Helena não sabia quanto tempo fazia que estava ali deitada, apenas olhando para a mulher adormecida ao seu lado, Mia já havia dormido há um bom tempo e Helena deveria estar fazendo o mesmo, mas não conseguiu. Os pensamentos sobre aquela noite ocupavam demais a sua mente, seu corpo, seu coração e a impediam de simplesmente adormecer. Um sorriso fraco surgiu em seus lábios, não dormir por sentir-se tão apaixonada que chegava a ficar elétrica, não era ruim. A mão esquerda, com muito cuidado, tocou o rosto de Mia, se espalmou na pele suave e deslizou com calma até que seus dedos tocassem o cabelos sedoso e o polegar deslizasse com carinho sobre a pele da bochecha. Estavam extremamente próximas, como sempre ficavam quando dormiam juntas, quase dividindo um travesseiro só, as pernas entrelaçadas embaixo das cobertas.

O coração bateu mais forte dentro do peito quando lembrou do momento em que fizera aquela pergunta a Mia, pergunta que nem pensara antes de falar, simplesmente saiu. Mas a verdade era que chamar Mia por seu nome já não parecia mais adequado, parecia impessoal demais, queria chama-la de amor e de todos os apelidos carinhosos que pudesse imaginar, para declarar, mesmo que minimamente, o quão apaixonada era sempre que tivesse a oportunidade.

— “Helena, eu sou sua, você pode me chamar absolutamente do jeito que você quiser e eu vou retribuir com igual intensidade.” — foram as palavras que Mia disse em resposta a sua pergunta e até o momento, elas não haviam deixado ainda de ecoar em sua mente e em cada centímetro de seu corpo. O que Mia estava fazendo com ela? Aquilo era incrível.

— O que foi? — Mia questionou baixinho repentinamente, quebrando toda a linha de pensamentos de Helena e fazendo os olhos da mexicana se agitarem para focarem-se melhor em Mia que até segundos atrás dormia. — Está tudo bem? — questionou novamente, ainda em tom sonolento, enquanto erguia a mão para tocar a mão de Helena em seu rosto. — Teve um pesadelo?

— Está tudo bem! — Helena se apressou e sorriu fraco com a preocupação da namorada, a puxou para pertinho para que ela se perdesse em seu abraço. — Volta a dormir, eu só estava sonhando acordada. Está tudo bem. — garantiu enquanto a abraçava e dava alguns beijos nos cabelos de Mia, se sentiu um pouco culpada por que sabia que ela havia acordado por sua culpa, mas esse sentimento passou quando Mia não respondeu mais nada, só voltou a adormecer agora envolvida pelos braços de Helena, isso a fez sorrir antes de falar baixinho contra os cabelos de Mia. — Dorme bem, meu amor.

***

— Meu Deus, que horas você acordou? — Helena questionou em tom baixo, estava sentada no meio da cama, ainda sonolenta, coçava o olho esquerdo devagar, o cenho franzido enquanto olhava para Mia. A morena vestia só um robe azul, que na opinião de Helena a deixava extremamente sexy, tinha um sorriso largo nos lábios e estava sentada em uma poltrona no quarto, de frente para o notebook aberto.

— Já faz um tempo, não quis te acordar por que acho que você demorou pra dormir ontem, então te deixei dormir um pouco mais. — se explicou, de fato, acordara bem cedo, fizera sua higiene matinal, tomara um bom banho e passou alguns minutos no computador programando todo o seu dia, sua manhã não, mas a sua tarde seria agitada no trabalho. — O que estava pensando ontem?

— Em você, é claro. — disse o obvio e pendeu o corpo para o lado até cair de volta na cama enquanto bocejava. — Sua cama é tão gostosa, era por isso que não queria me trazer aqui? Por que sabia que eu não iria querer sair da sua cama?

Mia riu enquanto erguia-se da poltrona e caminhava rapidamente para a cama, na ponta dos pés.

— Você sabe que me passou totalmente despercebido o fato de eu nunca ter te trazido aqui, também culpo o fato de eu adorar ir pra sua casa. — explicou-se enquanto ia para cima de Helena e ia dando beijos pelo caminho, beijou o braço, beijou o ombro, beijou o pescoço, beijou o rosto e então encarou a namorada de pertinho. — Mas senti falta da Vadia entre a gente.

— Com certeza não sente falta das mordidas dela. — Helena tinha um sorriso todo derretido após aqueles beijos e ergueu um pouquinho a cabeça para conseguir um selinho. — Vou tomar banho pra irmos.

— Vai... Você sabe que esse café da manhã com ela vai render muito mais do que deveria.

— Eu sei... Conheço bem demais a sua mãe. — comentou baixinho e sorriu com satisfação antes de erguer a cabeça um pouquinho mais uma vez para selar os lábios de Mia.

— Assim eu não vou deixar você sair daqui... — sussurrou contra a boca da namorada.

— Eu adoraria não sair daqui o dia inteiro. — atiçou enquanto roçava os lábios nos de Mia, mas se afastou, voltando a relaxar na cama e olhar para a namorada com um sorriso nos lábios. — Mas eu realmente quero tomar café da manhã com sua mãe.

— Normalmente as namoradas não anseiam tanto assim um café da manhã com a sogra.

— Só que a palavra normal não se encaixa aqui, encaixa? — arqueou uma sobrancelha.

— Nem um pouco e por mais louco que isso seja, eu adoro. Agora vá tomar banho. — deu um novo selinho nos lábios de Helena antes de sair de cima dela.

— Por que não me esperou para eu tomar banho com você? — Helena fez manha enquanto sentava-se na cama mais uma vez.

— Por que isso faria nosso banho demorar mais do que deveria, não que isso seja ruim, mas Mamma toma café da manhã cedo.

— Claro, claro, sogrinha nos espera. — Helena brincou enquanto erguia-se da cama e ia direto para o banheiro.

— Não fale desse jeito perto dela, ela já é louca demais por você.

— É um charme natural que eu tenho. — agora as duas já conversavam de cômodos diferentes, Helena já no banheiro e embaixo do chuveiro e Mia ainda no quarto de frente para o notebook mais uma vez. — Sua família inteira me ama.

— Eu não queria inflar seu ego nesse momento, mas infelizmente devo concordar com você, não há absolutamente um que não tenha gostado de você, tiramos a prova disso no restaurante.

— Eu amo a sua família, faz eu me lembrar da minha às vezes, bagunçados e barulhentos. — a mexicana riu com as próprias palavras.

— Com que frequência você visita a sua família?

— Uma bem baixa por enquanto, ao mesmo tempo que tenho vontade de ir sempre, também não tenho a mínima vontade de ver a minha mãe, então uma coisa acaba anulando a outra.

Mia fechou o notebook devagar enquanto ouvia as palavras de Helena, olhou em direção ao banheiro e ficou em silêncio por alguns segundos antes de comentar:

— Você sabe que um dia vai ter que enfrentar ela não sabe?

— Sei, mas isso não me impede de retardar esse dia o máximo possível, enquanto minhas irmãs e irmãos entenderem isso, vai estar tudo bem. — completou. Mia ainda olhava em silêncio para a porta aberta do banheiro, não concordava muito com aquilo. — E eu sei que você deve estar olhando pra cá agora e pensando alguma coisa sobre não concordar com isso, mas todos nós temos alguma coisa que queremos ignorar até não ser mais possível.

— Ok, você me pegou. — Mia rebateu enquanto erguia-se da cadeira e ia caminhando em direção ao seu closet para começar a se vestir. — Chamei o Fred também, você se importa? — mudou drasticamente de assunto.

— Nem um pouco, é um café da manhã em família afinal. — Helena sorriu com as próprias palavras, estava ansiosa e isso a deixava realmente surpresa, mas ao mesmo tempo também satisfeita por estar se sentindo tão bem com aquilo. Logo desligou o chuveiro e pegou a toalha pendurada próxima ao box e envolveu logo eu corpo com ela antes de ir andando até o balcão da mármore, olhou para o produtos da namorada e sorriu de canto, era tão satisfatório ver a organização dela, por isso mesmo não quis mexer demais e limitou-se a usar apenas o desodorante aerossol antes de finalmente sair do quarto, Mia não estava mais lá e olhou para o notebook fechado. — Estava trabalhando já essa hora da manhã? — questionou enquanto ia até o closet, onde imaginava que Mia estava, porém, assim que chegou na porta parou de uma vez enquanto via o que Mia vestia.

— Não exatamente, só estava programando os compromissos para que tudo dê certo. — explicou de forma um pouco distraída, estava em frente ao grande espelho que tinha dentro do closet, os olhos fixos no próprio reflexo enquanto avaliava a lingerie que tinha comprado no dia anterior. Preta, rendada e pequena demais para uso comum. — Gostou? Comprei ontem, mas não tive tempo de experimentar, adorei como meus peitos ficam nesse sutiã. — falou baixo, o sutiã era de renda transparente e não cobria absolutamente nada.

— Amor... Você tem certeza que meu café da manhã não pode ser você hoje? — questionou em tom baixo enquanto pendia um pouco a cabeça para o lado, claramente apreciando e muito a visão que estava tendo.

— Isso respondeu minha pergunta. — falou mais para sí mesma antes de dar uma pequena risada e olhar para Helena pelo reflexo do espelho. — Eu prometo que uso exclusivamente pra você depois, tenho mais além dessa e todas para você agora, ainda mais com você me chamando de amor.

Helena deu um sorrisinho safado enquanto ia andando em direção a Designer e as mãos logo foram tomando conta da cintura desnuda e a puxando para perto até que seus corpos ficassem colados, olhou para o reflexo delas no espelho e os olhos logo recaíram sobre os seios.

— Céus, eles ficam simplesmente perfeitos. — sussurrou e Mia sorriu de forma larga como resposta, estava claramente totalmente satisfeita com a reação de Helena. — Chega a me dar água na boca...

— Não fala assim... — reclamou em tom baixinho e respirou um pouco fundo enquanto sentia um arrepio no corpo, arrepio esse que a fez desvencilhar-se dos braços de Helena para poder virar-se de frente para ela. — Não imaginei que você iria gostar tanto.

— E tem como não gostar? — questionou enquanto dava um passo a frente só para que Mia ficasse de uma vez contra o espelho, espalmou a mão esquerda ao lado do corpo da namorada e a direita ergueu-se devagar até que seus dedos tocassem o que ela tanto desejava: Os seios de Mia.

— Não faz isso! — Mia pediu enquanto agarrava devagar o pulso de Helena para que ela não continuasse, arqueou uma sobrancelha. — Agora mesmo você estava louca pra tomar café com a minha mãe.

— Eu simplesmente odeio o quão boa você é em resistir sabia? — Helena reclamou e arqueou ambas as sobrancelhas como se claramente acusasse Mia de algo.

— Às vezes é bom, não acha? Vou te deixar com vontade o dia inteiro. — explicou enquanto pendia a cabeça para o lado, os olhos encararam os lábios de Helena e o sorriso safado logo surgiu nos seus. — E a noite ou amanhã quando nos vermos novamente, você vai poder aproveitar melhor, nós vamos na verdade.

— Tão cretina. — reclamou baixinho, mas não podia negar, ela adorava.

***

— Amor. — Helena chamou baixo e desviou o olhar da estrada para encarar a namorada concentrada dirigindo.

— Hm? — questionou de volta.

— Eu estava pensando sobre a exposição do nosso relacionamento, o qual tecnicamente todos já tem conhecimento. — Helena começou enquanto se ajeitava um pouco no banco. — Ainda tem medo do que as pessoas pensam?

— Não exatamente. — Mia falou baixo enquanto deslizava as mãos pelo volante, o trânsito naquele horário era sempre mais agitado com as pessoas saindo para trabalhar. — Mas ontem à noite também me dei conta que nós duas nunca saímos de fato juntas, digo como namoradas, como um encontro, então nunca tive a oportunidade de saber como me sinto.

— Vai mesmo me levar a encontros clichês? — questionou e deu um sorriso bobo com a ideia.

— É claro que eu vou, hoje quando eu tiver um tempo livre eu vou me programar inteira para isso, eu vou adorar te levar a esses lugares bobos, eu sou incrível no mini golfe e no boliche, vou te dar uma surra neles. — deu um sorriso realmente orgulhoso com as próprias palavras.

— Você realmente tem cara de ser uma péssima perdedora. — Helena acusou e Mia riu por alguns segundos.

— Eu sou mimada, não posso fazer nada. — justificou-se como se isso fosse algo extremamente simples e obvio. Mas acabou rindo junto com Helena das próprias palavras. — Ok, chegamos. — falou baixo enquanto já via a casa da mãe e ia reduzindo a velocidade do veículo, ao eu lado Helena começou a ajeitar-se e a tirar o cinto. Logo manobrou o veículo e parou-o bem em frente à garagem. — Pronta?

— E com fome. — concordou e sorriu com as próprias palavras antes de sair do carro, colocou a bolsa sobre o ombro direito e foi dando a volta no carro, Mia há havia saído do mesmo e já oferecia a mão a Helena para que ela pegasse.

— Você já veio aqui alguma vez? — questionou enquanto seus dedos logo se entrelaçavam ao da namorada.

— Não, nunca chegamos a esse ponto. — olhou rapidamente para a própria bolsa quando ouviu o toque de seu celular e soltou a mão de Mia para poder abrir a bolsa e pegar o aparelho. — É a Ally. — avisou e parou de andar. — Entra e eu logo vou atrás de você, ok? Só vou ver se é algo importante.

— Ok! — piscou para Helena antes de continuar andando e já ia puxando do bolso a chave da casa de sua mãe, rapidamente abriu a porta e deixou-a aberta, estava ansiosa para fazer uma surpresa à matriarca da família, tanto que tinha um sorriso nos lábios enquanto saia do corredor de entrada, passaria primeiro na cozinha antes de ir para o quarto para acha-la. — Mamma? — chamou-a, porém, quando os olhos azuis focaram-se em uma imagem que definitivamente não esperava ver, seus olhos arregalaram-se e ambas as mãos tamparam a própria boca como se chamar pela mãe naquele momento tivesse sido algo proibido. A expressão de Vera e do homem de roupão que se afastara dela rápido demais não era muito diferente da de Mia.

— Mia, eu posso explicar! — Vera falou rápido, mas Mia mal prestou atenção quando deu meia volta com muita rapidez e saiu praticamente correndo de lá, o coração batendo tão forte dentro do peito que ela mal lembrava como respirar, nunca, em absolutamente momento algum de sua vida, vira a sua mãe com outro homem além de seu pai, ainda mais dentro da cozinha onde crescera vendo seus pais dançarem enquanto faziam o café da manhã.

Fim do capítulo