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  • Um Novo Começo: O Despertar de Alice
  • Capitulo 89

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Um Novo Começo: O Despertar de Alice por maktube

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Palavras: 4890
Acessos: 2550   |  Postado em: 18/03/2022

Capitulo 89

 

Capítulo 89º

Narrador

            O cheiro de comida recém-feita podia ser sentido do corredor que dava acesso ao apartamento. Heloísa não viu nenhum carro em sua vaga. O que a fez pensar que Alice não estava com Anna. A essa altura acreditava que nem mesmo Anna pudesse estar ali. Girou a maçaneta, a porta estava aberta. Tirou os sapatos, respirando aliviada. Seus pés doíam pelas horas de correria de um lado para outro.

            Atravessou a sala. Paralisando ao observar a bancada da cozinha com muitas coisas. Anna estava de costas, concentrada olhando o fogão. Nunca em toda sua vida havia visto tanta comida. Sua hóspede usava uma de suas camisetas. Os cabelos presos em um coque no topo da cabeça, deixando seu pescoço a mostra. Com a quantidade de bolos daria para abrir uma confeitaria. Pensou Heloísa ao mudar seu foco de Anna para a comida.

— Oi! — se fez ser vista.

— Oi! — Anna se viro.

            Heloísa perdeu o ar por alguns segundos. A beleza de Anna lhe tirava o fôlego. Piscou algumas vezes, se repreendendo ao lembrar que a namorada da outra havia morrido apenas há algumas horas. Era um pecado nem deixar o corpo da falecida esfriar e já estar desejando sua namorada.

— Desculpa a bagunça. Prometi fazer seu café da manhã, lembra? — caminhou até ela, apoiando-se na bancada.

— Lembro. Só não pensei que você havia chamando um batalhão para vir. — tentou brincar. Anna deu um sorriso ameno.

— Eu não consegui dormir depois que Alice foi embora. — escutar sua confissão fez o coração de Heloísa se apertar em sua caixa torácica.

— Devia ter me ligado. Eu teria vindo. — evitou se aproximar.

— Você estava trabalhando. E eu...bem, eu precisava assimilar o que aconteceu. — confessou.

— Eu sinto muito.

— Eu também. Queria que tudo tivesse sido diferente. Agora estou aqui, pensando em abrir uma confeitaria. — brincou. Heloísa sabia que aquele bom humor era apenas uma máscara para cobrir sua dor.

            Desviou da bancada que as separava. Aproximou-se de Anna lentamente. A envolveu em seus braços. Sem dizer nada. Anna recebeu o abraço sincero. De alguma forma aquilo a aqueceu. Incendiou seus pensamentos a respeito de sua culpa que a corroía. Dissipando suas lembranças da briga, momentos antes de tudo acontecer. Existiam muitos “talvez” e foi por pensar em todos eles, que ela não conseguiu pregar o olho durante toda a noite.

— Eu estou aqui. — sussurrou.

— Obrigada. — de alguma forma muito estranha, Anna sabia que o que ela dizia era verdade. — O que vamos fazer com toda essa comida? — indagou logo que a outra a soltou.

— Tenho uma ideia. — Heloísa sorriu. — Só preciso de um banho antes. Você se importa em me esperar?

— Não.

            A mulher não se demorou no banho. Alguns minutos depois apareceu usando roupas leves, os cabelos molhados. Anna se questionava como ela conseguia parecer tão descansada depois da noite de trabalho. Observou quando ela pegou suas chaves.  

— Podemos ir? — questionou virando-se.

— Sim. — respondeu saindo do sofá e ajudando a equilibrar os bolos para levarem até o carro.

            Não foi difícil ocupar todo o espaço vazio do veículo. Anna fez muita coisa. Ainda precisou levar algumas em seu colo. Afivelou o cinto assim que se sentou. Heloísa deu partida e seguiu para um rumo desconhecido.

— Juro que vou repor tudo o que usei. — comentou lembrando haver deixado a despensa da outra quase vazia.

— Relaxa. Não precisa se preocupar com isso. — tranquilizou-a com a voz serena.

— Eu insisto. — completou dando o assunto por encerrado. — Onde estamos indo?

— Quando chegarmos você saberá. — fez mistério.

            Anna não insistiu para que a outra contasse o rumo que iriam tomar. Fitou o céu, aquela manhã estava escura e fria. Por um segundo pensou em Tália. Mas meneou a cabeça, afastando o pensamento. Já havia pensado demais nisso.

            Não levou muito tempo para chegarem ao destino. O lugar parecia uma escola abandonada. As paredes sujas. Crianças jogavam bola, rindo, as roupas esfarrapadas, os pés descalços, mas a felicidade em seus rostos era genuína.

— Chegamos. — Heloísa falou desligando o carro. — Já esteve em um lugar como esse?

— Isso é um abrigo? — questionou confusa.

— Sim. Essas pessoas tiveram suas casas tomadas por uma empresa que foi judicialmente obrigada a pagá-los. Mas o dono alegou falência.

— Por que não voltaram a morar em suas casas?

— Todas já haviam sido derrubadas. Não havia uma casa para voltar. Desde então estão ocupando essa escola desativada, são mais de dez famílias. A prefeitura ainda mantém os pagamentos de luz e água. Mas o resto, é por conta de cada família. Eles fazem tudo para conseguir um trocado.

            Anna sentiu um nó se formar na garganta. Se questionou como não sabia disso, afinal morava na mesma cidade. Era impossível que algo tão grave tivesse passado despercebido pelo restante da sociedade.

— Toda semana eu venho aqui. Trago algumas comidas, remédios, roupas que alguns conhecidos me doam. Mesmo que eu não consiga fazer muito, tento ajuda-los como posso. — fez uma pausa. Anna tentava assimilar aquelas informações. Seus problemas naquele momento pareceram nulos. As brigas que deixou de ter com Tália, evitando resolver a situação das duas, parecia insignificante. E uma covardia. — Hoje eles terão muita coisa para comer. Graças a você.

            Ela piscou os olhos rapidamente. Heloísa já havia saído do carro, constatar isso fez com que ela fizesse o mesmo.

— Tia Helô. Gente! A tia Helô. — um menino correu em direção ao carro sendo acompanhado pelos outros. De repente a presença de Heloísa se tornou mais interessante do que a partida de futebol.

            Anna viu ele passar por ela como uma bala. Agarrou-se ao corpo de Heloísa que sorria prendendo-o em seus braços. O menino sorria feliz. Anna só não sabia ao certo se era por gostar muito de Heloísa ou se por saber que sempre que ela aparecia por ali trazia algo para eles comerem. Pensar nisso lhe entristeceu. Ele deveria ter pouco mais que cinco anos, os cabelos lisos, os fios negros caídos em seus olhos, como se ele não o cortasse há muito tempo. As roupas surradas. Os pés no chão. Mas ele tinha um brilho no olhar enquanto fitava Heloísa.

— Oi! Bento. Isso tudo era saudade? — perguntou assim que ele a soltou.

— Sim. A senhora disse que só viria na próxima semana.

— Pois é, mas aconteceu um imprevisto. — olhou em direção a Anna. — Eu trouxe uma amiga. — só então ele notou a presença da outra. — Essa é a Anna. Anna, esse é o Bento.

— Prazer. — falaram em simultâneo. Sorriram juntos.

— Você é linda.  — externalizou seu pensamento.

— Para com isso garoto. Você que é lindo, olha só esses cílios. Que inveja. — brincou Anna, o que fez as bochechas de Bento corarem levemente.

— Anna trouxe muitas coisas gostosas. Todas feitas por ela. — Bento a encarou, como se analisasse algo.

— Ela sabe cozinhar? — perguntou a Heloísa.

— Claro. A melhor cozinheira. — respondeu assanhando seus cabelos. — Preciso da ajuda de vocês. Podem me ajudar? Quero só ver a força que possuem.

            Assim se iniciou um empurra-empurra entre as crianças que queriam provar serem fortes. Logo todos caminhavam em direção a entrada da escola “abandonada” com as mãos cheias de comida. Anna observava que todos ali conheciam Heloísa, chamavam por ela, contavam suas histórias. E pacientemente ela escutava tudo. As coisas que trouxeram eram suficientes para todas as famílias.

            Anna ficou impressionada com a higiene do lugar. Mesmo com tantas pessoas habitando o mesmo espaço. A escola não era grande. Algumas famílias que eram maiores dividiam o que antes eram salas de aula. Outras por serem menores, acabavam dormindo em barracas separadas no pátio. A cantina era comunitária, assim como a cozinha e os banheiros que eram divididos apenas em masculino e feminino. Apesar das circunstâncias todos pareciam viver em harmonia. Mesmo com tão pouco, eles pareciam felizes.

            Só então Anna fez uma comparação entre ela e todas aquelas pessoas. Pois, mesmo tendo tudo, se sentia miseravelmente infeliz. Mas vendo aquelas pessoas que conseguiam ser feliz com tão pouco, sentiu-se culpada. Deitava todas as noites em sua cama sem nunca se questionar como estaria a vida das outras pessoas. Nunca teve um olhar amplo de uma sociedade que agora consegue entender que está completamente falida.

            Uma senhora se aproximou das duas. Bento correu até ela, segurando sua mão. Ajudando-a a se locomover. Os cabelos brancos, mas ainda era possível notar de quem o menino herdará os fios pretos. Os olhos também eram parecidos. Grandes, redondos e brilhantes.

— Dona Zila. Que saudades da senhora. — Heloísa foi em sua direção e abraçou a senhora.

— Também senti sua falta, menina. — a voz da senhora era calma, serena, expressava uma mansidão que de alguma forma acalentou Anna apenas por ouvi-la falar. — Vejo que trouxe companhia. — disse fitando-a.

— Sim. Essa é a Anna, uma amiga.

— Como vai menina Anna?

— Bem, Dona Zila.

— Bem? Esses olhos carregam uma tristeza. Não minta para uma velha. — falou e Anna travou. A senhora nem ao menos a conhecia e mesmo assim percebeu sua tristeza. Se perguntou se estaria tão evidente assim.

— Na verdade, não estou tão bem.

— Anna perdeu alguém importante ontem. — Heloísa falou e Anna foi puxada de volta ao assunto que insistiu em fugir nas últimas horas.

            Desligou o celular após receber muitas ligações de Alice, Rebeca, até Miguel lhe ligou. Mas não queria. Não queria pensar em ter que se despedir de Tália ou do que sobrou dela. Nem fazia ideia de como ela estava. Talvez um lado seu não quisesse descobrir. Sentiu seu coração bater lento. Havia perdido mesmo alguém importante. Possivelmente a única pessoa a qual foi capaz de se entregar verdadeiramente, possivelmente a que mais amou em toda sua vida. Mas sabia que não foi apenas a morte dela que causou a sua perda.

            Já havia a perdido antes. A perdeu quando Tália escolheu mentir, se encontrar as escondidas com sua ex-namorada. Quando transou com ela. Enquanto Anna sofria, desejando apenas que fosse um mal-entendido, que as coisas pudessem uma hora se resolverem. O ar de repente ficou mais denso. Anna buscou apoio na grande mesa de tampo branco. Estava tonta. Sentia que poderia desmaiar a qualquer momento.

            Estava magoada demais. Sentia vontade de gritar. Mas sabia que onde quer que Tália estivesse, ela não escutaria. Pior de tudo, ela não poderia responder. Não poderia aparecer e dizer que tudo foi uma grande confusão, que nada daquilo havia acontecido. Que ela não havia a traído. Mas agora era impossível. A dor a sufocava, prendendo seu corpo em uma agonia sem fim.

— Tália morreu! — falou para si. — Ela se foi. — concluiu.

            Parecia que seu subconsciente precisava ouvi-la dizer aquilo. Apenas para ter certeza do que havia acontecido. Para conseguir entender que não a veria mais. Não iria acordar ao lado dela. Não iria reclamar pelas roupas espalhadas, que a outra fazia apenas para irritá-la. Não sentiria mais os pés frios da namorada buscando se aquecer nos seus. Constatar isso, aceitar isso doía. Doía como nunca nada doeu tanto.

— Anna? — piscava olhando Heloísa, mas ela estava borrada em sua frente. Tudo a sua volta parecia fora de foco. — Você está bem?

            Tentou falar, mas não conseguiu. Queria responder, nada saiu de seus lábios. Piscou, piscou. Tentando focar em algo que pudesse trazê-la de volta. Não queria se despedir de Tália. Mas precisava. Precisava dizer um último adeus. Precisava ter a coragem que não teve nos últimos dias. Precisava ter uma última conversa com ela.

— Preciso ir embora. — balbuciou.

— Ir embora? Você está sentindo algo? — Heloísa se preocupou.

— Só me leva embora. Por favor. Preciso pegar meu carro. — disse já  se pondo de pé. Estava determinada. Nunca se sentiu tão corajosa.

— Claro. — concordou. — Dona Zila, a senhora se importa em distribuir as coisas que trouxemos?

— De modo algum. — a senhora concordou.

— Obrigada. — sorriu agradecida, tocou o ombro da senhora.

— Anna! — chamou-a antes que elas saíssem.

— Sim. — virou-se na direção da mulher.

— A morte não é o fim. Nem para quem faz a viagem, muito menos para quem fica. Guarde as coisas boas, as boas lembranças. O resto deixe o tempo curar. — falou segurando as mãos dela entre as suas.

            Anna não respondeu. Sentiu apenas o calor de algumas lágrimas escorrendo por seu rosto. Heloísa e ela caminharam em silêncio para o carro. Seguiram para o pub, onde o carro de Anna estava.

— Obrigada por tudo.

— Não precisa me agradecer. Sei que faria o mesmo por mim. — a outra concordou meneando a cabeça. — Se precisar de mim, tem meu telefone. Basta ligar.

— Certo.

            Heloísa esperou que ela entrasse em seu carro. Levou alguns segundos até que ela sumisse de seu campo de visão. Anna dirigiu no automático. Precisava ligar para Alice, coisa que o fez através dos botões do volante.

— Anna, onde você estava? — a voz da amiga parecia preocupada.

— Estava com Heloísa.

— Certo. — houve um momento de silêncio.

— Onde ela... onde o corpo dela está? — corrigiu engolindo seco.

— Foi levado para a funerária. Onde vai ser preparado para o transporte.

— Quero vê-la.

— Tem certeza?

— Sim. Preciso de um momento a sós com ela. — afirmou.

— Quer que eu vá junto?

— Não. Preciso fazer isso sozinha. Me manda o endereço. — ordenou e nem esperou resposta, encerrou a ligação.

            Logo o celular acendeu, indicando uma nova mensagem. Aproveitou que parou no sinaleiro para verificar o endereço. Digitou no GPS e rumou para o destino. Não havia mais o que chorar. Parecia que seu corpo havia secado. Desidratado. Respirou fundo logo que chegou. Suas mãos tremiam levemente. Apertou uma na outra, na tentativa de acalmar seus nervos.

            Por um segundo parecia ter esquecido com caminhar. Conseguiu sair do carro, mas se manteve em pé. Olhando fixamente para a porta de entrada. De repente toda sua coragem se esvaiu. Não conseguiria. Mais uma vez estava sendo covarde. Fechou os olhos. Decepcionada consigo mesma. Então, uma mão segurou a sua. Lentamente abriu os olhos. Lá estava Heloísa, olhando-a com carinho. Passando uma coragem que ela talvez precisasse naquele momento. Pensou em perguntar como a outra a encontrou. Porém, não importava. Sentia-se grata por sua atitude.

— Eu preciso entrar. — falou alto. Talvez para Heloísa ouvi-la, ou para ela mesma obedecer ao comando que seu cérebro insistia em mandar ao seu corpo que insistia em ficar imóvel.

— Podemos ir juntas. O que me diz? — concordou.

            Passaram pela porta de entrada. Alice já havia ligado pedindo que deixassem que a amiga visse o corpo de Tália. A recepção era silenciosa. Mórbida. A moça indicou a sala onde estava o caixão. Anna parou, hesitou. Receosa de que talvez não devesse ter ido até ali.

— Eu estou bem aqui. — Heloísa tocou seus ombros. Encorajando-a.

            Saiu de sua guerra interna. Um passo seguido do outro. Tocou a maçaneta, girou-a. Entrou. O frio no cômodo causou um leve arrepio em sua pele. A sala era toda na cor branca. No centro estava o luxuoso caixão. “Ande até lá.” — ordenou —. Seus pés se moveram incertos. Parecia que a cada passo a distância que precisava percorrer ficava mais longa. Parou fechando a porta. Buscou o ar com força.

            Fechou os olhos, pediu forças aos céus. Precisava fazer isso. Precisava pôr fim a tudo. Já que tudo agora, havia acabado. Aproximou-se do corpo sem vida. Tália estava bonita. Os cabelos bem penteados, uma leve maquiagem no rosto. As roupas limpas. Parecia em paz, talvez estivesse com um sorriso. Mas Anna não conseguiu ter certeza disso. Havia apenas um corte em sua testa onde a maquiagem não pode cobrir.

            Se permitiu ficar em silêncio alguns minutos, apenas a admirando. Nunca pensou que pudesse vê-la tão quieta. Logo ela que falava sempre  pelos cotovelos, que aparecia sempre  na sala de casa dançando alguma música animada às dez da noite, cantando em seu microfone improvisado, feito de uma colher. Anna sorriu ao lembrar. No fim parecia que Zila tinha razão, era melhor guardar o que foi bom.

            Então a recordação da traição, imaginá-la nos braços de outra. Enquanto planejavam alguns dias antes uma viagem juntas. Era injusto.

— Você não tinha o direito de partir assim. — falou em um sussurro. Os dentes juntos, indicando sua raiva.

            O silêncio foi sua única resposta. Inclinou o corpo um pouco para frente. Tocou sua pele, gélida, pálida. Sem resquício algum de vida. Acariciou os cabelos. Mantendo seu rosto próximo a ela.

— Devíamos ter resolvido as coisas. Eu queria ter te procurado. Queria não ter deixado espaço para que alguém se aproximasse de você. — secou uma lágrima que insistiu em cair. — Eu fui covarde. — afirmou. — Fugi da verdade. Suponho que por medo de ficar sem você. E olha que ironia, eu te perdi para sempre. — falou em um sussurro. — Me desculpa. Desculpa se deixei que algo faltasse na nossa relação. Por eu fugir de você. Mas você não tinha o direito de ir embora assim. — respirou fundo. — Eu amei você. Acho que, na verdade, você foi a única mulher que eu realmente amei de verdade. Imaginei uma vida inteira ao seu lado. Com os dois filhos que planejávamos ter. — deu um sorriso. — Talvez com o gato que você queria, e o meu cachorro. Não seria uma vida fácil. Mas seria a melhor. — mais uma vez o silêncio foi sua única companhia. — Agora você se foi. Se foi para sempre. Agora eu fico aqui. Com as lembranças do que vivemos. E os sonhos que não conseguimos concretizar. Só quero que saiba que eu faria diferente. Espero que você pudesse fazer o mesmo se tivesse oportunidade. Prefiro acreditar que faria. Que me amaria, que me escolheria. — sua voz falha. — Amo você. — beijou levemente seus lábios.

            Chorou ao receber o beijo gelado, sem vida, sem sabor. Sem qualquer resquício da mulher que ama.

— Isso não é um adeus. É apenas um até logo. — sussurrou. Fitando o corpo imóvel, tentando guardar cada pedaço de sua face. Virou-se e saiu da sala. Sem olhar para trás.

            Ao notar a porta ser aberta Heloísa saltou da poltrona. Anna chorava. Seus olhos vermelhos indicavam isso. A mulher caminhou até ela. Anna atirou-se em seus braços, em um choro copioso. Heloísa disse algumas palavras de conforto, mas o pranto de Anna não permitia que ela pudesse escutar, e de nada adiantaria. Nada poderia aplacar a dor que sentia.

            Levou alguns minutos para que ela se acalmasse. Heloísa levou-a para fora. Fez com que entrasse em seu carro. A levaria para casa. Depois daria um jeito de pegar o carro dela. Anna se deixou levar. Não tinha forças para dizer nada. Só precisava ir para outro lugar que não fosse ali. Estava apática. Cansada demais.

            Ao chegar em casa e acomodá-la em seu quarto, ligou para Alice.

— Consegui chegar a tempo. — falou baixo.

— Como ela está?

— Arrasada. Já era de se esperar. Mas ela precisava disso.

— Eu sei. Obrigada por ir.

— Não precisa agradecer. Anna também é minha amiga.

— Eu sei disso. Você acredita que ela vai para o enterro?

— Não sei. — respondeu sincera. — Posso perguntar.

— Faça isso. Iremos ainda hoje para Ouro Preto. Se ela decidir ir deixarei o piloto a postos.

— Certo.

— Certo. Até mais.

— Até. — encerrou a ligação.

            Heloísa precisava de um banho. A falta de descanso da noite anterior começava a dar sinais. Avisou que não iria para o pub. Depois foi para o quarto de hóspedes, onde tomou um banho e adormeceu em seguida.

            O clima na casa de Alice não era o dos melhores. Rebeca estava muito abalada com a morte de sua amiga. Fez tudo no automático o dia inteiro. Agradeceu por Isabella e Larissa tomarem a frente em relação à organização do transporte do corpo e o velório.

            Por diversas vezes no dia abriu a sua conversa com Tália. Lá ainda constava a última vez que Tália abriu o WhatsApp. As últimas palavras trocadas entre elas. Imaginar que não se falariam mais causava uma angústia sem medida. Pensar que ficou aliviada por saber que não havia sido Alice que dirigia o carro trazia um sentimento de culpa. Apenas por ficar feliz, mas a felicidade durou apenas alguns minutos. Escutar ser a amiga no carro, doeu significativamente.

— Amor? — a voz de Alice soou no quarto.

— Aqui. — respondeu saindo de seu transe. Já que fitava a própria imagem há alguns minutos. Completamente estática.

— Está pronta? Precisamos ir.

— Sim. — afirmou.

— Você ainda está sem blusa. — apontou para o seu corpo.

— Ah! Claro. — situou-se de seu estado quase nu.

— Já organizei as coisas do Teodoro. A babá irá conosco. Os dois ficam em casa enquanto estaremos fora. Não penso que um velório seja um bom lugar para um bebê.

— Claro. Como preferir. — concordou.

            Chegaram a Ouro Preto no final da tarde. Isabella, Larissa, Alice, Rebeca, Teodoro e Carla, a babá. As mães de Alice insistiram para que elaspudessem dormir algumas horas antes de irem até ao velório. Rebeca recusou de imediato. Alegou que não estava cansada.

            Buscou a varanda da imensa casa. Desbloqueou o celular. Abriu a galeria de fotos. As pastas apareceram de imediato. Buscou fotos antigas, das festas que ia com Tália. Conseguiu sorrir olhando-a sorrindo em algumas delas. Tantas memórias, tantas histórias que guardaria agora  para si. Nem conseguia imaginar o quanto tudo isso estaria sendo difícil para Anna.

— Você está bem? Deveria estar dormindo. — Larissa falou sentando-se ao lado dela.

— Não consegui. Na verdade, desde ontem. — afirmou. — Isso tudo me parece muito louco.

— A morte ainda continua sendo um mistério. — concluiu.

— Eu já morri. — afirmou. Larissa fitou-a curiosa. — Quero dizer, já senti como é não viver. — percebeu que não conseguiu explicar suas ideias com clareza.

— Penso que entendo o que quer dizer. — respondeu se ajeitando na cadeira. — Sei como é ficar entre a vida e a morte assim como você. — só então Rebeca se lembrou que Larissa também havia sido baleada.

— Você acha que para falar com alguém que já morreu você também precisa estar morto?

— Você falou com alguém..digo...quando estava “morta”?

— Sim. A mãe de Alice. — não mentiu. Larissa ficou pensativa. — E você?

— Meus pais e meu irmão. — confessou.

— Alice não acreditou em mim. Quando eu contei. Falei o quanto a mãe e ela se parecem. Contei sobre ela ter escolhido o nome do pai de Alice para o Teo. — fez uma pausa. — Mas tem algo que eu não contei. — Larissa a fita, ansiosa, lançando lhe um olhar encorajador. — Por um segundo Teodoro pareceu morto, como se não quisesse vir a vida. Mas eu supliquei para  ele reagir. Então, ele chorou alto, forte. Eu fiquei aliviada. Mas quando perguntei porque o pai de Alice não apareceu para mim, sua mãe disse que ele acabava de viver, graças a mim.

            Larissa estava inebriada pela história que acabava de escutar. Acreditava no que a nora narrou, pois, viverá algo parecido. Tocou as mãos de Rebeca.

— Você acredita em mim? — questionou aflita, com medo de que a outra a achasse uma louca.

— Sim! Claro que sim! — apertou suas mãos. — Mas fez bem em não contar a Alice. Ela não precisa saber disso. — Rebeca apenas concordou com um movimento de cabeça. — Seria uma informação que mudaria muita coisa na cabeça dela.

— Eu sei disso. Será que ela está bem?

— Tália? — questiona. Como resposta recebe um aceno. — Como a mãe de Alice estava?

— Parecia feliz. Em paz. — constatou.

— Meus pais também. Talvez não seja tão ruim como muitos acreditam. — concluiu.

            Rebeca concordou. Dividiram alguns minutos de silêncio. Cada uma imersa em seus pensamentos.

            Algumas horas depois, já estavam prontas para ir ao velório. Se despediram do filho dando as últimas recomendações a Carla, seria a primeira vez que os dois ficariam sozinhos sem a presença de Tereza. Rebeca usava um vestido preto, sapatos na mesma cor. Alice optou por uma calça cinza, blusa na mesma cor e um blazer.

— Deveria levar um sobretudo. A noite está ficando fria. — comentou ajeitando seu relógio no pulso. Rebeca não respondeu, pegou um casaco também preto.

            A casa da mãe de Tália não era longe. Não demoraram mais que vinte minutos para chegarem ao local. Havia mais pessoas do que Rebeca poderia imaginar. Viu muitos rostos conhecido assim que chegou. Falou com os que consegui lembrar o nome. Outros já fazia anos que não os via. Nessas ocasiões sempre era a amiga quem lhe lembrava os nomes dos colegas.

            O jardim da casa estava cheio de pessoas. Cadeiras espalhadas. E no centro, estava o caixão. Rebeca paralisou. Seus pés de repente pareciam pesar uma tonelada. Não conseguia se mover.

— Amor, você está bem? — Alice sussurrou.

— Não. Eu acho que não consigo fazer isso. — respondeu aflita, seus olhos marejados. A dor esmagando seu peito.

— Podemos ir embora. Voltar para o carro.

— Por favor!

            Ela se voltou para a saída, disposta a caminhar na direção oposta de onde a amiga estava. Mas antes que ela pudesse responder. Rita, mãe de Tália entrou no local. Sendo apoiada pelas outras duas filhas, Tessa e Tina, uma de cada lado. O lamento da mãe partiu o coração de Rebeca. A senhora a avistou.

— Rebeca, minha filha. — falou em um fio de voz.

            Sentiu então seu corpo ser tomado por um choro compulsivo. Parecia dividir a dor daquela mãe. Choraram juntas, abraçadas. Comovendo todos os presentes, incluindo Alice. Demoraram tempo suficiente no abraço.

— Minha filha se foi. — Rita concluiu.

— Eu sinto muito. — apertou sua mão.

            Após esse momento Rebeca precisou sentar. Alice a amparou. Sabia que a noiva não estava disposta a ir observar a amiga sem vida. Respeitaria o momento dela, entendia que não era nada fácil.

            Passava de dez horas quando Rebeca disse precisar ir embora. Uma chuva se iniciava. Dando sinais de que possivelmente a noite inteira seria de muita água caindo, como se os céus também chorassem pela morte de Tália.

— Vamos?

— Claro, meu amor. Vou apenas buscar o carro.

            Caminharam juntas para a calçada. Isabella e Larissa haviam ido mais cedo. Rebeca cobriu seu corpo com o casaco. Esperava por Alice. Olhou para cima, os pingos ficavam mais grossos. Precisava lavar sua alma, tirar aquela angustia. O que poderia ser melhor que um banho de chuva?

            Não se importou quando seus sapatos tocaram a lama da rua. Deu alguns passos se distanciando da comoção do velório. Abriu os braços, deixando as gotas tocarem sua pele. Girou, girou até sentir um pouco de vertigem.

— Amor, o que está fazendo? — Alice gritou abaixando o vidro do carro.

— Vivendo! — foi sua resposta.

            Alice entendeu o que ela quis dizer apenas com aquela simples palavra. Saiu do carro, deixando a porta aberta e o veículo ligado. Apenas alguns passos dados e estava em frente a Rebeca. Enlaçou sua cintura.

— Eu nunca senti tanto medo na minha vida inteira tanto quanto senti ao imaginar que você estava morta. — confessou a noiva. Ela fez menção em falar, mas Rebeca a interrompeu. — Shii! É minha vez de falar. — concordou balançando a cabeça, seus cabelos pesados por já estarem molhados. — Entendi o seu desespero quando eu fui baleada. Foi injusto com você. Eu deveria ter contado o que queria. Hoje entendo sua raiva. Pois, sei o que passou ao imaginar que eu não voltaria. E Deus! Imaginar que eu poderia ter te perdido me matou por inteiro. Eu não saberia como viver sem você. — tocou seu rosto. — Perdi a minha melhor amiga e fico me perguntando como vou fazer daqui para frente. Imagina o que te perder faria comigo. Eu sinto muito. — disse chorando, suas lágrimas se misturando as gotas de chuva.

            A loira a envolveu em seus braços carinhosamente. Sabia que a noiva precisaria de seus cuidados por algum tempo. Tinha noção do quanto Tália era especial para Rebeca. Agora tinha a responsabilidade de cuidar de duas pessoas que se importavam muito com Tália, uma era sua noiva, a outra, Anna, e ao pensar nela se questionou se estaria.

Fim do capítulo

Notas finais:

Oiê!! Boa noite. Como prometi mais um capítulo para vocês. Espero que o fim de semana seja marah.

Beijos de luz.

Gratidão.


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Comentários para 92 - Capitulo 89:
paulaOliveira
paulaOliveira

Em: 19/03/2022

Triste a despedida delas:( Ana vai precisar ser forte, ainda bem que tem amigas maravilhosas.

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JeeOliveira
JeeOliveira

Em: 19/03/2022

Gente que triste a despedida da Anna com a Talia, as duas tiveram uma historia bonita e que acabou de uma forma tragica, a Alice vai precisar cuidar da mulher e da melhor amiga nesse momento complicado e Heloisa vai ser importante para Anna nesse periodo tb

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Mille
Mille

Em: 19/03/2022

Oi autora 

Capítulo emocionante e vou ver sincera chorei 

É triste perder alguém para a morte, mais temos que lembrar dos momentos alegres e felizes que tivemos com a pessoa. E assim a cada dia é um progresso de aceitar que nunca iremos ver e nem falar. 

Alice terá que da apoio a Rebeca e a Anna e Heloisa vai ajudar muito. E acho que depois de conhecer um pouco o trabalho do abrigo ela va encontrar paz e alegria para continuar. 

Tô só torcendo para esses dois ou diria três fdp caírem .

Bjus e até o próximo capítulo 

E num liga para esses polvo que te criticam, sua história é linda e muito emocionante. Você nos comove em dualidade de emoção. Espero que tenha sempre inspiração e tempo para nos presentear com novas histórias.

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Baiana
Baiana

Em: 19/03/2022

Confesso que não li a parte que Anna se despede de Talia,não consegui. Muito dolorido essa parte,me fez lembrar quando me despedi do meu irmão.

E o milagre não aconteceu...

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Lea
Lea

Em: 18/03/2022

Nossa,que capítulo doloroso. Ver a Anna desse jeito me quebrou inteira! Foi muito triste essa despedida!

Como falou Alice,ela vai ter que cuidar muito da Rebecca e da Anna. A Heloísa vai ajudar muito também com a Anna,já demonstrou isso.

Esse " acidente" terá que ser muito bem investigado,espero que a polícia não esteja envolvida!

Obs: esse capítulo doeu no fundo da alma!

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preguicella
preguicella

Em: 18/03/2022

Mulher, que triste. Tadinha de Anna, nem pode fechar esse ciclo da vida, mas a vida é assim mesmo, nem tudo é perfeito.
Entendo que queiram ler só histórias com finais felizes, mas não é sempre que todos tem um final feliz e nem por isso devemos destilar ódio nos comentários.
O mais engraçado é do dizee que a história tá chata, que já devia ter acabado, que a autora se perdeu, mas tá firme e forte acompanhando. Os números de leituras mostram que estão acompanhando! Só querem ter o prazer de ser desagradáveis! Que dó! #sqn hahaha

Bju

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