Bia

Na segunda, tive que viajar para Curitiba, resolver a entrega de equipamentos novos que estavam chegando, meu avô não pode ir porque estava viajando também, resolvendo questões em outra filial da P&H Coffee. Segui viajem com retorno na quarta, mas aconteceram alguns imprevistos e só consegui voltar na quinta de madrugada.

Saí do aeroporto direto para a empresa, estava ansiosa para rever Samantha e no caminho fui roendo as unhas pela demora naquele maldito engarrafamento logo cedo. Quando cheguei tentei seguir direto para a sala de meu avô onde era certeza encontrar os dois, mas para meu desgosto, Ângela me informou que eles estavam em uma reunião de apresentação e depois iriam fazer um tour pelo prédio, encostei na mesa dela dizendo:

– Então, vou tomar um banho e trocar essa roupa, pois passei a noite no aeroporto, estou quebrada.

– Porque passou a noite no aeroporto?

– Não quis correr o risco de perder o voo.

– E porque essa agonia toda para chegar aqui, porque não passou em casa antes?

Estava distraída e fingi não escutar o que ela disse, dizendo apenas:

– Por favor, assim que o Dr. Paulo aparecer avise que já cheguei e que em breve me juntarei a eles.

– O recado é para seu avô mesmo, Bia? – sorriu, disfarcei:

– Claro que é, para quem mais iria ser, cariño? – desviei os olhos, ela disse divertida:

– Talvez para a jovem que o acompanha.

Afirmou aquilo, sorri, ela me conhecia. Dei de ombros e segui para minha sala, lá tinha um banheiro social e como estava com minha bolsa peguei uma roupa mais confortável, estava quente no Rio, segui para o banheiro e tomei um banho refrescante. Fiz minha higiene matinal e estava preparada para reencontrar Samantha.

O coração estava como? Saindo pela boca, achei meu corpo meio estranho também, um frio subiu pelas costas, e antes de sair da minha sala hesitei. Mas, logo criei coragem e saí, Ângela me informou assim que me viu:

– Estão à sua espera na sala de seu avô.

– Obrigada cariño, pode me anunciar, por favor?

– Não precisa, Dr. Paulo pediu que entrasse direto.

– Ok!

Ela sorriu e segui para a sala de meu avô, bati duas vezes e ele me autorizou. Veio sorrindo em minha direção me saudando:

– Chegou a minha salvadora – me deu um abraço forte perguntando em seguida – fez uma boa viagem?

– Sim vovô, cansativa, mas produtiva.

– Com certeza, minha filha.

Estava gostando de estar nos braços dele, mas no momento, estava mais interessada em outra pessoa, e quando ele me soltou a vi. Mais linda do que me lembrava, me guiou até ela fazendo graça:

– Lembra de Samantha, nova integrante da família P&H Coffee?

Sorri caminhando em direção a ela dizendo:

– Como eu poderia esquecer?

Abriu um sorriso tão lindo que quase fez meu peito parar, dizendo:

– Olá Beatriz, como vai?

– Bem melhor agora na sua companhia! – Aproximei dela e lhe dei dois beijos no rosto seguido de um abraço que ela retribuiu, sussurrei em seu ouvido: – Estava ansiosa para te ver!

– Eu também... – estávamos presas naquele abraço quando meu avô pigarreou dizendo sorrindo:

– Se quiserem, posso sair para vocês ficarem à vontade?

Afastei mesmo a contragosto dos braços dela, constrangida sorri sem jeito dizendo:

– Desculpa vovô, acho que me empolguei.

Ele gargalhou nos deixando ainda mais sem graça. Começamos a reunião e ao final dela brindamos com um excelente café que Ângela nos trouxe entrando na nossa comemoração. Depois que se retirou e meu avô precisou atender uma ligação. Puxei Sam para o sofá perguntando:

– Como você está? Como foi de viagem? Trouxe a pequena maravilha? Estou ansiosa para conhecê-la! – Sorriu e acabei ficando sem jeito diante de tantas perguntas, sussurrei: – Desculpa, cariño.

– Tudo bem Bia, eu estou bem. A viagem foi tranquila, mas infelizmente não trouxe Diana dessa vez, terá que guardar essa ansiedade para a próxima.

– Ah, fiquei triste agora, queria conhecer a pequena ruivinha – fiz bico e ela sorriu dizendo:

– Não fique assim, na próxima semana você a conhecerá, aliás, ela também está curiosa para conhecer você.

– Sério? Agora fiquei feliz – impossível não esboçar um sorriso bobo.

– Meninas, infelizmente surgiu um imprevisto e não poderei almoçar com vocês – meu avô se dirigiu a nós ainda com o celular nas mãos, concluindo. – Bia, você poderia fazer o “sacrifício” de acompanhar a senhorita Chermont nesse almoço?

Sorriu divertido, entrei na brincadeira:

– Se ela aceitar o convite, será um prazer fazer esse sacrifício.

Ambos caíram na risada, aceitou meu pedido, não demorou muito saímos na companhia dele até a mesa de Ângela, foi em direção ao elevador e eu pedi que ela fizesse a gentileza de me acompanhar até minha sala.

Os dias estavam passando muito lentamente, e eu estava ficando com aquela ansiedade toda. Novidade isso para mim, mas só de pensar na Bia e no fato de nos encontrarmos em breve me deixava naquele estado. Parecendo uma colegial que estava indo ao baile pela primeira vez.

Tentei conversar novamente com Rebeca sobre a minha viagem, mas ela não se importou, como sempre, a única coisa que quis saber era se eu levaria Diana, mas quando eu disse que não, porque iria tratar de assuntos profissionais e não de passeio logo perdeu o interesse.

Segunda… Terça se arrastou, Ângela me ligou naquela tarde me fazendo o convite em nome do Dr. Paulo, para ficar com ele em sua residência, e claro que aceitei achando que encontraria a Bia naquele mesmo dia.

Quarta finalmente apareceu, viajei no final da tarde, mas ao chegar um pouco depois das sete da noite, seu avô informou que ela teve que fazer uma viagem de negócios, e o voo que a traria para casa aquele dia, teve que ser cancelado, o que aumentou ainda mais a minha ansiedade. E claro, fiquei decepcionada.

Estava quase três dias sem falar com ela, se eu estava evitando? Sim eu estava, mas aquele sentimento estava me consumindo cada vez mais e eu estava adorando o que ele estava me causando, embora me deixasse amedrontada com tamanha intensidade.

Depois que me despedi do Dr. Paulo e de Ângela, fui para meu quarto, onde liguei para Eliza querendo saber da minha filhota que já estava dormindo. Como a chamada era de vídeo pude ficar namorando um pouco meu bebê até me despedir de Eliza prometendo ligar na manhã seguinte.

Tomei um banho relaxante e deitei pensando no que iria acontecer quando encontrasse com a Bia, e sorrindo com as possibilidades, adormeci. Acordei cedo, tomei banho e segui para o andar de baixo onde estava sendo servido o café, Dr. Paulo levantou quando me viu, perguntando sorrindo:

– Dormiu bem, minha filha?

– Maravilhosamente Dr. Olivier, obrigada.

– Por favor, sem formalidades no café da manhã.

– Sim senhor.

– Seremos só nós, Ângela foi mais cedo para a empresa, surgiu um imprevisto.

– Espero que não por algum problema.

– Burocracias, se é que me entende.

Ele sorriu me conduzindo até a mesa, um perfeito cavalheiro, a neta era tradicional igual ao avô, e estudando ele durante nossa conversa, descobri mais similaridades entre os dois, me deliciando em estar na versão masculina e mais velha da Bia. Embora, ainda preferisse em disparada a neta.

Depois de muita risada, pediu licença e se retirou para seus aposentos nos separando no corredor, seguindo para o quarto onde estava instalada, para fazer minha higiene matinal. Em meia hora saí na companhia dele em direção a empresa.

Fomos conversando peculiaridades no caminho, chegamos pouco depois de quarenta e cinco minutos, seguimos direto para a sala de reunião onde os acionistas e chefes de departamentos já estavam a nossa espera em uma reunião de apresentação que ele havia pedido para Ângela organizar, infelizmente a Bia não tinha chegado ainda, então seu avô conduziu a reunião.

Fui apresentada e muito bem recebida por todos, conheci Fernanda, Relações Pública há muitos anos na empresa, muito simpática e logo nos demos bem. Tirando o fato de que em um determinado momento, ela disse ser muito amiga da Bia e se desmanchar em elogios para com ela, coisa que me deixou enciumada a princípio. Mas tirei aquilo da cabeça, não podia sentir ciúmes da Bia, onde eu estava com a cabeça? Precisava falar com ela, falar de meu relacionamento, mas como faria isso?

A reunião acabou e seguimos para a sala dele, estávamos conversando e rindo quando chegamos à mesa de Ângela, que disse sorridente:

– Dr. Paulo, a Bia já chegou e pediu para avisar que em breve estará com vocês.

– Muito bom, suponho que ela tenha vindo direto do aeroporto e esteja em sua sala?

– Sim senhor, disse que ia tomar banho – ele sorriu balançando a cabeça dizendo:

– Essa menina não tem jeito mesmo.

– Acredite, ela tem por quem puxar!

Ângela disse divertida e ele caiu na risada, os acompanhei, por que depois do que presenciei com aquele homem, de fato a Bia havia herdado a sua graça, seguimos para sua sala e ele pediu que a Bia entrasse assim que possível.

Quando a senhora falou o nome dela, meu coração disparou e aquela ansiedade que havia sumido, voltou com força. E do momento em que entramos na sala dele até o momento em que ela me abraçou dizendo estar ansiosa para me ver, foi de puro nervosismo.

Conversamos algumas coisas depois que seu avô foi atender uma ligação, e fiquei um pouco mais feliz quando ele disse que não poderia almoçar conosco. Não me levem a mal, mas estar na companhia da Bia e ainda mais sozinha, era o que eu mais ansiava. Embora a companhia dele fosse boa, a da neta era ainda melhor.

Saímos da sala dele nos separando na sala de Ângela, ele se despediu e a Bia perguntou se eu podia acompanhá-la até sua sala antes de sairmos, precisava assinar alguns papéis e fazer umas ligações, fui com ela.

Primeira vez que entrei em sua sala, me admirei com o design, arriscaria dizer que era arte moderna e logo vi que era amante de pinturas. Alguns quadros estavam espalhados nas paredes, caminhou me guiando até o meio da sala, disse quando entramos:

– Fica à vontade, só vou assinar alguns documentos e já saímos. – Me perdi no seu sorriso, e ao notar meu olhar se aproximou segurando em minhas mãos perguntando carinhosa: – – Você está bem? Parece distante, saudades da pequena maravilha?

Sorriu, me aproximei tocando seu rosto e quando estávamos próximas, pedi com a respiração acelerada:

– Me beija?

Seu sorriso sumiu e sua seriedade tomou conta no momento, tocou meu rosto levantando meu queixo aproximando os lábios dos meus. Fechei meus olhos sentindo o toque de sua mão em minha pele, a suavidade de seus lábios nos meus, calmos e sem pressa fazendo meu coração acelerar freneticamente. Não tive como negar mais, estava completamente apaixonada por ela.

Me entreguei quando sua língua me invadiu atrevida e um beijo que parecia suave e lento deu vazão para um beijo urgente, selvagem e saudoso. Gemi entre seus lábios percebendo que ela estava tão desejosa quanto eu. Estávamos coladas na parede, nem sei como chegamos até lá sendo que estávamos no meio da sala, sorri sendo conduzida por ela. Porém, o toque estridente do telefone nos trouxe de volta a realidade, ela sorriu dizendo sem fôlego entre meus lábios:

– Uma hora, nada nem ninguém irá nos atrapalhar, cariño.

Aquilo foi uma promessa, e como tal teve tanto poder quanto o beijo que ela havia acabado de me dar. Saiu em direção a sua mesa pegando o telefone, atendendo sorrindo em minha direção. Passei as duas mãos nos cabelos me recompondo. Minha respiração? Estava igual aos batimentos de meu coração… Descompassados. Caminhei até o sofá para sentar, temia não aguentar ficar em pé com minhas pernas trêmulas, discretamente passei a observá-la.

Ela fez o que tinha que fazer e saímos para almoçar. Nos seus olhos a promessa de mais cedo estampada neles... Se querem saber, eu estava disposta a me entregar quando e onde ela quisesse. Me abraçou delicadamente, deslizando sua mão sobre minha cintura e me guiou para o carro e dele para onde iríamos almoçar.

Fim do capítulo