A AUTORA por Solitudine
OS DOIS LADOS DA TELA
--A solidão é uma lâmina fria cortando a alma, o choro sem lágrimas, o desprezo que agride. – uma mulher lia em voz baixa na tela do celular dentro do metrô -- Tudo na solidão é silêncio, pois mesmo de outra forma, haveria ninguém disposto a ouvir... – continuava lendo – É verdade... – concordava com o que lia -- Mas que danação que o celular perdeu sinal! – resmungou – Não carrega o resto do texto! – falava sozinha – Agora só quando sair daqui!
--O que foi, Vera? – o colega de trabalho perguntou sem entender
--Nada, não. – respondeu timidamente – Pensando alto... – sorriu sem graça – “Tem que parar com esse trem de ficar falando sozinha nos lugares...” – repreendeu-se mentalmente
Ignorou. -- Tamos chegando. – alertou – Tomara que dê pra gente pegar umas imagens de porr*daria como o editor-chefe quer! -- desejou
“O chefe e suas “querências”...” – pensou fazendo um bico
Minutos depois, os dois desciam na estação da Sé, onde metroviários buscavam organizar um protesto.
--O Metrô é essencial pra mobilidade urbana do povo de São Paulo e a qualidade desse meio de transporte depende de uma equipe técnica bem treinada e com condições dignas de trabalho! – um diretor sindical protestava falando ao microfone – Nossos salários estão muito rebaixados e tivemos 40 companheiros demitidos na greve do ano passado porque ousaram lutar por seus direitos! – falava para as pessoas que passavam pela praça – Os serviços de trem e metrô na Alemanha, tão essenciais praquele país quanto aqui pra nós, são mantidos por uma companhia estatal. E ela é referência mundial em qualidade na mobilidade urbana! – gesticulava – Em termos de qualidade, nós rivalizamos com eles, perdendo apenas em cobertura da malha e isso porque aqui os investimentos nesse sentido são bem menores! – denunciava – Com a riqueza que essa cidade e esse estado geram, São Paulo tinha que ser uma das referências mundiais em termos de transporte de massa. E por que não somos? – provocava os ouvintes – Porque a maior parte da renda gerada por esse país vai pro bolso de banqueiros e especuladores da dívida pública e o povo que se lasque!
--É isso aí! – pessoas apoiavam
--Tem que botar essa corja toda do governo pra correr! Fora TODOS!! – um jovem gritou
--É greve! É greve! – outros bradavam
--Vai lá, Vera, começa aí! – o repórter se preparava – Faz uma tomada enquanto eu vou dar um jeito de entrevistar esses baderneiros!
--Mas eles não são baderneiros, uai! – discordou enquanto ligava a câmera
--Opa, olha a porr*da comendo ali! – o repórter apontou excitado – Vamos começar por lá mesmo!
--Ali tem nada a ver com o protesto, Marcão! – retrucou – Não tá vendo que é um bando de cracudo se estranhando? Fica até um trem escandaloso, qualquer um vê que é forçado, uai!
--Vambora, vem! – seguiu correndo para o local
--Não apela, Marcão! – permaneceu parada no mesmo lugar – Se a gente veio pelo protesto é pelo protesto e fim! – afirmou decidida – O negócio aqui tá pacífico e você querendo distorcer!
--Porr*, Vera, você é sempre do contra, hein? – voltou para perto dela – O chefe vai ficar sabendo disso! – ameaçou
“Esse aí só não dá o fiofó em sacrifício pro chefe brincar porque fica chato!” – pensou revoltada
***
--E aí seu colega Marcão me falou que pela e-nésima vez a senhora não colaborou com o trabalho de campo como deveria, -- debruçou-se sobre a mesa -- não é dona Vera? – o editor-chefe perguntava com seriedade
--Ora, eu entendo que nosso dever é mostrar a realidade como é. – respondeu com tranquilidade – Não é certo e nem decente mudar os fatos pra caber nos gosto de quem quer que seja, uai! – olhava para o homem – Se fazer o certo é não colaborar com o trabalho de campo, então... – fez um gesto com a cabeça
O homem gastou uns segundos olhando para a mulher sentada a sua frente. – Você deve achar que tem bala na agulha pra me mandar uma dessas... – afirmou achando uma certa graça – Tem um batalhão de gente lá fora que daria um braço pra estar no seu lugar, trabalhando comigo. – olhava nos olhos
--E eu nunca desvalorizei isso, não, uai! – respondeu de imediato – Mas certas coisas são inegociáveis!
--São mesmo! – deu um tapa na mesa – A senhora está demitida! – levantou-se rapidamente – E isso é inegociável! – olhava para ela
“Ave Maria!” – pensou entristecida, mas sem demonstrar o que sentia – Então tá então. – levantou-se também
--Passa no DP e conversa com Zé Renato. Tudo que te cabe receber será pago. – foi até o frigobar e pegou uma garrafa de água – Passar bem. – despachou
--Passar bem, senhor Carrilho. – fez um gesto de cabeça e se retirou
***
--Absorta em seus pensamentos Zayah considerava que talvez a solidão passasse por uma profunda dificuldade em se comunicar, pois mesmo tentando de todas as formas, parecia jamais conseguir se conectar com as pessoas ao seu redor. – Vera lia em voz baixa com atenção – Por mais que tentasse agradar, fazer coisas boas, com uma atitude gentil e cortês, os esforços eram vãos. Ninguém jamais reconhecia ou valorizava. – pensava em si mesma – Ao contrário, tudo que fazia era sempre passível de duras críticas e nenhum sorriso de amizade ou simpatia. – derramou uma lágrima -- Para as pessoas de fora de sua intimidade ela era uma dama admirável, no entanto, para aqueles que deveriam ser os mais importantes, ela não passava de uma idiota. – deu um suspiro profundo – E de repente me dei conta que passei a vida inteira fingindo ser o que não sou! Passei a vida me escondendo! Primeiro dos meus pais, depois das críticas, do preconceito e de uma das coisas que eu mais tenho medo na vida: rejeição! Passei a vida mentindo para esconder cada vez que amei, que sofri por amor, que me iludi... Agora é hora de rasgar o véu: eu quero viver! – continuava lendo em voz baixa – É, Zayah, eu também passei grande parte da vida assim! – conversava com a personagem – Até ser descoberta e posta pra correr de casa... – lembrava de seu passado
Nesse momento batidas na porta a despertam para a vida atual. – Sou eu, garota!! – uma voz do lado de fora se fazia ouvir – Demora não que os cambito tão cansado! -- brincou
--Já vou, prima! – deixou o celular na mesinha e se levantou da poltrona – Tô indo. – secou os olhos com as costas da mão e abriu a porta – Oi. – saudou com pouco ânimo
--Own, olha como tá essa mulher! – abraçou a outra com força – Vim conversar contigo! – rompeu o contato e entrou na sala – Imaginei que depois do que aconteceu você iria ficar deitada na poltrona lendo histórias de fossa! – sentou-se – E deve ter sido isso, né? – prestava atenção na prima – Tá com cara de quem tava numa danação comedida.
Achou graça. – Só você mesmo, Socorro. – sentou-se do lado da outra – O problema não é ter perdido aquele emprego, -- passou a mão nos cabelos -- até porque eu já tava cansada de me arengar com o chefe e com Marcão... – pausou brevemente – O diacho é ficar sem dinheiro, né? Já vivo sempre dura e agora é que danou-se. – olhou para baixo
Pensou um pouco antes de responder. – Até hoje você não achou um emprego pra se firmar. – segurou uma das mãos da prima – Durou até muito nessa redação de jornal...
--Eu sou fotógrafa, prima. A maior parte do que arrumo é como freelancer, fazendo um bico aqui e outro acolá. E hoje com a modernidade as portas tão se fechando muito. – olhou para a outra – Há uns anos atrás uma redação de jornal como a do Carrilho movimentava dezenas de pessoas. E hoje quantos nós éramos? Seis gatos pingados. – soltou a mão da outra – Além disso os celulares tão ficando cada vez mais modernos e vai chegar uma hora que qualquer pessoa vai pegar um aparelhinho desses e fazer seus próprios trabalhos, sem precisar de fotógrafo profissional, cameraman, nem nada. – pausou brevemente – E as novas oportunidades que a modernidade traz, exigem que você tenha acesso a certos softwares, uns trem caro, cursos... e eu tento dar meu jeito mas não tenho dinheiro pra investir.
--É, eu sei que ficar atualizada tem um preço. – concordou – E por essas e outras vim aqui pra te fazer uma proposta. Talvez seja hora de você mudar de área.
--Como assim? – não entendeu
--Intonces... – iniciou a frase de modo brincalhão – Paulinho e eu agora tamos com um negócio erótico porém inocente! – anunciou abrindo os braços – Liberado pra todas as idades! – pensou melhor – Ou quase todas.
--Oi?! – não entendeu
Levantou-se de um pulo antes de responder. -- Acompanha o raciocínio que você vai entender. – falava como quem dava aula – Nós estamos aonde? Na maior cidade deste país! Isso quer dizer o que? Um mercado consumidor gigantesco! – gesticulava – E esse público quer o que? Atendimento personalizado! E todo mundo gosta de que? De sex*! Mas quando não pode, faz o que? Come chocolate! – bateu uma palma
Vera continuava sem entender.
--Fomos na 25 de Março, compramos um monte de forminhas de chocolate eróticas e vamos vender isso: chocolate erótico! – sorria animada
--Eu acho que ainda não captei...
--E você fará as entregas! – respondeu de imediato
--EU?! – arregalou os olhos e se levantou também
--Isso mesmo! – decidiu pela outra – Você tem carta de moto, Paulinho arrumou uma motinha bem da hora e você vai usar ela pra entregar nossas encomendas. – explicava – Vamos dividir os lucros por três! – olhava para a prima – Quer dizer, vamos dividir assim: oitenta por cento é nosso porque vamos comprar os ingredientes, fazer os chocolates, arrumar clientela, fora o dinheiro que a gente já investiu. Você fica com os vinte porcento que sobra por conta das entregas e com as gorjetas que eventualmente te derem. – sorria como assistente de mágico – Ah! E você vai usar suas habilidades pra fazer o material de divulgação! – aproximou-se da outra falando mais baixo – Paulinho arrumou um mano aí que tem o Adobe pirata instalado no computador. É coisa do trabalho dele, mas vocês combinam tudo direitinho.
--Socorro, deixa eu ver se entendi. – passou a mão nos cabelos – Vocês vão fazer chocolate no formato... – mexia com as mãos -- dos trem de mulher e de homem?
--Com direito a recheio de leite condensado! – gesticulou – Vai ter de tudo: peitinho, bundinha, periquitinha, pintinho! E é assim, você morde e o leite condensado escorre...
--Misericórdia! E quem vai comprar isso, criatura? – não via futuro
--Com certeza vai ter quem compre! – afirmou com segurança – Chocolate qualquer um vende. Chocolate erótico, meu bem, é pros ousados! – bateu uma palma – Tô pensando até em comprar umas roupas íntimas nos ambulantes pra vestir alguns desses chocolatinhos!
--Eu hein... – coçou a cabeça – E você quer que eu faça uma arte pra divulgar esse trem? Não sou designer, mulher, não sou boa nessas ideias. Ainda mais pra anunciar pinto e periquita de chocolate pra vender!
--Ah, mas junto comigo vai ser! – segurou a outra pelo braço e foram se encaminhando para a porta da sala – Vamo lá pra casa que eu quero te mostrar as forminhas.
--E pra que eu tenho que ver isso? – não entendia
--Pra despertar as ideais, viu, fi? – falou como quem diz o óbvio – Se prepara que daqui a uma semana, no máximo, a gente começa!
“De fotógrafa a entregadora de chocolate erótico...” – pensava – “O que o desemprego não faz!”
NOME : VERA DE NORONHA
IDADE: 35 ANOS
ESTADO CIVIL: SOLTEIRA
CIDADE: SÃO PAULO – SP
OCUPAÇÃO: FOTÓGRAFA
PRAZER: LER CONTOS SOBRE AMOR ENTRE MULHERES
CODINOME: CAIPI
SONHO: VIVER UM GRANDE AMOR
***
--Poxa, mas será possível que não atualiza nunca? – Patrícia reclamava ao visitar uma história que acompanhava – Se Black Velveteen não atualizar esse conto até sábado vou fazer uma coluninha detonando com a vida dela! – fez cara feia – Quando eu viro Paty Golezzo posso ser o sonho ou o pesadelo de qualquer autora! – falava ameaçadora – Deixa ela comigo! – passou para a próxima escritora que acompanhava – Vamos ver você, Amaralina Luz. – clicou no link da autora – Até que atualizou. – viu que havia capítulo novo – Mas você ainda tá devendo responder meu comentário, amiguinha. – clicou no link do capítulo – Quero só ver se Mahara e Nayana vão continuar naquela picuinha sem sentido. – falava das personagens – Tô doida pra ler umas ceninhas quentes! – começou a ler – Se ficar muito no amor meiguinho vou partir pra Ales Bysex. Aquela ali sabe fazer a coisa ficar hot, hot, hot! – já pensava em outra autora
--DONA PATRÍCIA!! – a gerente gritava na sala ao lado – A transportadora acabou de ligar cobrando as notas fiscais!!! – reclamava furiosa – Tá esperando o que pra providenciar?? -- cobrou
--Ai, meus sais!! – desistiu de ler naquele momento – Tô fazendo agora, chefinha Joelma! – respondeu em voz alta – Que merd* que esqueci de gerar essas notas! – admitiu em voz baixa enquanto começava a providenciar – Chegará o dia em que eu não vou mais precisar desse emprego! – desejou – E vou poder viver só fazendo o que eu gosto! – continuava falando sozinha
--Você tem cinco minutos! – Joelma advertiu novamente em voz alta
--Tô fazendo, tô fazendo! – respondeu agoniada
NOME : PATRÍCIA GOMIDE
IDADE: 28 ANOS
ESTADO CIVIL: AVULSA
CIDADE: RIO DE JANEIRO-RJ
OCUPAÇÃO: SECRETÁRIA E TÉCNICA ADMINISTRATIVA
HOBBY: LER CONTOS LÉSBICOS E PROMOVER/DETONAR AUTORAS
CODINOME: PATY GOLEZZO
SONHO: SUSTENTAR-SE COMO INFLUENCIADORA DIGITAL
***
Abigail chegava no hotel com 4 horas de atraso.
--A bicha é folgada! Chega atrasada e de óculos escuros pra fazer de turista! – Duarte apertou os olhinhos observando a mulher – Mas eu vou botar ordem nesse galinheiro! – caminhou para junto dela – Isso são horas, dona Abigail? – deu dois tapinhas no relógio de pulso – E onde está sua farda? – reparava que veio de mãos vazias – Por que não trouxe? – olhou bem para o rosto dela – “Oxe, que ela tá toda arranhada!” – pensou intrigado
--Mas o que é que houve com Bigail? – Rita perguntou para si mesma – Parece até que dormiu com porco espinho!
--Bom dia pro senhor também, Duarte. – tirou os óculos – Eu não tenho mais farda, visse? O Satanás de rabo, que dona Martina insiste em chamar de gato, lanhou tudo ontem à noite. – respondeu debochada – E me lanhou também como pode se ver. Logo, sofri um acidente de trabalho!
--Oxe! – o homem exclamou surpreso
--Eu quero um fardamento novo e dois dias de licença, contando com hoje! – declarou solene – E nem vou exigir a CAT!
(Nota da autora: CAT = Comunicação de Acidente de Trabalho. Cá para nós, deveria ter exigido sim!)
--Mas espia pra isso! – cruzou os braços – Eu não tô entendendo, até porque dona Martina te cobriu de elogios hoje no café da manhã. Então como pode ser do gato dela ter feito esse estrago todo? – não entendia
--O fato é que fez, ou passa pela sua cabeça que eu tenha me lanhado só pra pegar dois dias de folga? – retrucou desaforada – Pergunte a Adriano o estado que eu tava ontem quando saí daqui. – gesticulava – E bem depois de meu horário, diga-se de passagem!
Neste momento, Martina desce do elevador usando trajes de banho, saída de praia e um chapelão. Vinha trazendo uma bolsa de palha além do gato no colo, o qual usava camisa florida e um bonezinho. Ao avistar Abigail e Duarte decide ir cumprimentá-los. – Bom dia! – saudou sorridente
--Bom dia, senhora Martina. – responderam em jogral
--HUAUU!! – o gato rosnou de cara feia
“Sai pra lá, bixiga do Cão!” – pensou horrorizada
–Abigail, você não sabe! – foi logo dizendo – Pensei que Blanchard ia ficar traumatizado com o que sofreu nas mãos daquela companhia aérea incompetente mas ele ficou ótimo! Olha como acordou tão bem disposto e... – calou-se subitamente e retirou os óculos escuros – Meu Deus, o que houve com você? – perguntou assustada
--Sofri um acidente... – respondeu fazendo uma cara triste – Por isso que nem fiz festa com seu bichinho pra poder não assustar o pobre. Ele que já sofreu tanto ontem, não é mesmo? -- mentia
“Essa mulher tem uma sensibilidade com os animais!” – pensou impressionada – E você veio trabalhar ainda assim? – olhou para o gerente com reprovação
--Bem, eu não sabia... – o homem pensava no que dizer
--Na verdade, o gerente Duarte tava aqui dizendo que vai me abonar a falta de hoje e me dar o resto da semana toda de folga, não sabe? Volto só na segunda! – mentiu novamente – Enquanto isso ele bota um colega que foi despedido recentemente pra cobrir o meu lugar.
--Aff! – o homem exclamou mal disfarçando a revolta
--No que está certíssimo! – concordou enfática – Com uma funcionária deste naipe no hotel, o senhor não poderia ter agido de outra forma! – olhava para o homem – Do contrário eu mesma daria uma queixa para o seu chefe! -- ameaçou
--Absolutamente, senhora. – engoliu em seco
--Ele também ficou de me dar uma farda nova, porque a minha... danou-se! – continuava falando
--Mas o fardamento você tem que comprar! – reclamou de imediato mas se deteve ao perceber o olhar de Martina – Tem que comprar, não... – pensava no que dizer – Tem que pegar lá na loja de Sônia e... – ajeitou a gola da gravata – Colocar na minha conta. – deu um sorriso amarelo – “Ah, mas ela me paga!” – pensou vingativo
--Por que o senhor não providencia um carro pra levá-la a essa loja e depois para descansar em casa? – a mulher sugeriu – Tem tantos táxis aí fora!
--É só combinar o preço antes e tá resolvido! – Abigail dava ideia
--Mas... – controlava-se para não esganar a funcionária
--Vá fazer isso, homem, tá esperando o que? – Martina perguntou apressada
--HUAUU!! – Blanchard deu uma unhada nas costas da mão de Duarte
--Oxe! – recolheu a mão dolorida
--Olha o que o senhor fez! – a mulher falou petulante – Aborreceu meu bebê! – começou a ninar o gato – Zanga com ele não, bebê, zanga não...
--Ah, mas aborreceu! – Abigail concordou gesticulando – O bichano tava todo faceiro e agora já se estressou! – colocou lenha na fogueira – Depois de tudo que eu fiz ontem pra ajudar o pobrezinho a superar o trauma... – fingiu-se indignada
--Francamente, senhor Duarte! Que decepção! – Martina reclamou
--Não, por favor! Eu vou... – olhou rapidamente para a mão arranhada – Providenciar o táxi. – controlava a fúria – Com licença. – dirigiu-se à portaria
--A senhora perdoe, mas não se aperreie não, que logo logo seu gatinho desestressa. – Abigail fazia uma demagogia – Depois de um dia de sol, piscina, praia...
--Sim, tem razão. Nós vamos espairecer na piscina por agora. – concordou e procurou algo dentro da bolsa -- Aqui, querida. – entregou uma gorjeta discretamente – Por tudo que você fez por nós. – agradeceu – Eu pensava que o senhor Duarte seria quem resolveria meus problemas só que o tempo todo foi você.
Recebeu o dinheiro e manteve a mão fechada. – Obrigada, senhora. Por nada. – sorria – Estamos aqui pra isso!
--Melhoras! Blanchard e eu te adoramos! – deu tchauzinho e seguiu para a piscina
--Também adoro vocês... – respondeu falsamente – Adoro esse gato de encruzilhada topetudo maldito, bixiga doida! – resmungava – Agora deixe eu ir pegar o táxi enquanto posso! – conferiu o dinheiro que recebeu – Hum, cem reais!! – guardou a nota no bolso e foi saindo
--Ô, mulher! – Rita chamou discretamente – Pronde tu vai, quê que houve? – perguntou da recepção
--Depois, depois... – fez sinal pedindo que esperasse e saiu -- Rita que me perdoe mas ela vai ter que passar esses dias sem mim! – viu que o taxista esperava por ela e Duarte a observava com sangue nos olhos – Bom dia, seu moço! – cumprimentou o motorista – Já tá sabendo o roteiro, né?
--Sim senhora. – ligou o carro para partir
--Então simbora que hoje eu tô madame! – colocou os óculos escuros de volta e soprou um beijinho para Duarte
--Ah, mas você não perde por esperar, dona Abigail Trindade! – Duarte rosnava furioso – Perde não!
***
--Sabia que eu ainda não entendi o objetivo dessa visita? – a mulher mais velha perguntou enquanto saboreava um chá – Você chegou aqui, falou da vida, do passado, seus sonhos adolescentes... – cruzou as pernas – O que veio me contar na verdade? – perguntou mirando a filha
Sayruci respirou fundo antes de me responder: -- Eu quero me separar de Samir, maama! – anunciou sem rodeios
Mãe e filha conversavam no jardim da mansão dos Ajami.
A mulher colocou a xícara de chá sobre o pires e pegou uma colherzinha de açucar para adoçar um pouco mais. – E por que isso agora? – perguntou sem demonstrar emoção
--Porque eu não aguento mais! – respondeu contendo o desespero – Não aguento mais viver casada com um homem que eu não amo, que nunca amei e que tampouco me ama! Um homem que me culpa por absolutamente tudo, que é arrogante, grosseiro e que nos últimos tempos ainda me bate quando ouve o que não quer! – desabafou
--Então você não deveria dizer, não acha? – respondeu ao tomar mais um gole de chá
--Maama!! – exclamou horrorizada – Será possível que a senhora não ouviu o que eu disse?? Será possível que tem coragem de minimizar a violência que eu já sofri e sofro de diversas formas?? – sentia-se miseravelmente desamparada – Essas coisas que destroem por dentro... – falou como quem pede socorro
Zorayde observou que havia empregados por perto e fez sinal para que se afastassem. – Nunca fui surda, Sayruci! – respondeu secamente – Mas não espere que eu vá concordar com um divórcio!
--Maama, pelo amor de Deus... – pediu
--Pelo amor de Deus digo eu! – falou um pouco mais alto e logo se conteve – Você pensa o que? Espera o que? – estava contrariada – Nunca houve um divórcio sequer nessa família e não vou admitir que aconteça justo com a minha filha!
--Eu não acredito nisso... – balançou a cabeça indignada – Samir usou o mesmo argumento que não se sustenta!
--Não se sustenta?? – perguntou revoltada – Quem não se sustenta é você! – calou-se brevemente, ajeitou-se na cadeira e encarou a filha olhando nos olhos – Você teve a sorte bendita de nascer uma Ajami e teve ainda mais sorte por seu pai e eu termos feito seu casamento com um Hafeez, que era simplesmente o solteiro mais disputado da região!
--E eu nunca pedi por isso! – teve coragem de responder
--Você deveria me agradecer de joelhos por tudo que fiz por você! Ou preferiria ter destino parecido com o da filha dos Magalhães Aguiar? – pegou a xícara e bebeu mais um gole do chá -- Acredito que esse escândalo já seja do seu conhecimento, especialmente após ter estado com a fofoqueira da Salma Nahim!
--Já sei do que houve. – levantou-se da mesa – Mas não sei se meu destino foi tão melhor... – mirou um ponto no infinito – Nunca mais soube o que é ser feliz! – desabafou novamente – Aliás, soube o que é isso por pouquíssimo tempo...
--Presumo que... – mudou de posição na cadeira para ficar na direção da filha – Você se refira àquele tempo de vida sem lei estudando na UFRJ. – falou o nome da universidade com desdém
--Nunca tive vida sem lei, maama. – olhou para a mulher mais velha
--Teve sim! – levantou-se também – Favorecida por seu giddu metido a moderninho! – lembrou-se do sogro – Não fosse pelo pulso firme que mantive em cima de você, só Deus sabe o que poderia ter acontecido!
“Acontecido da sua filha ter sido feliz? Imagine, que vergonha!” – pensou com ironia mas não teve coragem de falar
--Entenda uma coisa, Sayruci. – aproximou-se da filha – Você é uma mulher casada, mãe e não há espaço pra uma adolescência tardia! – segurou o braço dela – Essa história de divórcio é impensável e não se atreva a tocar nesse assunto com seu pai! – ameaçou
Desvencilhou-se da mãe. – Se com a senhora não posso contar, imagine com ele! – respondeu desgostosa
--Pra essas coisas certamente não pode! – reparava na filha – E vê se aprende a ser inteligente! Mantenha seu marido satisfeito em sociedade e na cama e ele não erguerá um dedo contra você! – aconselhou – Eu sempre soube levar a coisa com seu pai e ele faz exatamente tudo que eu quero.
--É muito fácil falar... – discordava do que ouvia
--Essa conversa acaba aqui! – interrompeu a fala da outra – Agora tenho que sair. Hoje é dia de evento no Tigers Club e vamos passar a tarde discutindo a campanha filantrópica desse ano. Também vamos nos posicionar sobre essa história de impeachment. Não tenho mais tempo a perder com suas bobagens. – preparava-se para sair
Ficou muito triste com o que ouviu. -- Tudo na nossa vida é um fingimento! – acusou mal contendo as lágrimas – Fingimos que somos uma família unida e meus irmãos nem vivem aqui pra ficar longe do controle de vocês! – chorava – Fingimos que somos bem casados pra poder pousar bonito nas colunas sociais! – Zorayde virou-se de frente para ela -- E vocês fingem que fazem caridade mas têm nojo das pessoas pobres! Sequer enxergam os empregados como sendo gente! – continuava acusando – Eu nunca me identifiquei com isso!
Respirou fundo e olhou calmamente para a filha. – Eu vou ignorar o que você disse porque acredito que seu último desentendimento com Samir tenha te deixado abalada. – ajeitou os cabelos – Mas repita isso, assim como continue insistindo com essa história de divórcio, e terei de providenciar um tratamento psiquiátrico. – ameaçou – Afinal de contas, foi exatamente o que doutor Salim recomendou há 23 anos atrás, você lembra? – fez um gesto de cabeça e se retirou
Sayruci ficou chorando em silêncio observando a mãe partir.
***
--É aqui! – Vera confirmava o endereço onde faria sua primeira entrega – E seja lá o que Deus quiser. – estacionou o veículo, pegou a encomenda no baú da moto e tocou o interfone do prédio
--Oi! – uma voz de mulher respondeu
--Ah... – não sabia o que dizer – É... entregadora!
--Entrega de que? – perguntou
--Uai... – tinha vergonha de dizer – Choco Erótico Que Delícia. – respondeu em voz baixa
--É o que?? – não entendeu
--Diacho de mulher surda. – olhava de um lado a outro para ver se alguém prestava atenção -- Choco Erótico Que Delícia! – falou um pouco mais alto
--Ah, tá! Vou descer.
--Ok. – ficou aguardando
Rapidamente uma mulher jovem abre a porta de vidro e desce os degraus de acesso para a portaria do prédio. – Trouxe tudo? – perguntou ao abrir a porta
“Moça bonita!” – pensou -- Trouxe... eu acho. – não sabia – “Não sou eu que separo os trem.” – pensou
A cliente pegou o embrulho e apalpou. – Deve estar tudo aqui... ou não! – pensava em voz alta – Péra aí que eu vou ver! – começou a abrir o embrulho
--A senhora vai abrir isso aqui na portaria?! – perguntou apavorada
--Claro, né? Como é que eu vou saber se veio tudo ou não? – respondeu como quem diz o óbvio
“Misericórdia!” – olhava para todos os lados – “Que não apareça ninguém aqui!” – desejou desesperada
--Deixa eu ver! – começava a tirar os chocolates do plástico bolha – Esse aqui deve ser... meu, que puta caralhão, né? – colocou nas mãos de Vera
Arregalou os olhos. “Ave Maria!”
--Aqui deve ser a bucet*. – reparava – Mas tá inchada! Ou será o cu? Não, né o cu não. – olhava em todos ângulos
“E a mulher tem uma boca suja que chega dói!” – continuava reparando nas redondezas – Eita, boi! -- resmungou
--Ah, os peitinhos! – reconheceu – Eu pedi três? – perguntou – Ah, pedi!
--Já conferiu os trem tudo? – perguntou ansiosa – Olha, senhora, eu tenho mais encomenda pra entregar hoje. – devolveu o p*nis de chocolate à cliente – Tome seu negócio aí, faz favor.
--Tá. – recebeu de volta – Tá tudo certinho. – sorriu
--Boa tarde. – correu para a moto e se arrancou – “Se toda entrega for assim vou começar a vir trabalhar de máscara!” – pensava – “Vergonha, Deus me defenda!”
Já no segundo endereço, tocou o interfone e se anunciou para o porteiro. Segundos depois a portaria se abre e ela entra. – Boa tarde. – cumprimentou educadamente – Deixo a encomenda com o senhor?
--Comigo não, Deus me livre! – negou de imediato – Esse morador do 509 só me arruma treta! – fez cara feia – A senhora é que vai subir pra levar lá pra ele.
--Uai, e ele não pode descer? – não entendia
--Quer não. – apontou para o elevador – Sobe pelo de serviço.
--Então tá então. Fazer o que? – aceitou contrariada
Chegando no andar reparou que a porta do 509 estava aberta.
--Eu hein. – bateu no portal – Entrega chocolate! -- anunciou
--Entra! – gritou lá de dentro
--Ah, mas eu vou entrar é nada! – resmungou consigo mesma – Anêim! – bateu de novo
--Não mandei entrar, mina? – insistiu – Não tá escutando? – escancarou a porta – Era pra entrar! – assustou-se ao olhar para Vera – Puta merd*! – reparou de cima a baixo – Tava crente que era uma mignhonzinha! – reclamou decepcionado
Vera se surpreendeu ao dar de cara com um homem baixinho, magro e muito peludo completamente nu. – O senhor tava procurando as roupa? Enquanto não acha, vai se divertindo aí. -- entregou o chocolate – “Ave Maria, que coisinha mais miserável pra se ver a uma hora dessas!” – pensou contrariada – Inté! – despediu-se ao se afastar
--Ei, pelo menos desembrulha aqui comigo! – pediu falando em voz alta – “Não gosto de mulher grandona mas, não tem tu vai tu mesmo...” – pensou
Fingiu que não ouviu e desceu pela escada.
***
--Nossa, que dia! – Vera entrava em casa cansada e arremessando os sapatos – Trem mais esquisito isso de entregar chocolate pornô. – colocou um embrulho sobre a mesinha – Depois tem que falar com Socorro que esse aqui foi trote. – tirou o colete – Mas o pior é que o povo compra mesmo! – achava estranho – Tomar um banho e ler meu conto! – planejou animada
BÊÊÊMMM. O som da campainha chama sua atenção.
--Já vou. – foi ver quem era – Mal cheguei... – olhou pelo olho mágico – Ai, não... – resmungou antes de abrir a porta – Pois não? -- perguntou educada
--Vera, você tem que fazer alguma coisa! – Rosana entrava como um foguete – Eu tô muito precisada de uma ajuda! – parou no meio da sala com as mãos na cintura – Já não aguento mais conviver com Anderson debaixo do mesmo teto! -- jogou-se no sofá -- E você é a síndica do prédio, tem a função de tratar nossas demandas! – cruzou os braços e as pernas
“Maldita hora que o desemprego me fez aceitar ser síndica só pra não ter que pagar condomínio!” – pensou ao suspirar – Desculpe, mas eu não tenho o que fazer! – sentou-se do lado dela – Já experimentou conversar com seu marido e dizer tudo que sente? – olhava para a outra – “Mas ela tem uns coxão, Ave Maria!” – pensou ao dar uma olhada discreta
--Anderson é um marido poia! Chega-se a um ponto que não tem mais conversa, imagina! – virou-se de frente para a síndica – Ele é devagar quase parando pra tudo! – reclamava – Acredita que saí pra trabalhar ouvindo ele me prometer que iria trocar as lâmpadas queimadas da luminária da sala e quando chego agora em casa tá tudo escuro? Trocou nada! – fez cara feia – Comprei as lâmpadas novas e ele nem pegou! – gesticulava – Se fosse você, não pegava?
--Te pegava, com toda certeza... – respondeu em voz baixa reparando no decote da outra
--O que? – não entendeu
--É, olha... – ajeitou-se no sofá – E o que eu tenho com isso, hein?
--Tem tudo, você é a síndica! E isso que eu contei é o mais simples de tudo! – continuava falando – Eu tenho sempre que resolver tudo sozinha porque ele não se mexe pra nada, não chega junto! – chegou mais perto – Acredita que ele nem sequer me procura mais? – olhava nos olhos na outra
--Ô, Rosana... – levantou-se perturbada -- mas onde é que síndica entra nessas conversa? – não sabia o que dizer – Você quer que eu faça o que? – abriu os braços
--A síndica é você, meu bem! Se eu soubesse o que fazer não vinha aqui! – respondeu desaforada
“Esse povo tem noção de nada, não.” – pensou revirando os olhos
BÊÊÊMMM. Novamente a campainha perturba.
--Diga se não é uma praga dos infernos? – reclamou antes de olhar pelo olho mágico – Ah, completou! – abriu a porta – Boa noite. – cumprimentou
--Eu sabia que você devia estar aqui! – Anderson também entrou como um foguete – Tudo isso era por causa das lâmpadas? – reclamava olhando para a mulher – Pronto, troquei! Satisfeita agora? Parou o show? – provocou
--As lâmpadas eram a ponta do iceberg, Anderson! – levantou-se desaforada – Eu tava falando aqui pra Vera que você nem me procura mais! – gesticulou
--Eu posso explicar! – virou-se de frente para a síndica – É que tô passando por uma fase de baixa...
--De muito baixa mesmo, porque levantar que é bom: – ergueu a mão – Nada! -- desmunhecou
--E tem base isso? – revirou os olhos – “Nem casada sou e virei terapeuta de casal!” -- pensou
--Vera, eu tento de tudo: depilação, passar creminho, lingerie vermelha e ele não faz nada! Só vive de camiseta e samba canção deitado que nem um porco no sofá vendo televisão! – acusou
--Não é bem assim, Vera, eu faço um monte de coisas e só deito no sofá à noitinha pra ver TV. – desmentia – Enquanto isso ela fica nas redes sociais teclando com sei lá quem!
--Se você se interessasse por alguma coisa saberia! – Rosana rebateu
--Vera, toda relação vai perdendo o sabor, isso é natural, você não acha? – o homem perguntou
--Natural?? Vera, posso com isso?
--Eu já sei! – a síndica foi até o pacote que deixou sobre a mesa – Tá faltando colocar uma novidade nesse casamento aí! – entregou o embrulho nas mãos da mulher – Vocês precisam de uma coisa... gostosa! – segurou o homem pelo pulso e o aproximou da esposa – Vão lá pra casa de vocês e dá uma olhada nesse trem que eu dei. – foi conduzindo os dois até a porta – A primeira prova é cortesia e as demais, se quiserem, vão comprar comigo. – abriu a porta
--Isso é o que? – os dois perguntaram juntos
--Chocolate erótico! – respondeu disfarçando a vergonha – Em casa vocês abrem o pacote, olham, provam e... – empurrou os dois para fora – se divertem.
--Gente, chocolate erótico? – olhou sorridente para o marido
--Bora ver? – o homem propôs assanhado
--Tchau! – Vera fechou a porta enquanto os dois correram para o elevador – Até que o sujeito que deu o trote da encomenda falsa me quebrou um galho. – foi andando para o banheiro – Vou pagar por esse prejuízo mas valeu a pena!
***
--Então quer dizer que a senhora só vem trabalhar na semana que vem? – Rita perguntava ao telefone – Vixe, que esse gato rendeu! – acabou achando graça
--Quase morri, tá pensando o que? – gesticulava – Aproveitei que a madame agora vai com a minha cara e deixei Duarte de saia justa! Ele não teve escolha, não sabe?
--Ai, ai, mulher... só você mesmo! – riu – Mas ói, se anima demais não. Dona Martina vai simbora no domingo. Tua maré mansa vai se acabar!
Abigail conversava com Rita usando o telefone do boteco. Havia contado uma história triste para convencer o dono do estabelecimento e deu certo.
--Mas então... – reparava se alguém prestava atenção na conversa – Mulher, mudando de assunto, quando é que sai o resultado daquele sorteio dos cinquenta mil da Tupãwar? – perguntou curiosa – Cheguei a sonhar com isso, visse?
--Então desiste porque já saiu e quem ganhou foi a gerente do Via Direta. – informou
--Oxe, pia pra isso! Safadeza da porr*! – reclamou
--É, amiga... Eu que nunca fui sorteada nem pra ganhar um alfinete tava com esperança nenhuma.
--Pois é, eu tive... – suspirou – Inda mais que tô aproveitando as folga pra dar uma geral na casa e achei nos guardado de mãínha que ficaram comigo uma carta de uma tia avó que mora lá em São Paulo, não sabe? Quer dizer, morava. Sei nem se tá viva. – contou – Se tivesse ganho o dinheiro ia pra lá visitar ela.
--E tu conhece ela? Ia visitar pra que? Era capaz dela ter até medo!
--Como pra que? Parente, né? Tem que conhecer. – mexia no fio do telefone – “E ela bem que podia me dar um pouso pra eu poder ir pro Congresso lésbico.” – pensou
--Você pensa em ir simbora pra São Paulo? – perguntou curiosa – A vida lá é muito cara e não tá bom de arrumar emprego, não! – argumentava -- Se é pra passar aperto por lá, passa logo aqui, que tem menos gente, muito menos engarrafamento e é a nossa terra! – pausou brevemente – Sem contar que o custo de vida aqui é bem mais baixo!
--Penso nisso não... – desconversou – “Mas se pudesse visitar a véia, bem que eu ia! Aqui em Natal minha carreira de autora não vai decolar!” – pensava – “É em São Paulo que o burbunho lésbico acontece!” – considerou – “E quem sabe até eu não poderia conhecer pessoalmente a poderosa da Paty Golezzo? Uma mulher da porr* que obedece nada e nem ninguém!” -- invejava
***
--Amiga, fala sério, não dá pra deixar tudo pra cima da hora! -- Patrícia conversava ao telefone – Quando novembro chegar, têm que restar só uns ajustes finos pra fazer e olhe lá! O grosso das atividades têm que safar por agora, até pra dar tempo de receber uns orçamentos legais e gastar o mínimo possível nos preparativos do Congresso.
--Paty, concordo contigo, mas o difícil é convencer as outras que não estão com a menor pressa! – Diana respondeu – Mas vamos fazendo pressão que vai fluir.
--Esse Congresso tem que ser foda, cara! E a publicidade em cima tem que fazer de tudo pra bombar! – comentava animada – Eu vou fazer minha parte, super divulgar, e botar pilha nas autoras mais consagradas, nas mais divas, nas mais pops pra que geral queira dar as caras por lá e a mulherada toda queira se cadastrar e participar da zorra! – esticou as pernas por cima da mesa e cruzou os pés
–Hoje mesmo tô mandando convite pras Dez Mais! – Diana informou – Pra elas vamos fazer um esquema assim, do tipo banca de autógrafos, exposição de livros, banners e coisas do gênero. – contava os planos – Pras outras autoras que se animarem a gente negocia como vai ser. – lembrou de um detalhe – Ah, também tô mandando um convite pras autoras revelação, pra ver se estimula as novatas, sabe qual é? Também vou atrás de uma galerinha boa que eu conheço pra encomendar umas artes bem fodásticas pro evento.
--Tô pensando aqui em fazer uma chamada de vídeo e lançar no SeuTubo. Aí vocês podem colocar também no meio da publicidade e no site do evento. – passou a mão nos cabelos – E falando nisso, quem tá cuidando do site do evento?
--Cara, isso aí tá a maior bola dividida! – reclamou – Vou acabar dando uma chamada na Presidente da Academia pra ver se ela se manca, porque, vou te contar! Puta que pariu!
--Calma, Diana, não vai criar confusão logo agora! – advertiu – Carnaval vem aí, não é? As cabeças da Academia vão vir tudo pra cá pro Rio, não vão? Então, a gente pega elas de jeito entre uma serpentina e outra e enquadra! – riu brevemente
--Pegar a Presidente de jeito eu não tava a fim não, mas a vice... – respondeu com duplo sentido
--Ela é gata, né? – concordou assanhada
--DONA PATRÍCIA!! – a gerente entrava na sala aos berros
--AH! – deu um grito e caiu da cadeira – “Puta merd*, me pegou no flagra!” – pensou ao tentar se recompor
“Ih! Deu ruim!” – do outro lado da linha Diana ouviu o barulho e desligou o telefone
–Posso saber o que é que é isso?? – cruzou os braços de cara feita – Você sentada na minha cadeira, usando meu telefone e com os pés em cima da minha mesa? – queria explicações
--Claro, eu posso explicar tudo! – levantou-se e colocou o telefone no gancho novamente – É que eu precisava resolver uns problemas e meu celular tava sem crédito; não que eu não vá comprar, eu vou, mas é que não deu tempo e eu ainda não recebi pagamento esse mês e aqui tem mais privacidade pra conversar e eu... – falava tudo ao mesmo tempo
--MINHA sala é MINHA! – aproximou-se da outra – Não é lugar pra VOCÊ vir conversar! – olhava nos olhos – E sim, seu pagamento está atrasado e depois dessa, a senhora será descontada em valor igual ao da ligação que acaba de fazer. – informou
--Mas era pro Rio mesmo... – afastou-se da chefe e parou diante da porta
--Pode ser até pra sala daqui do lado, mas da próxima vez que te pegar aqui, de papo fiado, é justa causa, entendeu? – ameaçou
Balançou a cabeça sem dizer coisa alguma.
--Agora trate de montar os demonstrativos de preço pra gente poder concorrer na licitação da Prefeitura e prepare a planilha de custos! – ordenou ao se sentar na cadeira – Você ainda tem que concluir a prestação de contas do contrato com a concessionária e dar baixa naquelas notas fiscais do material que chegou anteontem. – falava impaciente – Tá esperando o que, hein? – apressou a outra – É pra hoje!
--Nada! – preparou-se para voltar ao trabalho – “Ela não dá um refresco!” – pensou contrariada
--DONA PATRÍCIA! – chamou mais uma vez
--Senhora? – voltou para a porta da sala da chefe
--Aproveite e me traga um café longo. – pediu – Temos muito trabalho e um café é bom pra nos manter ligadas!
--Tá. – respondeu disfarçando a chateação – Vou pegar. – dirigiu-se ao refeitório – “E mais essa! Virei copeira da Joelma!” – pensou revirando os olhos
--Anda logo! – a mulher gritou novamente – CORRE!
--Tô correndo! – apertou os botões da máquina de café – Merda! – xingou baixinho
***
Sayruci lia os e-mails que recebia como a autora Khaalii. Ao ver que a Academia Lésbica havia lhe mandado um convite, clicou imediatamente por curiosidade e começou a ler. “Meu Deus, elas me convidam pra um congresso em São Paulo!” – pensava impressionada – “Querem fazer tanta coisa, nossa! Vai ser em meados de novembro.” – suspirou – “Quem dera que eu tivesse coragem de ir...” – pensou nas possibilidades – “Sequer viajo sozinha e nem teria coragem de chegar lá e me revelar como a autora Khaalii.” – sorriu – “Mas o que importa é que lembraram de mim! Vou escrever agradecendo.” – começou a digitar
--Até quando Latifah, até quando?? – Samir perguntava furioso – Você quer passar o resto da vida pulando de festa em festa? Daqui a pouco vai ficar com má fama e aí ninguém mais vai querer se casar com você!
--Eu só tenho vinte anos, papys! Não tô pensando em casar por agora! – respondeu com decisão
“Mas o que é isso?” – Sayruci pensou sem entender – “Que briga é essa lá embaixo?” – fechou o notebook e decidiu ir ver o que acontecia
--Sua mãe se casou com a sua idade! – retrucou de imediato
--Papys, conecta com a realidade? Não sou a mamys e hoje a vida é outra! – rebateu – Aliás, na época de vocês, a coisa também não era mais como no tempo do império só que ninguém avisou ao clã! – falou com ironia
--Veja lá como fala comigo, veja lá! – repreendeu de cara feia
Sayruci descia as escadas prestando atenção ao que diziam.
--Os Nahim estão mais que dispostos em fazer o seu casamento com Ihab! – Samir insistia -- Esse convite pra irmos no aniversário da sobrinha deles não é mais que um novo pretexto pra juntar vocês dois novamente! – olhava para a filha – E você não vai me fazer a vergonha de não aparecer lá com sua mãe e eu!
“Ai, não, outro evento chato com a família Nahim!” – Sayruci pensou contrariada ao aparecer na sala
--E eu não vou mesmo! – a jovem se recusou – Não sei se já percebeu, mas nem eu suporto Ihab e nem ele me suporta! – dizia ao pai – Não vai rolar casamento, papys, se situa!
--Ah, que bom que a madame apareceu! – Samir comentou irônico ao ver a esposa – Sua filha aqui, dizendo que não suporta Ihab e por isso não vai aceitar o convite dos Nahim!
--E você espera que eu faça o que? – perguntou olhando para ambos – Latifah não é mais criança, não posso levá-la arrastada. – pausou brevemente – Aliás, nem quando ela era nunca fiz isso.
Samir riu revoltado.
--E de mais a mais, fiquem sabendo que da fruta que eu gosto, Ihab come até o caroço! – pôs as mãos na cintura – Ch*pa, by the way! – fez um gesto afetado
Os pais levaram um susto ao ouvir.
--Latifah?? – Samir arregalou os olhos – Esses são modos de falar com seus pais? – cruzou os braços – E quem te disse isso? Você não pode sair por aí caluniando rapaz de família! Ainda mais de uma família tão tradicional quanto a Nahim!
--Por que diz isso? – a mãe queria saber – De fato não se deve ficar falando essas coisas por aí, minha filha!
--Mas eu não tô falando por aí, tô falando pra vocês. Especialmente pro papys cair na real. – olhava para o homem – Lembrem-se que eu conheço um monte de gente, tenho milhares de seguidores e eventualmente sei de tudo que rola por aqui e nas redondezas. – falou orgulhosa de si mesma – Conheci simplesmente o namorado de Ihab numa festa alucinante num hotel-cassino em Pedro Juan Caballero. E através dele fiquei sabendo até do apelidinho do rapaz com quem você quer tanto que eu case: Rabinho! – riu brevemente
--Você foi numa festa num cassino paraguaio?? – a mãe ficou pasma – Quando foi isso?? – queria saber – “Ela sempre me surpreende!” – pensou contrariada
Samir ignorou esta parte da história e foi direto ao assunto: -- E como você pode acreditar numa história dessas? – não aceitava – Ihab é um rapaz estudioso, se destaca, e é normal que desperte inveja dos outros. Ele está pra ir estudar em Harvard! – considerou -- Esse tal que se diz... namorado... – falou a palavra com desprezo – se fosse mesmo não iria entregar o outro, você não acha? – prestava atenção nas reações da filha
--Dor de cotovelo, papys! – respondeu de pronto – O boyzinho tava se rasgando de ciúmes do Bahar. – andou um pouco pela sala -- Parece que desde que ele chegou de Oxford, nosso querido Rabinho só vive lá, atrás do amigo de infância, matando as saudades. – falava com ironia – Com isso, rolou um ciúme, daí. – passou a mão nos cabelos
--E por que esse tal namorado de Ihab iria contar essas coisas e se abrir justamente com você? – Sayruci queria entender a história
--Ah... – andou um pouco mais pela sala – Digamos que... – enrolou uma mecha de cabelo nos dedos – rolou uma amizade... – pensava no lance
“--Olha, mina, você é muito gata mas eu sou gay... – o jovem falava como se estivesse com medo – E tenho namorado... – afastava-se da moça
--Tem? – segurou a gola da camisa dele – Mas eu disse que era ciumenta? – sorriu sensualmente
--Ah... – achou graça e desviou o olhar
--Cadê ele que não tá aqui com você? – deu uma volta ao redor do outro – Se fosse eu... – aproximou os lábios do ouvido dele – Não te deixava aqui sozinho... – sussurrou
--Ah, ele... – desvencilhou-se novamente – Ele tem ido muito visitar um amigo de infância. Parece que o boyzinho chegou de Oxford há pouco tempo e... sabe como é. – justificou sem muita segurança
--Oi? – achou graça – Seu namorado é Ihabi Nahim? – perguntou surpreendida
--Você conhece o Rabinho? – perguntou igualmente surpreso – Ah, sim, você também é de Foz. – lembrou
--Rabinho? – riu brevemente – Que apelido... sugestivo. – não deixava de jogar um charme – Tá, eu conheço a figura. – deslizou um dedo pelo rosto do jovem – E por isso mesmo acho que ele não merece essa fidelidade toda! – olhava nos olhos
Ficou desconfiado com o que ouviu. – Você quer dizer que ele me trai? – ficou tenso – E com Bahar?
--Sinceramente? – puxou-o para junto de si pela presilha da calça – Se ele fica lá com o amiguinho de infância e tá nem aí pra você, vamos parar de perder tempo pensando nele? – falava sedutoramente – Já saquei que você não é muito das mulheres, mas sempre é bom fazer umas loucuras de vez em quando, não acha? – mordeu o lábio inferior do outro – E esse lugar aqui é loko total! – segurou o rosto do jovem e o beijou
Sem pensar em mais nada, o homem deixou rolar.”
--Sérgio, o nome dele. Do namorado. – Latifah comentou – O que posso dizer pra vocês é que Rabinho tem bom gosto. – sorriu – “E mais um par de chifrinhos que eu fiz questão de meter naquela testa!” – pensou controlando o riso
--Não pode ser... – Samir estava decepcionado
--Se pode! – insistiu – E se quer saber, Sérgio me mostrou um monte de fotos dos dois juntinhos passeando por vários lugares por aí. O celular tava cheio! – fez um gesto afetado – “Foi a única parte chata! Depois do sex* tão bom, ficar de mãezona consolando o bofe em sua dor de cotovelo por Rabinho!” – lembrava-se do lance – Bem, -- olhou para o relógio – tenho que começar uma gravação pro meu canal daqui a 15 minutinhos! – seguiu em direção a escada – Hoje é dia de falar de cabelos e eu prometi trazer um monte de tendências e novidades. – olhou brevemente para os pais – O resumo da ópera é que eu não vou na tal festa dos Nahim e não quero saber do Rabinho pra nada! – soprou um beijinho – Kisses, pessoas! – subiu para o quarto
--E nós? – Sayruci perguntou ainda em choque – Vamos na tal festa? – olhava para o marido
--Não, né? Depois dessa! – esfregou as mãos no rosto – Quem diria, um partido tão bom... e gay! – balançou a cabeça contrariado – Depois você inventa uma desculpa e diz pra Salma que a gente não pode ir. De hoje em diante quero distância dos Nahim! – decidiu – Não acredito que eles não saibam da safadeza do filho e não admito que usem minha filha como escudo pra esconder a vergonha de ter um filho gay! – foi andando até as escadas – Deixe passar um pouco de tempo e daí você fala com Salma. – olhou para a esposa
--Vergonha de ter um filho gay... – não concordou com o que ouviu – Não fale assim! E eu nem sabia desse convite. Foi você quem o recebeu. – aproximou-se dele – E aí sou eu quem vai despachar os Nahim? – não gostava da ideia
Fez um bico de contrariedade. -- Não precisa dar o primeiro passo. Certamente Salma vai te procurar! – começou a subir os degraus – Aí você se vira e despacha. Toda vez que Rachid me ligar de agora em diante dou um jeito de não atender. – pausou brevemente – Nunca mais quero ir em nada dos Nahim! Depois do banho ligo pra minha mãe e vou contar tudo pra ela! Também não a quero por lá. Papai já não dava confiança mesmo...
Sayruci ficou olhando o homem subir as escadas e nada respondeu. “Pobre Ihab.” – pensou – “Mais um, que assim como eu, ficará trancado no armário por muito tempo...”
Fim do capítulo
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Minh@linda!
Em: 15/03/2025
Já gostei dessa vera!
As Caipiras são gente boa, uai!
Sayruci, corre que sua mulher chegou!!! Ou é Abigail?!
Eu falo sozinha, também. E dou risada sozinha na rua quando lembro de algo engraçado. Mas aí faço careta pra disfarçar o riso, pro povo não achar que sou maluca rs.
Vera tem uma postura correta.
Fazer o certo é sempre a melhor opção, mesmo aparecendo pessoas pra te dizer o contrário.
Não há nada melhor do que dormir com a consciência tranquila.
Sayruci escreve sobre ela mesma e Vera é sua leitora diária. Isso significa que elas estão conectadas, mesmo separadas a muito tempo.
Não deve ser fácil pra Sayruci não ser ela mesma e, sim ser, o que os outros esperam. Não vejo a hora dela liberar tudo que está represado.
O mundo tá se modernizando e a gente tem que ir com ele, senão fica pra trás. Porém, é cada vez mais uma modernidade que nos afastam. Eu tenho minhas dúvidas se estamos evoluindo ou adoecendo.
Chocolate, com certeza, nunca sai de moda! Erótico? Boto fé que vai! Tô me acabando de rir com essas duas rsrs
Abigail ficou destruída no embate com o gato de topete. CAT é pouco! Vai precisar de uma vacina antipossessão animalesca. Aquele bicho não estava sozinho, não. O bicho cismou com ela. Espero que ele seja vacinado. Enraivado, ele já é kkkk.
Que papo brabo esse da mãe de Sayruci!! Prefere ver a filha infeliz e continuar vivendo de aparência. Olhando por esse lado, é melhor ser pobre.
Choco Erótico que Delícia!!
Kkkkkkk não aguento com isso, não.
Essa vida de entregadora não tá fácil kkkk
Não é vergonhoso, nem decepcionante ter um filho gay.
Se as pessoas não se preocupassem tanto com quem as outras transam ou se relacionam, a vida seria mais fácil pra muita gente.
Eu não tenho a necessidade de falar pras pessoas que eu sou lésbica. Assim como nenhum hétero sai falando que é hétero. Mas, se alguém se afastar de mim por ser lésbica, darei graças a Deus! Já foi tarde kkkk
Como falam por aí: "Não é sobre você, é sobre ela! " ( pessoa ) Cada um que cuide dos seus preconceitos, uai!
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PaudaFome
Em: 16/06/2024
Adorei a chegada da Vera com seus chocolates e da Paty! Coitada da Abigail achando que a Paty tem poder enquanto ela sacaneia o Duarte Paty morre de medo da chefinha kkkkk essa família da Sayruci é um horror mas morri com Latifah e o rabinho kkkkk
Solitudine
Em: 16/06/2024
Autora da história
Olá querida!
Que bom que as novas personagens também te conquistaram!
Fico feliz que essa turminha esteja te divertindo. Continue aqui.
Beijos,
Sol
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jake
Em: 08/02/2024
Olá Sol adorei a Vera melhor ser demitida que distorcer os fatos.Esse Marcão hein aff puxa saco fofoqueiro.Rararara imaginei a cara da Vera vendendo chocolate erótico com direito a leite condensado rsrsrs essa prima tem cada ideia...Patrícia lendo Lettera na hora do trabalho rsrsr tipo logo com essa gerente chata pra burro ...aff.Gostei da Latifah além de enfrentar o pai ainda entregou o Rabinho rsrsrs....Esse Samir que cara chato,machista preconceituoso poderia mandar ele pra faixa de gazarsrsr
Solitudine
Em: 08/02/2024
Autora da história
Olá querida,
Vera é uma caipira da melhor qualidade. rs Mas ela é tímida e morre de vergonha desse trem de chocolate erótico.
Patrícia é outra figurinha e você ainda vai se divertir com ela, creio eu.
Latifah também vai aprontar muito e você verá como. Samir... bem, não vou adiantar. Deixar você descobrir e me contar. rs
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 21/03/2023
Adorei conhecer Vera e Paty e tô louca pelo congresso!! Essa história tem seus dramas mas a gente ri muito!!!
Solitudine
Em: 26/03/2023
Autora da história
kkkk Que bom que você tem rido muito!
Essa mulherada ainda vai aprontar bastante! Continue lendo! rs
Beijos,
Sol
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Alexape
Em: 15/12/2022
Agora são as leitoras, que tudo! Se bem que a Patty tá no meio termo.
Tem tantos lances bons que não se sabe o que comentar. No balanço, eu me divirto!!
Resposta do autor:
Olá querida!
O objetivo desse conto passou muito pela diversão. Mas com alguma reflexão associada, claro. São as pretensões caipirescas! rs
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 10/10/2022
Vera e os chocolates hahahahaha Da onde tu tira tanta ideia? hehe Latifa e a história do Rabinho também fui puta merda hahaha E a Paty? Poderosa no virtual e no real é só correndo por causa da patroa AA tem seus dramas mas é muito comédia Adorando! Amanhã continuo porque vou trampar
Resposta do autor:
Ideias não me faltam! Não necessariamente boas, é claro! kkkk
A proposta de fato era ter mais comédia que drama. Pelo menos creia que tentei! rs
Bom trabalho sempre!
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 10/10/2022
Apresentou as leitoras também gostei. Se bem que a Paty não é só leitora é colunista perigosa hehe Bigail mandou bem pra cima do Duarte hahaha Essa maama da Say meu Deus!!!
Resposta do autor:
As leitoras são importantíssimas! Veja você, por exemplo! Tinha que apresentar! rs
Paty Golezzo é realmente mais que uma leitora. Verdade, perigosa!
Abigail é danada, não te disse?
Zoraide ainda vai te surpreender. Dê o tempo que ela precisa. rs
Beijos,
Sol
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sonhadora
Em: 09/02/2022
Eita que apareceu novas personagens!!!! A Vera é uma gracinha, já gostei dela. Agora, minha filha, quem tem uma mãe como a Say tem não precisa de inimigos mesmo, que horror!!!
Histórias de vida retratadas de maneira fiel e com muita maestria pela escrita maravilhosa que você nos entrega tão lindamente!!! Escrever é um desabafo da alma sensível por emoções guardadas no coração! Abigail sonhando com uma viagem à Sampa e ganhando dias de folga com esperteza de nordestina tinhosa e cheia das manhas...rsrsrs.
Cara Sol, fico muito agradecida pela oportunidade de ver nossa uerida Natal retratada de maneira tão bonita por você!!! Fica aqui meu convite pra quem puder visitar, que venham, não vão se arrepender!!!!
Beijos de luz!!!!
Resposta do autor:
Olá, amiguinha!
Sim, mais personagens para azucrinar o juízo da gente! rs
Fico mais que feliz que você esteja gostando e satisfeita em ver sua cidade na história. Ela ainda vai aparecer mais. Natal, Foz do Iguaçu, Rio e São Paulo; todas no conto. Eis aí cidades que têm uma forte ligação no meu coração caipiresco. Dessa vez Goiás não vai ser relevante, como foi no Tao, mas você verá que esse estado não poderia ficar de fora. Em qual conto ficou mesmo? rs
O Brasil todo me encanta; sua gente, paisagens, montanhas e águas (o rio Tapajós tornou-se meu rio preferido desde que o conheci). Tento passar um pouco desse encantamento no que escrevo, embora reconheça que estou em falta com o norte. Vamos ver se um dia consigo me redimir disso aí. rs
Beijos!
Sol
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Cristina
Em: 08/02/2022
Olá Sol!
Tudo bem?
Estou adorando o conto!
Fico impressionada com sua criatividade e capacidade de criar situações bem peculiares!
Leio contos com temática lésbica desde 2008. Entrei em um site lésbico e lá tinha alguns contos postados. Nesta época eu havia lido o livro Carol de Patricia Highsmith e tinha gostado muito; o encontrei na biblioteca do Sesi, onde trabalhava nesta época. Foi o primeiro livro com temática lésbica que li e não parei mais.
Me divirto lendo os contos, mas não leio todos, confesso!!!
Sempre pensei nos bastidores de um site de contos. A criação da história, a autora, as comentaristas sempre me depertaram a curiosidade. Mas hoje leio pouco. Minha interação é mínima hoje em dia.
Estou adorando esta sua versão!!!
Acho que este Congresso promete!!!
Até o próximo!
Bjs.
Samira!!! Obrigada pelo seu carinho!!! Bjs.
Resposta do autor:
Olá querida!
Tudo e você? Já tem a data da operação marcada? Quero saber para orar por você.
Que bom que está gostando! A criatividade caipiresca tem um que de loucura. É o charme literário! kkkkk Brincadeira.
Leio contos com a temática lésbica desde o ano 2000, ao que me lembre. Fiquei aqui pensando depois de ler seu comentário. Mas você tem bagagem e se ainda assim gosta do que escrevo, só posso ficar lisonjeada e feliz.
Estou gostando de ver quanta gente de olho nesso Congresso. Espero que gostem.
Beijos!
Sol
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Zaha
Em: 08/02/2022
Allah Massa al Khair!! Kifik?
Shukram, Habibti!
Começamos bem esse capítulo, perguntando quando mandaria algum protesto contra o sistema mal administrado.
Essa Vera, eu gostei! Tem personalidade, mantém seus ideais. Mas Vender chocolate erótico é interessante tb rs. Extorquir ela não...rs.
Eu ri com a mulher falando na porta sobre a forma de chocolate kk. Eu mesmo compraria, nada demais....rsrs.
Tö é gostando de ler vários personagens e seus dilemas, principalmente porque elas vão para o grandioso ,né?! Só na realidade distorcida, mas não é isso que a maioria pensa que os fará feliz? Quando chegamos a isso, vemos que não é bem assim, apenas uma distorção do que imaginávamos. Se pensa que com isso a solidão vai passar, não seremos mais rejeitados pq seremos “outro nível”, não seremos criticados...queremos um mundo cor de rosa. A satisfação é difícil de encontrar. Mas logo encontrarao.
Comecei dizendo que era um texto que falava de aparências e de pessoas que queriam fazer sucesso pra serem aceitas ou pensarem que são e achar que a felicidade tá nessas coisas. A solidão ficará pior. Mas vejo tb que é um texto onde as personagens ao longo dos capítulos vão aprender a se descobrirem, a se libertarem das amarras, a começar a SER e n se esconderem em coisas ou fantasias. Aprender a se amarem e não achar que TER vai substituir essa solidão e insatisfação e essa falta de amor. Ah, tb colocar essa felicidade no outro, muitos fazem ou no que o outro diz. Se diz elogios, você tá bem, se diz críticas, você fica mal. Um é feliz consogo mesmo pra depois poder ser com o outro. Não se importar com o que o outro diz de você, pq afinal, a vida é sua, não viver pelo que o outro pensa, no final, você não saberá nem onde começa você e nem onde termina pq o olhar alheio te moldou! Descobrir quem somos é difícil em meio a uma sociedade que nos cobra como devemos ser...triste, mas real!
Estou gostando mt !! Espero que continue nessa linha e n se perca rebendo conselhos como no anterior...
Oxente, veja se pode, esse chefe de Abigail é mt abusivo.
Nota da comentarista: Concordo!
Também acho Abgail boa gente, gosto dela, só fico preocupada quando a realidade bata forte, mas cada um lida de uma forma com suas dificuldades... cabe saber como ela reagirá...
Eu já esperava que a mãe de Suy ia dizer essas coisas, ela mais que ninguém quer manter as aparëcias, nem que para isso a filha tenha que sofrer, super empática ela quando a filha falou do abuso psicológico e físico, típico de colocar a culpa nela. Se ela ficasse calada, fosse submissa nada passaria e o marido faria tudo que ela quisesse. Ele é abusivo e machista pq foi criado assim, mas n justifica! Depois as pessoas se suicidam, não sabem o pq. Ah,mas imagine o escândalo tb, sem sofrimento pela morte, sofrimento pelo que chegou a fazer. Escändalo na fam+ilia.Tudo nesse meio é assim, sujo, fingido. Sempre me perguntei, existe amor? Tão pequeno pode ser que as aparências superam? Sei que há, mas deve tá tao oprimido que n se vë. Ou distorcido, enterrado pelo que lhes foi ensinado?! A tradição, manter certo comportamento, o que vão pensar, isso é o que lhes ensina e alguns podem viver nessa ilusão, outros caem pelo caminho...
Generalizando, melhor um filho morto do que ter que lidar com o olhar alheio.
Suy está em uma situação de vulnerabilidade. E pior que quando estamos nessa situação, não vemos saída, como fazer para se libertar sem ter que cortar laços e perder tudo que tem. Ela tem uma filha, está em estado de vulnerabilidade emocional gigantesco, chantageada por colocarem ela num centro psiquiátrico. A força dessas mulheres é incrível, eu, particularmente não aguentaria, eu tenho grande admiração pela força delas. E espero que Suy receba ajuda para obter meios de sair dessa situação. A qual nos leva em centros de ajuda, projetos que ajudem mulheres como ela, mas é difícil, pq querem, mas tem medo tb, estou louca pra saber o desenrolar , o crescimento de Suy, quem irá conhecer e como sairá disso. Me deixa muito frustrada a opressão, o não poder ser, e não pode fazer algo para mudar a situação .
Se Abgail soubesse que Patty golezzo tá igual ou pior que ela hahahahahah. Todas personagens tao na mesma até agora...
Suy, tem que ir a esse encontro!! É a chance dela de conhecer um novo mundo, inventar uma forma de ir a SP, não sei! Tudo pode mudar, lhe dar uma nova percepção e forca, saber que existem milhões como ela lhe dará os meios necessários para enfrentar..quem sabe role um clima com alguém que desperte a guerreira que existe nela-
Ela tem que conversar com a filha tb. Ajudará mt. Pode ser nova, mas tem uma mente e uma gradeza.Latifah é pra frente e fala engraçado!! Gosto dela. Tem lábia kkk. Mas fala o que vem na cabeça e fala coisas coerentes de certo modo,ainda que mts não vem, mas falta cair na real.
Outro garoto, como muitos, vai casar e vai ter causos por fora pq como é homem, é mais fácil, tem mais “liberdade”,porém sofrerá igual ou pior, mesmo pq os pais esperam muito dele. Mais uma psique quebrada! Espero que a q ele tanto n gosta e vice-versa o ajude...
Beijão
PS: Cadê minhas musiquitas? Rs. Vai ter não????!! Eu gosto...parece que essa estória n pede...
Kum Ma3 Al Haq U Lau Kunt Uahbak
Resposta do autor:
Lailinha!!!
Bela análise do capítulo e das personagens. Eu gosto que você capta as mensagens, como por exemplo, isso da Abigail pensar que Paty Golezzo obedece nada e nem ninguém quando, na verdade, ela vive às voltas com a chefe.
A família de Sayruci em grande maioria é totalmente pela tradição e aparências. E ela, por destoar bastante daqueles valores, sofre muito. Além do fato de ser homossexual, o que para eles é inaceitável. Latifah tem a personalidade mais firme, além de ter sido criada com mais liberdade, o que ajuda muito também. Ser filha de Sayruci é uma coisa ótima, mesmo com um pai tão radical. Porém, ela mesma observou muito bem em uma dada ocasião: "Papys não é nada sem você, mamys!"
Você também está empolgada com o Congresso? Tenha certeza de que o evento promete.
A história tem música e musiqueta. Todos os meus contos têm alguma trilha sonora em algum momento. Aguarde.
Aliás, quando escrevo, sempre imagino as músicas. Às vezes cantadas, outras apenas instrumentais... Enxergos as cenas, ouço as falas. Eu vivo a história realmente e por isso me envolvo tanto (até quando não quero que seja tanto! rs).
Espero que vocês acabem gostando. Ainda teremos muitas pataquadas, momentos tensos, mas com a caipira aqui não tem mistério. Tudo termina bem ao final. Não dá para fazer diferente.
Beijos,
Sol
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Mille
Em: 08/02/2022
Oi autora
Say tem uma família que a prende de qualquer jeito, minha esperança será na doidinha da filha, ou oremos para Samir ter um pequeno infarto kkkk
Chocolate erotico kkkkk e nem fez sucesso e ainda tirou a Vera de um conflito de casal.
Dona Abigail se deu bem, mais Duarte vai fazer ela pagar caro essa despesa toda.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille, tudo bem?
De fato, a família da Sayruci é complexa... Mas como a saúde de Samir tem ido bem, melhor botar fé na Latifah para ver se a coisa vai. rs
Gostou do chocolatinho? Vera morre de vergonha!
Duarte e Abigail estão sempre em pé de guerra, mas no final, ela é mais tinhosa!
Beijos! Quinta tem mais!
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mtereza
Em: 07/02/2022
Amando as novas personagens e a história como um todo pank essa família da Sayruci viu que mãe é essa ,a Abgail como sempre engraçada torcendo para ela arranjar um jeito de ir para esse congresso assim como a Sayruci tomar coragem e ir também vai ser top esse congresso como dizem minhas sobrinhas rsrsr
Resposta do autor:
Olá querida, bom dia?
Gostou de Vera e Patrícia? Mais duas figurinhas para entretê-las. rs
A família da Sayruci é do tipo tradição e status em primeiro lugar. Por isso que ela sofre tanto!
Ih, mas esse congresso ainda vai render muito! Acompanhe aí que você vai ficar surpresa com o que vem. Se será top, não sei, mas com certeza vai dar o que falar.
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 23/03/2025 Autora da história
Olá querida!
Eu sabia que você gostava das caipiras! São tipos mansinhos. Vera é uma boa caipira: honrada, honesta e humilde.
Falo sozinha um tanto que chega dói. Só não faço careta! rs
Sim, Vera e Sayruci estão conectadas pela escrita, pelos sonhos que a autora constrói em suas narrativas. E ambas sonham juntas.
E sim, não ser é a coisa mais difícil numa vida!
Você aí rindo das ratas da caipira, não é? Muito bonito!
Morri de rir com seu comentário sobre o gato! kkk
Não é vergonhoso, nem decepcionante ter um filh@ gay. Um dia, aprenderemos isso enquanto sociedade.
Então quer dizer que você adotou o uai de vez? Muito bom! rs
Beijos,
Sol