graça. Troquei algumas mensagens com a Bia, mas logo ela teve que ir e fiquei viajando no sorriso dela quando ouvi alguém dizer sorrindo atrás:

– Suponho que esse sorriso bobo tem a ver com a “ótima aliança” da qual seu irmão falou, acertei?

Fim do capítulo