Capitulo 90
Capítulo 90º
Narrador
Alguns dias se passaram desde a morte de Tália. Rebeca seguia encarando a mesa vazia todas as manhãs quando entrava na empresa. As coisas continuavam do mesmo jeito que a amiga havia deixado, não mexeu em nada nem permitiu que ninguém o fizesse. Assim como a mesa, a vida de Rebeca parecia vazia também. Não havia mais com quem conversa, além de Alice.
A ausência de sua melhor amiga fez com que ela percebesse que desde sempre, a única pessoa mais próxima que teve foi ela. Na maioria das vezes conheceu outras pessoas apenas por insistência de sua parte. Tália era fácil de fazer amizades, e isso de certa forma sempre a impressionou. Mas agora Tália partiu. Partiu deixando um espaço vazio, um silêncio ensurdecedor. A dor de uma ausência que não poderia ser substituída.
O dia estava nublado, para Rebeca parecia que desde a morte dela o mundo estava tentando deixar todas as pessoas tristes. Tirando do céu o calor, o brilho do sol. Passou a mão nos olhos encarando a avenida lotada de carros, congestionados por conta da forte chuva. Não dormiu nada na noite anterior, na verdade, fazia dias que não sabia o que era descansar verdadeiramente. Sempre que seus olhos se fechavam era arrastada para o desespero que sentiu ao imaginar que Alice havia morrido. Mas, ela abria os olhos, fitando a noiva ao seu lado, adormecida. Respirando pesadamente.
Em seguida era tomada por culpa. Por sentir-se aliviada ao saber que não era Alice no carro. A realidade que Tália havia morrido lhe dilacera a alma. Não conseguia chorar, não mais. Chorou tudo que precisou no momento que colocou uma rosa-vermelha sobre o caixão fechado. Foi seu último adeus, ali derramou suas últimas lágrimas. Foi obrigada a aceitar que não a veria mais.
Alice também andava mais calada. Estava indo trabalhar quase todas as noites no lugar de Anna. Essa era um verdadeiro mistério. Não apareceu no velório, nem no enterro. Desde que, tudo aconteceu simplesmente sumiu. Isso causava revolta em Rebeca. Anna parecia especialista em fugir. Fugiu quando as coisas saíram do controle no relacionamento dela com Tália. Rebeca não podia deixar de pensar que se elas estivessem bem nada daquilo estaria acontecendo.
Desejava que em algum momento iria acordar desse pesadelo. Tentava se convencer que tudo poderia ser apenas uma vivência em uma realidade paralela. No entanto, bastava abrir o WhatsApp para ver que para Tália o tempo congelou. Parou no exato momento que ela viu sua última mensagem. Apenas alguns minutos antes de tudo acontecer.
Constatar isso só fazia Rebeca perceber o quanto o tempo é precioso. O quanto as coisas mais inesperadas acontecem. Que tudo pode se acabar, apenas em um simples instante.
Um raio cortou o céu, fazendo piscar várias vezes assustada. Talvez não fosse uma boa ideia ir almoçar em casa. Pegou o celular, discou para Tereza.
— Dona Rebeca. Aconteceu algo? — questionou assustada. Andava preocupada com tudo desde o acidente.
— Não! Só queria saber como estão as coisas por aí. — falou tranquilizando-a.
— Sim. Está tudo certo. Já estou começando a fazer o almoço. Teodoro está tirando uma soneca. — Rebeca sorriu imaginando-o dormir.
— Ótimo. Penso que hoje almoçarei por aqui. Essa chuva não vai diminuir.
— Verdade. Parece até um dilúvio. — concordou Tereza. — E a menina Alice? Vem para casa?
— Não sei. Ela deve estar saindo da faculdade agora. Mas vou ligar para perguntar. Depois te mando mensagem avisando.
— Certo.
— Até mais tarde. Qualquer coisa me liga.
— Até. Pode deixar.
Encerrou a ligação. Em seguida discou para Alice. Chamou algumas vezes, mas ela não atendeu. Mandou mensagem e pediu para ela avisar se iria para casa. Pediu que tomasse cuidado com a tempestade. Depois resolveu voltar sua atenção para o trabalho.
Era o sétimo dia que Anna não aparecia na faculdade. Alice sabia que ela precisava de tempo. Ofereceu-se para ficar em seu lugar na boate. Isso há mais de quinze dias. Até então falavam-se apenas por mensagem, e Anna sempre dizendo estar bem. Só precisava de tempo.
Aquela manhã Alice acordou decida a encontrar a amiga. Sabia que ela não estava com a mãe. O telefone estava desligado, o que causou certa aflição na loira. Fazia mais de vinte e quatro horas que não sabia notícias dela. Sentia-se impotente. Não conseguia ajudar Anna e muito menos Rebeca, que seguia sem conseguir dormir.
Diversas vezes na madrugada observava a outra pensativa. Fitando o nada. Completamente perdida. Saiu da sala de aula. O céu parecia desabar. Correu até o carro. Abriu a porta, deu partida. Respondeu à mensagem que recebeu da noiva, avisou que não iria para casa e nem para a empresa. Contou sobre o sumiço de Anna, afirmando precisar encontrá-la. Apenas não fazia a menor ideia de onde ir.
Como em um estalo, teve uma ideia. Discou para Heloísa, sabia a ajuda que a negra havia dado. Discou seu número, mas sem resposta. Decidiu então que iria até seu apartamento. O que era um percurso pequeno se tornou algo longo, demorado e perigoso. Já que quase não conseguia ver nada do lado de fora. Estacionou em frente ao prédio. Decidida deu passos largos até a portaria, tentando não se molhar tanto.
— Boa tarde! Vim ver a Heloísa.
— Boa tarde! Dona Heloísa acabou de descer para a garagem. — o senhor respondeu. — Ela e a outra moça passaram com muitas caixas. Julgo que estão de mudança. — “Informação demais” — pensou.
- Ah! Certou. Vou esperar elas saírem. Obrigada.
Voltou para o carro, correndo da chuva e do vento frio. Esperou o outro veículo apontar na saída da garagem. Não demorou a vê-las. Andou devagar até elas. Abaixou o vidro enquanto buzinava. Tentando chamar atenção das duas.
— Alice? — disse Heloísa incerta.
— Oi! Vim procurar a minha melhor amiga, você sabe dela? — brincou olhando Anna, que apenas deu um meio sorriso, gesticulando com a cabeça.
— Não conheço essa. — brincou Helô. — Tem algo para fazer agora? — questionou.
— Não.
— Então nos siga. — não foi uma pergunta, mas também não saiu em um tom de ordem. Mesmo assim, Alice obedeceu.
— Vai mesmo leva-la? — Anna questionou quando Heloísa subiu o vidro.
— Sim. Ela está preocupada com você. E com esse tempo acredito que a escola deva estar um caos. Quanto mais mãos, melhor.
Dirigiram por mais de quarenta minutos. Aquela era uma parte mais afastada da cidade. Não tinha lembranças de já ter ido até aquele lugar. Havia muitas casas em condomínios de luxo. Se questionava o que haviam ido fazer ali. Alice viu o carro passar pela entrada. Estranhou quando se viu diante de uma escola. Heloísa parou o carro na entrada. Alice fez o mesmo, mas do lado de fora. Um pouco mais afastado.
Lançou-se para fora do carro. Pisou em uma poça de lama, logo sentiu seus tênis encharcarem, mas não se importou. Seguiu olhando para frente, vendo Heloísa abrir a traseira do carro, enquanto Anna gesticulava chamando algumas pessoas para ajudar a carregar as caixas para dentro.
— Como posso ajudar? — questionou ao lado de Helô.
— Carregando isso. — apontou para algumas cestas básicas.
Alice levou algum tempo para entender as outras duas iriam fazer ali. Mas, obedeceu pegando as cestas, caminhando para dentro da escola em seguida. Não pode deixar de notar o lugar, de perceber os olhares curiosos das crianças que lhe fitavam. Os adultos estavam ocupados demais. Tentando consertar as goteiras do lugar, pessoas correndo de um lado para outro, com rodos. Para retirar poças de água que já se formavam do lado de dentro.
— Mexa-se. — Anna ordenou. Alice saiu de seu transe. Seguindo-a.
Segurou a ponta do cabo que lhe foi estendido. Entendeu o que deveria fazer, não questionou apenas o fez. A forte chuva não cessava, quanto mais água retiravam mais parecia surgir. Era um trabalho perdido, na opinião de Alice.
— Pessoal! A parede da sala dois vai cair. — uma voz soou mais alta que o assobio do vento.
Todos se voltaram na direção da voz. O homem era magro, cabelos com tranças, negro. Os olhos profundos, sofridos. Alice não demorou a correr na direção indicada. Assim como os demais.
— Precisamos tirar as coisas de dentro. — ele falou.
Alice olhou em volta. Havia pouco a ser tirado. Algumas pessoas passaram por ela levando o colchão improvisado, algumas roupas nos braços. Produtos de higiene. Foi tudo rápido demais. A parede começou a ruir. O telhado a desabar.
— Onde está a sua irmã? — o rapaz perguntava olhando para um menino, ele deve ter pouco mais de sete anos. O garoto abre os olhos assustado. Aponta na direção da sala.
A loira continuava parada na entrada. Vira-se para dentro. Então observa no final da sala, no cantinho, uma menininha, chorando. Segurava uma boneca no colo. Alice não teve tempo para pensar. Apenas entrou na sala correndo o mais rápido que pode. Era a única que conseguiria chegar a tempo até ela.
Nunca em toda sua vida soube que conseguiria correr tão rápido quanto naquele instante. Levou cerca de cinco segundos para agarrar a menina pela cintura, correndo de volta para a saída enquanto tudo ia ao chão.
Alice colocou a menina no chão. Podia sentir seu sangue correr nas veias, estava completamente energizada pelo que acabara de fazer. Seu coração estava acelerado. Ficou de joelhos, para conseguir fitar a menina que ainda chorava.
— Você está bem? — questionou passando as mãos pelos cabelos dela.
A menina apenas meneou a cabeça, dizendo que sim. Os olhos dela eram negros como a noite. Alice sentiu pena pelo susto que a garota teve.
— Você me deu um baita susto. — a voz do rapaz estava próxima. Ele a abraçou forte em seus braços, mas a menina não tirou os olhos de Alice. — Obrigada por tê-la salvo. — o rapaz olhou em sua direção. Só então Alice percebeu a semelhança entre eles. Os olhos era os mesmos, a face, quase tudo era igual.
— Não precisa agradecer. — forçou um sorriso. — Só preciso saber da filhinha dela. — com a bronca do pai, Alice notou que a menina voltou a chorar.
— Joia. — respondeu contendo o choro.
— Joia?! Que nome lindo.
— Eu voltei para busca-la. – informou.
— Você se arriscou para salvar sua filha. É uma menina de muita coragem. — seus olhos se iluminaram, um sorriso se desenhou em seus lábios. — Mas, preciso saber seu nome, afinal toda heroína tem um nome.
— Dominique. — sorriu. — E o seu? Você também é uma heroína, me salvou lá dentro. — completou de forma lógica e esperta.
— Alice. Muito prazer. — esticou a mão para ela.
— Nique, você se machucou? — o menino se aproximou. Segurando os ombros da garota.
— Eliel, estou conversando com a moça, não está vendo? — informou colocando-o para o lado.
— Você é chata, me preocupo e você ainda é malvada comigo. — o menino responde chateado. Ela revira os olhos e Alice prende o riso. Dominique tem uma personalidade forte.
— Você é dramático igual ao titio Dré. — revira os olhos novamente. — Mas, eu estou bem. A moça me salvou. Não foi dessa vez que se livrou de mim.
O menino sorri quando ela envolve seus braços envolta dele. Alice apenas observa a cena, até que Anna chama sua atenção. Ela se afasta dos dois sem eles perceberem.
— Obrigada por tirar ela de lá.
— Não precisa agradecer. Seus filhos são lindos. — afirmou com um sorriso.
— Eles não são meus filhos...quer dizer, são como se fossem. Já que eu os crio. Mas eles são meus sobrinhos. — diz coçando a cabeça. Alice sente vergonha, só então percebe que ele não teria idade para ser pai. Devia ter pouco mais de dezoito anos. Eliel deveria ter oito, Dominique cinco, ou seis. Não sabia ao certo.
— Oh! Desculpe. Eu não sabia. — houve um momento de silêncio. — Eu sou Alice. — estendeu a mão.
— André, mas todos me chamam Dré. — apertaram as mãos.
— Alice! Precisamos de sua ajuda. — a voz de Anna ecoou no pátio. Chamando atenção de todos.
— Preciso ir.
Passaram boa parte da tarde tentando diminuírem os estragos causados pela chuva. Alice esqueceu até que não havia almoçado, já era quase final de tarde. A tempestade deu uma trégua. Restava apenas colocar tudo de volta aos seus lugares.
— Eu estou impressionada. — confessa para Anna e Heloísa. As três estão tomando café e comendo um pedaço de bolo ofertado por Dona Zila. — Como essas pessoas conseguem viver assim?
— Com doações.
— Não falo disso. Falo da união de todos. Trabalhando em conjunto. Isso é impressionante.
— Eles são como uma família. Vivem aqui há mais de um ano. — Heloísa informa. Já havia contado como todos perderam suas casas. Alice se comoveu e depois do que viu decidiu que também iria ajudar.
— Ainda não me conformo por viver tanto tempo sem imaginar que algumas pessoas poderiam viver em uma situação pior que a minha. — Anna confessa. Heloísa segura sua mão, o que não passa despercebido ao olhar de Alice.
— Eu não fazia ideia. Mas agora quero ajudar.
Engataram em uma conversa cheia de planos. Anna estava empolgada pela possibilidade de ajudar aquelas famílias de uma forma maior. Heloísa sabia que não se arrependeria de ter levado Alice até lá. Ela estava cheia de ideias, querendo movimentar outras pessoas, encontrar parcerias. Oferecer emprego na boate para os mais novos. E claro continuar ajudando aquelas famílias.
Havia esquecido que não falou mais com Rebeca. Já estava escurecendo. Sabia que iria levar um puxão de orelha pelo sumiço. Mas estava animada, ansiosa para contar como seu dia havia sido louco. Compartilhar as ideias que teve para conseguir ajudar aquelas pessoas.
— Alice! — ouviu um grito. Ao se virar na direção do som encontrou a pequena Dominique correndo em sua direção.
— Dominique. Está tudo bem? — preocupou-se. Fechou a porta carro.
— Sim. Eu...eu...- estava cansada por correr.
— Se acalma, respira fundo. — ela obedeceu.
— Eu queria te dar isso. — estendeu um papel em sua direção.
Alice olhou dos olhos da menina para sua pequena mão estendida. Os olhos dela brilhavam de uma forma quase inexplicável. Ansiosos para que a outra recebesse seu presente. A loira abriu um sorriso, pegou a folha, estava mais uma vez de joelhos para ficar da altura de Dominique. Nele havia alguns rabiscos. Não foi difícil descobrir ser ela.
— Essa é você. — apontou com o dedo indicador. Alice sorriu, estava surpresa pelo capricho da menina. O desenho era mesmo parecido com ela. — Fiz até uma capa. — mostrou orgulhosa.
— Estou vendo. Ficou lindo.
— Meu tio disse que você foi mesmo uma heroína. E heroínas precisam de capa. — afirmou sorridente. Alice completamente dominada pelas palavras da pequena a agarrou. Não teve recusa alguma da parte de Dominique. Ela se deixou ser abraçada.
— Muito obrigada pelo desenho. — sorriu quando se afastou dela. — Vou mandar emoldurar e colocar no meu quarto.
— Jura? — perguntou surpresa. — Se eu soubesse teria caprichado mais. Nem dei o meu melhor. — deu de ombros como se cobrasse algo de si.
— Está perfeito. Sei que fez de coração.
— Não! Foi com as minhas mãos. — mostrou as mãos abertas. Alice prendeu o riso.
— Quando digo que fez com o coração quero dizer que fez com amor. — explicou.
— Ah! Agora entendi. Então fiz com a mão do coração. — mostrou a mão esquerda. — Alice gargalhou e Dominique a acompanhou.
— Eu preciso ir agora. Tenho um bebê me esperando em casa.
— Você tem filhos? — indagou curiosa.
— Sim. Um bebezinho.
— Como é o nome dele?
— Pedro Teodoro.
— Ele parece com você? — era cheia de curiosidade.
— Na verdade, ele parece com a outra mãe dele.
— Uau! Duas mães?
— Sim. Ele tem duas mamães. E você onde está a sua?
— Meu titio diz que ela está no céu. Mas acho impossível, as nuvens são feitas de algodão, e minha mamãe não tinha asas. Não faz sentido ela está no céu. — Alice sentiu-se arrependida por ter perguntando. Apesar da naturalidade na resposta de Dominique não pode evitar se sentir mal.
— É uma figura de linguagem. — tentou explicar.
— Figura do quê? Vocês adultos adoram umas palavras difíceis. — reclamou com franzindo as sobrancelhas. Alice riu. Dominique também. — Você vem de novo?
— Claro! — respondeu rapidamente. — Quem sabe eu possa trazer o meu filho para você conhecer.
— Não! Bebês são chorões. Só fazem caquinha e comem o tempo inteiro. Prefiro conhecer sua esposa.
— Tudo bem. Vou trazê-la comigo. Agora eu preciso ir.
— Certo. Tchau! — acenou com a mão.
— Tchau! Agora entra. Está escuro aqui fora.
Alice dirigiu para casa. Seu celular estava descarregado. Assim que atravessou a sala avistou Rebeca sentada no tapete brincando com o Teodoro. Ela sorriu caminhando a passos largos até ela, estava feliz. Inexplicavelmente feliz.
— O que aconteceu com você? — questionou quando ela se afastou.
— Desculpa a demora, desculpa o sumiço. — tratou de falar antes de tudo. Mas notou que ela estava calma.
— Anna me avisou que estava com você. Por isso não me preocupei.
— Ah! Claro. — fez menção em sentar-se no sofá.
— Não! — gritou. — Você está imunda. Nem pense em sentar com essas roupas no meu sofá. Muito menos pegar no nosso filho. Vai para o banho. — ordenou.
— Certo! Já volto. — não discutiu.
Rebeca notou a felicidade no olhar da namorada. Observou-a subir as escadas correndo. Alguns minutos depois Alice desceu. Estava com roupas limpas, cabelos molhados e o cheiro de banho recém-tomado invadiu a sala.
Teodoro havia ido para o quarto com Carla, estava irritado de tanto cansaço. Rebeca aproveitou para ler um livro. Decidiu estar na hora de voltar a fazer coisas que parou por conta da falta de tempo. Alice ficou atrás dela, beijou seu pescoço vagarosamente.
— Que cheiro delicioso. — sussurrou. — Agora pode sentar no sofá. — brincou.
— Mas agora não quero sentar no sofá.
— Não?
— Não! Quero sentar no seu colo. — afirmou rindo com malícia.
— O jantar... Meu Deus! — Tereza disse cobrindo os olhos. — Não queria atrapalhar.
— Estamos indo Tereza. Obrigada. — Rebeca respondeu prendendo o riso. — A coitada estava vermelha. — gargalhou sendo acompanhada por Alice.
Sentara-se a mesa Tereza já não estava mais na cozinha. Era rotineiro o casal jantar junto e depois cuidar da louça antes de dormir, assim Tereza podia se recolher para assistir sua novela. Alice dizia adorar o papo de pia, o que fazia Rebeca rir.
— Então, vai me contar o seu misterioso sumiço hoje? — questionou curiosa lhe entregando o prato sujo.
— Eu encontrei Anna na casa da Heloísa. Estavam de saída, me convidaram para ir junto. Elas me levaram a um lugar incrível. — não conteve a empolgação.
Contou com detalhes sobre a história das famílias. A organização, a harmonia que eles tinham. Narrou tudo sem deixar nenhum detalhe. Rebeca poderia imaginar apenas pelos detalhes precisamente listados. Falou sobre as coisas que levaram, contou sobre Anna está indo até lá quase diariamente. Então chegou à parte crítica. Contar que se colocou em perigo.
— Estou impressionada. — confessou Rebeca. — Preciso conhecer esse lugar.
— Você irá. Mas teve outra coisa. — iniciou receosa. Rebeca segurou o prato que secava, o objeto planando sobre o ar. — Uma das salas desabou.
— Alguém se machucou? — perguntou assustada.
— Não. Mas uma garotinha estava no local quando tudo começou a desabar.
— Deus! Ela está bem?
— Sim. Eu a salvei. Entrei na sala correndo e consegui tirá-la a tempo. — sorriu orgulhosa.
Rebeca prendeu o ar por um segundo. Apenas para situar o que acabará de ouvir. Alice se expor ao perigo. Mas foi por uma causa nobre. Salvar a vida de uma criança. Sorriu. Não poderia ter mais dúvidas do quanto ela era maravilhosa. Se arriscando para salvar a vida de alguém que nem ao menos conhecia.
— Não vai dizer nada? — perguntou quando passou o segundo prato para ela secar.
— Você é maravilhosa. — afirmou.
— Eu sei. — brincou. Naquele momento, apenas naquele momento. A vida de Rebeca pareceu em ordem de novo. Conseguiu rir verdadeiramente.
— Quanta modéstia. — revirou os olhos.
— Dominique faz exatamente isso quando está enfadada.
— Dominique?
— A menina que salvei. Ela deve ter cinco anos. Linda, inteligente, educada e cheia de personalidade.
— Ainda bem que ela é uma criança, pois te ouvindo falar assim parecia que encontrei uma concorrente a altura. — brincou. A conversa estava leve. Divertida.
— Ninguém nunca, chegará a sua altura. — falou prendendo-a entre ela e a bancada. Passou espuma na ponta do nariz dela, após tê-lo beijado. — Ela fez um desenho meu. Estou até usando capa. — sorriu lembrando o diálogo que teve com a menina antes de vir para casa.
— Nossa! Não sabia que eu casei com a “Super Girl”.
— Estou mais para “Mulher Maravilha”
Continuaram naquela conversa até terminarem a louça. Alice mostrou o desenho a Rebeca quando foram para o quarto.
— Deveria presenteá-la com um kit de pintura.
— É uma excelente ideia. — concordou. — Você compra e pode dar-lhe pessoalmente.
— Tudo bem. — concordou. — Agora podemos dormir? — questionou apagando o abajur.
— Sim. — concordou. Sentiu o corpo da outra aninhar-se ao seu. — Amor, está dormindo?
— Não.
— Precisamos contratar alguém para ser sua assistente. — sentiu o corpo de Rebeca tensionar-se. A respiração perdeu a calma de antes.
— Ainda não. — respondeu friamente.
— Você precisa. Sabe disso. Mas leve o tempo que for necessário para aceitar a ideia.
— Obrigada. — os braços de Alice a apertaram ainda mais. — Ainda é difícil ir para a empresa e não a encontrar irritada por acordar cedo. — confessou.
— Eu sei que é. Anna não foi para a cobertura ainda. — contou. — As coisas de Tália continuam lá.
— Tessa me pediu para embalar e enviar para ela.
— Você vai até lá?
— Não tenho opção.
— Posso pedir a Anna para fazer isso. Posso ajuda-la.
— Eu aceito. — foi rápida. Sabia que não conseguiria mexer nas coisas dela.
— Amanhã falo com ela. Agora dorme bem. — beijou sua nuca.
— Boa noite! — respondeu.
Aquela noite Rebeca conseguiu adormecer tranquila. Escutar as histórias de Alice fez com que sua curiosidade fosse aguçada, fazendo-a imaginar como seriam as pessoas que moravam na escola. Quais histórias de vida teriam, mas o principal questionamento de Rebeca era sobre como poderia ajuda-los. Ainda não sabia como, porém, acreditava que teria uma ideia de como fazê-lo. Em breve teria uma resposta.
Fim do capítulo
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paulaOliveira
Em: 25/03/2022
Será que vão adotar a Nick? Seria perfeito!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 21/03/2022
Vivemos no mesmo planeta porém em mundos diferentes.
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