A AUTORA por Solitudine
Este é um dos capítulos mais significativos para mim. Espero que gostem!
E A VERDADE VOS LIBERTARA - 2
Abigail e Quitéria faziam um passeio de bugue pelo litoral norte de Natal. Conduzidas pelo bugueiro Sebastião, berravam apavoradas durante as manobras loucas pelas dunas de Genipabu.
--Com emoçãooo!! – o homem falava divertido
--AHAHAH!!!! – as duas mulheres gritaram
--Ave Maria, meu filho, que doidiça é essa? – Quitéria agarrou o braço do bugueiro
--Não faz isso que eu fico com medo e fecho os olhos! – Sebastião brincou
--Você não tá nem mordido de cachorro da molestra, bicho besta! – Abigail deu um tapa na cabeça dele
--Cuidado gente! – o bugueiro continuava brincando – Tudo que sobe, -- acelerou o veículo para subir uma duna imensa – tem que desceeer! – descia acelarado
--AHAHAHAH!!!!!!! – as duas berravam com os olhos arregalados
--SENHOR, NÃO DEIXE A GENTE MORRER AGORA, NÃO, NÃO, AVE MARIA, MINHA NOSSA SENHORA!!!!! – Abigail gritava em desespero
--Ô, PAI DAS LUZES! AI, MEU SANTO ANTÔNIO DA TIBAIA!!! – Quitéria agarrava-se no assento do bugue – “Se não é de morrer de câncer, vai ser por essas pistinga de bugue!” – pensou apavorada
***
--Tia, nosso passeio de bugue foi muito massa, não sabe? Mas confesso que tive tanto medo na hora das duna, que até o pinguelo da garganta deu nó! – gesticulava – Pensei que meus dias de sapateado iam se acabar naquelas areia! – bebeu um gole de água de coco – Ave Maria, Deus me defenda!
--E eu não morri de medo, não? Tudo muito lindo, mas pensei que a gente fosse estabecar fucinhando nas areia! – concordou achando graça – Até parei de gritar por medo da dentadura pular pra fora da boca! – confessou – Não queria morrer banguela! – negou com a cabeça -- Se a bicha caísse nas areia, nunca mais que se achava!
--Eu hein! – riu brevemente – A senhora pensa cada coisa! – sorria
As duas mulheres bebiam água de coco no centro de artesanato de Praia do Meio.
--Eu nunca que pensei de um dia fazer esses passeio. – Abigail confessou – Fosse por falta de dinheiro, fosse por falta de tempo. – olhava para a idosa – Muito agradecida por isso!
--Não me agradeça, minha filha! – bebeu um gole da água de coco – Eu também nunca pensei de fazer um passeio desse e adorei que tenha sido assim: você mais eu. – sorria – Você tem feito esses meus dias muito especiais! – agradecia também
--Só lamento da senhora agir como se tudo fosse uma despedida. – comentou ao olhar para o mar – A ida em São Gonçalo do Amarante, a estadia no hotel, esses passeio... – olhou novamente para idosa – Desde que chegou aqui a senhora tá tão bem! Quem garante que não pode se curar? – queria acreditar nisso
--Entreguei nas mãos de Deus, filha, e tô vivendo um dia de cada vez. – bebeu o último gole da água de coco – Além de tá adorando ver aquele tal de Duarte engolir que você é minha sobrinha, tamo pagando a conta e você fica comigo. Trabalha no hotel quando cisma e por esporte! – afirmou enfática
--Por esporte... – achou graça – Duarte me deixou de aviso prévio depois que fui pra São Paulo botar a senhora. Quando voltei, ainda mais como hóspede, ele ficou meio sem saber o que fazer, não sabe? – bebeu o último gole também
--Por que você não compra o hotel? – a idosa propôs – Pega o dinheiro que agora é seu, procura o dono e compra! – exclamou empolgada – Aí você botava ele do seu jeito e demitia aquele bicho salafrário e explorador!
--Tia, a senhora tá viva! O dinheiro é seu! – pegou os dois cocos vazios e levantou-se para jogar na lixeira
--Ô mulher tinhosa... – resmungou baixinho olhando para a sobrinha – Parece que não entende que tá tudo no nome dela! – ajeitou-se na cadeira de rodas
Sentou-se novamente na cadeira. – Tia, posso lhe perguntar uma coisa particular? – debruçou-se sobre a mesa – É uma curiosidade... – sorria
--Pode. – concordou simplesmente
--Quem foi seu grande amor? – queria saber – Porque quando a senhora fala do falecido seu Tibúrcio... não sei explicar, mas não fica parecendo que foi ele. – pausou brevemente – Desculpa os abuso.
--Não é abuso e você acertou. – ajeitou os óculos – Eu aprendi a gostar de Tibúrcio, tinha gratidão por ele, mas não, assim, amor... – olhou para o mar – Quando viemo viver nessa cidade mais tia Vitória, tinha uma família que morava perto e eles tinham um filho rapaz. Venâncio, o nome dele. – lembrava – A gente se apaixonou um pelo outro, mas nunca que houve nada. – sorriu – No dia que ele soube que fomos viver no Cabaré, ficou doido pra casar comigo e me tirar de lá, só que assim como eu, ele era muito novo e tinha nada. A família também não fez gosto... – visualizava o rapaz em sua mente – Mais tarde, quando ele soube que eu ia mimbora pra São Paulo, foi pra porta do Cabaré com uns amigo e cantou uma música que nunca me esqueci. – os olhos marejaram – Chama Patativa, de Vicente Celestino... E isso me marcou muito, de uma forma especial... – pegou um guardanapo para secar os olhos – Venâncio morreu cedo, não sabe? Tuberculose. – calou-se
Achou a história bonita e triste. -- Essa música foi regravada como forró! – comentou -- Eu conheço... – não sabia mais o que dizer
--E você, menina? – perguntou curiosa – Quem foi seu grande amor? Você teve um? – também queria saber
--Ah, tia, tive sim... Foi meu primeiro amor, não sabe? – abaixou a cabeça – Era uma das menina de dona Tonha. – levantou o rosto novamente – Uma galega linda, fogosa e muito boa pessoa chamada Moema... – sorriu – Quando ela passava, os homi ficava doido! – lembrava – E ela era toda descaramento...
“Moema caminhava pelas cercanias da Casa de Tonha vestindo um short jeans curtíssimo e um bustiê decotado. Rebolava desfilando sobre seus sapatos de saltinho, tirando onda com os óculos escuros que recebeu de um cliente como pagamento.
--Ô, coisa boa, visse? – um homem babava
--Com uma dessa lá em casa eu não saía mais! – outro paquerava
--Ave Maria, que tu tinha que ser presa por ser tão gostosa, mulher! – um rapaz reparava de cima a baixo
--Galega, quando tu caísse do céu doeu, foi? – um idoso perguntou assanhando – Isso não é mulher, isso é uma tentação do Capeta!
--Haha! – riu brevemente – Vão olhando que é só o que vai ter por hoje! – respondeu animada – Pega um lenço pra secar as baba! – riu novamente”
--Sempre que eu ficava doente, ela ajudava mãínha a cuidar de mim. – lembrava – E eu até demorava mais a me curar, visse? – piscou para a idosa ao lembrar
“--Bigail, mas o que é tu tem, menina? – Celinha perguntou preocupada – Isso é gripe, que diacho é? – sentou-se na cama ao lado da filha – A essa hora e tu já deitasse?
--Ah, mãínha, faz medo não, é só aquela coisa ranheta de gripe. – respondeu com a verdade
--Oxe, Bigail tá doente, é? – Moema entrou no quarto preocupada – Silmara falou pra mim que a menina chegou toda xôxa! – ajoelhou-se diante dela na cama – Quê que foi, muiézinha? – perguntou consternada
Ao dar de cara com aquele decotão, a jovem subitamente mudou de atitude. – Eu não sei, galega... – fez um drama – É uma dor de cabeça, uma consumição no corpo, um cansaço... – forjou uma expressão abatida – Acho até que vou morrer, não sabe?
--Vixe, Deus te livre! – Celinha se benzeu – Vou fazer um chá de alho com limão pra você. – levantou-se – Moema, fique aqui mais ela enquanto isso, pelas caridade! – pediu
--Fique mesmo, fique! – pediu -- Eu tô até vendo tudo preto... – continuava no teatrinho
--Ah, mas eu fico! – sentou-se na cama – Deite aqui no meu colo que eu vou te ninar! – colocou a cabeça da jovem quase em cima dos seios – Coitadinha, minha Nossa Senhora! – balançava o corpo devagar
“Ô, que maravilha...” – a jovem pensava ao se deleitar com a visão daqueles seios – “Tomara que mãínha demore por demais a fazer esse chá!” – desejou – Cuide de mim, galega, que eu tô é moribunda... – fingia-se de quase morta com um dos olhos fechado e outro aberto”
--E o que se deu dela? – Quitéria perguntou interessada – Conseguiu sair daquela vida?
--Saiu, tia, mas da pior forma... – respondeu com tristeza – Um belo dia, quando eu tava com 17 anos, um miserento infeliz achou que porque ela era puta tinha que fazer tudo que ele queria. – falou com revolta – E como ouviu um não, matou a pobre na base da porr*da. – pausou brevemente – Bateu nela com uma garrafa de cerveja até matar e depois lanhou-lhe o rosto com os caco de vidro. – os olhos marejaram – Foi nos fundo de um bar perto da rua do puteiro. Só fomo descobri quando amanheceu o dia...
--Minha nossa! – arregalou os olhos em choque – Que coisa horrível!
--E deu em nada... – revoltava-se – Lembro bem que ouvi um cabra dizer: morte de puta não dá ibope! – falava com mágoa -- Eu apaguei aquele dia de minha memória! – olhou para a idosa – Aquele dia e o dia que mãínha morreu...
--Entendo perfeitamente... – lamentava o que ouviu – Sabe, filha, já pensasse em quantas Moemas são mortas todos os dias? – refletia sobre o assunto – E tudo por uma coisa só: porque são mulher, numa situação de fragilidade qualquer, não importa qual!
--E essas coisa me revoltam tanto, mas tanto! – gesticulou – Dá até uma gastura no peito! – passou a mão nos cabelos – A senhora lembra daquele caso que lhe contei dos estrangeiro com as menina nova no hotel? – a idosa balançou a cabeça confirmando – No final, os cabra foram solto, voltaram pra terra deles e a família dos bicho ainda ficou falando mal do hotel na internet! – calou-se brevemente – O mundo tem muita podriça e bixiga dos inferno que precisa mudar com urgência!
–Tem sim... – concordava – E você é o tipo de pessoa que podia ajudar muito nisso! – olhava para a outra – Eu também podia, mas demorei demais a me atinar! – assumiu -- Não queria que com você acontecesse igual!
--Oxe, como assim? – não entendia onde a idosa queria chegar
--Tudo que você passou, não foi em vão! – olhava nos olhos – A mulher que você é, pode não ser alta, magra e bonita como você queria ser. Pode não ter sido a melhor aluna da classe, pode não ser culta e viajada, mas é uma pessoa incrível! – falava com muita sinceridade – Cheia de força, de garra, uma verdadeira líder que encontra solução pra todo problema! – sorriu – Tenha orgulho disso! De quem você é!
--Tia... – emocionou-se – “Nunca ninguém me disse uma coisa dessa!” – pensou surpreendida
--Você é filha de puta! É neta de puta! Sobrinha neta de puta! – afirmou enfática – Não esconda isso, por favor! – pediu – Porque tem uma monte de Abigail por aí, mas elas ainda não têm a sua força, nem a sua coragem! Elas precisam do seu exemplo! – continuava falando – Porque se tivesse uma Abigail quando eu era moça, tenho certeza que eu teria o que nunca tive: uma voz! – pausou brevemente – Você não é escritora? Então seja nossa voz! O Egito que você nem conhece, não precisa de você, mas as mulher daqui, sim! As puta, sim! – acreditava que era sua última chance de dizer aquelas palavras – Você vai poder fazer muita coisa daqui pra frente! – pensava na herança da sobrinha – Então faça, minha filha, mude vidas! E assim você vai sentir tudo que achou que aquela fantasia de Gail fosse lhe dar.
Abigail ficou sem palavras.
--Mas apesar de todos os seus dilmeas, seu problema é a vaidade e você não pode se escravizar por ela. – advertiu – Isso pode ser a sua perdição!
--Ah... – ficou sem graça
--Agora quero que me faça uma segunda promessa, pois no hospital eu disse que te pediria duas! – lembrava – Uma, foi a de me trazer pra terminar meus dias aqui nessa cidade. E a outra é que nunca mais você tenha vergonha de quem você é! – segurou uma das mãos da outra – É só isso que eu quero... – despedia-se do seu jeito – Aprenda a ver o valor além das aparências, minha filha! Não é a capa que faz o livro!
--Em pouco tempo, aprendi a amar a senhora como se lhe conhecesse de uma vida... – declarou-se emocionada -- Posso lhe abraçar? – pediu humildemente
Sorriu. -- Se eu tivesse tido uma filha, queria que fosse igual a você! Em tudo! -- abriu os braços – Venha...
Abigail se ajoelhou diante da idosa e as duas se abraçaram com cuidado e muito carinho.
--Prometa que nunca mais vai se envergonhar de si mesma! – insistiu – Que vai se aceitar como é!
Não conseguiu prometer. -- Então me prometa uma coisa também. – segurou o rosto da tia com as duas mãos – Que a senhora vai se permitir se perdoar! – desejava que a idosa se livrasse daquela dor – Já lhe disse e repito que todas nós, de um jeito ou de outro, fomos vítimas das mesmas coisas. – olhava nos olhos – Não tem porque se condenar, não... – falava com carinho
Quitéria tampouco pôde prometer.
E nisso, um grupo de músicos de rua adentra o centro de turismo. Abigail beijou a testa da idosa, se levantou e pediu licença a ela para abordar os artistas. Cochichou com eles e logo começaram a tocar. A cantora iniciou olhando para a idosa:
Acorda, patativa, vem cantar,
Relembra as madrugadas que lá vão...
--Ah! Minha música! – exclamou emocionada – Filha! – sorria com os olhos marejados
--Dance comigo, tia! – segurou uma das mãos dela – Sentadinha mesmo, na sua cadeira. – começou a se requebrar
E faz de tua janela o meu altar,
Escuta a minha eterna oração...
Enquanto se requebrava em sua cadeira, Quitéria viajou no tempo e se lembrou de sua infância, da época em que a família toda trabalhava no armazém de secos e molhados em São Gonçalo do Amarante.
Eu vivo inutilmente a procurar,
Alguém que compreenda o meu amor...
Lembrou-se de quando viajou com a mãe e a irmã para viver em Natal, na casa da tia Vitória.
E vejo que é destino meu sofrer,
E padecer, não encontrar,
Quem compreenda o trovador...
Vislumbrou o rosto de Venâncio, seu primeiro amor, o modo como seu coração batia acelerado quando o via.
Eu tenho n'alma um vendaval sem fim,
E uma esperança que hás de ter por mim,
O mesmo afeto que juravas ter,
Para que acabe este meu sofrer...
Viu cenas da vida no Cabaré, lembrou-se do dia em que conheceu Tibúrcio e do modo como fora abordada por ele.
Eu sei que juras cruelmente em vão,
Eu sei que preso tens o coração...
Lembrava do nascimento de Celinha e da felicidade em tê-la nos braços.
Eu sei que vives tristemente a ocultar,
Que a outro amas, sem querer amar...
Foi capaz de ouvir a serenata que Venâncio fizera quando soube de sua ida marcada para São Paulo.
Mulher, o teu capricho vencerá,
E um dia tua loucura findará...
Lembrou-se das dificuldades que teve quando chegou em São Paulo, seus medos e todo preconceito que encarou.
A Deus, a Deus, minha alma entregarei,
Se de outro fores, juro, morrerei...
Sentiu o coração doer por não ter ajudado a irmã e a sobrinha, uma vez que fora paralisada pelo medo, pela insegurança e por não saber o que fazer.
Amar, que sonho lindo, encantador,
Mais lindo por quem leal nos tem amor...
Lembrou-se de quando fora abordada pelo homem que lhe falou de Abigail e do que sentiu ao conhecê-la em Natal.
E tu vens desprezando sem razão,
A mim que choro e busco em vão,
O teu ingrato coração.
Elba Ramalho – Patativa [1]
(https://www.youtube.com/watch?v=z130hMWqAeQ)
Pensou em tudo que sofrera ao longo dos anos, refletindo nas palavras que ouviu de Abigail por mais de uma vez. E naquele momento sentiu, vivendo aquela alegria simples de dançar, que talvez até fosse possível se perdoar.
Ao fim do dia, a idosa dormiu satisfeita e aliviada, como se um grande peso lhe houvera sido removido das costas. Fechou os olhos após orar com a sobrinha e nem percebeu que aquele corpo que abrigou sua alma por tantos anos já não era mais seu. Sua despedida foi como sempre desejou: em paz.
***
Vera conduzia uma agitada reunião de condomínio. Após a prestação de contas e discussões sobre as demandas mais urgentes, a caipira abriu a pauta para assuntos diversos.
-- E se ninguém tiver o que comentar, a gente fecha a reunião por aqui. – olhava para os vizinhos – “Deus meu, que não tenha!” – desejou mentalmente
--Pois eu tenho! – Hilvan logo se manifestou – Quero dar queixa dos filhos do casal do 301! – olhou para os vizinhos – Tinha parado com negócio de festa em hora imprópria mas agora voltou a pouca vergonha! – queixava-se – Ontem quando cheguei no prédio dei de cara com a filha do distinto casal no maior amasso com namorado na poltrona do hall! Enquanto isso, o irmãozinho dela fumava um cigarrinho do Capeta escondido na garagem!
--Isso é um absurdo! – Guta protestou – Minha filha nem namorado tem e meu filho não fuma cigarrinho nenhum! – gesticulava desaforada
--Ah, dona Guta, se ela não tem namorado, eu não sei, mas que tava nos amassos na poltrona do hall, isso tava! – deu um soco na mão – E se teu filho não fuma, me explica como faz pra cuspir tanta fumaça daquele jeito, porque nunca vi disso! Ou o menino é um dragão? -- olhou para Vera – Puxa as imagens das câmera! Vamo tirar a limpo!
--Isso, Vera, puxa! – Guta pediu também – Quero ver que conversa essa, porque seu Hilvan parece que esclerosou!
--Vamos ver, dona Guta, vamos ver! – retrucou revoltado – Tem mãe que é cega, isso sim!
--Puxa as câmera, Vera! – Bina intercedeu a favor do marido – Se Hilvan disse que viu, ele viu!
--Que câmera, uai, vocês pensam que tão morando aonde, gente? – perguntou sem entender – Esse condomínio vive com orçamento apertado, toda vida é conserto de bomba d’água, vazamento, infiltração... tem dinheiro pra câmera não! – olhava para os demais – Nunca nem teve esses trem aqui!
--Pois devia! – Guta respondeu de imediato – Aí seu Hilvan, ao invés de perseguir meus filhos, ia ver o que faz a matilha da dona Alcilene barbarizando o prédio!
--Veja lá como fala de mim, dona Guta! – a idosa protestou – Primeiro que nunca tive matilha, tenho um cachorrinho só, e ele nunca viveu de agarramento com namorada no hall e tampouco fuma certos cigarrinhos! – acusou
--Assim como meus filhos não saem por aí mijando em capacho alheio, nem comendo pneu de carro! – Guta acusou também
--Como é que é? – Vera não entendeu – “Se bem que aquele cachorrinho de dona Alcilene tem parte com o Cão mesmo!”
--Então foi o seu cachorro que roeu o pneu do meu carro?? – Anderson perguntou revoltado – Vera, tem que instalar câmera nesse condomínio agora mesmo! – exigiu
--Com que dinheiro, posso saber? Só se aumentar o condomínio! – respondeu de pronto
--NÃO!!! – todos negaram de imediato
--Pois meu cachorrinho nem mijou em capacho alheio e nem roeu pneu de ninguém! – Alcilene protestou – O senhor é que dirige mal e nem sabe por onde roda! Enquanto isso, sua esposa se apropria do funcionário do prédio e daí ninguém vê ele quando se precisa!
“Uai?” – Vera pensou surpreendida
--Que conversa é essa?? – Anderson olhou para a esposa
--Não é nada disso! – Rosana se defendeu – Você não conserta as coisas em casa, não é, meu bem? – justificava-se – Tenho que apelar pro funcionário do prédio!
--Então venda seu apartamento, porque não é possível que todo dia tenha o que se consertar, né, minha filha? – a idosa comentou
--Todo dia?? – Vera chocou – “Será possível que nem com as toneladas de chocolate pornô que eles compram todo mês, o problema de Rosana ainda não se resolveu?” – pensava
--Ah, porque minha casa é dinâmica, né, gente? – Rosana tentava se defender – Todo dia acontece alguma coisa... Todo dia é uma treta. – gesticulava
--Sei bem das treta! – Alcilene provocou maldosa
--Depois a gente vai ver isso direitinho lá em casa, viu, dona Rosana? – Anderson cobrou
--porr*, Vera, onde que tu anda que não vê isso? – Reinaldo cobrou – Funcionário todo dia na casa dos outros e você não manja! – falava de cara feia
--Acontece que eu trabalho, fi! – respondeu igualmente de cara feia – Você é o sub síndico, não vê também por que? – encarou – “E nem trabalha!” – pensou
--Eu não tô nem aí pra nada disso! – Marcelo se met*u na conversa – O que eu quero saber é quando que vai acabar essa história de culto no prédio! – reclamou – Todo dia é aquele inferno de Glória Deus, Aleluia, Queima, Varão de Fogo e outros escândalos na minha cabeça e eu não sou obrigado a aturar isso, né, 507? – olhou para os vizinhos daquele imóvel
--Dentro da nossa casa quem manda somos nós! E a gente faz culto, sim! – Carlos respondeu de cara feia – Preste atenção na sua vida e vê se não fica 200 anos tomando banho quente pra não provocar incêndio, como aconteceu há pouco tempo aí com teu relógio de luz!
--E você tem o que com isso, hein, meu? – Marcelo se levantou
--Você tá é com Satanás no corpo! – Carlos se levantou também – Sai desse corpo, Diabo! Queima! – ordenou
--O filho da Guta fuma ali perto do relógio! – Hilvan salientou ao se levantar – Não duvido que tenha tido parte nesse incêndio!
--Então o cachorro da dona Alcilene também teve, porque ele vive fucinhando por lá! – Guta se levantou
--Cachorro meu não fucinha em lugar nenhum, não senhora! – levantou-se também – Se alguém fucinha aqui, é a sua filha com namorado no hall do prédio!
--Gente, mas que coisa mixuruca, viu? – Rosana se levantou – Isso aqui parece até um cortiço paulistano! – gesticulou – Eu sou mulher de religião, não posso ficar aqui ouvindo essas baixarias! -- reclamou
--Mulher de religião? – achou graça – A senhora é uma piricrente que não dá refresco nem pro funcionário do prédio! – Reinaldo se levantou
--Tá querendo insinuar o que, meu? Negócio é esse de piricrente? – Anderson se levantou – Te meto a porr*da! porr*da na cara! – abriu a mão
E o fuzuê se estabeleceu por completo com todos brigando e falando ao mesmo tempo.
--Vera, e agora? – Joana redigia a ata da reunião – O que eu escrevo?
--Que eu renuncio! – declarou balançando a cabeça – Quando é fé vou acabar ficando doida com esse trem de síndica! – passou a mão nos cabelos – Pra mim já deu! – estava farta – “Prefiro ficar a pão e água voltando a pagar condomínio do que continuar aturando mais tempo disso!” – pensava
Minutos mais tarde, Vera saía do banho quando percebe o celular vibrando sobre a cama. Atendeu desconfiada ao perceber que se tratava de Socorro.
--Alô.
--Basnoite, prima! – respondeu brincalhona – Que voz desanimada é essa?
--Reunião de condomínio! – estendia a toalha no varalzinho – E você, prima, o que manda? – não queria muita conversa
--Mandar? E eu lá mando em alguma coisa? – brincou novamente – Queria era saber de você, se tá tudo bem... Nos últimos tempos a prima tem andado tão distante... – comentou – Reduziu a carga com os trabalhos da Marida, do Iuba... só nos chocolates é que o ritmo não caiu...
“Humpf! Saber de mim...” – pensou descrente enquanto ia para o quarto – Acontece que eu tenho feito uns trabalho de foto e filmagem bem interessantes. – sentou-se na cama – E graças ao pessoal da Natasha, tuas encomenda de chocolate só aumentaram, então não tem do que reclamar. – pegou o travesseiro – O Marida me cansa, me dá muito trabalho e paga mal que chega dói e o Iuba é uma exploração em dose dupla: o aplicativo e vocês! Sem falar de que não tô dando mais conta de viver fugindo pra não tomar coça de motorista de táxi! – reclamou – Só vou rodar quando realmente precisar, mas do Marida vou pular fora!
--Prima, por favor, sem esses capitalismos entre nós! – pediu amigavelmente – Se você tem se dado melhor com os trabalhos que aquela patota LGBT te arruma... – falou com um pouquinho de mágoa – Mas eu penso assim: parente é parente e a gente tem que se cuidar um do outro...
--Falando nisso de cuidar, a gente ainda não tinha conversado mas deixa eu te contar. Sabia que minha Sayzinha acabou se dando muito mal por tua culpa, dona Socorro? – afirmou seriamente – Quando você ligou pro restaurante, acabou falando com a mãe dela e isso gerou um problema tão grande como você nem sonha!
--Eita! – ficou sem graça
--Então me faz um favor, prima, – gesticulava para ninguém – nunca mais se meta na minha história com ela, entendeu?
--Ei, calma! – respondeu sem graça – Eu só queria ajudar!
--Muito ajuda se não atrapalhar! – deitou-se – Boa noite aí pra vocês que eu vou dormir. Inté!
--Inté. – ouviu o celular sendo desligado – Ave Maria! Depois que arrumou namorada dos zóião verde, a prima ficou muito mascarada. – reclamou – Por isso que eu digo: dá poder pra ver!
***
Sayruci tocava piano pensando na vida. Desde o triste episódio com a filha, sentia-se ainda mais só. Para se consolar de todas as dores, sonhava com o momento em que iria se juntar à Vera e, vislumbrando seu rosto, entregava-se à música de corpo e alma. Ouvia a voz da cantora dentro da mente.
(Nota da autora: Vale a pena ouvir o instrumental: https://www.youtube.com/watch?v=QgaTQ5-XfMM)
Heart beats fast, (O coração bate rápido),
Colors and promises... (Cores e promessas...)
Lembrava-se de momentos vividos com sua caipira.
“Acabava de entrar no carro, sentando-se no banco do carona. -- Boa noite. – cumprimentou de cabeça baixa
--Khaalii! – sorriu encantada”
How to be brave, (Como ser corajosa),
How can I love, (Como eu posso amar),
When I'm afraid to fall... (Quando eu estou com medo de cair...)
“--Já decidiu se Zayah vai dar uma chance pra Sulah? – seu olhar se alternava entre os olhos e os lábios da outra
Sorriu. – Zayah se sente insegura com ela. – deslizou uma das mãos pelo abdomên de Vera – Não sabe o que ela quer...
--Se Sulah for como eu... – sorria também – Ela quer Zayah pra vida inteira!”
But watching you stand alone, (Mas vendo você sozinha),
All of my doubt suddenly goes away somehow, (Todas as minhas dúvidas subitamente se vão de alguma forma),
One step closer... (Um passo mais perto...)
“--E se Zayah for como eu... – aproximou-se ainda mais – Sabendo disso, ela dirá sim! – o coração parecia prestes a explodir
--Tomara que seja! – segurou o rosto da amada e a beijou com carinho e paixão
“Ai, que beijo!” – envolveu os braços no pescoço da outra e se entregou ao que sentia”
I have died every day waiting for you, (Eu tenho morrido todos os dias esperando por você),
Darling don't be afraid, (Querida, não tenha medo),
I have loved you for a thousand years... (Eu tenho amado você por mil anos...)
“--Nem sempre o que os pais dizem está certo! – argumentou – E meu coração já te escolheu desde o princípio! Não vou me arrepender! – sentou-se no colo da outra, envolvendo a cintura dela com as pernas – Também não quero que se preocupe, porque não vou deixar você ficar em apuros por minha causa. Eu posso... – foi gentilmente silenciada com um beijo
--Não quero que me dê nada material! – colou testa com testa -- Quero apenas seu amor, sua amizade, seu carinho e nada mais! – repetiu o que a outra havia dito – E sobre o futuro, seja lá o que Deus quiser! – puxou-a de encontro a si e beijou-a com paixão”
I'll love you for a thousand more... (E eu te amarei por mais mil...)
Christina Perri – A Thousand Years [2]
--Se foi algo que não me arrependi nessa vida foi ter lhe colocado para estudar piano. – Zorayde afirmou surpreendendo a filha – Confesso que me emocionei com essa interpretação. – secou os olhos com a ponta dos dedos
Parou de tocar. – Não vi que a senhora estava aí. – olhou para a mulher
--Eu não quis interromper antes. – caminhou para perto da filha – Mas o fiz agora por medo de acabar chorando mais que o esperado aqui. – sorriu
--Não creio que seja a senhora a pessoa com motivos pra chorar. – fechou o piano e se levantou – Afinal de contas quem se recupera de uma internação forçada fui eu. – olhava nos olhos
--Vamos conversar na sala de leitura? – pediu – Por favor? – indicou o caminho
Sayruci seguiu à frente subindo as escadas. “O que será que ela quer dessa vez?” – pensava desconfiada
Ao chegarem no cômodo, Zorayde fechou a porta para garantir que ninguém entraria. – Ainda está muito magoada comigo? – perguntou diretamente – Até agora não a ouvi me chamar de maama uma vez sequer.
Achou graça e cruzou os braços. – A senhora me interna contra minha vontade numa clínica psiquiátrica miserável, perco quinze dias da minha vida sendo mantida como um zumbi, só saio de lá mediante ameaça e a senhora me pergunta se estou magoada?? – não acreditava no que ouvia – Como se sentiria no meu lugar?
--Fiz o que fiz pra lhe proteger! – defendeu-se
--Ah! – riu brevemente – Então eu vou lhe pedir, por favor, pare de me proteger! – pediu com seriedade – Essa sua maldita proteção só me desgastou e corroeu demais por todos esse anos! – acusou – E eu não aguento mais isso! – caminhou até a janela – Oro a Deus todos os dias pra que alguma coisa abrande o seu coração e um dia a senhora possa me amar como realmente sou. – confessou com tristeza – Ou que pelo menos deixe de me odiar... – olhava para o exterior
A idosa ficou triste com o que ouviu. – Como pode achar que lhe odeio depois de tudo que fiz por você? – perguntou escandalizada
--E o que a senhora fez? – olhou para a mãe – A senhora me sufocou a vida inteira! – falava com mágoa – A senhora e o baba nunca me deixaram fazer NADA, absolutamente NADA do que eu queria! – acusou – A diferença é que ele ao menos se arrependeu, mas a senhora nunca se arrepende de nada! – buscou se conter
--Como você acha que me senti ouvindo uma mulherzinha qualquer me dando sermão, achando que eu era você, por conta de uma outra louca que tava internada por sua causa? – reclamou
--O que?? – não entendeu
--Não se faça de tonta! – aproximou-se – Descobri da pior forma que você estava iludindo a todos nós! – olhava nos olhos – Fazendo um papel de boazinha, de esposa desejosa por salvar o casamento, enganando Samir, enganando a mim, pra no final das contas fugir pra São Paulo e viver com uma infeliz que eu sequer desconfio quem seja!
“Mas quem falou com ela?” – não entendia – “Será que foi Socorro?” – lembrava-se de que Vera perguntou se haviam conversado – “Mas como pode isso?”
--Sua amante paulistana entrou em crise achando que você tinha desistido e, de acordo com uma outra, uma prima, não sei, foi internada, se cortou, não entendi. – afastou-se novamente – Mas o que me ficou muito claro em tudo foi o seu plano!
“Vera se cortou e se internou por minha causa?” – pensava – “Achando que eu iria deixá-la?”
--Samir descobriu que você vendeu praticamente todas as joias! – continuava falando – Deixou umas cinco pra disfarçar e o resto vendeu. – aproximou-se da filha mais uma vez – Latifah pode até ter convencido o pai com uma conversa de que o dinheiro foi parar no bolso dos pobres, mas eu duvido muto! – sorriu desafiadora – Você não tem renda e está usando as joias pra sustentar a loucura insana de fugir com a tal amante paulistana!
Deu um suspiro profundo. -- Pense o que quiser... – respondeu mansamente – Se acha que sou fingida, -- olhou pela janela – se acha que tenho um plano... pense o que quiser. – passou a mão nos cabelos – Eu não tenho o que dizer em relação a isso.
--Não tem? Pois eu tenho! – caminhou até a filha e a fez se virar de frente para si – Não tente inventar um plano mirabolante pra fugir daqui, porque eu farei o que for pra que dê errado!
--Inclusive dar um jeito de me internar de novo? – perguntou desafiadora – Ou vai internar Latifah também pra não haver quem lhe confronte?
Achou absurdo o que ouviu. – O recado está dado! – afirmou com firmeza – Veja lá o que vai fazer! – andou até a porta e a abriu – Veja lá! – foi embora
Sayruci respirou fundo e fechou os olhos. “Meu Deus, até quando vai ser assim?” – pensou – “Talvez eu tenha sido precipitada quando disse pra Vera que em breve estaríamos juntas! Talvez eu deva esperar mais...” – sentia medo
***
Abigail estava no aeroporto de Natal com Rita e Jailson. Os amigos haviam ido até ali para se despedir dela.
--Mas tu vai ficar vivendo lá, em São Paulo? – Rita perguntou com pena de ver a outra partir – Volta mais não?
--Fica morando lá não, Bigail! – o homem pediu – Se arruma de resolver as coisa por lá mas volta pra viver aqui mais nós! – também não desejava vê-la ir
--Eu não vou ficar lá pra sempre, gente, se aperreie, não! – sorriu – Só preciso ficar o tempo que for preciso pra entender essa tal herança que a tia me deixou e ver como vai ser as coisa toda, não sabe? – explicava – E como não sei quanto tempo vai durar isso, entreguei minha casa pro senhorio e pedi as conta no hotel. Não tinha como ser diferente. – olhava para ambos – Mas eu volto! – garantiu – E não vou sumir. Sempre vou entrar em contato. – prometeu
--Por favor! – Jailson pediu – E tenha muito cuidado! – advertiu – Cidade muito grande, gente que você não conhece bem! Tenha cuidado!
--E tenha sabedoria! – Rita advertiu – Se a tia te deixou dinheiro, tenha cuidado, use com justiça e fique com um olho no gato e outro no peixe! Tem muita gente interesseira por aí!
--Cuidado com as pistoleira! – Jailson advertiu falando baixo – “Deve ter pistoleira sapatão também.” -- pensou
--Ô, que esses dois pensa que eu sou criança! – abriu os braços e envolveu a ambos – Tô ligada, sou esperta e não há herança que vá me fazer botar a perder! – beijou a bochecha de cada um – Quando menos vocês esperarem, eu volto!
--Amém! – Rita beijou o rosto da amiga também
--Se Deus quiser! – Jailson fez o mesmo
Os passageiros do voo de Abigail foram chamados ao portão de embarque, fazendo com que a mulher se despedisse e partisse andando rapidamente.
--Tomara que dê tudo certo e ela volte logo! – o homem desejou – Aí pegava o dinheiro da herança, comprava uma casinha própria e ia conversar com Duarte pra voltar a trabalhar mais nós. Duvido que ele não aceitasse! – olhou para Rita – O Morada sem Bigail parece até queijo sem goiabada, né?
A mulher cruzou os braços e ficou pensando. – Pois é, homi... – balançou a cabeça – Alguma coisa me diz que quando Bigail descobrir ao certo que herança é essa, tudo vai mudar e ela não vai ser mais essa que foi simbora... – considerou – Deus queira que não...
***
Vera conduzia Patrícia na saída do aeroporto de Congonhas.
--E dessa vez, o que te trouxe pra cá? – a motorista perguntava – Férias, trabalho, eveto LGBT...? – sorriu ao olhar para a outra pelo retrovisor
--Trabalho. – passou a mão nos cabelos – Tamos com uns problemas com dois fornecedores daqui, então a chefia me mandou vir pra ficar cobrando de perto. – olhava para fora do carro – Fico por uma semana inteira! Mas, se a coisa não desenrolar, pode ser até por mais tempo.
--Tomara que dê tudo certo. – prestava atenção no trânsito – E que você aproveite a estadia na cidade pra se distrair. – desejou
--E pra pegar alguém interessante, né, amiga? Tá foda! – revirou os olhos – Aliás, cê ainda tá namorando, tá solteira...? -- sondou
Achou graça. – Tô mais que nunca namorando, uai! – respondeu empolgada – E se Deus quiser, daqui a pouco ela vem pra viver comigo! – sorriu
--Ai, que linda, toda apaixonada! – deu-lhe um tapinha no ombro – Vou conhecer essa mulher? – perguntou interessada
--Se Deus quiser, vai conhecer! – sonhava com o dia em que a amada chegaria
--É... – suspirou – Tomara que esse mês de setembro me tire dessa maré seca! -- desejou
--Olha só, não por essa razão, mas você quer conhecer um pessoal pra quem eu tenho feito uns trabalho? – convidou – É um grupo de pessoas bem militante na causa LGBT, especialmente pelos TRANS. – explicou – Eles arrumaram uns patrocínio e têm feito muita coisa bacana!
--Ai, eu quero! – concordou – Confesso que sei muito pouco sobre os trans e uma influencer LGBT que se preze não pode ser assim, né? Tem que abrir a cabeça, dar espaço, chegar junto... – gesticulou
--Então tá então. – balançou a cabeça – A gente vai conversando e quando você puder, te levo lá.
--Beleza! – concordou – Aqui, deixa te perguntar... – lembrou-se de uma coisa – Você ainda vende chocolate erótico? – perguntou interessada
--Vendo, uai. Quer encomendar? – olhou pelo retrovisor
--Com certeza! – respondeu enfática – Pra começar, manda aí umas 7 xotas bem recheadas! – olhava para Vera pelo retrovisor – E mais uns 14 peitos! – complementou – É pra entregar hoje lá no meu hotel. -- ordenou
--Tá bom! – balançou a cabeça – “Ave Maria! Essa aí tá desesperada mesmo!” – pensava
***
Sayruci entregava uma bolsa de material escolar a uma jovem carente. Conversava animadamente com a família dela no portão da casa da moça. Latifah observava de longe, dentro de seu carro. Lembrava-se de que já havia estado naquele lugar.
“--Por que você me trouxe a esse lugar feio, mamãe? – a criança perguntava pirracenta – Não gostei daqui e nem da casa daquele pessoal!
--Viemos pra ajudá-los, meu amor. – respondeu mansamente – Tem uma garotinha naquela casa com a sua idade e ela precisa estudar, precisa ter condições de ter uma vida melhor no futuro. – explicava com carinho – Se a família dela não tiver recursos, ela vai ter que começar a trabalhar cedo demais e com isso não será possível que estude. – caminhavam em direção ao carro – E daí o estado de pobreza nunca vai mudar.
--E por que é assim? – não entendia
--Porque as coisas no mundo são injustas e as oportunidades não são iguais. – entravam no carro – Então a gente precisa fazer a nossa parte pra que essas injustiças não pesem tanto assim. – fechou a porta do veículo – Você não vai ficar feliz se a amiguinha puder ir pra escola? – olhou para o jovem que lhes dava carona – Vamos, querido?
O rapaz ligou o carro e partiram.
--Humpf! – cruzou os bracinhos de cara feia – Eu não gostei de vir aqui! – continuava pirraçando com ciúmes da mãe com a outra menina – Por que a gente não veio no nosso carro e com nosso motorista? – reclamava -- “Eu vou bem contar tudo pro meu pai!” – pensou”
--E eu contei... – a jovem se lembrava arrependida – E ele proibiu a mamys de me levar de novo pra qualquer coisa do tipo... – falava sozinha – Vamos dar uma carona pra ela. – ligou o carro e seguiu na direção da mãe
***
Sayruci e Latifah conversavam em um café no Centro da cidade.
--Bem melhor conversar num lugar desses! – mexia o capuccino – Com mesa, uma fofura pra sentar em cima e zero lama nos meus sapatos! – bebeu um gole
Achou graça e bebeu um gole de capuccino também. – Estou ouvindo. – não sabia o que a filha desejava dizer
--Encontrei a página onde você posta contos, daí. – afirmou olhando para a xícara – Tua... – pensava em como dizer – namorada... – pausou brevemente -- me disse que se eu procurasse por Khaalii iria encontrar. – olhou para mãe – E eu achei.
Surpreendeu-se com o que ouviu. – E? – olhava para a jovem
--E aí que eu fiquei passada! – cruzou as pernas – Você tem um monte de followers, três contos enormes e ainda tá escrevendo um quarto! – gesticulou – Onde arruma tempo pra escrever assim e sobre tantos assuntos? – perguntou curiosa – Cê nunca fica parada, tá sempre fazendo alguma coisa... me diz como pode isso, gentem? – queria saber
Bebeu um gole antes de responder. – Os contos nascem dentro de mim e vão crescendo como um bebê no ventre da mãe. – explicava – Aí chega o momento de escrever e faço isso muito rápido. A coisa flui naturalmente e eu nem preciso pensar muito. – pausou brevemente – Quando escrevo me sinto eu mesma, embora me esconda por trás de um fake. E me sinto livre!
Bebeu um gole novamente e olhou pela janela. – Li todos eles.
--Você leu? – surpreendeu-se mais uma vez – “Por essa eu não esperava mesmo!” -- pensou
--Aquele conto... A Rusga Brutal, -- olhou para a outra – o que você falou sobre o Líbano, a guerra... Aquilo é real? – queria saber – Meu bisa lutou na guerra?
--Sim, meu bem. – confirmou – E todas as histórias que ele me contou na infância me deixaram muito impactada. – pausou brevemente – Aquele conto traz muito dos nossos antepassados e de valores nobres que nossa família perdeu ao longo do tempo. – cruzou as pernas também
--E esse atual, Sob o Pranto de Zayah... – mordeu o lábio inferior – Zayah é você? – imaginava a resposta
Sorriu. – Sim. – respondeu simplesmente – Mais eu, impossível ser.
--E por que esse nome? – queria saber
--Porque Zayah é o nome de uma mulher livre! Tudo que eu mais gostaria de ser. – respondeu com a verdade
Não comentou. -- Então... – ajeitou-se na cadeira – Você se descobriu lésbica aos 9 anos? – queria saber – Foi verdade aquilo de se apaixonar pela professora de balé? A ruiva? – debruçou-se sobre a mesa
--Foi. – mexia o café com um palitinho de plástico – Fui apaixonada por ela por muito tempo. Amor totalmente platônico. – confessou – Ela foi minha professora dos meus 9 aos 13 anos, que foi quando sua avó percebeu e me tirou do balé. – bebeu um gole
Estava pasma. – E aquela da faculdade... era o tal grande amor que você teve antes de casar? – deduzia
--Valéria Araújo. – mexia no guardanapo – Com ela vivi momentos lindos na única época em que me senti realmente feliz e livre. – pausou brevemente – Mas com a morte do giddu tive que abrir mão de tudo pra me casar e fazer a vontade dos meus pais.
Finalizou o café e gastou uns segundos calada. – Sulah é aquela Vera? – não encarava a mãe
--Sulah era um sonho meu. Sonho que acabou se concretizando em Vera. – sorriu – Foi algo que aconteceu sem nenhuma de nós planejar. – dizia a verdade – Ela era uma leitora que se identificou com o conto, me escreveu, começamos a manter uma comunicação frequente até que surje seu convite pra me levar pra São Paulo justamente pro Congresso. – lembrava – Eu fui convidada pra participar, mas não tive coragem de ir. Imagina, eu no Congresso me expondo? – riu brevemente – Quando você saiu com aquele pessoal, procurei por ela e finalmente nos conhecemos.
--E rolou assim, logo de cara? – olhou para a mãe rapidamente
--E foi a melhor experiência da minha vida! – afirmou enfática – Foi como se fosse um encontro de duas pessoas que se esperaram mutuamente por anos a fio!
Pensava no que ouvia. – E na ocasião o que ela sabia de você?
--Nada, nem meu nome. – respondeu de pronto – Eu só me revelei de fato pra ela no carnaval. – terminou de beber o café – Definitivamente Vera não está comigo pensando em dinheiro! – entendeu que a filha imaginava o contrário
Gastou mais alguns segundos calada. -- Yasmin sou eu?
--Sabe que sim. – respondeu mansamente
Riu brevemente. – Quer dizer, eu do jeito que você queria que eu fosse, by the way! – ironizou
--Você do jeito que eu te vejo! – afirmou com segurança
“Nossa, ela me vê daquele jeito?” – ficou surpresa – E o que escreveu que sentiu naquele dia... nos jardins de Mammoul...?
--Exatamente o que senti. – limpou os lábios com o guardanapo – E sinto!
A jovem ficou sem graça e desviou o olhar. – Vera me disse que se apaixonou por você lendo seus contos.
--Eu sei. E eu me apaixonei por ela lendo os e-mails que me escreveu. – passou a mão nos cabelos – Você ainda não me disse o que achou dos contos. Uma vez que leu todos eles... – queria saber
--Eu achei que você é muito foda! É isso que quer saber? – respondeu com os olhos marejados – Quando a maluca lá me disse que se apaixonou pelo que leu, achei uma coisa surreal! Duvidei! – derramou uma lágrima – Só que depois que eu li, entendi perfeitamente porque! – limpou os lábios com o guardanapo – E acho que você tinha razão quando deixou claro que não sou sua melhor amiga, porque se eu fosse, não ia precisar ler tudo que li pra realmente saber quem você é! – derramou outra lágrima
--E eu quis muito que você soubesse! – confessou – Mas primeiro você era muito criança e depois havia uma barreira que eu nunca soube superar! – falava com emoção -- Já lhe disse e repito que qualquer coisa passava na minha frente no que diz respeito a sua atenção! Você nega?
--Sabe qual é o seu problema? – derramou outra lágrima – Você tem medos demais! Papys e a família toda sempre te dominaram pelo medo! – olhava nos olhos – Se você parar pra pensar, vai ver que eles não têm mais muito o que fazer contra você! – argumentou – Ninguém mais vai te internar, ninguém vai te matar, ninguém vai te acorrentar no quarto! E uma vez que você já vazou com as joias, eles não podem mais confiscar! – derramou outra lágrima – Eles fazem ameaças, vóvys tira a maior onda de poderosa chefona, mas ela não tem capangas, não tem bandido na família e geral morre de medo de um escândalo! – sorriu – No dia que você declarar sua alforria, eles baixam a guarda pelo mais absoluto medo da repercussão!
Sayruci pensava no que ouviu.
--E foi esse mesmo medo de tudo que fez com que você nunca superasse as tais barreiras! Não foi só por minha culpa! – defendeu-se
--E por que você também nunca se abria comigo? – cobrou – Por que sempre se incomodou quando eu lhe perguntava o mínimo? – aguardava uma resposta – Você também vai negar isso ou vai dizer que a culpa é dos meus medos?
--Quer saber, -- secou os olhos com um guardanapo limpo – dona Sayruci? – respirou fundo – Você tá pra vazar mesmo, né? – abriu a carteira – Nem sei porque a gente tá perdendo tempo com essa conversa. – jogou um dinheiro sobre a mesa – Papys viaja na semana que vem, não é aí que você aproveita? – falava com mágoa -- Saludos! – levantou-se -- Ha sido un placer! – partiu
--Por que eu nunca sei dialogar com a minha filha, meu Deus? – perguntou-se ao cruzar as duas mãos atrás da cabeça
***
Érica explicava em detalhes para Abigail sobre o patrimônio que havia herdado, as ações, impostos que agora lhe cabia pagar e a forma como Quitéria lidava com seus imóveis.
--E pra concluir, sua tia mantinha dois empregados, que são uma senhora que faz limpeza no apartamento dela no Itaim Bibi e o motorista, porque ela nunca quis aprender a dirigir. – olhava para a outra – Já providenciamos um cartão de crédito pra você e creio que seja de seu conhecimento o saldo em sua conta bancária após as últimas transferências.
--Na verdade não. – cruzou as pernas – Você me ajudou com isso de cartão de crédito lá em Natal mesmo, mas eu nunca parei pra curiar saldo de banco e nem tenho esse costume. – estava sendo sincera – Nunca tive depositado mais que meu salário...
--Não acredito! – achou graça – Você não existe, Abigail! – pegou um papel em uma gaveta – Eu tive que solicitar um extrato pra finalizar os processos todos e no mês passado seu saldo era esse. – colocou o papel diante da potiguar – Vai ficar um pouco maior depois que depositarem a última parcela da pensão da dona Quitéria nesse mês, que é referente a agosto. – esclareceu – De outubro em diante você não vai mais receber esse dinheiro, porque a pensão se extingue com a morte dela, mas vai ficar com a renda proveniente das ações e dos aluguéis dos imóveis. – sorriu – Se souber se haver nem precisa mais trabalhar.
Surpreendeu-se com o que ouviu e pegou o papel para ler. -- Vixe! – o coração acelerou -- E eu que não sabia que a tia era tão... – arregalou os olhos – Ave Maria, mulher! – levantou-se de um pulo – Isso tudo aqui é meu? Não vou ser presa, não? – olhou para a advogada
--Presa por que? – achou graça – Nem um centavo desse dinheiro é ilícito. – cruzou os braços – É tudo seu.
--Meu Pai Santo, Minha Nossa Senhora... – desabou sentada na cadeira – Eu nunca vi tanto dinheiro na minha vida!
--E o segredo é gastar com parcimônia e ser discreta. – aconselhou – Desse jeito, não ficará sem grana de novo e evitará os aproveitadores que sempre se aproximam de quem possa lhes dar vantagem. – pausou brevemente – Além dos golpistas e ladrões, é claro.
“E eu que pensei que seriam meus contos a me enricar...” – pensou – “Cabou-se que a riqueza veio de onde eu menos imaginava...” – não conseguia acreditar – “Agora tem que ter sabedoria pra lidar com esse tanto.” – olhou para o papel de novo – “Minha Nossa Senhora... Alguém me belisca, que eu tô sonhando...”
***
Sayruci e Valéria conversavam ao telefone.
--Você não sabe o quanto fiquei feliz com essa ligação! – a morena sorria – Não poderia ter acontecido no momento mais oportuno! Parece até que você adivinhou! – estava sentada na beira da piscina
--Fico feliz com isso! – ajeitou os cabelos – É a primeira vez que conversamos depois daquele encontro lá no hotel... pensei que você fosse ficar até cismada. – caminhava pelos corredores da universidade
--Não fiquei, longe disso! – dizia a verdade – Nunca te liguei por medo de ser inconveniente, já que você se casou e como você não ligou... Achei melhor ficar na minha.
--É, eu não liguei por várias razões. – escolheu uma mesa de um trailer e se sentou – Quando contei pra Cláudia sobre você e eu, ela ficou magoada comigo. – colocou sobre a mesa os livros que segurava – Reclamou que eu fingi que não te conhecia antes, que demorei a abrir o jogo... ficou desconfiada, sabe? -- lembrava da situação -- Aí eu achei que se te procurasse, a coisa só ia piorar. Depois que ela desestressou e ficou tranquila, acabou que um monte de coisas foram acontecendo aqui no trabalho e aquela correria... o tempo passou, né? – sorriu
--Entendo. – mexia os pés dentro da água
--Mas aí aconteceu que quando eu vinha chegando hoje pra trabalhar dei de cara com um cartaz promocional que colocaram na entrada do bloco B e tinha a foto de uma jovem de olhos verdes. – contava – Nem de perto iguais aos seus, mas lembrei e pensei: Vou ligar pra Sayruci pra dar um alô!
--Bendito cartaz! – sorriu – Você tem tempo de conversar um pouquinho ou tá muito agarrada aí? – reparava para ver se alguém estava por perto – Tava precisando tanto desabafar...
--Minha primeira aula vai ser às 10h. – informou – Nas quintas minha agenda pela manhã é mais tranquila, então temos tempo. – estava disposta a ouvir
--Eu nem sei por onde começar, aconteceu tanta coisa... – tentava ordenar o pensamento – Quando a gente conversou naquele dia no hotel, lá pelas tantas te contei que escrevo, né? Então... conheci uma leitora e a gente se apaixonou de um jeito como não sei nem explicar! – confidenciou --- Estivemos juntas no ano passado, em novembro, e nesse ano, no carnaval. – pausou brevemente – Sabe quando você sente que uma pessoa é o amor da sua vida?
--Hum, que interessante! – gostou do que ouviu – Mas e aí? Qual o nome dela? Ela é da onde?
--Vera. – sorriu – Ela vive em São Paulo. E eu tô pensando em largar tudo pra viver com ela! – falou em tom mais baixo
--Gente, que maravilha! – empolgou-se – Mas vamos por partes porque isso é muito sério! – pediu – Por mais que eu deseje ardentemente que você se liberte, não te quero caindo em cilada. Você tem certeza que essa mulher é uma boa pessoa, já refletiu se é isso mesmo?
--Ela é uma pessoa pobre, que luta com dificuldade, mas isso não me importa. – respondeu com decisão – Sei que é uma mulher maravilhosa e não tenho dúvidas de que é ela que eu quero! – sorriu ao lembrar da caipira – Ela nem sabia nada de mim! Não está de olho em dinheiro! -- garantiu
--Ok. – concordou – E como você tá planejando fazer a coisa? – queria saber – Vai ser uma ruptura e tanto!
--Eu enviei minhas joias pra casa dela. – falou mais baixo ainda – Ela recebeu mas sequer sabe o que é, porque não abriu a bolsa lacrada onde escondi tudo. – reparava ao redor – Aí eu pensei em ir embora quando Samir for viajar à serviço, não demora muito. – contava os planos – Já saí visitando todo mundo que gosto pra ver se tá tudo bem, -- falava das pessoas que sempre ajudou – tô deixando tudo esquematizado no restaurante, no hotel e tal e ninguém aqui desconfia de nada. – pausou brevemente – Quer dizer, só a minha filha, pois foi ela mesma quem me disse quando seria o melhor momento.
--Nossa! – surpreendeu-se com o que ouviu – Você foi mega corajosa! – pensava no caso das joias – Mas até entendo que fez o que fez pra tentar evitar que confiscassem a única coisa que podia te dar alguma independência financeira por ora. – concluiu – E a sua filha tá te dando força? Daquela nossa conversa tinha entendido que ela nem sabia de você!
--E não sabia mesmo! – continuava prestando atenção no ambiente – Val, se você soubesse! Maama descobriu que tenho alguém e me internou numa clínica psiquiátrica!
--Oi?? – chocou-se com o que ouviu – “Gente, ela não exagerava em nada do que dizia!” -- pensou
--Pois é! É uma longa história, mas consegui que avisassem pra Vera sobre o que aconteceu, ela correu pra cá, contou tudo pra Latifah e daí minha filha pressionou maama pra que me tirasse de lá. Passei quinze dias de inferno sendo diariamente dopada!
--E isso foi por agora? – continuava em choque
--Saí da clínica há pouco mais de um mês. – respondeu de imediato – Mas com tudo isso, Latifah reagiu muito mal ao saber de mim e disse que esqueceu que tem mãe. – calou-se para não chorar
--Own, meu bem... – teve pena da ex – São coisas ditas da boca pra fora, claro que ela não esqueceu!
--Tomara que não... – passou a mão sobre os olhos – E não tem muito tempo, maama veio me ameaçar, dizendo que vai fazer o que for preciso pra me prender aqui. Nesse casamento e nessa vida!
--E você ficou com medo e agora já não sabe se deve ir pra São Paulo ou ficar e aguardar? – deduziu
Acabou sorrindo. – Sou assim tão óbvia?
--É, e esse é o problema! – ajeitou-se na cadeira – Querida, entenda uma coisa: você é maior de idade há muito tempo e sua mãe não pode te impedir de nada! – afirmou enfática – Depois de tudo que você me contou, duvido que ela vá querer te internar de novo por medo de um escândalo!
--Latifah ameaçou que faria um. E ela tem um monte de seguidores na internet! – comentou – Maama e Samir morrem de medo quando ela faz esse tipo de ameaça.
--Pra você ver! Sua filha não é controlável por eles, mas você é! – tentava abrir os olhos da outra – Sayruci, você será sempre uma prisioneira enquanto se fechar dentro dos seus medos! E é isso que eles fazem: manipulam seus medos pra ter você sempre sob controle! – gesticulava – Eu sei que há homens que ameaçam matar as esposas se elas os deixarem e há outros que até fazem isso mesmo, só que você também tem força! Não pode se deixar dominar eternamente sempre por medo de ameaças e possibilidades! – aconselhava – E, não sei... sinceramente? Nem acho que seu marido seja do tipo que tentaria te matar ou que pagaria alguém pra fazer isso!
--Também acho que não... – concordou
--Então pára de ter medo e de viver se escondendo! – pediu enfaticamente – Você é um pássaro acorrentado na gaiola do medo, meu amor! Uma alma de artista, uma pessoa que clama por ser livre! – dizia o que pensava – Liberte-se de uma vez por todas! Seja pra viver com Vera, seja pra viver sozinha ou com quem for, aonde for! Liberte-se!
A morena ficou pensando seriamente no que ouvia. Lembrou-se de tudo que ouviu do pai, da avó desencarnada e até mesmo da própria filha.
--Liberte-se! – Valéria repetiu
***
Sayruci havia arrumado duas malas. Colocou nelas tudo que achou que pudesse precisar. Decidira que uma vez em São Paulo, buscaria providenciar o divórcio litigioso, já que Samir não estava disposto a se separar por bem. Decidiu que não sairia escondida sob um plano mirabolante para fugir de casa, mas que partiria de cabeça erguida e pela porta da frente.
Enquanto se preparava para descer com as malas com a ajuda de Margô, Samir e Zorayde conversavam tranquilamente no jardim, completamente alheios ao que se passava.
--Sazii voltou diferente depois que saiu da clínica. – o homem desabafava – Ela quase nem toca em mim e fiquei com receio de procurá-la. – confessou – Tive medo que tivesse outra crise... – gesticulou – Quando eu voltar de viagem vou tirar uns dias off e levá-la para um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Já providenciei tudo!
--No que faz muito bem! – sorriu – Pode ficar tranquilo que durante sua ausência estarei aqui de olho.
--A senhora tem certeza, dona Sayruci? – Margô descia com uma das malas – Eu chamei o táxi mas depois fiquei pensando... – prestava atenção nos degraus – Com seu Samir e dona Zorayde em casa...
--Não se preocupe, querida. – descia atrás carregando outra mala – O tempo em que esses dois me mantinham acorrentada acabou! – afirmou com decisão – “Passei dias orando e sei que Deus vai me dar forças!” – pensava
Igualmente alheia a tudo, Latifah chegava em casa trazida pelo motorista.
--Obrigada! – Sayruci agradeceu quando Margô colocou sua mala no chão – Fique bem! Que Deus a abençoe! – abraçou a empregada
--A senhora também! – desejou com sinceridade – E... a senhora vai ficar esperando aqui? – perguntou titubeante ao interromper o abraço
--No portão. – respondeu decidida – Mas não precisa me acompanhar. Daqui sigo sozinha.
--Tudo bem. – preparou-se para sair – Novamente, desejo tudo de bom e que a senhora refaça sua vida com alguém... – pensou no que dizer – Com alguém melhor. – fez um gesto de cabeça e se retirou
--Sazii, mas o que é isso?? – Samir ouviu a movimentação e foi para a sala – Pra onde você vai? – o coração acelerou
--Vou embora. – respondeu calmamente – E para não mais voltar. – afirmou seguramente
“Hum... Vou ouvir isso aí!” – Margô se escondeu atrás da cortina
--O que é que você está dizendo? – Zorayde apareceu na sala também – Ficou louca ou o que?? – não entendia – “Mas não é possível!” – pensava em estado de choque – “Ela não ficou com medo mesmo depois do que eu falei??”
“Dona Sayruci já vai embora hoje?” – Maristela ouviu por acaso – “Ah, mas eu vou ouvir isso!” – escondeu-se atrás de outra cortina
--Que é isso, reunião em família? – Latifah chegava desconfiada – Oi?? – viu as duas malas da mãe e levou um susto – “Ela vai assim, na careta, na frente de everybody?” – chocou
Respirou fundo e manteve-se firme. -- Eu cansei! – Sayruci desabafou olhando para os três – Cansei de ser mantida como prisioneira nessa casa, nessa vida e dentro de mim mesma! – enchia-se de coragem – Vou embora e isso não está sob discussão!
Clipped wings, I was a broken thing, (Asas cortadas, eu era algo partido),
Had a voice, had a voice but I could not sing, (Tinha uma voz, tinha uma voz mas eu não conseguia cantar),
You'd worn me down, oh, (Você me desgastara, oh),
I struggled on the ground... (Eu lutei enquanto estava no chão...)
--Gentem! – Latifah estava pasma
--Pois você fica! – Samir avançou contra a mulher – Eu não admito isso! – segurou-a pelos ombros – Fica! – tentava detê-la
--ME SOLTA! – reagiu energicamente pela primeira vez – ME SOLTA! – gritou e se desvencilhou
So lost, the line had been crossed, (Tão perdida, havia passado do limite),
Had a voice, had a voice but I could not talk, (Tinha uma voz, tinha uma voz mas não conseguia falar),
You held me down, (Você me segurou),
I struggle to fly now, oh... (Eu luto para voar agora, oh...)
--VOCÊ NÃO TOCA NELA! – a jovem correu para junto da mãe – NÃO TOCA! – gritou também
Samir se assustou. – Latifah, você tá ouvindo? – olhava para a filha – Sua mãe quer ir embora!
--E eu vou! – passou a mão nos cabelos – Já disse que é uma decisão tomada!
--Sayruci, pelo amor de Deus! – Zorayde sentia-se perdida – O que deu em você?
--Cansei de me esconder! Cansei de ficar calada! – respondeu com emoção – E não vou me calar pra evitar um escândalo!
But there's a scream inside that we all try to hide, (Mas há um grito interior que todos tentamos esconder),
We hold on so tight, we cannot deny, (Nós nos agarramos tanto a ele, não podemos negar),
Eats us alive, oh, it eats us alive, oh... (Devora-nos vivos, oh, isso nos devora vivos, oh...)
--E não vai mesmo! – Latifah gesticulou – Porque o escândalo quem vai fazer sou eu! – sacou o celular
Zorayde e Samir arregalaram os olhos.
Yes, there's a scream inside that we all try to hide, (Sim, há um grito interior que todos tentamos esconder),
We hold on so tight, but I don't wanna die, no, (Nós nos agarramos tanto a ele, mas eu não quero morrer, não,)
--Eu não quero morrer presa dentro de mim! – Sayruci segurou uma das malas – E não irei!
I don't wanna die, I don't wanna die, yeah... (Eu não quero morrer, eu não quero morrer, yeah...)
--Se qualquer um aqui tentar ousar impedir que ela vá embora, gravo tudo e jogo na internet, escancarando no meu canal! – Latifah ameaçou
--Vocês não podem estar falando sério! – Zorayde estava a ponto de surtar
--Eu não ligo! – Sayruci estava decidida – Não me preocupo mais em esconder nada!
And I don't care if I sing off key, (E eu não ligo se eu cantar fora do tom),
I found myself in my melodies, (Eu me encontrei nas minhas melodias),
I sing for love, I sing for me, (Eu canto por amor, eu canto para mim),
I shout it out like a bird set free... (Eu grito como um pássaro liberto...)
--Eu quero ser livre! – os olhos marejaram – Eu quero ser feliz!
I'll shout it out like a bird set free, ooh, ooh, (Eu vou gritar como um pássaro liberto, ooh, ooh),
I'll shout it out like a bird set free ooh, ooh... (Eu vou gritar como um pássaro liberto, ooh, ooh...)
“Gente, que barraco maravilhoso!” – Margô pensava torcendo pela patroa – “Vai, dona Sayruci, met* o pé!”
“Isso, dona Sayruci, mostra pra eles!” – Maristela pensava empolgada
--Tem um táxi aí fora! – o motorista da família correu para anunciar – Diz que é pra dona Sayruci! – estranhava
--E é mesmo. – segurou a outra mala também – Fiquem bem! – preparou-se para sair
--Eu vou junto, lógico! – Latifah pegou uma das malas da mãe – Perco isso por nada! – exclamou animada
--Mas por que isso, Sazii? – Samir colocou-se na frente das duas – Você tem outro? – queria saber – Algum outro homem que virou sua cabeça? – derramou uma lágrima – Por que? – não entendia
--Não tenho outro homem, Samir! Nunca tive! – olhava nos olhos dele – Mas vou refazer minha vida ao lado de uma mulher! -- assumiu
--Ai... – Zorayde desmaiou em cima do sofá
--O QUE??? – o homem gritou com os olhos arregalados
“Gente!!!” – Margô e Maristela pensaram ao mesmo tempo
“Morre, velha!” – Maristela desejou – “Rasga o rab*, seu Samir!”
O motorista abriu a boca e não produziu som.
And I don't care if I sing off key, (E eu não ligo se eu cantar fora do tom),
I found myself in my melodies, (Eu me encontrei nas minhas melodias),
I sing for love, I sing for me, (Eu canto por amor, eu canto para mim),
I shout it out like a bird set free... (Eu grito como um pássaro liberto...)
--Vamos embora, mamys! – sorriu orgulhosa da outra – Já perdemos tempo demais! – puxou uma das malas – Licença, papys! – seguiu empinada
--Eu não acredito... – Samir sentia-se sem chão
--Adeus, Samir. – respondeu com brandura – Desejo que você um dia encontre alguém que te ame e que você saiba amar também. – partiu
Sayruci e Latifah foram auxiliadas pelo taxista e partiram deixando todos atônitos.
I'll shout it out like a bird set free, ooh, ooh, (Eu vou gritar como um pássaro liberto, ooh, ooh),
I'll shout it out like a bird set free ooh, ooh... (Eu vou gritar como um pássaro liberto, ooh, ooh...)
--Como se sente, mamys? – guardava o celular na bolsa – You rocked! – afirmou afetadamente – A-MEI! Mega FO-DÁS-TI-CA! – enfatizava cada sílaba
--Livre. – olhava para frente – Eu me sinto livre! -- sorriu
I'll shout it out like a bird set free, ooh, ooh, (Eu vou gritar como um pássaro liberto, ooh, ooh),
I'll shout it out like a bird set free ooh, ooh... (Eu vou gritar como um pássaro liberto, ooh, ooh...)
Sia – Bird Set Free [3]
(https://www.youtube.com/watch?v=d67zZilD4PE)
E finalmente, depois de tantos anos de sofrimento e amargura, Sayruci sentia-se tão livre na vida real quanto dentro de seus próprios contos.
(NOTA DA AUTORA: AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!! Eu gritei de verdade. A vizinhança deve estar achando que surtei! rs
Não tenho marido ou mãe me segurando, minha prisão sou eu mesma e meus dilemas interiores. Um dia, quem sabe...
E eu AMO essa música! )
***
Fim do capítulo
Músicas:
[1] Patativa. Intérprete: Elba Ramalho. Compositor: Vicente Celestino. In: Cirandeira. Intérprete: Elba Ramalho. BMG, 2001. 1 CD, faixa 2 (3min04). Originalmente interpretada por Vicente Celestino no LP Em Suas Canções Célebres, gravado pela RCA em 1961.
[2] A Thousand Years. Intérprete: Christina Perri. Compositores: Christina Perri / David Hodges. In: A Thousand Years. Intérprete: Christina Perri. Atlantic Records, 2011. 1 CD, faixa 7 (4min45)
[3] Bird Set Free. Intérprete: Sia. Compositores: Sia / Greg Kurstin. In: This Is Acting. Intérprete: Sia. Monkey Puzzle Records & RC Records, 2015. 1 CD, faixa 1 (4min12)
Comentar este capítulo:
Ontracksea
Em: 21/01/2024
Uawuawuaw que capítulo maravilhoso, potente, libertador!!!! A trilha sonora como sempre FODA!
AMANDO MUITO TUDO ISSO!
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Femines666
Em: 28/03/2023
Eu gritei contigo! Que capítulo libertador! E que trilha sonora! AMANDO!!!
Dona Quitéria, que lindo!
Solitudine
Em: 28/03/2023
Autora da história
Obrigada, querida!
E quem não precisa se libertar, não é verdade?
Beijos,
Sol
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Alexape
Em: 17/12/2022
GOOOOOOL!!! DA SAYRUCI!!! DE BICICLETA, LÁ ONDE A CORUJA DORME! INDEFENSÁVEL!!
Ganhei o sabadão autora!!!
PS: Sobre a senhorinha, que lindo!
Resposta do autor:
kkkk Eita, que ela veio em ritmo de Copa do Mundo! kk
Que bom! Fico feliz!
Beijos,
Sol
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AMANDA
Em: 31/05/2022
Quem não tem, ou teve dilemas pra ser livre!
Não existe nada mais essencial do quê entedermos que
felicidade é individual! Sejamos protagonistas das nossas histórias!
Resposta do autor:
Olá Amanda!
Você está certíssima! Obrigada por vir aqui comentar. Volte mais vezes.
Espero que esteja gostando deste conto.
Beijos,
Sol
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sonhadora
Em: 26/04/2022
Oiê!
Faz uns minutinhos que terminei este capítulo e cá estou emocionada e, acredite, sem palavras pra descrever tamanha emoção!!! Gratidão por tão grande presente no meu dia tão nublado e aflito!!!
Sou fã da Sia!! Esta música mexe muito comigo e neste momento da história ficou perfeito!!! A Latifah não me decepcionou mesmo, no fundo ela também quer esta liberdade pra sua linda mamys!!!
Abigail, ah menina, entendo suas mazelas, já presenciei aqui no finalzinho da minha rua, uma menina ainda, foi assassinada porque disse um NÃO. Ela não era obrigada a aceitar qualquer cliente, mas até hoje não vi justiça humana ser feita...uma pena.
Admiro-te! Suas histórias me tocam e me deixa com uma sensação leve! Mistura drama e comédia com muito equilíbrio e magia!!!
Beijos de luz!!!
Resposta do autor:
Olá querida!
Fico feliz que o capítulo tenha lhe feito bem, mesmo com a dose de emoção (que para mim também foi alta!). Espero também que seus dias estejam sendo mais iluminados. Aliás, quando sai o resultado do concurso?
Latifah abriu os olhos. Finalmente!
Sim, muitos acham que certas mulheres devem dizer sempre sim. E, quando não atendem a essa expectativa, tudo se justifica. Revoltante esse tipo de situação!
Fico feliz que sinta assim. Muito obrigada!
Beijos,
Sol
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Zaha
Em: 14/03/2022
Boa noite,
Capítulo com muitas mudanças para Abigail e Suy!
Verei no próximo capítulo o Abigail Vai fazer com a herança .Ela é vaidosa e pensa ser a esperta e gosta de escutar...coisa boa n fará
Suy pôde enfrentar seus medos e receios para se libertar. Nada mmelhor do que viver sendo um mesmo . Na vida, nem sempre as coisas saem bem, temos que lutar. Cada um tem sua guerra, mas isso nos permite crescer moralmente e espiritualmente. É a tal da disciplina. Sem essas lições e privações nossos espíritos continuariam rebeldes. Alguns são mais a outros, mas a dor é a mesma, de todos , n existe comparação. N existe dor maior
Nós criamos nossa prisão e apenas cabe a nós sairmos dela. N se trata de coragem., é um processo interno, leva mais tempo pra alguns pq perdemos algo. O tempo, dores e privações nos molda e um dia, saímos da gaiola e voamos, outros ficam presos pra sempre pq n podem lidar com os processos emocionais q virão com as consequências..enfim! N estou pra falar MT.. só uma palhinha
Q vc possa ter a motivação para um dia voar, por agora vc tem um Everest impedindo....Espero q possa chegar ao cume e ser livre em todos os lados. Como vc diz: Faz um bem danado !!
Beijos e espero q possa resolver o q tem te deixado longe
Beijos espirituais
Resposta do autor:
Boa noite, Lailíssima sadikíissima!
Espero que esteja bem e cheia de força!
Sim, grandes mudanças.
Você está prevendo o que Abigail fará, mas terá certeza quando der uma lida. Não vou comentar para não antecipar. rs
Exatamente, cada um tem o seu caminho. Sayruci está trilhando o dela brilhantemente, apesar de ter sido detida pelo medo durante tantos anos.
Sim, tenho um Everest pela frente. Acho que cheguei no campo base, mas tem muita montanha para escalar ainda! rs Vamos ver se dou conta...
Que você volte logo, estou com saudade dos comentários lailescos.
Ainda não resolvi o que tem me deixado longe. Conte aí mais uns três meses pela frente. Há muito o que se fazer.
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 11/03/2022
Amore, quase comentei na tua conta da qual acabei de sair huahuahua deixa o cap novo comigo que eu bem posto olha as amigas aí te pedindo não pode fazer desfeita. Aproveita e me dá logo tipo Paty 7 caps bem recheados vc não vende choco erótico huahuahua compensa com caps bjuss
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkkkkkkk Com esse eu ri muito!
Você recebeu capítulos e foi maravilhosa como sempre, mas sete é muito. Vai se segurado aí, querida. rs
Beijos,
Sol
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NeyK
Em: 10/03/2022
Que momentoooo Brasiiiillll... o gosto da liberdade é sublime. Ela saiu de cabeça erguida e deixando a tsunami pra trás. Sary é barril, como se diz aqui no meu país Bahia. A "pobe" da Vera nem vai acreditar kkkkkkk
E dona Abigail que finalmente foi exaltada né, adorei?!?
Ps.: sair do "armário" requer coragem e infelizmente nem todos vão ter uma história legal pra contar, mas é tão bom ser vc mesma...
Ps2.: posta mais 1 capítulo, nunca te pedi e nada, hoje.
Resposta do autor:
Boa noite, Ney!
Sim, o momento foi como o gosto da liberdade: sublime. Vera amou a novidade, com toda certeza.
Abigail não é desvalorizada por ninguém mais que ela mesma. Foi isso que dona Quitéria quis lhe mostrar. Ela ainda vai se encontrar. Aguarde.
Eu imagino que sair do armário tenha seu lado ótimo. Apenas imagino.
Quanto ao capítulo que você pediu, foi feito.
Beijos e não desapareça mais! Pode dizer: olha quem pede! kkk
Sol
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mtereza
Em: 10/03/2022
Sol de Deus mulher que capítulo fodastico como diria Latifah, foi esse me emocionou me fez rir e refletir você deu tudo . E é perfeita sua escrita parabéns Nunca esqueça cada uma e cada tem seu momento e seu tempo um dia com certeza os medos não mais paralizarão e a liberdade virá bjs ???? e até logo.
PS: Também gritei e assustei minha esposa que correu para me ver o q tinha acontecido, e quando viu que estava lendo disse logo vi que era essas histórias malucas q vc é apaixonada kkkk , até agora não consegui fazer ela se apaixonar tbm pelas histórias do Lettera, mais os livros impressos consegui faze-la ler ela amou Diedra Roiz . Dito isso fecho dizendo que você deveria publicar suas histórias também você é fantástica mulher.
Resposta do autor:
Olá querida!!!
Que bom que você gostou! E obrigada pela sua gentileza de avaliar minha escrita assim tão favoravelmente!
Eu espero que realmente consiga juntar coragem para o meu momento. Não consigo vislumbrar isso do ponto que estou hoje.
Você gritou? kkkk Que bom, sinal de que se envolveu!
Publicar? Algumas amigas já me propuseram isso, mas para publicar eu teria que me mostrar em algum momento e isso está fora de cogitação por agora. Agradeço novamente pela sua gentileza.
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 10/03/2022
Eu também ri com o passeio de bugue e Paty com suas xotas bem recheadas! Huahuahua vc é louca!!! Huahuahua Zorayde é mãe sem noção ela realmente acredita que faz o certo e Socorro é uma interesseira. Vera deu uma situadazinha mas tem que ser mais firme. Deu peninha de Rita e Jailson. Quero ver Abigail ricona!!! Bjusss
Resposta do autor:
Olá Samirão!
Só quem fez um passeio de bugue com muita emoção consegue entender! kkkk Paty, fazer o que? Ela compensa no chocolate... rs
Sim, Zorayde acredita de verdade que faz o certo. E Socorro é até boazinha, mas gosta de explorar e deitar na sombra do boi. Vera tinha que dar uma chamada mais em regra! rs
Você vai ver Abigail rica. Ou melhor, já viu. kkk
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 10/03/2022
Amor vamos do final para o começo? AMEI o jeito como Say meteu o pé! A música foi perfeita como vc sempre consegue? Latifah se redimiu embora de um jeito simples mas o foda foi o jeito como Say declarou independência !!! Morre velha rasga o rabo seu Samir!! Huahuahua Masss deixa eu te falar eu entendo o que vc sente porque a porra da minha prisão é a mesma. Vc é a pessoa mais foda e corajosa que eu conheço eu também não sou medrosa mas eu não sei esse capítulo falou fundo dentro de mim eu chorei E chorei com dons Quitéria foi lindo e a música perfeita Vc sabe fazer a gente chorar e rir com a reunião de condomínio EU TE AMO! Bjusss
Resposta do autor:
Olá, Samira!
Eu confesso que me emocionei com esse seu comentário e fico feliz que o momento de Sayruci tenha te falado dentro do ser. Para mim, como você sabe, foi muito forte.
Também te amo, querida. Esteja certa disso.
Beijos,
Sol
PS: Com reunião de condomínio cheia de loucuras eu tenho experiência, não? kkkk
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Mille
Em: 10/03/2022
Boa noite Sol
Chorei com esse capítulo e feliz pela Sayzinha.
Enfim teve uma saída triunfal.
Bigail tá mega rica e espero que ela compre o hotel e mude a vida dos amigos.
E momento lindo da dona Quitéria se despendido ela foi em paz.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Boa noite, Mille,
Eu não deveria dizer isso, pois como autora do trem pode soar meio arrogante, mas adorei esse capítulo! rs
Vamos ver o que dona Abigail fará com sua fartura.
Dona Quitéria mereceu, não? Chega de tanto sofrer.
Beijos, querida!
Sol
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Solitudine Em: 21/01/2024 Autora da história
Olá querida!
Sem arrogâncias, é o meu capÃtulo preferido em todo conto. Obrigada por me deixar saber que gostou tanto!
Beijos,
Sol