Vera aguardava ansiosamente pela pessoa que mais desejava conhecer. Esfregava as mãos no volante e contava os minutos com angústia. Decidiu ligar o rádio do carro e a música que ouviu descrevia exatamente como se sentia.

 

No primeiro instante,

Vi que era amor,

No momento em que a gente se encontrou.

No segundo instante, vi que era você,

Já te amo tanto sem te conhecer...

 

De repente ouve um barulho e vê que uma mulher acabava de entrar no carro, sentando-se no banco do carona. -- Boa noite. – cumprimentou de cabeça baixa

 

--Khaalii! – sorriu encantada – “E como é linda!” – pensou

 

É que nos meu sonhos você era linda,

Pessoalmente é mais linda ainda,

Nosso amor veio de outras vidas,

Eu vou te amar nas outras vidas que virão...

 

--Já temos uma música? – perguntou timidamente ao olhar para Vera

 

--Sim... – estava encantada

 

É que você nasceu pra ser minha,

Vamos dividir uma casinha,

Uma cama, dormir de conchinha,

Deus abençoou a nossa união...

 

–Vamos embora daqui, por favor, meu bem? – Khaalii pediu humildemente

 

E os anjos cantam nosso amor, ohh, ohh, ohh...

 

– Vamos! – ligou o carro e partiu – Para onde quer ir, querida?

 

E os anjos cantam nosso amor, ohh, ohh, ohh...

 

--Pode ser... a sua casa? – olhou para a outra

 

E os anjos cantam nosso amor...

 

“E tão cantando com fé!” – não deixava de sorrir -- Pode! – olhou naqueles olhos e perdeu o fôlego – “Meu Deus, que olhos maravilhosos!” – voltou a atenção à direção – Você é linda!

 

Sentiu as bochechas queimarem. – Também te achei um charme... – abaixou a cabeça novamente – “Tão atlética, tipo rústico...” – pensou

 

No primeiro instante,

Vi que era amor,

No momento em que a gente se encontrou...

Jorge & Mateus – Os Anjos Cantam [1]

 

“Ela me achou um charme!” – alegrou-se – “Eita, que é agora que a caipira pira de vez...” – pensou

 

***

 

Vera e Sayruci haviam acabado de fazer um lanchinho e conversavam na sala da caipira.

 

--Eu lamento não ter te oferecido uns trem melhor, mas não tava preparada... – sorriu sem graça – Se eu soubesse que você viria teria montado um banquete pra uma rainha! – falou com empolgação

 

Achou graça. – Não se preocupe, meu bem. – segurou a mão da outra – Não tenho do que me queixar do tratamento recebido. – sorria – Muito pelo contrário! – cruzaram-se os dedos

 

“Esses olhos são enlouquecedores...” – suspirou – Você não sabe como que me deixou feliz por demais da conta por ter vindo! – falava com sentimento – Sofri tanto com seu sumiço e esperei até o último momento que você aparecesse no Congresso! – desabafou – Quando me ligou pensei que a caipira ia ter um troço!

 

Sorriu. – Boba! -- pensava em como falar -- Eu... -- silenciou por uns instantes -- Depois daquela nossa conversa no talk fiquei tão confusa, tão assustada...

 

--Comigo? – ficou triste

 

--Com você não! – tocou o rosto de Vera com delicadeza – Comigo... – deslizava um dedo pela sobrancelha dela – Eu nunca tinha ido tão longe com alguém depois de... – não completou a frase – “De casada.” – pensou e não verbalizou – Ainda mais pela internet!

 

--Anêim, eu também nunca vivi isso de me apaixonar por alguém que conheci por internet, até porque eu nunca nem tinha te visto... – falava a verdade – Só que aconteceu! – sentia prazer com aquele carinho simples em seu rosto – Você ainda não me falou seu nome e nem nada. Não vai me deixar saber?

 

Recolheu as mãos e se levantou. – Podemos ficar assim por enquanto? Eu sou a autora Khaalii, estou aqui com você e fim? – pediu com olhos súplices – Por favor, eu ainda não tô preparada!

 

--Ei, tudo bem! – levantou-se também – Tudo no seu tempo. – tocou o rosto da morena – E pedindo pra essa caipira aqui com esses olhos lindos que chega dói, não tem como te negar nada, uai! -- sorriu

 

--Bobinha. – mordeu o lábio inferior – “Será que ela me acha isso tudo mesmo ou diz essas coisas pra todas?” -- pensou

 

--Você fica por quanto tempo em São Paulo? – acariciava o rosto da autora

 

--Até sábado de manhã. – mexia na fivela do cinto da outra

 

--E dorme aqui hoje comigo? – continuava fazendo carinho – Só dormir, não tô fazendo proposta! – esclareceu – “Embora teja doida pra te beijar inteira!” – pensou

 

--Durmo. – aproximou-se um pouco mais – “Nunca pensei que um dia fosse desejar isso, mas que Deus ajude que Latifah durma fora pra não dar falta de mim!” – pensou

 

--Eu... – abaixou a cabeça brevemente – Alimentei a esperança que você viria e te comprei um presente. – confessou – Na verdade é uma lembrancinha bem simples... – sorriu envergonhada – Também nem sei se você aceitaria, mas foi de coração!

 

Achou a atitude fofinha. – Claro que aceito! – sorriu – E já tô ansiosa pra ver meu presente! – brincou

 

--É? – olhou para a outra empolgada – Um minutinho que eu vou buscar. Licença. – correu para o quarto

 

“Ela é uma pessoa tão simples, tão boazinha... bem diferente daquelas com as quais convivo...” – pensou admirada

 

--Olha! – voltou trazendo uma pequena bolsinha – Espero que goste. – entregou nas mãos da morena – Por sorte, escolhi a cor certa! – sorriu que nem criança

 

--Vamos ver o que é. – abriu a bolsinha com todo cuidado e viu que era um pequeno terço de madeira e continhas verdes. Um pequena e delicada cruz dourada conferia um toque todo especial – Que lindo! – gostou do presente – Eu amei! – olhou nos olhos da caipira – Coloca em mim, por favor? – estendeu o pulso esquerdo

 

--Coloco, uai! – pegou o terço e o colocou no pulso da autora com todo cuidado – Pronto! – sorriu – Eu levei ele pra abençoar lá na igreja da Sé. – comentou – É pra que Deus te proteja sempre!

 

Sayruci olhou para o novo adereço e abraçou Vera com carinho. – Obrigada! – fechou os olhos – Você é um amorzinho!

 

--Você mais ainda... – abraçava-a com carinho da mesma forma

 

Romperam o abraço lentamente.

 

--E então... – sorriu novamente -- Já decidiu se Zayah vai dar uma chance pra Sulah? – seu olhar se alternava entre os olhos e os lábios da outra

 

Sorriu. – Zayah se sente insegura com ela. – deslizou uma das mãos pelo abdomên de Vera – Não sabe o que ela quer...

 

--Se Sulah for como eu... Ela quer Zayah pra vida inteira! – silenciou – “Eita, que a caipira tá cheia de força!” – pensou com certo nervosismo

 

--E se Zayah for como eu... – aproximou-se ainda mais – Sabendo disso, ela dirá sim! – o coração parecia prestes a explodir

 

--Tomara que seja! – sem pensar em nada mais, segurou o rosto da amada e a beijou com carinho e paixão

 

“Ai, que beijo!” – envolveu os braços no pescoço da outra e se entregou ao que sentia

 

“Ave Maria, que mulher!” – abraçou-a pela cintura e colou os corpos

 

O beijo crescia em intensidade e as mãos de ambas exploravam os corpos que ansiavam por se conhecer.

 

BÊÊÊMMM. O som da campainha desperta o encantamento.

 

--Vera, abra essa porta! – Hilvan batia com força – O relógio de luz do 407 tá pegando fogo! – gritou

 

“Eu não acredito nisso!!” – a caipira pensou ao interromper o beijo -- Mas que praga! – reclamou olhando para a porta

 

--Vera!! – Rosana chamava também – O fogo tá comendo!

 

“Nossa, o que foi isso?” – Sayruci despertava do transe – Olha, é melhor você ver isso. – recomendou preocupada

 

--Vera!! – mais dois moradores chamavam

 

--Eu vou... – olhou para Khaalii novamente – Você não vai embora, não, né? – perguntou preocupada

 

--Claro que não! – segurou novamente o rosto a outra com as duas mãos e a beijou nos lábios

 

--VERA!!!! – e tome do povo gritar

 

Interromperam o beijo novamente. – Já vou, uai! – foi até a porta – Se é de vocês ir apagar o fogo fica fazendo enxame aqui? – reclamava

 

“Tomara que ela apague esse fogo deles!” – pensou – “E o meu!” -- sorriu

 

***

 

Era quase meia noite e Vera preparava o quarto para Sayruci dormir.

 

--Pronto! – sorriu para a mulher – Os trem tão tudo prontinho pra você. – apontou a cama – Se quiser essa minha blusa aqui como camisola, acho que serve. – entregou a roupa nas mãos da outra – Tá com calor, quer que ligue o ventilador? – ofereceu – “Vergonha, tenho nem um ar condicionado pra refrescar o quarto!” – pensou

 

--Obrigada, querida. – agradeceu sorridente – E não precisa de ventilador. O quarto está bem fresquinho, com um vento gostoso entrando pela janela.

 

--Então tá então, Khaalii! – beijou-a na testa com carinho – Vou deixar você à vontade. – acariciou-lhe o rosto brevemente e saiu do quarto

 

“Ela é tão pobre...” – Sayruci pensava ao vê-la partir – “Esse apartamento inteiro é menor que meu quarto com Samir.” – sentia pena da outra – Deixa eu me trocar. – começou a se despir

 

“Ela é tão linda!” – Vera pensava impressionada enquanto se ajeitava para dormir no sofá – “Parece até uma princesa!” – sorriu – “E que olhos, Ave Maria!” – suspirou – “E que cabelos, que rosto, que seios, que pernas, que...” – interrompeu aqueles pensamentos – Eita, caipira, abaixa o fogo! – repreendeu-se – “Tô mais em brasa que o maldito relógio de luz do 407!”

 

Sayruci estava deitada na cama inquieta. Sem poder se conter se levantou e foi até a porta do quarto. – Vera? – chamou suavemente – Caipira?

 

--Eu! – levantou-se de um pulo – “Até usando minha camisa ela fica toda boa!” – pensou babando – Precisa de alguma coisa, Khaalii? – perguntou solícita

 

--Sim! – deu alguns passos – De você! – sentiu o coração acelerar

 

--Ave Maria! – foi até a autora e a beijou com desejo – Linda... – mordeu-lhe o lábio inferior – Também preciso... muito... – falava entre beijos – De você! -- apertava-a com força dosada

 

--Faz amor comigo! – pediu sofregamente – Agora! – beijou-a

 

Vera segurou as duas coxas de Sayruci com força e fez as pernas da amada envolverem sua cintura. Abraçou-a com vigor e caminhou lentamente até a cama sem deixar de beijá-la.

 

--Vem... – sentia-se excitada de uma forma que lhe era desconhecida – Vem, amor... – beijou-a

 

“Amor?” – pensou toda prosa – Eu quero você... – falava entre beijos – Khaalii... – deitou a pareceira na cama e removeu as próprias roupas com pressa – Quero muito! – enfiou-se por dentro da blusa da amada

 

--Ah! – achou aquilo gostoso e engraçado – Ai... – fechou os olhos para sentir plenamente

 

Vera arrancou a calcinha de Sayruci e colocou as pernas dela apoiadas em seus ombros. Explorava-a com língua e lábios famintos, deixando suas mãos completamente à vontade para tocar-lhe abdômen e seios, sempre apertando com força dosada.

 

--Ai, amor... – gemia com os olhos fechados – AH! – gem*u mais alto

 

A caipira deslizou as duas mãos para a cintura da autora e começou a guiar os movimentos dela enquanto continuava sua sedenta exploração pelo sex* da amada.

 

--AH!! – gem*u ainda mais alto – Ai, amor, ah! – segurou-a pelos cabelos

 

Vera permaneceu assim até sentir que a parceira beirava o orgasmo. Interrompeu o que fazia, levantou a cabeça e começou a remover lentamente a blusa da outra.

 

--Vem, por favor! – pediu ao se desvencilhar da roupa – Pra dentro de mim! – pediu ofegante

 

A caipira deslizou o nariz do sex* até o queixo da autora e deitou-se sobre ela deixando-se pesar por inteiro.

 

--AH!! – gem*u e abriu as pernas para acomodar o corpo da amante entre elas – “Sensação ainda mais gostosa que nos meus sonhos!” – lembrou

 

Vera introduziu dois dedos e começou a penetrá-la primeiramente bem devagar. – Eu te amo! – colou testa com testa – Amo! – olhava nos olhos – “Melhor que nos meus melhores sonhos!” – pensava – AH! – gemia excitada

 

--AH! – abraçou a caipira com força, arranhando-lhe as costas – Também te amo! – declarou-se

 

O ritmo dos movimentos de ambas e da penetração aumentavam gradualmente. Bocas se exploravam com ansiedade.

 

Sayruci deslizou uma das mãos ao longo das costas da outra, arranhando-lhe em sua trajetória. Arranhou as nádegas da parceira e pressionou para se alojar entre as pernas dela.

 

--Ah! – Vera gem*u ao sentir dedos que a penetravam

 

Estimulando-se mutuamente e movimentando-se cada vez mais rápido, as duas mulheres goz*ram juntas gem*ndo alto!

 

--AH! – a respiração normalizava aos poucos – Quero você... até raiar o dia... – a caipira falou sentindo-se ainda queimar

 

--Não pára! – beijou-a – Não pára... – queria passar a madrugada fazendo amor com Vera

 

***

 

Vera e Sayruci dormiam abraçadinhas e encaixadas como duas colheres. A morena amou a sensação de acordar sentindo aquele corpo contra o seu.

 

“Eu nem acredito!” – a autora pensava ainda em êxtase – “Que noite!” – sorriu e suspirou

 

--Acordada, minha musa? – deu um cheiro no cabelo dela – Hum? – beijou-lhe a nuca – Bom dia!

 

--Sim, bom dia... – deslizou uma das mãos no antebraço da outra – E sem nenhuma vontade de me levantar... – respondeu preguiçosa – Está tão bom assim... – sorria

 

--Então não levanta. – beijou-lhe a cabeça – Fica aqui, bem coladinha comigo nessa cama de solteiro! – as duas riram

 

--Isso é um truque? – virou-se de frente para a outra – Pra ter suas amantes bem pertinho? – beijou-a nos lábios

 

--Ninguém se deitou nessa cama comigo, não, uai! – puxou-a pela cintura – Só você! – enroscaram as pernas uma na outra – Minha musa, Khaalii! – beijou-a demoradamente

 

--Hum... – mordeu-lhe os lábios – Verdade?

 

--Juro! – dizia a verdade – Juro! – beijou-a novamente

 

--Você não faz amor como alguém que teve poucas amantes, dona Caipira! – beijou-a

 

--Nem você, dona Khaalii! – beijou-a também – “Nunca tive uma mulher tão boa de cama, Ave Maria!” -- pensou

 

--Aposto que tem um monte de mulheres nos seus contatos de celular... – comentou enciumada – Aquela tal do barzinho na rua Augusta, por exemplo... – lembrava

 

Riu brevemente. – Quer conferir por si mesma? Te mostro! – beijou-a mais demoradamente e se desvencilhou para se levantar – Pego o celular pra você. – foi até a sala

 

“Nossa!” – reparava no corpo da amada – “Eu arranhei bastante...” – surpreendeu-se consigo mesma – “Mas, também...” – sorriu – Ai, que máximo! -- bateu com os dois pés na cama empolgada como adolescente

 

Voltava com o celular na mão. – Pra você ver. – deitou-se na cama novamente

 

--Cadê? – tentou pegar mas sem sucesso

 

--Vem pegar? – provocou ao beijá-la

 

--Prefiro pegar você! – puxou-a para junto de si – Vem! – beijou-a

 

--Não chama... que a caipira vai... – falava entre beijos ao se deitar sobre a amada

 

--Ah! – gem*u – Ai... – envolveu a cintura da outra com as pernas

 

BÊÊÊMMM. O som da campainha invade a casa.

 

--Ah, eu não acredito nisso! – fechou os olhos brevemente – Que inferno! – levantou a cabeça

 

--Vera, o cachorro da Alcilene fugiu e tá aterrorizando o prédio! Vem! – Belmira falava alto – Socorro!! – batia na porta

 

Sayruci acabou rindo. – Eu nunca imaginei que ser síndica fosse assim, daí!

 

--Nem eu! – desvencilhou-se com cuidado e saiu de cima da outra – Tava tão bom aqui! – beijou-a rapidamente – Toma. – entregou-lhe o celular

 

--Vai lá, dona síndica! – recebeu o celular – Pega esse cachorro feio e mau! – brincava

 

--Zomba da caipira, fi! – buscava suas roupas – Ô, labuta ingrata! – brincou também

 

--VERA!!! – gritou

 

--Já vou, dona Belmira!! – respondeu em voz alta – Danação da minha vida! – foi para a sala – “Não se pode nem fazer amor com a autora preferida em paz!” – pensou contrariada

 

Sayruci olhou para o relógio na mesinha e viu que marcava 9h34.

 

“Não é hora de Latifah chegar.” – pensou tranquila – “Ela só vai aparecer lá pelas 12h.” – baseava-se no que via acontecer em Foz – Vamos bisbilhotar direitinho esse celular aqui! – prestava atenção no aparelho

 

--Que cachorro é esse, dona Belmira? – Vera perguntou ao pegar o elevador com a idosa – Nem sabia que dona Alcilene tinha cachorro!

 

--Tem! E é uma fera horrível de perigosa! – gesticulou

 

--Ô, Pai Santo, me defenda! – lamentou-se

 

Fazendo uma verdadeira busca no celular da outra, Sayruci encontra um áudio de quase duas horas que chamou sua atenção. – Será errado ouvir? – questionou-se – Mas ela me deu carta branca... – discutia consigo mesma – Vou ouvir! – clicou no botão

 

--Quê que eu posso te dizer? Tenho 28 anos, sou advogada especialista em Direito Criminal, solteira, moro sozinha em BH com minha gatinha persa... Sempre gostei de histórias de terror, meu trabalho me apresenta a muita coisa punk, sou lésbica e achei que seria interessante escrever contos sobre tudo isso... Claro, sem deixar de acrescentar um toque de sensualidade. – pausou brevemente – E não imaginava que as garotas fossem gostar tanto...

 

--O que é isso? – não entendeu

 

--E qual foi o segredo desse sucesso todo? – pausou brevemente – Como que você fez pra parar no meio das Dez Mais?

 

–Não tem segredo. Eu simplesmente escrevi. – pausou brevemente – E as meninas simplesmente gostaram.– barulho de copo -- Simples assim!

 

--Ela tá entrevistando quem? – continuava sem entender – Vamos adiantar um pouco para ver se dá para descobrir. – acelerou um pouco da gravação

 

–Você quer uma noite quente, não é? – barulho -- Vai ter! -- barulho

 

--Ai, que animal! – estava excitada – Vem? – pediu cheia de desejo

 

--Mas o que é isso? – sentou-se na cama de um pulo

 

--Ah! – gem*u – Mete mais, vem! – pediu com voz gutural

 

NHEC, NHEC, NHEC, NHEC...

 

--Isso, vem, vem!! Ah, ah, ah!! – gemia – Com força, assim... – pedia com prazer

 

--Eu não acredito nisso!! – levantou-se da cama revoltada – Ela dormiu com outra autora no Congresso! – sentia-se traída e enganada – É muito da sem vergonha! – adiantou a gravação quase para o final

 

--Ah, ah, ah, ah, ah!!!!!!! – a mulher gemia alto – Ai, eu vou goz*r, vou goz*r, AHAH!!! – berrou – Puta que pariu!! AH! Caralh*o! – respirava sofregamente –– Ai... G*zei muito! Uh! -- gritou

 

--AHAHAH!!!!!!! – Vera gritava – Ô, delícia...

 

NHEC, NHEC, NHEC, NHEC, BUFF

 

--Xaninha tá toda ardida, meu bem... – Carol gemia dengosa – Cê maltratou...

 

--Eu tô nem mais sentindo a minha... – Vera falava com voz abestalhada

 

--Canalha! – arremessou o celular na cama – Eu vou embora! – pegou as roupas e foi até o banheiro tomar banho e se trocar

 

Enquanto isso...

 

--Ah, mas a fera é essa? – Vera achava graça do pequeno Chihuahua – E eu aqui achando que era um verdadeiro pônei! – riu

 

--Não menospreze, filha! – Alcilene advertiu – E hoje ele acordou com a macaca!

 

“E eu acordei com a maior gata e tô aqui atrás de cachorro!” – pensou contrariada – Vou resolver isso agora mesmo! – aproximou-se do animal que cheirava a escada – Vem cá, cachorrinho, vem com a tia! – abaixou-se para pegá-lo – Vem!

 

--AU! – o animal latiu enfurecido

 

--Eita! – levou um susto e caiu sentada – Calma, amiguinho! Eu só quero te devolver pra sua dona, uai!

 

--AU! – o cachorro agarrou os dentes na perna da calça de Vera e começou puxar mordendo com força

 

--Me solta, diacho! – chacoalhava a perna – Eita!

 

E tome do cachorro se danar...

 

--Eu disse que era perigoso! – Alcilene e Belmira se abraçaram com medo

 

--Eu toda apaixonada, toda acreditando e ela ali, fazendo uma coleção! – Sayruci tomava banho e chorava – É isso que ela quer! Ir pra cama com cada autora do site!– estava triste – Seja uma idiota como eu ou uma atirada como aquela outra! – ensaboava-se com força – Maldita, canalha! – sentia raiva de si mesma

 

Minutos depois Vera entra em casa com as calças em farrapos.

 

--Khaalii, desculpe a demora mas o cachorro era... – levou um susto ao ver que a mulher se preparava para ir – O que foi? – reparou no semblante da outra – Ficou zangada porque demorei? – preocupou-se

 

--Eu fiquei zangada, sim! – pegou a bolsa – E triste e decepcionada com o fato de você... – não queria chorar na frente de Vera – Você é uma canalha, é isso que você é! – acusou

 

--Mas por que, uai? – aproximou-se da outra que se desvencilhou – O que aconteceu, minha musa?

 

--Eu não sou sua musa, sua mentirosa! – respondeu de pronto – Eu só não quero servir de troféu pra você! – olhava para a outra com mágoa – Com quantas esteve naquele Congresso, hein? – perguntou enciumada – Você gravou a nossa noite também? Filmou?

 

“Ai, minha Nossa Senhora, o áudio...” – deduziu tudo – “Por que eu não apaguei aquele trem?” – pensou com raiva de si mesma – Não é nada do que você pensa, amor! – aproximou-se dela de novo – Você sumiu, não me dava mais nem tchum, não apareceu no Congresso, aí apareceu aquela moça e aconteceu que ela quis e... – falava tudo de uma vez só

 

--Ela quis e você é uma sem vergonha que prontamente aceitou!

 

--Isso não é verdade! – segurou-a pelos braços – Se você soubesse como fiquei quando sumiu sem me dar qualquer satisfação! Se soubesse há quanto tempo eu não ia pra cama com alguém...

 

--Eu não acredito em você! – desvencilhou-se – Esqueça que eu existo! – abriu a porta e saiu

 

--Khaalii, pelo amor de Deus! – correu até ela e segurou a porta do elevador – Não é nada disso! – falava com desespero – Eu te amo, por favor, não vai embora assim! – pediu súplice

 

--Com licença? – empurrou-a sem violência – E não venha atrás de mim! – as portas se fecharam

 

--Inferno! – bateu com a cabeça na porta – Droga! – fechou os olhos e começou a chorar

 

“Eu não posso voltar pro hotel nesse estado em que estou!” – Sayruci pensava ao sair do prédio – “Latifah não pode me ver assim!” – lágrimas rolavam de seus olhos – “O que foi que eu fiz, meu Deus?” – sentia-se envergonhada e triste – “Ela só queria mais uma e eu só queria um amor...” – caminhava rapidamente pelas ruas do Brás

 

***

 

--Então pelo que eu vejo não aconteceu nada do que você queria, não foi? – fazia carinho na cabeça de Abigail

 

--Não... – respondeu como criança no colo da idosa – Investi tanto, gastei tempo, dinheiro e só consegui foi fazer papel de palhaça praquela mulherada toda... – tinha vontade de chorar – Ninguém me deu a mínima! – confessou

 

--Onde você passou a noite, filha? – perguntou com jeito – Morri de cuidado com medo de alguma coisa ruim ter lhe acontecido.

 

--Desculpe ter lhe dado cuidado, tia, mas é que eu queria ficar sozinha... – pausou brevemente – Fiquei perambulando pelas rua, fui parar lá debaixo do MASP, aí vi que tinha um pessoal cantando, dançando e fumando. – contava -- Sentei no meio deles e fiquei. Foi isso. – falava a verdade – “E que gente pra fumar cigarro fedido, Ave Maria!” – pensou

 

Quitéria pensava em como falar sua opinião. – Sinceramente, eu achei que esse seu plano fosse dar em nada mesmo. – acariciava os cabelos da sobrinha – Não se pode construir uma coisa assim baseada na mentira. – aconselhou – Você é nascida aqui no Brasil, nunca foi no Egito, não sabe como a banda toca por lá... nunca iria convencer ninguém, não sabe? – falava com mansidão – As outras moça acharam que você queria fazer elas de trouxa e ninguém gosta de ser enganada.

 

--Tá certo... – respondeu com tristeza

 

--E aquilo tudo que você armou pra fazer sucesso não prestou por causa disso. – explicava – Talvez se você tivesse sido simplesmente você mesma...

 

Achou graça. – Ai, tia! – sentou-se no sofá – Sido eu mesma? – balançou a cabeça achando graça – É que a senhora não sabe porque não lê os conto... – levantou-se – Ninguém quer ler sobre mulher feia, gorda, baixinha, pobre, sem cultura... – gesticulou – Nos conto de sucesso, todas as mulher são linda, magra, inteligente, bem sucedida, corpos bem feitos, cabelos maravilhosos! – falava como se visualizasse as personagens – E se tem alguma pobre no meio, é uma pobreza que nem parece! – andou um pouco pela sala – O que eu tenho de interessante pra escrever? – ergueu as mãos brevemente – Nada!

 

--Como nada? – discordou – Sua experiência de vida, suas dores, suas alegrias, tudo que aprendeu até aqui!

 

--E quem quer ler sobre uma filha de puta, tia Quitéria? – perguntou indignada – Ninguém! – cruzou os braços – E eu também não quero deixar todo mundo saber sobre mãínha! Já basta o que ela e eu sofremo nessa vida!

 

--Então vamos fazer assim, minha filha! – levantou-se também – Quando você chegar de volta em Natal vai fazer duas coisas: pensar em como escrever uns conto sem essas armação toda de mulher egípcia! – falava bem humorada – E vai separar uns documento seu que eu vou lhe pedir.

 

--Documentos? – não entendeu – Pra que?

 

--Pra eu poder passar essa casinha pro seu nome no futuro, quando eu morrer. – respondeu o que fora instruída por Érica

 

--Desconjuro! -- benzeu-se – Mal conheci a senhora e já me fala em morte? A senhora tá inteirona! Ainda vive um tanto, visse?

 

Achou graça. – Morrer é o destino de todos nós, não? – sorriu

 

--Ah, tia, por favor. – não gostou daquele assunto

 

--Você faça isso tudo que lhe pedi quando chegar em Natal! – insistiu – Mas enquanto não chega e ainda tem uns dia aqui mais eu, vamo passear pela cidade e falar de coisas boas! Vamos nos divertir!

 

Gostou do que ouviu e concordou. – Vamos, sim, tia! – sorriu – Sabe qual foi a única coisa boa desse Congresso miserento da bixiga? – perguntou mudando de humor

 

--O que? – sorria

 

--Conhecer melhor a senhora! – abraçou a idosa – Obrigada por tudo! – agradeceu com sinceridade

 

--Não tem do que, minha filha! – sentia-se feliz – “Tomara que ela não me odeie quando souber de toda verdade!” -- desejou

 

***

 

Patrícia lia os comentários elogiosos sobre o Congresso e delirava com as milhares de curtidas e visualizações em seu perfil no SeuTubo. O Fuçagram também bombava.

 

Fechou os olhos e imaginou-se como celebridade.

 

“--Conta pra nós, Paty, como é ser a digital influencer mais poderosa da América Latina? – Marcília Rafaela perguntava – Você inspira as pessoas, querida! – afirmou empolgada

 

--Que é isso, Marcília, quem sou eu? – respondia com falsa modéstia – A gente apenas faz um trabalho bem feito, dedicado e cheio de carinho pro público LGBT! – gesticulou com leveza – Especialmente pro público L, né? – deu uma risadinha – Mas também sem esquecer a galera hetero, né verdade?

 

--I believe you are the most inspiring digital influencer of the world, not only in Latin America! (Acredito que você seja a influenciadora digital mais inspiradora do mundo, não só da América Latina!) – Ovrah comentou enfática – Everybody in the United States follows you! (Todos nos Estados Unidos seguem você!)

 

--Oh, Ovrah, don’t make me shy... (Oh, Ovrah, não me faça ficar tímida...) – respondeu fazendo um charme

 

--Comment allez-vous faire attention à tout le monde ? (Como você fará para dar atenção a todos?) – a repórter do Le Mondion perguntou aflita

 

--Da su2al we gawabu 3alik enta! (Esta é uma questão que você tem que responder!) – o repórter da Al-Jandirah insistiu preocupado

 

--Vogliamo Paty Golezzo in Italia! (Queremos Paty Golezzo na Itália!) – Rilzi Calabrini clamava na entrada do Vaticano

 

--Calma, gente, por favor! – Paty buscava tranquilizar a imprensa – Eu vou dar atenção a todos vocês!”

 

--Eu vou dar muita atenção, calma, calma! – gesticulava com os olhos fechados – Não se turbe o vosso coração e nem se arreceiem, que tem Paty Golezzo pra todo mundo! – abriu os braços

 

--DONA PATRÍCIA!!! – Joelma berrou

 

--AH! – gritou ao cair da cadeira – Ai, meus sais... – abriu os olhos com o rosto quase nos pés da chefia

 

--A senhora pediu quatro dias de licença e eu não sei onde estava com a cabeça que deixei! – rosnava furiosa – Agora fica aqui dormindo no trabalho e falando besteira??

 

--Não, chefinha, eu queria dizer que... – levantou-se de um pulo – Que estou à disposição da senhora pra trabalhar com fé!

 

--Então corra até o almoxarifado porque misturaram a encomenda de Cuiabá com a de Brasília e não se sabe mais qual é qual! – ordenou

 

“Mas que merd*!” – pensou contrariada – “Quatro dias fora e tudo desanda?”

 

--CORRE!! – berrou

 

--Tô indo! – saiu correndo – Ai, meus sais, depois de tanto frisson e glamour ao redor da minha pessoa ter que voltar pra essa rotina cachorra... -- reclamava

 

--CORRE!!! – continuava gritando

 

--Tô indo!!! -- corria

 

***

 

Sayruci e Latifah almoçavam tarde em um restaurante de luxo. A jovem amargava uma dor de cabeça inconveniente enquanto a mãe revivia momentos da noite anterior.

 

“A morena rebol*va sensualmente sobre a amada. Pernas entrelaçadas como duas tesouras.

 

--Você é o máximo, Khaalii... – Vera falava tomada por desejo – Maravilhosa... – segurava a cintura dela com força

 

Ficou toda prosa e sorriu para a caipira.

 

Invertendo as posições, Vera deitou-se sobre a parceira e levou a boca a um dos seios dela. Sugava e mordia lentamente.

 

--Ah... – gem*u puxando-lhe os cabelos da nuca – Ai, amor... – empurrou-a pelo ombro e rolou para cima dela

 

A caipira segurou o rosto da morena com as duas mãos e a beijou nos lábios.

 

--Safadinha... – mordeu-lhe o lábio inferior – Caipira safadinha... – mordeu-lhe o queixo e rompeu o contato entre os sex*s

 

--Poxa... – lamentou fazendo beicinho

 

--Calma, meu bem... – deixou os cabelos deslizarem pelo corpo da outra enquanto seguia uma doce trajetória com a ponta da língua

 

--Assim a caipira pira... – fechou os olhos

 

Sayruci sorriu e mergulhou entre as pernas da parceira.”

 

Ajeitou-se na cadeira. “Nossa, não parecia nem eu...” – pensou – “Como tive coragem...?” – não se entendia – “Ai, mas foi tão bom...” – continuava lembrando

 

“Vera estava ajoelhada por trás da amante. Com uma das mãos a penetrava com vigor, porém sem machucá-la. Com a outra apertava-lhe um seio com força. Mordia o pescoço e a orelha da morena, sussurrando trechos de um conto da autora.

 

--Possuía a amada com paixão, fome e calor... – sussurrava – Mas sem nunca deixar de mostrar a ela que não era uma simples noite de sex*... – mordia-lhe a orelha – Era uma completa comunhão de almas... uma entrega... um encontro... – falava com voz gutural

 

--AH! AH! AH! – gemia bem alto – Não pára, amor, não pára... – ergueu um dos braços e agarrou a caipira pelos cabelos da nuca – AH!!”

 

--Mamys, mamys... – estalava os dedos – Conecta, please! – pediu bem humorada – Cê tá com o pensamento aonde, hein? – perguntou desconfiada

 

--Eu? – respondeu desconcertada – Ah, nada de mais... – não encarava a filha – Pensando... – não sabia o que dizer – Tomara que a viagem de amanhã não seja turbulenta! – falou o que primeiro lhe veio à mente

 

--Hum, sei... – percebeu o constrangimento da mãe

 

--Passou a dor de cabeça? – queria mudar de assunto – Se esse remédio que você tomou não fizer efeito logo, é bom ligar para a doutora Laila e ver o que ela recomenda! – olhou rapidamente para a jovem – E não gostei disso de você se embebedando, viu? Nunca foi dessas coisas! – tentava disfarçar mas realmente se importava com o mal estar da filha

 

--Não é pra tanto, mamys, slow down! – bebeu um gole de água – Eu não caí de cara, só bebi uma taça de vinho do Porto e dois drinques de Vodka. – dizia a verdade – Não sou de beber, fui experimentar, misturei, aí deu ruim. – passou a mão nos cabelos – “Sem contar o aborrecimento de ver o gatinho que eu queria se pegando com outra!” – pensou contrariada

 

--Não faça mais isso! – ralhou com a filha – Já viu no que dá! – deu uma garfada

 

Balançou a cabeça analisando a mãe. – E falando no que dá... – sorriu maliciosa – Onde foi que a senhora passou a noite, hein, dona Sayruci Ajami Hafeez? – perguntou curiosa – Sei que as camareiras do hotel são mega eficientes mas a senhora não dormiu lá, daí! Não vi sua camisolinha dobrada em cima da cama...

 

“Oh, meu Deus, cheguei tão nervosa que esqueci desses detalhes!” – sentiu as bochechas queimarem – Claro que dormi no hotel, eu hein? – respondeu sem passar a menor segurança

 

--Mente mal... – achou graça

 

--Latifah? – indignou-se – Chamando sua mãe de mentirosa? – olhou rapidamente para a jovem

 

--Mamys, eu não nasci ontem! – bebeu mais um gole de água – Você não só passou a noite fora como trepou muito!

 

--LATIFAH?? – falou um pouco mais alto e logo se calou – Isso são modos de falar comigo?

 

--Esse ch*pãozaço no pescoço entrega o jogo... – achava graça

 

“Ch*pão??” – levou uma das mãos ao pescoço – “Ai, que vergonha! O que eu digo agora?” – não sabia o que fazer

 

--Mamys, desestressa! – fez um gesto afetado – Uma boa noite de sex* quente faz mal a ninguém! Adorooo! – deu uma garfada – “E não é que Orlandinho conseguiu? O cara é foda, tô boba!” – pensou divertida

 

Gastou uns segundos calada. – Espero que não comente isso. – pediu envergonhada – Com absolutamente ninguém! – pediu enfática – Foi a primeira vez que aconteceu! – confessou a traição

 

--Believe me! – beijou os dedos em forma de cruz – Ninguém vai saber! E esse chifrinho papys mereceu! – deu mais uma garfada – “Chifre de 18 quilates com o melhor desinger de joias do momento!” – pensou divertida

 

--LATIFAH?? – olhou para todos os lados – Alguém pode ouvir você dizendo isso! – falou aos sussurros

 

A jovem achou graça e gastou uns segundos mastigando. – E esse adereço novo aí no pulso, é o que? – reparou no terço – Comprou em algum ambulante pra fazer uma caridade? – sabia que a mãe fazia coisas do tipo – “Orlandinho é que não ia dar a ela uma biju tão pobre!” -- pensou

 

--É, foi isso. – não queria entrar em detalhes

 

–Hum... Mas me diz... – limpou os lábios com o guardanapo -- Por que apesar de parecer que você adorou a pulada de cerca ao mesmo tempo parece que tem uma... tristeza no ar? – estava curiosa – Simplesmente uma culpa ou aconteceu mais alguma coisa? – reparava na mãe -- E não nega, que de sacanagem eu manjo bem!

 

--Latifah?? – morria de vergonha

 

--Fala, mamys! – insistiu – Pára, ow! – brincou – Se abre comigo?

 

“Eu preciso falar com alguém senão vou explodir!” – pensou – “Ela não precisa saber que estive com uma mulher!” – decidiu – Falo se você não vier me perguntar com quem estive. – respondeu de cabeça baixa

 

--Deal! – concordou – “Como se eu não soubesse que foi com o estiloso do Orlandinho!” – achava graça

 

Limpou os lábios com o guardanapo e ficou de cabeça baixa. – Eu não tenho uma experiência relevante nesse sentido... – falava timidamente – Antes do seu pai somente uma pessoa. E agora... essa vez.

 

--Depois a gente tem que conversar sobre esse teu amor bandido na juventude. – prestava atenção – Mas falemos do hoje! – passou a mão nos cabelos – Prossiga, desenvolva... – pediu ansiosa

 

--Não foi uma simples noite, uma... uma coisa qualquer sem significado... – visualizava o rosto de Vera em sua mente – Foi quente, intenso, sensual, carinhoso, forte... – gesticulou brevemente -- Eu nunca tinha experimentado algo assim a vida toda! – confessou

 

--Gentem, que babado fortíssimo! – exclamou empolgada – “Orlandinho, viu? Fodástico!” – estava impressionada – Mas e aí? So, so?

 

--E aí que eu comentei que naquele celular devia ter os contatos de um monte de mulheres e... – levantou a cabeça mas manteve os olhos baixos – Claro que negou... – mexia no guardanapo – Aí trouxe o celular pra eu ver e constatar que não era nada daquilo que eu pensava...

 

--Mamys, mas você já chegou fazendo cobrança? – achou graça – Não é assim, isso assusta! – falava como quem diz o óbvio – Eu mesma odeio cobranças, daí! – gesticulou afetada – E vocês não vão casar, pelamor... – revirou os olhos

 

--O fato é que eu falei, recebi o celular, procurei e encontrei o que não queria. – lembrava

 

--O que? – quase pulou em cima da mesa – Fotos tórridas de mulheres nuas, o que foi? – sorria

 

Acabou achando graça. – Não foi isso! – olhou para a jovem rapidamente – Na segunda à noite... – pensava em como dizer – Houve um encontro amoroso com uma mulher e... – pausou brevemente – Estava tudo gravado lá! – ficou triste ao lembrar

 

--Gravado?? – tinha pontos de interrogação na cabeça

 

–Eu fiquei me sentindo enganada, triste, revoltada, falei uns bons desaforos e fui embora! – contou a história toda – E foi isso...

 

--Hã... – estudava o rosto da mãe – Deixa eu ver se eu entendi bem, mamys! – ajeitou-se na cadeira – O carinha se pegou com outra em plena segunda-feira à noite, filmou tudo no celular, deu mole de deixar de boa pra você ver e isso te magoou? – narrava sua interpretação dos fatos – Foi isso?

 

--Tudo que você falou, mas o encontro não foi filmado! Foi gravado! Só áudio. – bebeu um gole de água – Foi uma coisa que começou como uma entrevista e terminou na cama.

 

--Oi? – riu brevemente – Entrevista? – não entendeu – Áudio? – estava pasma – “Gentem, como um sujeito tão fino pode ser tão tosco? Áudio?” – pensava – Tô passada! – falou afetadamente

 

--Eu pensava que era especial, mas não... fui só mais uma! – sentia-se uma idiota

 

--Outra coisa que me deixou boba foi você dizer que falou bons desaforos pro bofe! – estava surpresa – Nunca nesses meus lindos 21 aninhos de vida te vi rodar uma baianinha sequer! – gesticulou – Olha, supreendeu, viu, dona Sayruci? – balançou a cabeça pensativa

 

“De fato, nunca rodei mesmo...” – concordou – “Acho que com Vera é como se eu me transformasse em outra pessoa...” – pensava

 

--Mas, aqui, conecta! – estalou os dedos – Vamos ver a vida como ela é, mamys! – cruzou os braços – Na real, você é casada, rica, mora em Foz do Iguaçu numa mega mansão super da hora no condomínio Terras Ômega 2, enquanto o carinha vive aqui, outro estilo de vida. – considerou – Antes dessa noite louca entre vocês não havia um compromisso; depois também não haverá. – pausou brevemente – Ou não?

 

--Não... – suspirou – Sem compromissos... – respondeu com tristeza

 

--Então desencana! – fez um gesto despreocupado – Já que estamos nessa vibe de ousadias, que tal pedirmos uma taça de profiteroles com sorvete? – propôs divertida – Se é pra sofrer por culpa, vamos dar motivo, né, mamys? – riu brevemente

 

Achou graça também. – Vamos... – concordou – Vamos... – olhava para a jovem – “A única coisa boa de tudo isso foi que pela primeira vez minha filha e eu trocamos confidências nessa viagem...” – considerou – “Ainda que eu tenha omitido algumas partes...” – suspirou – “Mas ela tem razão... antes não havia um compromisso, tampouco depois...” – concordou com pesar

 

***

 

Vera havia acabado de contar sobre o que aconteceu entre ela e Khaalii para sua prima Socorro. As duas estavam em um mercadinho local.

 

--E aí quando eu chego de volta em casa toda espilongada por cachorro, ela me recebeu possessa por causa daquela gravação! – seguia a outra no mercado – E foi-se embora cuspindo marimbondo! – pegou uma lata de atum – Não me escreveu mais, não ligou... dessa vez acho que foi mesmo o fim! – afirmou com tristeza – A caipira ficou só o quimba depois dessa... – lamentou

 

--Prima, eu tô besta! – empurrava o carrinho – Em uma semana você jogou na cama duas mulher! – pensava no fato – Esse tal de Congresso lésbico rendeu!

 

--Mas... – parou diante da outra com os braços cruzados – Eu tô aqui te abrindo o coração e você só me diz isso, uai? – indignou-se

 

Parou de andar. -- O que eu sei é que raramente chove na tua horta! – pegou uma lata de leite – Mas quando chove, é um toró! – achou graça – “E tome de periquita!” – pensou divertida

 

--Humpf! – fez um bico – E eu achando que você ia me entender... – reclamou

 

--Eu já te disse e repito, uai, você não sabe nada dessa mulher! – voltou a andar com o carrinho -- É uma relação injusta por demais! – falava com seriedade – Como pode isso? Essa uma some, depois aparece do nada, vai pra tua casa, passa a noite tomando tiro na curnicha e depois faz um espetáculo por causa de uma bestagem? – não aceitava – Eu acho que esse tal áudio foi o pretexto que ela queria pra sumir de novo e pousar de vítima!

 

--Anêim, ela não é assim! – discordou – Não é! – não queria aceitar

 

--Se você não sabe nem o nome da tal, como pode saber com tanta certeza? – pegou dois sacos de feijão

 

--Eu não sei explicar... mas parece que conheço ela de uma vida inteira!

 

Fez um bico. – Você é ingênua demais... – olhou rapidamente para a prima – Se acha que ela realmente não tá de má fé, escreve um e-mail e conta a fofoca toda da tal da Gail. – aconselhou – E vamos ver o que essa uma vai fazer, fi. – empurrava o carrinho

 

--Já até escrevi... só não despachei. – pegou um saco de arroz

 

--E, falando nessa tal de Gail misteriosa, que você não me disse quem é. – deu um tapinha no ombro da prima – Tá esperando o que pra pegar também? – brincou

 

--Mas você tá pensando que eu sou o que, prima? – perguntou indignada – Com Gail é só trabalho, uai!

 

--Com a autora tarada também era e no entanto... – provocou – “Eu hein, mulherada doida!” – pensou divertida

 

“Falando nela,” – pensava em Abigail – “depois vou ver o que se deu daquela bicha custosa doida!” -- pensou

 

***

 

Quitéria e Vera se despediam de Abigail no aeroporto de Guarulhos.

 

--Ai, tia, mas eu gostei foi demais de passar esse tempo mais a senhora, não sabe? – abraçou-a com carinho – Quando a senhora quiser me visitar em Natal de novo é só me avisar que a casa vai tá às ordens! – ofereceu com sinceridade

 

--Vamos ficando em contato, filha! – olhava para a sobrinha – Agora que a gente se achou é pra não se perder mais! – sorriu

 

--Tá certa! – concordou – Tá certa, tia!

 

--É... – Vera coçou a cabeça – Os trem não deram certo do jeito que você queria mas o importante é tentar, né? – olhava para a outra – Fizemo nossa parte. – sorriu para as duas mulheres

 

--É verdade. – Quitéria balançou a cabeça – Agora é bola pra frente!

 

--Eu não posso negar, mulher, que até que você foi uma boa assessora. – deu um tapinha no braço da caipira – A gente se divertiu!

 

“Ô!” – pensou ironicamente

 

--Sei que já te paguei pelos serviço mas tu só ficasse me devendo uma coisa: -- continuava falando – entre no site, leia meu conto e comente. De preferência pedindo mais! – recomendou – Aproveite e me dê umas leituras metendo o dedo nas setinha de recarregar, não sabe? A meta é chegar nas 150 mil!

 

“E ela não desiste!” – Vera pensou impressionada – “Eita, que bicha custosa!”

 

Quitéria achava graça sem nada comentar.

 

***

 

Sayruci voltava do hospital Ministro Costa Cavalcanti com marido e filha. Seu pai teve um infarto no primeiro dia de dezembro e fora internado às pressas.

 

Preocupada e triste, a mulher se retirou para uma posição reclusa do quintal e se ajoelhou para orar.

 

“Senhor, por favor, Cuida do baba, eu Lhe suplico. Que nada de mal aconteça com ele e que logo possa retornar ao lar!” – orava com fervor – “E por favor, Senhor, eu Vos imploro, Perdoai a minha traição!” – sentia muita culpa – “Eu não amo Samir, mas a partir do momento em que aceitei esse casamento de aparências, tenho que encará-lo com honra como sempre fiz e não me envolvendo com outras pessoas. Não sou habituada a mentir e fiz isso por conta de meus atos impetuosos. Fiz, por acreditar que era amada e por desejar ardentemente que fosse verdade.” – pensava em Vera – “Ajuda-me, ó Pai, a recuperar minha sanidade.” – derramou uma lágrima – “Amém!”

 

--Mas o que Sazii faz ajoelhada no escuro? – Samir perguntou contrariado ao vê-la pela janela da sala

 

--Papys, ow, please? – Latifah respondeu incomodada – Quer deixar ao menos ela rezar em paz? Vôvys tá internado, conecta! – estalou os dedos – Eu hein! – passou a mão nos cabelos – Agora vou relaxar tomando um banho e depois vou gravar pras multidões. – falava dos seguidores – Kisses! – despediu-se

 

--Boa noite. – o homem respondeu sem deixar de olhar para a esposa

 

***

 

Insone, tarde da noite Sayruci usava o notebook e respondia às leitoras que lhe escreveram. Viu que havia um e-mail de Vera esperando há dias para ser lido e pensou muito se deveria fazer isso ou não.

 

“Posso ler, mas não sou obrigada a responder.” – pensou – “Vamor ver.” – clicou no e-mail

 

Oi!

Espero que esteja bem Khaalii e espero que leia o que te escrevo agora. Pensei muito antes de enviar esse e-mail mas escrevi aqui toda a verdade e me abri de um jeito quase que sem pensar. Perdoe os erros de português porque nem reli. Acho que se fizesse isso não enviava.

 

--Hum... – lia com atenção

 

Começando pela parte mais fácil...

Conheci Gail em Guarulhos quando deixei um cliente lá. Ela me abordou, pediu carona e no meio da viagem ofereceu de eu trabalhar pra ela. Não levei a sério mas depois ela me procurou, ofereceu dinheiro, disse o que era pra fazer e aí eu topei. No meio das rata atrás de rata que ela deu no Congresso, aconteceu de me pedir pra sondar as Dez Mais e descobrir os segredos delas então eu tentei mas nenhuma me deu nem tchum só uma moça que depois eu vim a saber que era Frog Kruger. Então ela me chamou pra conversar no quarto de hotel dela, eu fui e comecei a sondar como Gail queria e por isso gravei a prosa.

 

--Ah, então aquilo era uma entrevista praquela louca? – pensava em Gail

 

Se você ouviu certas partes do áudio ouviu que lá pelas tantas a moça me quis, eu tentei escapar mas ela insistiu e eu acabei cedendo. Você sumiu, me deixou sem dizer nem um adeus, me fez sofrer morrendo de saudades e eu te esperei aparecer naquele Congresso, mas ele começou e você não veio. Eu não sou acostumada com mulheres me querendo, especialmente mulheres atraentes, interessantes... Ela me quis e eu cedi por carência, por tristeza, por desgosto... Desliguei meu coração pra poder me deitar com ela e sofri muito porque não era o que eu queria e logo no dia seguinte ela me tratou como se eu fosse um lixo. Já tava com outra.

 

Foi tocada pelo que leu. --Nossa! – começava a mudar de ideia em relação ao que pensava sobre Vera

 

Essa foi a parte fácil. Vem a difícil...

Eu passei a vida inteira procurando alguém que me amasse. Não tive a sorte de ter mãe, meu pai sempre me renegou, minha família me rejeitava, meus irmãos me ignoram... Não tive sorte com trabalho, sempre fui explorada, desvalorizada, mão de obra barata e reposta com facilidade. Até prima Socorro me usa. Ela gosta de mim, mas gosta mais ainda de ganhar dinheiro a cada chocolate pornô que eu entrego, casa de mulher que a Marida de Aluguel conserta e passageiro que a motorista de Iuba carrega. Eu sei que é assim, só finjo não ver pra doer menos... Não tenho sorte com as mulheres. Raramente me querem e quando acontece é sempre como um passatempo.

Você me parecia diferente. Você parecia gostar de mim e até me amar (olha como a caipira sonhou alto)...

Eu passei a vida gritando em silêncio “ei, alguém, venha, por favor, me ame!”

E você chegou e eu achei que me dizia: “estou aqui pra você, caipira! Eu te amo!”

 

Sayruci derramou uma lágrima muito sentida.

 

Mas já que não ama, ao menos me escreva, me ligue ou me diga de alguma forma que não me quer. Mas porque não quer e não porque ouviu uma gravação de algo que significou nada.

Sabe o que significou tudo? A melhor noite a melhor experiência da minha vida? Quando tive você em meus braços.

Foi o dia em que toquei o Céu.

 

--Ai, meu amor... – beijou a tela do notebook

 

Acredite ou não... eu te amo.

Beijos,

Vera

 

Desligou o notebook e pegou o celular imediatamente.

 

--Não me interessa a hora, não me interessa que seja tarde! – esperava atender – “Deus, eu pedi perdão pelo que fiz, mas meu coração não se aguenta mais no peito! Ajuda a me entender!” – implorava mentalmente – “Eu simplesmente preciso falar com ela!” – estava angustiada -- Por favor, atende? – falava consigo mesma

 

Vera acordou meio zonza e percebeu que o celular vibrava sobre a mesinha. – Mas o que...? – olhou para a tela e viu que era um número privado – Khaalii? – ficou nervosa e atendeu – Alô? – desejava ardentemente ouvir a voz da amada

 

--Eu te amo! – foi tudo que disse ao derramar uma lágrima

 

--Linda! – sentou-se na cama – Também te amo! – emocionou-se – Por favor, me perdoa, não leva a sério o que aconteceu entre aquela moça e eu! – falava com desespero – O importante foi tudo que nós já escrevemos uma pra outra, tudo que nós conversamos... O importante foi a NOSSA noite! E eu te amei com o melhor de mim!

 

--Eu sei! – colocou a mão no peito – Também dei o melhor de mim pra você!

 

--SAYRUCI!! – Samir berrou

 

--Oh! – levou um susto e derrubou o celular no chão – “Meu Deus, ele acordou!” – pensou desesperada – “Será que ouviu tudo?”

 

--Uai?? – Vera ficou sem entender

 

--COM QUEM VOCÊ FALA ESCONDIDA AÍ? A ESSA HORA! – abaixou-se e pegou o aparelho no chão olhando para a tela – Não tem nome. – resmungou – ALÔ? – aguardou nervosamente – QUEM É VOCÊ? – perguntou furioso

 

“Quem será esse?” – não entendia – Alô? -- a ligação caiu – Uai? – percebeu que a bateria acabou – Será que Khaalii é casada? – jogou o celular sobre a mesinha – Será que prima Socorro tem razão? – pensou intrigada  

 

Fim do capítulo