Capitulo 88
Capítulo 88º
Rebeca
Odeio discutir com Alice, ainda mais por problemas que não são nossos. Só penso em como a situação tem ficado delicada. Não consigo imaginar um jantar de noivado onde minha noiva não fale com minha irmã e não se dê bem com minha melhor amiga.
— Pode tirar esse bico. Não me importo de Alice não gostar de mim. Ela vai ter que me engolir. Sou sua irmã, tia do filho dela. Se existe algo que ela vai precisar fazer é me aturar. — Amélia falou brincando com as mãos de Teodoro.
— Amor, não fala assim. Parece aqueles personagens maléficos de filme. Você não é assim. — Letícia pediu com um sorriso meigo. — Alice só precisa de tempo.
— Mas é apenas a verdade. Alice tem que entender o que aconteceu. Superar e bola para frente. Estou cansada de vir para cá escondida. Pareço uma criminosa. — declamou. — Na verdade, Alice nunca foi muito com minha cara. Desde que fiquei com Virgínia e ela também. — revirei os olhos. Mais uma vez o nome dela surgia no meu dia era pedir demais deixarem esse nome, essa garota para lá? — E pelo visto a minha irmãzinha não superou a fotógrafa. — provocou.
— Não me preocupo com ela. — afirmei. — Só me incomoda.
— O nome disso é ciúme.
— Você é chata, sabia? — atirei uma almofada nela que atingiu seu rosto. — Olha só Elisa, a sua mamãe é chata.
— Mamaim satah. — a menina repetiu me arrancando risada.
— Olha isso. Ensinando palavrão a pobre criança inocente.
— Satah. — repetiu.
— Filha, não pode. — repreendeu Letícia.
— Lebeca mandô. — completou com os olhinhos brilhantes. Nós não aguentamos ela me chamando “Lebeca”, caímos na risada.
— Só quero saber se já colocaram a mamãe para fora de casa.
— Não. Sua mãe é maravilhosa. Ajuda com a Elisa. Faz um bolo delicioso.
— A mamãe cozinhando?
— Sim. Juro que é o melhor bolo que já comi.
— Ela só diz que não quer coloca-la para fora porque não é a mãe dela gem*ndo no quarto ao lado. — Amélia fez careta.
— Já disse. Ela vai ganhar vocês no cansaço. Até se mudarem e a casa fique para ela.
— Isso não vai acontecer. — Letícia falou. — Estamos vendo a compra do lote ao lado. Vamos aumentar a casa.
— Ótima ideia. Façam um quarto para a mamãe longe do de vocês e todo mundo fica feliz.
— Menos eu. A Lívia caminha só de calcinha em casa. — reclamou Amélia.
— Isso só acontece com você.
— Claro, parece que ela faz de propósito. — reclamou.
— Sua irmã anda tão ranzinza. — fez graça apertando a bochecha de Amélia.
— Zanzinza. — Elisa fez o mesmo apertando a outra bochecha.
— Menina, você está muito copia e cola. E ainda sai com erro. — Amélia brincou pegando a pequena no colo enquanto ela ria sem parar.
— Dezênio. – apontou para a tv.
— Você quer ver desenho?
— Simmmm! – bateu palmas, animada.
Amélia pegou o controle apertando o botão vermelho em seguida. Assim que a tela abriu, estava passando uma notícia sobre um acidente de carro. Pelas imagens que mostravam seria impossível que alguém tivesse sobrevivido. Perdi completamente a fala quando mostraram a placa de um dos carros. Parecia que o chão havia se aberto sob meus pés e me engolido por inteiro. O ar ficou difícil de chegar aos meus pulmões. Meu coração batia descompassado, lento.
— Alice. — balbuciei.
— O que tem a Alice? — Letícia questionou.
— Aquele é o carro dela. — Amélia afirmou sentando-se no braço do sofá.
— Meu Deus! O que aconteceu? — saltei com se tivesse recebido uma dose de adrenalina direto na veia. — Aumenta. Preciso ouvir.
— “Segundo informações das testemunhas o carro branco avançou o sinal vermelho, o ocupante do outro veículo não teve tempo de desviar ou parar seu carro. Uma busca feita pelo número da placa nos deu o nome da vítima, se trata de Alice Guimarães Rodrigues, filha da empresária Larissa Rodrigues e da advogada Isabella Magalhães. Mais informações serão transmitidas em instantes.”
As imagens continuaram seguindo. Inclusive do resgate do ocupante do outro carro. Eu não conseguia racionar, na minha cabeça Alice estava morta e nossa última conversa foi uma discussão boba por conta de nossas amigas. Minha vista escurecia cada vez que eu piscava. Nada estava em foco. Nada parecia no lugar. Alice pode ter morrido. Constatar isso era inaceitável demais para mim.
— Não pode ser. Não pode ser. — peguei meu celular.
Disquei o número de seu celular, chamou diversas vezes, mas sem nenhuma resposta. Não queria acreditar que tudo terminaria assim. Minhas mãos estavam trêmulas. Deixei o celular cair sobre o tapete. Em minha frente Amélia e Letícia diziam algo, mas eu não entendia nada. Estava tonta, parecia que meu corpo havia sido levado para outra dimensão.
— Talvez não seja ela. — escutei a voz da minha cunhada. Enquanto ela segurava minha mão nas suas.
— Foi ela. Ela foi buscar o carro na oficina hoje. — falei ainda tentando ligar. — No dia do aniversário dos meninos um cara bateu na traseira do carro. Hoje avisaram estar pronto o conserto. Ela saiu da empresa sozinha, depois que nós... — não conseguia continuar a frase. Meu corpo estava fraco. Me sentia perdida. Sem conseguir deixar a ficha cair de que talvez ela estivesse morta.
Agora eu entendia todo o desespero que ela sentiu. A angústia de não mais ver a pessoa que você ama é assustadora demais. Imaginar uma vida sem ela ao meu lado é como tentar pintar um quadro já pintado. Seria impossível. Alice foi, não, ela ainda é a pessoa que mais amo. Um amor que chega a doer em mim. Consigo escutar o descompasso do meu coração. Que parece desejar parar de bater. Tudo vai ficando escuro de novo. Meu corpo tem vontade própria, a gravidade parece me puxar mil vezes mais.
— Rebeca. Você está pálida. — Letícia falou me segurando. — Amor, ela vai desmaiar.
— O que aconteceu? — Tereza questionou da porta com os olhos arregalados.
— A Alice sofreu um acidente. Bom é o que acreditamos que tenha acontecido. — a voz de Amélia constatando aquilo chegava a parecer como se facas cortasse a minha pele, me dilacerando. Sem dor, nem piedade alguma.
— Não pode ser. Não pode ser. Letícia, me diz que isso é um mal-entendido. — pedi segurando em seus ombros.
— Eu não sei o que dizer. — respondeu confusa. Os olhos assustados.
— Eu não posso perdê-la. Não posso. — senti as lágrimas banharem meu rosto.
Teodoro começou a chorar. Seu choro ecoou no cômodo. Mesmo que meu cérebro ordenasse para meu corpo se mover em direção a ele, não consegui sair do lugar.
— Tereza, leva o Teo para o quarto. Por favor. — Amélia pediu. A mulher assentiu e logo foi consolá-lo. — Rebeca, onde a Alice iria hoje depois que pegou o carro?
— Na The Valley. Ela foi para a boate. Anna não tem ido. — afirmei.
— Eu posso ir até lá.
— Por favor. Faz ela me atender, descobre que não era ela naquele carro. Por favor. — suplico chorando. Sem perder as esperanças de que aquilo tudo não passasse de um mal-entendido. De uma simples confusão.
Narrador
Após ouvir as súplicas de sua irmã, Amélia seguiu para a boate. Ver o desespero no olhar de Rebeca lhe partiu o coração. Iria esquecer até mesmo o fato de Alice não estar falando com ela. Precisava apenas descobrir o que havia acontecido. No fundo, torcia para que a cunhada estivesse bem, e viva de preferência. Pelo percurso que precisou fazer acabou passando pelo local do acidente. Ficou surpresa pela força do impacto. Sabia ser impossível que alguém tivesse sobrevivido ao acidente. Só se por milagre.
Aquela altura até pedia por um milagre. Não saberia como a irmã iria reagir se de fato Alice estivesse no carro. Suas mãos tremiam enquanto seus dedos apertavam a direção. Alguns minutos, ela depois parou no estacionamento da boate. A casa estava cheia. Se questionou se a galera não trabalhava, já que era um dia normal da semana.
Passou por algumas pessoas com dificuldade. Viu Thiago no bar. Caminhou em direção ao rapaz.
— Amélia, que surpresa.
— Oi! Thiago. Me diz uma coisa, cadê a Alice?
— Nossa! faz um tempinho que não a vejo.
— Sabe se ela saiu?
— Não sei não. Devia ir dar uma olhada por aí. Se não a encontrar olha no escritório. Ela costuma se esconder por lá quando cansa do barulho.
— Beleza. Obrigada.
Deu meia volta. Observava as pessoas dançando na esperança de encontrar a cunhada. Vasculhou todos os lugares da parte de baixo. Então decidiu subir. Não queria voltar para a casa da irmã e ter que noticiar que não havia encontrado Alice. Empurrou a porta do escritório. A mesa estava vazia. Alice não estava ali. Deu um passo para frente e no sofá avistou a cunhada adormecida. Sentiu um alívio absurdo ao ver seus cabelos loiros, sua face adormecida. Completamente intacta. Poderia facilmente abraça-la.
— Alice. — chamou com cuidado para não assustá-la.
— Oi? — respondeu passando a mão nos olhos. — Amélia, o que faz aqui? — indagou sentando-se no sofá.
Amélia não respondeu. Apenas caminhou em direção a loira e a abraçou.
— É bom te ver. — falou prendendo-a ainda mais em seus braços.
— É bom te ver também, mas o que aconteceu?
— Quem estava com o seu carro?
— Tália. Mas por quê?
— Ela se envolveu em um acidente. Pensávamos ser você.
— Ela está bem?
— Não sabemos. As notícias do jornal não deram detalhes. Rebeca me fez vir até aqui. Ela pensa que você morreu.
— Nossa! Eu preciso ligar para a Anna. — pegou o celular.
— Você pode fazer isso, mas no caminho para casa. Rebeca está desesperada.
— Tudo bem. — concordou acompanhando-a até a saída.
Amélia narrou como foi dada a notícia no jornal. Disse sobre terem procurado o dono do veículo pela placa e assim por ser uma mulher dirigindo acabaram deduzindo que poderia ter sido Alice. A cada palavra escutada, Alice pensava na discussão que teve quando enfim se deu por vencida e entregou a chave a Tália.
— Poderia ter sido eu. — afirmou quando passaram pelo local. O carro completamente destruído.
— Mas não foi. E estamos aliviadas por isso. O que não quer dizer que não estamos preocupadas com Tália. — Alice percebeu que sua raiva já havia acabado há muito tempo. Só não entendia o que a levava a evitar um encontro com Amélia.
Era óbvio que a mulher estava abalada pelo que deduziram sobre o acidente.
— Amélia, eu sinto muito. — falou em um fio de voz. Sabia que não precisava explicar mais nada. A mulher ao seu lado entenderia perfeitamente sobre o que ela estava falando.
— Eu também sinto muito. Espero que você possa ter entendido que fiz apenas o que ela me pediu. — completou sem tirar os olhos da direção, talvez não tivesse coragem de fitar seus olhos.
— Eu sei.
Houve um instante de silêncio. Tudo parecia no lugar de novo. Alice se sentiu até mais leve depois desse momento de entendimento mútuo. Amélia parou o carro em frente a casa. O carro de Isabella e Larissa estavam próximos. Já que a notícia se espalhou. Elas caminharam lado a lado até a porta.
Foi possível ouvir vozes alteradas do lado de dentro. Alice foi a primeira a entrar.
— Vamos manter a calma. Ainda não sabemos se ela era. — Larissa tentava acalmar os ânimos da nora e de sua esposa.
Os olhos de Rebeca fitaram a direção da entrada. Logo que escutou movimentos vindos de fora. Ficou de pé. Pedindo em oração que Alice passasse por aquela porta. Sorrisse-lhe. Seus batimentos estavam acelerados, mais do que antes. As mãos suadas, indicando todo nervosismo que tem passado nos últimos minutos. Até que, avistou os fios loiros de Alice.
Correu. Correu em direção a ela, se atirando em seus braços. Fazendo-a desequilibrar e quase irem ao encontro do chão. Seu choro era de alívio. Abraçava Alice como se segurasse seu mundo nos braços. Ali estava o motivo de todo amor que tem vivido nos últimos tempos. Afastou-se para olhar seus olhos. Os mesmos olhos que eram os motivos de sua felicidade.
— Eu estou bem. Está tudo bem. — Alice falava com a voz abafada pelo abraço apertado que recebia.
Rebeca não conseguiu responder. Apenas queria ficar ali, presa no calor do corpo de Alice. Queria sentir o movimento que o peito dela faz enquanto respira, com uma prova de que ela está viva. Precisava ter certeza de que o seu amor estava mesmo em seus braços.
— Eu fiquei apavorada. — conseguiu falar, mas sem soltar seu corpo do dela. Não queria larga-la. Nunca mais.
— Sinto muito que tenha passado por isso. — Alice sussurra acariciando seus cabelos com as pontas dos dedos. — Não quis te assustar.
— Eu sei. Eu sei. — secou as lágrimas. Enquanto balançava a cabeça.
Os outros casais, também estavam abraçados. Observando a cena das duas. Isabella chorava de felicidade pela filha estar bem. Sentia-se aliviada. Lentamente Rebeca deu espaço para que as sogras fossem falar com a filha. O abraço foi tão apertado quando o que ela deu. Após se certificarem que Alice estava bem, Isabella indagou:
— Quem estava no seu carro?
Amélia olhou de soslaio para Alice. Sabia que essa também seria uma péssima notícia para a irmã. Afinal Tália é a melhor sua melhor amiga.
— Tália. — fala quase em um sussurro.
A surpresa de todos foi quase simultânea. Não demorou e Rebeca voltou a chorar. Alice e Amélia comovidas pelo choro sentaram-se uma de cada lado dela. Segurando sua mão. Tentando passar um pouco de conforto.
— O noticiário acabou de informar que ela faleceu. — Larissa disse com pesar.
Uma tragédia. Uma tragédia sem tamanho havia acabado com sua vida. Rebeca parecia não ter mais lágrimas. Sentia-se culpada. Culpada por tê-la levado para aquela cidade. Culpada por não ter sido mais presente na vida da outra nos últimos meses.
— Eu preciso saber da Anna. — Alice diz se pondo de pé, secando uma lágrima solitária que escorre por sua face. — Elas discutiram momentos antes de tudo acontecer. — afirma. Sua voz sai fraca, sua mente viaja até o instante da discussão em seu escritório.
Rebeca queria perguntar por qual motivo brigaram, mas naquele momento nada importava. Nada poderia trazê-la de volta a vida. Assentiu para a namorada. A loira saiu sobre o olhar atento de todas que estavam na sala. Tomou a lateral da casa. Suas mãos tremiam, seus olhos estavam marejados. Sentia um nó em sua garganta. Como se algo não pudesse ser dito.
— Você precisa ter calma. — fala para si. Disca o número de Anna. Precisava dar a notícia a amiga. Não poderia deixar que ela soubesse de outra forma.
O celular chamou diversas vezes. Em seguida foi para a caixa postal. Discou novamente, impaciente deslizando seus dedos pelos cabelos. Não desistiria. Até que, alguém atendeu.
— Anna?
— Não, Alice. É a Heloísa. Anna estava um pouco...
— Bêbada? — indagou.
— Sim. Ela chegou aqui transtornada. Está beijando várias na pista de dança. O celular dela ficou aqui no balcão.
— Droga! Segura ela aí para mim. Estou indo busca-la.
— Claro. Mas aconteceu algo? Você está com um tom preocupado.
— Aconteceu. Tália sofreu um acidente.
— Tália é a namorada de Anna?
— Isso.
— Caramba! Mas ela está bem?
— Não. Ela faleceu. As duas brigaram minutos antes. Penso que isso vai destruir a Anna. — afirmou com pesar.
— Acho melhor você vir logo para cá. Ela parece incontrolável. — afirma.
— Estou a caminho.
Encerra a ligação, segura o aparelho com força entre os dedos. Seus olhos aflitos buscam o céu. Respira fundo uma, duas, três vezes, tentando controlar a emoção. Se questiona se conseguirá ter aquela conversa com a amiga. Sabe que tudo vai mudar depois que encontra-la e der a notícia. O mundo de Anna vai ser abalado, e Alice espera poder ter forças a segurá-lo.
— Amor? — a voz doce de Rebeca ecoa atrás dela.
— Oi. — vira-se sem pressa.
— Consegui falar com Anna? — questiona segurando suas mãos.
— Não. Quem atendeu foi a Heloísa.
— Anna está no pub?
— Sim. Eu preciso ir até lá.
— Entendo. Eu preciso ligar para a família de Tália. — fala em um fio de voz. Alice a abraça. — Suas mães foram para o hospital. Vão cuidar para o corpo ser transportado para Ouro Preto.
— Certo. Eu preciso ir encontrar a Anna. — beija sua testa.
Caminham de volta para a sala.
— Se importa de me acompanhar? — questiona para Amélia.
— De forma alguma. — concorda.
— Letícia, sei que a noite foi cheia de emoções. Mas será que poderia ficar e fazer companhia a Rebeca? — pergunta.
— Fico sim. Não se preocupe. Dirija com cuidado. — fita Amélia.
— Vamos?
O silêncio no carro é mórbido. Amélia não sabe o que dizer. Alice não tem o que falar. Assim os únicos sons presentes são os externos. O vai e vem dos carros não distraiu a loira.
— Eu disse coisas horríveis a ela. — seu tom sai baixo, em uma confissão.
— Aposto que teve seus motivos. — a outra responde com cautela.
— Não deveria ter dado as chaves a ela. — lamenta.
— Você não teve escolha.
— Se eu tivesse ido atrás de Anna, teria sido cautelosa. Teria tomado cuidado. Não avançaria um sinal. Não teria...- a palavra não é pronunciada. O muro do silêncio se refaz. Impetuoso, reina sem dificuldade.
— O que aconteceu entre elas? — a voz de Amélia corta mudez do momento.
— Anna descobriu que Tália a traiu com a ex.
— Nossa! Isso só fica pior.
Lá está ele mais uma vez, o silêncio. A quietude. Tantos questionamentos, mas falta a coragem. Tanta culpa carregada por Alice, ao dizer coisas que não deveria a Tália. Amélia parou o carro. A loira fita a fachada do pub. Busca o ar com força. Seu estomago revira uma, duas, três vezes. Parece uma máquina de lavar roupas, girando, girando sem parar. De repente em um movimento súbito, ela abre a porta do carro, atirasse para fora. Tudo o que consumiu durante o dia sai. Ardendo, queimando sua garganta.
Amélia espera paciente. Sem saber o que dizer, como agir. Fica apenas parada, escorada a porta do motorista, com as mãos dentro de seus bolsos. Esperando que sua cunhada se recomponha.
— Eu preciso entrar. — a voz de Alice sai em um tom doído. Sôfrego.
— Posso te acompanhar.
— Vou apenas la busca. Não posso ter essa conversa com ela aqui. — Amélia gesticula com a cabeça.
Leva apenas alguns minutos para Alice atravessar a entrada do pub. Olha de um lado para outro. Procurando por Anna. Não é difícil de encontrá-la. Ela dança com os olhos fechados. Enquanto as mãos de uma desconhecida deslizam por sua pele.
— Tentei tirá-la daqui. — Heloísa fala se aproximando.
— Imagino que tenha sido algo difícil de fazer. — conclui forçando um sorriso. — Obrigada. — toca levemente seu ombro.
A mulher apenas acena. Enquanto observa a loira ir em direção a Anna. Ela está despreocupada, parece que desligou seus sentimentos. Mantém os olhos fechados na tentativa de fugir de sua dura realidade. Escutar a conversa de Tália e Lívia a machucou. Mas não tanto quanto o estava por vir. Alice sabia disso.
— Anna. — a chamou.
— Aliceee!!!! Como me achou? Deixa para lá. Vamos dançar? — segura sua mão puxando-a.
— Anna, precisamos ir.
— Ir? Para onde? Não tenho namorada, não tenho casa. Para onde posso ir?
— Para minha casa. — Heloísa percebeu que Alice não estava conseguindo tirá-la dali.
— Oh! Sua casa? Que proposta tentadora. — sorriu com malícia. — Você vem conosco?
— Não posso. Mas é um lugar para você ficar hoje. — insisti Heloísa.
— Posso dormir na sua cama? — provoca Anna.
— Sim.
— Você vai dormir comigo? — questiona mordendo os lábios.
— Só chego pela manhã. — desconversa.
— Que pena. — lamenta Anna. — Mas aceito. Vou te preparar um delicioso café da manhã. — beija seu rosto, próximo à boca. Heloísa fica paralisada. Entrega suas chaves a Alice.
— Obrigada. — diz passando por ela.
Anna agarrasse a Alice. Caminha cantarolando algo. Em nenhum momento falou sobre o que ouviu. Sobre sua briga com Tália. Alice precisava tocar no assunto, só assim poderia falar o que houve.
— Não vamos no seu carro. — fala com a voz firme. — Estou de carona. — aponta para Amélia que continua no mesmo lugar. Como se estivesse colada.
— De carona com a Amélia? — encara Alice.
— Sim.
— O mundo deve estar prestes a acabar. Você a perdoou?
— Sim. E o mundo não está acabando. — “Está desmoronando” Pensou. — Nós conversamos e acertamos as coisas.
— Sei. – falou desconfiada. — O que está acontecendo?
— Podemos ter essa conversa depois que você tomar um banho e trocar de roupa?
Apesar de estar morrendo de curiosidade, Anna aceitou a oferta. Precisava mesmo de um banho. Caminharam até o carro de Amélia, que a cumprimentou apenas com um aceno de cabeça. Anna não pode deixar de notar o vômito ao lado do carro. Mas pensou se tratar de algum mendigo ou alguém muito bêbado.
Alice indicou o endereço de Heloísa. Não demorou para chegarem. Anna não desconfiava o que estava por vir. Desceu do carro. Abriu a porta e foi a primeira a entrar.
— Se quiser pode ir agora. — falou Alice para Amélia.
— Você quer que eu vá?
— Não. Não sei se consigo fazer isso sozinha. — sua voz saiu baixa, chorosa.
— Vou fazer um café, enquanto isso vocês podem conversar no quarto. — falou batendo a porta do carro.
— Obrigada. — esperou que ela ficasse ao seu lado e segurou sua mão.
— Não precisa agradecer. — Amélia sorri, sem graça.
Assim que entram no apartamento Amélia vai até à cozinha. Não foi difícil encontrar as coisas para fazer o café, já que Heloísa era meticulosamente organizada. Alice seguiu pelo corredor, avistou Anna fitando a cama. Como se questionasse algo.
— Foi aqui que você fez o ménage? — fala sem olhar para trás.
— Você está mesmo lembrando disso agora? — respondeu com tom indignado.
— Ora! Me dê algo emocionante. Tudo o que tive hoje foi decepção. Preciso saber que alguém se deu bem. — vira-se para ela. Alice quer dizer algo. Quer contar aquilo que a fez procura-la, mas não consegue. Não ainda.
— Sim. Foi aqui. Mas a cama não é mesma.
— Hum! Entendo. Acredito que ela deva ter trocado tudo depois que terminou com a ex de novo. Eu preciso trocar as coisas em casa. Porque é óbvio que eu vou ficar na cobertura. Tália que lute para encontrar um lugar para morar. Ela tem sorte que depois do que ela fez eu não jogue as coisas dela lá de cima.
— Anna...
— O quê? Não venha me pedir para perdoar. O que ela fez é imperdoável. Ela me traiu. Sabe-se lá desde quando tem se encontrado com a outra. Sabe-se lá se ela não me traiu na minha própria casa. — havia mágoa em cada palavra dita. — Eu insisti. Perguntei tantas vezes. Aquela desgraçada mentiu para mim. Mentiu olhando nos meus olhos.
— Anna...
— Não, Alice! Não quero que você a defenda. Quero que fique ao meu lado. Que a odeie o quanto eu a odeio. Quero que deseje que ela morra. Assim como eu desejo. Só assim vou saber que ela teve o que mereceu.
— Anna. Ela já está. — a voz de Alice quase não sai, lá estava aquele nó novamente. Prendendo algo em sua garganta.
— Ela está o quê? — Anna se vira para ela.
— Ela está...- um, dois, três, respira profundo. Buscando o ar. Buscando coragem para dizer de forma clara. — Tália está morta.
O silêncio mais uma vez se faz presente. Era uma imensidão. O olhar de Anna parecia confuso, perdido. Assimilando o que acabara de ouvir. Não chorou. Não conseguiu. Sentiu o peso do mundo sobre meu corpo. Sentiu a culpa de desejar a morte de alguém que já estava morta. Fechou os olhos, abriu-os. Piscando rapidamente. Deu uma risada. Um riso alto, de puro desespero e incredulidade. Não conseguia parar de rir. Riu tanto que sua barriga chegou a doer. E só então conseguiu assimilar que havia acabado. Não só o seu namoro, mas a vida da mulher que amou. A mesma mulher que não foi digna de seu amor e dedicação.
A dor era dilacerante. Seus joelhos se curvaram lentamente. Suas mãos buscaram apoio no tapete do quarto. Os batimentos em seu peito estavam descompassados, dava sentir, dava para ouvi-los quase parando.
— Anna. — Alice fica em sua frente, na mesma posição. — Eu sinto muito.
Ela não responde. Apenas abraça o corpo da amiga e cai em um choro copioso. Seus ombros sacudindo, em movimentos descontrolados. Alice acaricia os seus cabelos, repetindo diversas vezes que tudo vai ficar bem. Que ela não teve culpa.
— Não foi sua culpa. — repetia. Diversas vezes, só não sabia ao certo se era para Anna ou para ela mesma. Se tentava se convencer de que não era sua culpa o que aconteceu a Tália.
A alguns quilômetros dali. Aírton assistia ansioso ao noticiário enquanto fazia sua refeição. Conseguia fazer ligações e usar a internet de um dos guardas, bastava dar alguns trocados a ele. Sorriu ao ver a notícia sobre a morte de Alice. Um sorriso de satisfação. Entregou o aparelho ao policial. E voltou para a cela. Encontrou George que lia pela milionésima vez o mesmo livro.
— Hoje sem dúvida é uma ótima noite. — fala sorrindo assim que adentra o pequeno cubículo.
— Do que está falando? — seu companheiro de cela fecha o livro, sentasse no colchão duro.
— Que aquela fedelha morreu! — bate palmas em comemoração.
— Alice? Seu plano deu certo? — seus olhos parecem ansiosos.
— Claro que deu. Eu te disse que ela morreria dessa vez. Acabei de ver no jornal. O carro ficou completamente destruído. Espero que ela também. — sorriu de forma macabra.
— Qual nosso próximo passo? — George indaga, dessa vez parece mais interessado no assunto. Salta da cama.
— Dar o fora desse lugar.
Fim do capítulo
Voltei!!!!! Espero que estejam todas bem. Se tudo ocorrer como o planejado vai saircapítulo na sexta. Comentem muito. Obrigada pelo apoio. Beijosss.
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paulaOliveira
Em: 18/03/2022
Minha querida autora, que tem o poder de despertar o pior das pessoas kkkkk.
Só queria deixar aqui o meu respeito e admiração, você é incrível, escreve bem pra caralho, tem uma imaginação de milhões, enfim você é FODA!!!
Eu, acima de qualquer coisa, respeito o ser humano Andriely que está atrás da tela escrevendo essa história foda pra mim.
Sobre o enredo, Talia partiu de forma triste e com certeza irá abalar os que a amam, mas a vida tem dessas e nem todos os finais são felizes e Andriely, minha autora, respeito máximo ao seu poder de nos surpreender.
Para as inconvenientes o meu mais sincero "Vai tomar no uc!!"
E quem achar ruim, abre um B.O ou faz um protesto.
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 17/03/2022
Olá! Tudo bem?
Ai, ai, ai... Autora, Autora, Autora, que sinuca de bico, hein?
Concordo com tudo o que foi dito aqui, inclusive por aquelas mais exaltadas, afinal quando resolvemos expor-nos sabemos que nem sempre agradaremos a todas.
Não que você não tenha uma saída... Você tem, e muitas — tenho certeza, afinal a história é sua —, mas conversando aqui com meus botões, a história das nossas meninas já poderia ter acabado — e numa boa — a alguns capítulos atrás.
No entanto, todas nós reconhecemos o seu talento e você está de parabéns.
Esperemos as cenas dos próximos capítulos.
É isso!
Post Scriptum:
''Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem algo. ''
Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde,
Escritor.
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FENOVAIS
Em: 17/03/2022
Maktube, você desperta amor e ódio das coleguinhas aí hein (se bem que umas estão precisando de ajuda psicológica para aprenderem a serem educadas ao se expressarem). ???????—
Tinha dado uma sumida, mas diante de tamanha onda de falta de noção ao comentarem a sua história achei pertinente comentar: a história é tua, os enredos, as tramas e as mudanças de clímax são seus. Todxs são livres para continuarem, ou não, lendo sua obra (inclusive com comentários ou não). Expressar opinião não é sinônimo de expressar violência verbal, falta de educação ou falta de noção perante algo que tu não gostou ou que não concorda.
Infelizmente, não existe o feliz para sempre para todo mundo o tempo todo. As histórias (por mais imaginárias que sejam) não são condicionadas a seguirem o padrão feliz para sempre.????
Enfim, força guria e até o próximo capítulo. Não abandonei a história não, achei até interessante o rumo que você deu, a muito tempo alguém não me surpreendia assim (a última vez foi a Diedra, mas a essência da escrita dela é assim).
E só para contar é um ótimo capítulo sim. ????
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Leidigoncalves
Em: 17/03/2022
Nossa Autora q reviravolta hein, eu meio q já esperava isso, mesmo não desejando esse final trágico pra Tália, mas acredito que você tenha seus motivos pra dar esse destino a ela.
Tenho que falar que sinto pena de você, as leitoras desse história são muito intensas e estão P da vida com você kkk.
Mas saiba que acredito muito nessa história e sei que ainda tem muita coisa pra acontecer, e falando nisso, o que me deixou realmente preocupada nesse capítulo é essa fulga do Airton, isso não vai dar bom, creio que quando ele sair e descobrir que a Alice não está morta como ele acreditava, o ódio dele por ela irá aumentar, e me dá medo o que ele pode fazer contra ela.
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preguicella
Em: 16/03/2022
Eitaaaa, era Tália!
Vixi mulher! Tu arrumou um problemão pra sua vida, o fã-clube da Tália te odeia!
Que bom que a história é sua e vc que escreve! Se fosse pra ler só o que eu quero eu viraria escritora!
Continua que tô gostando!
Bjuuuu
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Joanna
Em: 16/03/2022
Ainda bem que as autoras mantém sua autonomia criativa independente de nossas opiniões como leitoras.
E mesmo sendo opiniões contrárias, a autora desperta sentimentos em sua escrita, ou seja, alcança seu objetivo.
Geniais estes trechos dramáticos!
Parabéns!
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JeeOliveira
Em: 16/03/2022
vlh q povo chato senhor, nao ta gostando da historia nao leia mais e pronto, cara cada autor tem seus pensamento e propositos numa historia, eu amava talia e anna, as duas eram divertidas, apaixonadas e combinavam em tudo, so q pelo visto nao era pra ser e bola pra frente
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barbara7
Em: 16/03/2022
Agora traz logo a podre da Virgínia, já que vem mencionando ela nos últimos capítulos. Aí Alice trai a Rebeca, Alice fica confusa, Alice e Virgínia de novo... ahhh, nos poupe né. Ninguém sabe que isso vai acontecer. Que capítulo merda, já deu pra mim a muito tempo essa história aqui. Estragou real ??‘???????‘???????‘???????‘???????‘???????‘???????‘???????‘???????‘???????‘???????‘?????
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izamoretti30
Em: 16/03/2022
Calma gente, tenho certeza que vai ser um mau entendido da imprensa. Ela vai sobreviver sim, meio que dando um suapense. Porque não é possível, elas eram os casais que mais gostamos, era o enredo da história. Tenho certeza que foi um mau entendido isso da traição, não faz sentido nenhum. Ainda mais deixar a Ana assim! Vamos esperar o próximo cap , calma!
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laisrezende
Em: 16/03/2022
PRIMEIRA vez que vejo terem prazer em estragar a história. Ainda bem que desapeguei, nem comentava mais. Tchau
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CatarinaAlvesP
Em: 16/03/2022
GEnte, como assim matou a Tália?
nao bastou a decepção da traição, a Ana ouvir e descobrir tudo. Agora mata ela é toda essa “responsabilidade” nas costas de todo mundo odiando ela. Sem falar que era o quarteto da história, estragou real agora autora que péssimo cap
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JeeOliveira
Em: 16/03/2022
uou, eu nao tava gostando dessas coisas da Talia, mas eu desejava que ela se recuperasse e as coisas fossem se ajeitando, cara essa morte foi muito pesada e num momento bem complicado, espero q a Anna se recupere da perda e a Rebecca tb
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Marta Andrade dos Santos
Em: 16/03/2022
Nossa Talia morreuuuuuu não!
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