Bia

Me espreguicei sonolenta, acordei sentindo o corpo dolorido, sorri ainda com os olhos fechados. Passei a mão pela cama e não a encontrei, olhei no relógio ao lado passava um pouco das dez da manhã, levantei passando a mão no rosto chamando:

– Sam?

Ela não respondeu, levantei com preguiça ainda sentindo o corpo cansado e fui para o banheiro, entrei no box e liguei a água. Senti algumas partes de meu corpo arderem, depois olhei no espelho e vi algumas marcas de arranhões pelas minhas costas... sorri, uma gata selvagem. Voltei para o quarto enrolada em uma toalha quando a porta se abriu e por ela entrou a mulher mais linda do mundo sorridente e suada, admirei perguntando:

– Estava correndo? – veio até mim, depositando um beijo em meu rosto respondendo:

– Caminhando, na verdade, faz tanto tempo que não faço isso e não resisti quando vi que atrás da casa de seu avô tinha uma pequena trilha.

– É onde eu costumava andar com ele, mas depois que comecei a trabalhar na empresa quase não me sobra tempo, quem sabe você não me anima a voltar.

Caminhei insinuando meu corpo ao dela, sentindo seu aroma, ainda que suada, o cheiro da sua pele se fazia presente. E quando arranquei minha toalha me posicionando em cima dela na cama, me empurrou delicadamente dizendo:

– Preciso de um banho com urgência, meu bem – deitei de lado sorrindo, ela passou a mão em minhas costas, comentando:

– Brigou com um gato essa madrugada? – respondi sorrindo divertida:

– Sim, e pretendo entrar na briga hoje novamente se a gata quiser.

Ela cobriu os olhos envergonhada, a abracei forte sorrindo, minutos depois me deu um selinho e foi para o seu quarto, onde ela havia deixado suas malas. Eu me arrumei e desci atrás de um café. Naquela manhã não iria trabalhar, então aproveitaria ao máximo, Samantha logo se juntou a mim, tomando apenas um copo de suco alegando já ter tomado café com meu avô.

Conversamos sobre a possibilidade de nos reunirmos no sábado à tarde para levar o pessoal disponível para conhecer o Lion e darmos início ao projeto. Concordei e ela mandou mensagem no grupo de Whats, marcamos de nos encontrarmos no local. Quanto ao pessoal que morava em Guarulhos, ela deixou para marcar uma segunda visita, até porque, oportunidades não iriam faltar.

Fui para a empresa depois do almoço com o carro de meu avô, deixando ela com as chaves do meu, caso quisesse sair, voltei para casa depois das oito. A encontrei rindo com meu avô e Ângela na sala, cumprimentei os três e segui para o quarto para tomar banho, minutos depois retornei para jantarmos.

Quando voltei dobrando a manga de minha camisa não encontrei ninguém na sala, segui para a piscina e a vi do outro lado gesticulando ao telefone, aparentemente discutindo com alguém, me mantive afastada para não invadir sua privacidade, ela me viu, tentou disfarçar, mas estava chorando. Quando se aproximou sorrindo tristemente perguntei carinhosa:

– Está tudo bem, cariño? Aconteceu alguma coisa com a pequena Diana?

Ela apenas balançou a cabeça, mas se aconchegou aos meus braços soluçando, fiquei preocupada ao vê-la naquele estado, mas me mantive quieta, apenas abraçando-a. Depois de algum tempo começou a chuviscar e a levei para o interior da casa e seguimos para a sala onde me sentei e a trouxe junto para meus braços perguntando:

– Quer conversar?

Ela tocou meu rosto, e não disse nada. Entendi que não era hora dela ainda, compreendi ficando ali tentando animá-la e quando consegui, o jantar foi servido. Ela já estava mais animada e conversando, naquela noite não ficou comigo. Se recolheu em seu quarto, dei o espaço que ela precisava. Fui para o meu quarto e sentei na varanda, a chuva começou a cair forte e o cansaço começou a me dominar... Fui para a cama e adormeci.

Acordei cedo naquela manhã e fui para o meu quarto, tomar um banho. Olhei pela varanda e vi uma trilha perfeita do outro lado e me veio a vontade de caminhar. Coloquei uma roupa confortável e desci, Dr. Paulo já estava na sala lendo seu jornal, me cumprimentou convidando para o desjejum.

Segui com ele e tomamos café conversando animadamente, em determinado momento perguntei curiosa:

– Dr. Paulo, aquela trilha mais à frente, será que eu poderia caminhar nela?

– Claro minha filha, fica à vontade. Me ofereceria para ir com você, mas tenho uma reunião daqui a pouco. Terá que ficar para outro dia.

– Cobrarei, então!

Ele sorriu e terminamos o café, me ensinou como chegar até a estradinha que levava a trilha e segui por ela. Caminhei algumas horas e voltei suada, passei direto para o quarto da Bia, queria dar um beijo de bom dia nela. Ao abrir a porta a encontrei enrolada na toalha olhando o guarda-roupa como se ele fosse jogar a roupa para ela usar. Fez uma graça e vi o estrago que fiz nas suas costas. Bem feito, quem mandou me provocar tanto.

Almoçamos e ela foi trabalhar me deixando seu carro, visitei alguns amigos que moravam ali mesmo na redondeza e depois voltei para a mansão onde passei a tarde revisando alguns e-mails e falando com a minha bebê, estava com saudades dela.

Dr. Paulo chegou com Ângela e ficamos conversando e rindo sobre o dia a dia deles, a Bia chegou mais tarde, passava das oito. Meu telefone tocou e olhei o visor, como estava no vibra não atendi, mas ela insistia e pedi licença para os dois, seguindo para a área da piscina, me afastei e retornei a ligação me atendendo no segundo toque perguntando irônica:

– Não podia atender porque estava em trans*ção com alguma vadia, meu amor?

– Me poupe Rebeca, já falei que não desço ao seu nível, o que quer?

– Quero saber de você, não me ligou depois que viajou – revirei os olhos, irritada, mas segurei o meu desagrado, dizendo:

– Você nem se importou quando disse que iria viajar, porque esse sarcasmo todo? – bufou do outro lado aparentando irritação também e começou a dizer:

– Se eu souber que você está com outra pessoa e inventando essas viagens para me trair, você vai ver o que eu farei com você!

– Rebeca, pelo amor de Deus, quantas vezes vou te falar que o nosso casamento acabou?

– Eu não quero saber, você é minha e não será de mais ninguém!

Fechei os olhos ouvindo ela gargalhar do outro lado, e pelo jeito estava com nossa filha no colo, continuou com suas provocações:

– Você tem um motivo para continuar comigo, nossa filha merece ter as duas mães ao lado dela.

– Você nem me ama mais, porque quer manter esse casamento sem sentido?

– Gosto de você, meu amor! – Sorria cínica. – Não quero tocar mais nesse assunto... A única coisa que quero que saiba é que vamos continuar casadas.

– Porque insiste nisso?

– Porque sei que você está gostando de alguém!

– Não fala bobagens, Rebeca!

Mas por dentro meu coração estava descompassado, ela sabia... ela sabia!

– Então me diz quem é essa tal de “tia Bia” que Diana vive falando dela!

Meu coração quase parou na boca quando ela disse aquilo, naquele momento olhei na direção de onde a Bia estava mantendo distância sorrindo para mim. Desviei os olhos dela e continuei tentando ser firme ao dizer:

– Deve ser alguma amiga dela, eu não sei... Como posso saber?

– Você mente muito mal Samantha, mas eu vou descobrir, e se isso for verdade você nunca mais verá a sua filha, está me entendendo?

Minha voz falhou e não disse nada, ela ainda se despediu cinicamente e em meus olhos as lágrimas de dor. Precisava conversar com a Bia, ela não merecia passar por isso comigo, fui ao seu encontro. Mas a doçura e o carinhos dela me desarmaram, chorei em seus braços. Eu a perderia, com certeza eu a perderia se ela soubesse a verdade agora.

Me levou para o interior da casa e tentou me animar, até conseguiu quando fomos jantar, mas disse que precisava ficar sozinha quando nos recolhemos. Minha vontade era passar a noite com ela novamente, mas não poderia fazê-lo antes de dizer a verdade. Nesse momento eu estava muito frágil e não iria conseguir.

Fim do capítulo