Sexta-feira Emocionada
Alice
Como diz o rei: "São tantas emoções"... Receber a confirmação de uma palestra, seguida da alta, ter a chance de um momento com a Laura e ainda uma despedida calorosa, definitivamente não estava no meu script do dia quando acordei e vi aquela bexiga me desejando bom dia. Ainda bem que a doutora Vitória não enquadrou nenhum desses acontecimentos, como altas emoções.
Enquanto acompanho o carro da Laura perder-se no horizonte, ainda sinto os gostosos calafrios proporcionado por essa recém troca de olhares e o toque da sua pele, macia, cheirosa, no meu rosto. Por um momento, até me esqueci que ainda estou na rua e certamente, sou a pessoa mais sorridente do ambiente.
Recomponho-me e sigo para meu apartamento. Carol estava à minha espera, com a mesa preparada em um belíssimo café da manhã recheado de bolos, pães e frutas, além, claro, de um caloroso abraço e o cheiro inebriante do café recém feito. Após muita conversa e atualização de todas as fofocas, fui me banhar e aproveitar a estadia em casa. Não tem nada que se compare a volta para casa. Deitar na minha cama, é hoje, a maior das minhas conquistas. Descansei, lembrando dos momentos com Laura, o jeito dela falar e sorrir, o olhar cerrado e a expressão imponente quando ouve algo que não é do seu inteiro agrado. Isso me faz sorrir e desejar pelo próximo encontro, que não tenho ideia de quando será. Dessa forma, com o coração cheio de gratidão e os olhos brilhando de emoção, adormeço. Não sei por quanto tempo dormi, mas acordei com o coração disparado ao ouvir Carol falando alto ao telefone:
- QUANTAS VEZES TEREI QUE FALAR PARA A ESQUECER? VOCÊ NÃO TERÁ O CONTATO DELA NOVAMENTE! CHEGA!
Me levantei e fui averiguar do que se tratava. Carol se mostrava bastante irritada, sentada à mesa, com o celular recém batido com força ao desligar.
- Carol, o que aconteceu? - perguntei ainda sonolenta.
- Adivinha? - falou balançando a cabeça, irritadíssima - Sua mais nova ex, está em polvorosa para ter seu novo contato.
Franzi o cenho, estranhando sua fala.
- Que ex? Nem sabia que eu tinha ex – sorri ao falar – De quem você está falando?
- Bia – revirou os olhos – Já me ligou mais de dez vezes,
- E você ainda não a bloqueou? - perguntei com ar de deboche.
- Eu bloqueio e ela liga de outro número.
- E o que ela quer? - arqueei a sobrancelha
- Não sei como, ela ficou sabendo que você sofreu um acidente e foi parar no hospital – explicava com expressão de desdém - E disse que te liga, mas o número que tem está indisponível e quer seu número novo para conversar com você.
- Aff!! Deus é mais – falei fazendo sinal da cruz – De dor de cabeça, já me basta os pontos.
- Então - ela continuava irritada – Mas como ela ficou sabendo de você, é o que eu gostaria de saber.
Concordei com esse questionamento. Curiosamente ela ficou sabendo de uma particularidade, que só meus amigos mais próximos e família, sabem. No entanto, não estou disposta a voltar vê-la, nem tampouco, conversar. É a falta de vergonha e o nível em conseguir se fazer de sonsa.
- Sua mãe também mandou mensagem e disse que vai vir aqui com a dona Chica – falou Carol ainda irritada - Pediu pra te avisar que logo chegam.
- Nossa!! Isso é uma grata surpresa! Que gostoso – sorri alegremente.
Tão logo entardeceu, elas chegaram, trazidas por um motorista de aplicativo. Dona Chica, com aquele sorrisão e abraço forte, me desejou Vida e Saúde. Minha mãe, carinhosamente me abençoou, colocando as mãos em minha cabeça. Receber carinho dessas duas mulheres, me fortalece.
- Que felicidade ter vocês aqui!!! - falei recebendo-as – Desse jeito vou bater a cabeça mais vezes.
Todas sorrimos.
Entre conversas e sorrisos, pedi uma pizza e tivemos uma calorosa e tagarela noite. Antes das vinte e duas horas, as duas foram embora, apressadas, devido meu pai ficar ligando e pedindo para que minha mãe se chegasse logo, pois ele queria jantar. Depois que se foram, me lembrei que não contei à minha mãe que Laura a conhece. Senti por isso, mas não faltará oportunidades de o fazer. Recolhi-me para o descanso, ainda mais feliz por esse dia repleto de carinho e atenção. De fato, meu dia foi muito melhor do que poderia imaginar.
--x--
Acordei com o celular tocando vigorosamente. Ainda com os olhos fechados, atendi com voz de sono:
- Oi! - falei mal humorada – Quem é?!
- Bom dia, bela adormecida – ouvi a doce voz de Laura no outro lado da linha – Pelo jeito, continua sendo bela adormecida – e sorriu.
- Bom dia! - falei bocejando e abrindo os olhos, tentando entender o motivo da ligação - Como você está?
- Eu vou bem, obrigada – respondeu carinhosamente – E você?
- Bem também! - bocejei mais uma vez – Que horas são?
Ela sorriu e em seguida respondeu:
- Hora de levantar, se arrumar que meu motorista está indo te buscar.
- Buscar pra quê?
- Tenho uma proposta pra você, mas só vou falar quando estiver aqui na minha frente.
Sentei na cama com os olhos arregalados e mexendo nos cabelos despenteados.
- Proposta? - franzi o cenho ao falar – Nem bem saí do hospital e já quer me fazer trabalhar?
- Sim, senhorita – sorriu ao falar - Está achando que será eternamente, bela adormecida?
- Seria bom – sorri em resposta – Se todos os dias você me acordasse!
Um breve silêncio se instaurou na ligação.
- Vinte minutos é o suficiente? - perguntou-me com voz decisiva.
- Pode ser! Vou me arrumar – respondi saindo da cama – Tem que ir de longo? - sorri ao perguntar.
- Venha como se sentir mais confortável. Estou à sua espera.
Desligou a ligação e eu me mantive ainda acordando, com a voz da Laura ecoando em minha mente. Fui direto para o banho, para despertar corretamente. Coloquei um macacão de manga longa e calça em viscose marrom, florido com minis flores brancas e vermelhas, uma sandália alta, igualmente marrom, com salto em corda. Passei uma maquiagem suave, porém, com lápis e rímel um pouco mais forte e batom vinho. Arrumei o cabelo de forma a esconder os pontos da têmpora e um leve toque do perfume de sempre.
Estava tomando uma caneca de café, quando o porteiro interfonou que tinha um senhor por nome de Pedro, à minha espera. Despedi da Carol, que me desejou boa sorte e desci ao encontro do senhor. Antes de sair do condomínio, pude ver o mesmo carro que vi a Laura sair no dia das flores. Um volvo luxuoso. Ao lado da porta, um senhor mediano, pardo, careca, com terno preto e camisa branca à minha espera. Ao chegar perto, gentilmente me cumprimentou.
- Senhorita Alice? Bom dia! - falou abrindo a porta traseira.
- Bom dia! Senhor Pedro? - perguntei-lhe gentilmente
- Sim, ao seu dispor – e acenou levemente a cabeça
Entrei no carro, com estofado em couro branco e senti meu coração disparar com a sensação de estar indo ao encontro de Laura. Minhas mãos suavam e mesmo tentando, não consegui esconder o nervosismo. Procurava assuntos para puxar com o motorista, mas minha mente estava muito acelerada para conseguir focar em um que rendesse conversa. Optei então, em ficar calada, igual a ele. Aproximadamente trinta minutos depois, estacionamos em frente a um complexo de três prédios espelhados, com lindos jardins na frente. Desci do carro e contemplei a altura dos três edifícios, que se completam entre si. Respirei fundo e dei meu primeiro passo em direção à recepção. Um moço muito simpático, branco, cabelos curtos, vestido socialmente, porém muito moderno, com calça e blazer justos e sapato de camurça, sem meias, veio ao meu encontro, estampando um cordial sorriso.
- Senhorita Stromps? – falou, assim que me encontrou.
- Sim – o respondi gentilmente.
- Seja bem vinda ao Complexo Veigas. É uma honra tê-la em nossa companhia – estendeu as mãos em cumprimento – Sou Tomás de Aquino, mas pode me chamar apenas de, Tom.
- Prazer! - o cumprimentei – Alice Stromps, e pode me chamar apenas de Alice – sorri cordialmente.
- Pode por favor me acompanhar? - estendeu a mão, apontando o caminho – A senhorita Veigas está ansiosa à sua espera.
Arregalei os olhos e franzi o cenho ao acompanhá-lo, tentando entender qual o motivo da ansiedade da Laura. O ambiente, sofisticado e ao mesmo tempo profissional, imponente como a dona, esbanja beleza e cuidado em cada detalhe. Sutilmente decorado com orquídeas que se contrapõe a muitos espelhos e elementos clean. À medida que ouvia o som da minha sandália ecoar pelo corredor, sentia igualmente meu coração disparar e minha face ruborizar. A subida no elevador, demorou mais do que o trajeto de casa até ali. A cada andar que era mostrado no visor, sentia meu coração disparar ainda mais e a respiração ficar ofegante. Quando as portas se abriram, a surpresa que me esperava, foi definitivamente a maior que já tive. Dona Chica, sentada atrás da mesa da recepção. Seus olhos espertos me encontraram por cima do monitor do computador e ela rapidamente levantou-se, igualmente surpresa.
- Uau – falou me olhando da cabeças aos pés - O que faz aqui, minha boneca?
- Dona Chica? - a respondi igualmente a olhando da cabeça aos pés - É aqui que trabalha?
- Sim, meu amor!! - e sorria emocionada, deu a volta pela mesa e veio me abraçar – Estou feliz estou em te ver aqui.
- E eu a você - retribui o abraço
- É você a entrevistada? – perguntou-me animada.
- Acho que sim – sorri e dei de ombros – A senhorita Laura me ligou, e pediu para vir falar com ela.
- Então venha – pegou em minha mão - Vou anunciar sua chegada – me puxou em direção a porta do escritório, bateu na porta e em seguia abriu – Senhorita Laura, com licença - falou cordialmente – Sua entrevistada chegou.
Olhei para o interior da sala e foi possível ver, quando a Laura levantou-se da cadeira e veio andando ao meu encontro, estampando um lindo e singelo sorriso. A contemplei, belíssima, em um vestido tubinho metade branco, metade preto, com decote canoa que terminava em seus ombros. Usava uma lace longa, encaracolada, com sutis mechas loiras. Batom vermelho e brincos longos, brancos. Suspirei com tamanha beleza. Ela gentilmente agradeceu a dona Chica e me recebeu porta adentro, fechando-a sobre si.
- Bom dia! - me falou com um sorriso estonteante, que me desconcertou inteira e estendeu a mão em cumprimento.
- Bom dia, senhorita Laura Veigas – respondi, cumprimentando-a na mão.
- Fique à vontade – apontou a mão, oferecendo caminho pela grande sala, com uma mesa de reuniões ao meio, um sofá lateral e a mesa dela ao fundo. A sala, com acabamento em vidros, possibilita avistar os arranha-céus da grande São Paulo.
- Obrigada! – respondi timidamente, observando os detalhes e sentindo o coração bater na garganta.
Ela me ofereceu alguma bebida, mas não aceitei. Sentamos então, à sua mesa. Ela me olhava com olhos vibrantes e com a respiração ofegante. Nossos olhos se encontraram e sutilmente a sorri, tentando esconder a timidez que me invadia.
- Então, a que devo a honra? - quebrei o silêncio, perguntando-a ironicamente.
- Fico imensamente feliz por você estar aqui! - respondeu me sorrindo e olhando fixamente em meus olhos - Não posso te mensurar o quanto.
- Obrigada! - senti o rosto corar – Estou igualmente feliz, e – dei de ombros – Curiosa!
Ela sorriu, baixou os olhos e direcionou um papel em minha direção, empurrando com os dedos e em seguida me olhando misteriosamente, com um leve sorriso nos lábios. Baixei os olhos e li o enunciado de Contrato. Franzi o cenho e estranhei.
- O que é isso? - perguntei imediatamente, sorrindo.
- Vou resumir pra você! - falou encostando-se na cadeira e segurando o sorriso – Um contrato de prestação de serviços de consultoria empresarial, exclusivamente para a Veigas Interprise Cia.
- O quê? - dei de ombros e sorri – Como assim? - continuei sorrindo, acreditando ser uma brincadeira.
- O que você não entendeu? - perguntou-me com expressão imponente.
- Tudo! - falei dando de ombros com o cenho franzido – Do nada, tem um contrato na minha frente de que serei a consultora exclusiva da sua empresa – dei de ombros e sorria timidamente.
Ela franziu o cenho, expressando não me entender.
- Qual a dificuldade em entender isso? - deu de ombros – Estou te oferecendo uma vaga de emprego, na atual, maior companhia empresarial do seu ramo – continuou a dar de ombros – Basta assinar e começar.
- De fato, seria uma realização, se, ao longo dos seis anos que tentei conseguir essa vaga, tivesse sido aceita – respondi, sorrindo ironicamente.
- Eu não sabia disso! - respondeu franzindo o cenho - Você já se mostrou interessada em ser minha consultora?
- Inúmeras vezes! - a olhava fixamente – No entanto, sempre recebi a resposta de que meus serviços, ainda não estavam à altura de tal cargo – e sorri novamente com expressão irônica.
Ela franziu o cenho e sua expressão tornou-se rude. Levantou-se e foi até um frigobar e serviu-se de uma dose de whisky puro, sem gelo. Voltou andando lentamente enquanto dizia:
- Eu, absolutamente, nunca soube disso – continuava com a expressão rude – Inclusive, irei averiguar essa informação, já que essa dispensa, não foi feita pela minha pessoa, tampouco chegou ao meu conhecimento, o seu interesse.
Arqueei a sobrancelha e consenti, com expressão amarga, demonstrando meu sentimento de insatisfação com os ocorridos.
- De antemão – colocou uma das mãos em meu ombro o que me fez arrepiar por inteira, enquanto tomou um gole da bebida - Peço desculpas pelo ocorrido - esboçou um leve sorriso – E, refaço o pedido – apontou novamente para o contrato já redigido à mesa.
Peguei o contrato nas mãos e cuidadosamente o li. Ela permanecia em pé, me olhando atentamente.
- Laura – dirigi meu olhar de baixo pra cima, até encontrar seus olhos que esboçavam um leve sorriso junto aos lábios - Eu agradeço imensamente a oportunidade – sorri gentilmente – No entanto, não posso aceitar.
Ela franziu o cenho e cruzou os braços na frente do corpo, com expressão imponente. Apoiou-se à mesa, ficando em pé ao meu lado.
- Posso saber o motivo? – perguntou-me incisiva, com as sobrancelhas arqueadas.
- Por muitos anos desejei prestar meus serviços à sua tão conceituada empresa, e ainda desejo, para ser sincera – a olhei fixamente nos olhos – Mas quero conseguir, pelo meu esforço, e não por influências suas.
- Influência? - ela estranhou a palavra ouvida e deu de ombros.
- Sim. Influência! - respondi seriamente – De uma semana pra cá, de uma forma surpreendente nos aproximamos, e milagrosamente, eu terei a oportunidade de, agora, trabalhar para você. Não encontro sinônimo diferente para essa situação.
Pude perceber sua expressão ficar ácida e o sorriso sumir de seu rosto. Ela suspirou profundamente e dirigiu-se à janela, ainda com os braços cruzados.
- Quanto você quer? – perguntou-me olhando para a paisagem da cidade.
- Não é quanto eu quero! – respondi estranhando a pergunta – É apenas que não quero ainda mais favores – dei de ombros.
Ela se virou e veio sentar-se novamente à minha frente. Mordia levemente o lábio inferior e me olhava profundamente.
- Eu triplico o que você ganha, de forma independente – insistiu – Só me fala quanto, para eu pôr no contrato.
- Acredito que estamos falando línguas diferentes, Laura! – insisti para ser entendida – A questão não é quanto vou receber pelo trabalho, e sim, que quero conseguir por mérito, não por favor.
- O mérito você já tem! – respondeu imediatamente – É uma das consultoras mais requisitadas e eu quero você, na minha equipe.
- Agradeço o reconhecimento – sorri lisonjeada – Mas por que assim, tão de repente? – dei de ombros – Não entendo!
Ela inclinou-se e apoiou os cotovelos na mesa.
- Porque, agora que te encontrei, não vou te perder! – e sorriu de um jeito que senti minhas pernas bambearem.
Meu coração disparou e a respiração ficou ofegante. Senti a garganta secar e as mãos suarem. O silêncio se estabeleceu e nossos olhares se conversaram de uma forma misteriosa. Retomei a consciência pós esse breve prelúdio onde só se ouvia meu coração.
- Então podemos, ao menos negociar? – falei também me inclinando e a olhando fixamente.
- Sou toda ouvidos! – a encostou-se na cadeira, com um sorriso sapeca nos lábios.
- Quais são suas empresas de menor valor hoje? – perguntei seriamente.
- Hoje, a NetCell que arrematei de você – e me sorriu fazendo careta – e uma rede de restaurantes em decadência.
Analisei os fatos que ouvi e pedi um minuto para pensar. Ela permaneceu sentada, encostada na cadeira, com os braços cruzados e me olhando atentamente.
- Quero dois meses! – a respondi demonstrando segurança no que falava.
Ela franziu o cenho e me sorriu.
- Para quê?
- Para fazer o valor das ações dessas empresas subirem e você revendê-las por ao menos, o triplo do valor que comprou – direcionei a ela um olhar confiante.
- Você seria capaz disso? – expressou-se com dúvida.
- Quer pagar pra ver? – arqueei a sobrancelha e sorri – Quem tem a perder, sou eu.
- Desafio aceito! – estendeu as mãos em cumprimento – Daqui sessenta dias, você volta assinar o contrato!
Sorri com sua empolgação. Se o motivo é me contratar, será em grande estilo. Vou provar pra essa mulher, que tenho muito a oferecer.
- Enquanto isso, terei acesso aos dados das empresas e acionistas?
Ela deu de ombros e me olhou profundamente:
- A bola está com você! – levantou as mãos como quem abre mão de tudo – Faça o seu gol de placa e, surpreenda-me!
- Posso começar hoje? – falei sorrindo.
Ela pegou o telefone, discou para algum ramal e me olhava atentamente, esboçando um sorriso faceiro.
- Cris, sou eu – continuava a me olhar fixamente – Alice Stromps, uma linda mulher loira de olhos verdes, logo estará chegando ao departamento. Dê a ela, tudo o que pedir.
Enquanto ouvia o que outra pessoa falava, ela sorria e mordia os lábios inferiores, não desviando o olhar do meu.
- Sim, Cris! – respondeu ao telefone – Pra já! É só o tempo da conversa aqui acabar e ela chegar aí. Não a faça esperar, eu saberei se tiver um minuto de atraso. Obrigada.
Desligou a ligação, apertando o gancho e em seguida fez outra ligação:
- Tom? – direcionou novamente o olhar para mim - Credenciais e rádio.
Desligou o telefone e sorriu gentilmente:
- Bem vinda, consultora Alice Stromps – estendeu as mãos em cumprimento – Estarei ansiosa pelos resultados prometidos.
A cumprimentei igualmente sorrindo e com o coração descompassado. Acabara de receber um dos maiores desafios que já me propus a enfrentar. Em apenas dois meses, conseguir tal façanha, será o auge de tudo que já fiz.
- Obrigada pela confiança! – sorri e senti meu rosto corar – Tenha certeza, que não irá se decepcionar.
Ela levantou-se para me acompanhar até a porta. Antes de abrí-la, virou-se de imediato e quase nos trombamos, ficando muito perto, a ponto de sentir o calor do seu corpo. Ela fechou os olhos e respirou fundo. A minha respiração ofegante, se fundiu à dela. Senti o cheiro de seu perfume e pude perceber nossos corações, no mesmo ritmo, batendo em semifusas de um compasso doze por oito. Eu engoli em seco e a olhei nos lábios. Pelo segundo dia, seguido, estar nessa situação, não me parece muito comum a duas amigas, e agora, chefe e funcionária.
- Ia te fazer um convite! – falou-me com voz baixa.
- Faça – a ordenei.
Ela se afastou um pouco, ainda segurando na maçaneta da porta e me olhou nos olhos:
- Domingo à noite terá um concerto na Sala São Paulo, com solo de cello – continuava e me olhar profundamente nos olhos e falar baixo, com a respiração ofegante – Aceita ir comigo?
- Sim – respondi de imediato, sentindo ondas de arrepios em meu âmago e a respiração ofegante demais para poder falar mais do que palavras curtas – Aceito!
Ela se afastou e abriu a porta:
- Te mando o horário por mensagem. Até mais! – e sorriu, estendendo a mão em cumprimento.
Minha face estava corada e minha mente confusa. Estendi a mão e a cumprimentei com um gentil sorriso.
- Até mais, senhorita Laura – nossos olhares se encontraram e foram direcionados para dona Chica, que nos olhava com espanto e um breve sorriso nos lábios.
A encarei e fiz careta, de modo a fazê-la entender, para permanecer calada. Ela sorriu e baixou os olhos, rapidamente. Saí da sala e o Tom me encontrou, antes de entrar no elevador, pedindo para acompanhá-lo.
Levou-me até o outro prédio, onde uma sala igualmente grande como a da Laura, me aguardava, devidamente preparada.
Mesa individual, mesa de reuniões com dez lugares, um sofá com frigobar ao lado. Paredes de vidro com visão para a grande São Paulo. Tom me entregou uma credencial de acesso ao complexo, um rádio com ligação direta à bolsa de valores e me apresentou o Cris, um gentil moço, franzino e com cara de nerd. Meu secretário.
- Qualquer coisa que precisar, só pedir ao Cris e ele prontamente lhe servirá – falou Tom gentilmente – Seja bem vinda!!!
- Obrigada! – sorri em resposta.
Tom se ausentou e Cris me olhava, aguardando ordens. Sorri timidamente a ele e o cumprimentei, me apresentando.
- Cris – abri um sorriso amarelo – Sou tão nova nessa função, quanto você!
Ele sorriu timidamente.
- Como quer que te chame, senhorita? – falou-me timidamente.
- Alice! Sou sua colega, não sua chefe! – sorri gentilmente.
- Obrigada, Alice! Seja bem vinda! Conte comigo! – acenou discretamente com a cabeça.
Pedi a ele que me apresentasse o andar e as pessoas que formariam nossa equipe. Ele prontamente, de forma eficaz, assim o fez. Apresentou-me o andar todo, os espaços e as pessoas. Foi tudo tão rápido, que não tive muito tempo de sentir o que estava acontecendo.
Assim que o tour acabou, tomei posse da minha, então, atual sala. Olhava tudo e não acreditava. Abri o frigobar, completo com água, refrigerante, sucos, vinhos, espumantes e whisky. Como forma de conhecer o espaço, percorri o dedo pelas mesas, observando todo o espaço, tentando me adequar a essa realidade de, de repente, ter uma sala só minha, em um dos prédios do Complexo Veigas. Só então, foi possível ouvir meu coração que ainda estava descompassado e meu cérebro, incrédulo.
Laura Veigas é ainda mais poderosa do que imaginei. No entanto, agora é a minha hora de impressioná-la. Mãos à obra.
Fim do capítulo
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