Capitulo 37
— É claro, podemos sair pra almoçar hoje, ou vovó vai cozinhar algo gostoso? — questionou enquanto dava passos lentos em direção à casa de Vera, estava prestes a encerrar a ligação para poder entrar e sentia uma certa ansiedade com isso, mesmo que já conhecesse Vera bem mais do que deveria. A boca parou aberta quando estava prestes a se despedir após as palavras de Ally, quando repentinamente viu Mia sair da casa em uma velocidade fora do comum. — Amor? — afastou o telefone do ouvido no momento em que Mia passou direto por ela diretamente para o carro, nesse momento teve absoluta certeza que tinha algo de errado e algo grande.
— Mia! — chamou-a enquanto corria brevemente em sua direção para impedi-la de entrar no carro, primeiro por que não deixaria que ela dirigisse naquela situação, segundo por que precisava primeiro saber o que diabos havia acontecido. — Ei, ei! — puxou a morena pelo braço e segurou a porta do carro já aberta e a empurrou com um pouco de força fechando a porta de uma vez antes que Mia entrasse, só então pode olhar para o rosto da namorada e pode ver os olhos desesperados e cheios de lágrimas, seu coração saltou dentro do peito com a preocupação que a atingiu, nesse momento virou-se ao ouvir a voz de Vera.
— Filha... — Vera parecia afobada enquanto vinha em direção ao casal. — Eu posso explicar.
Helena olhou bem todos os detalhes da cena, o desespero no rosto da mãe, semelhante ao desespero no rosto da filha, a forma exasperada que ela agia, os cabelos que sempre estavam impecáveis agora estavam um pouco desalinhados, o robe de seda que se assemelhava aos que Mia usava... Helena entendeu, tanto entendeu que até olhou para a porta da casa esperando ver mais alguém e por isso mesmo estendeu a mão e fazendo um sinal de pare.
— Agora não, Vera. Agora não. — Helena a parou em tom sério enquanto se colocava em frente à Mia praticamente se tornando um muro de proteção. — Só volte pra dentro, deixe que eu converso com ela primeiro, vamos entrar daqui a pouco, eu prometo.
As duas se encararam por alguns segundos e Vera parecia bem contrariada com o posicionamento de Helena, porém, pareceu entender após alguns segundos e apenas acenou positivamente com a cabeça antes de dar meia volta e só então Helena voltou a virar-se e ficar de frente para a namorada.
— Helena, me deixa ir embora. — Mia pediu e tentou, mais uma vez, abrir a porta do carro. A mão esquerda de Helena espalmou-se na porta e a pressionou para impedir que Mia abrisse. — Helena!!! — o tom choroso fez a mexicana arquear uma sobrancelha, ainda mais quando Mia pareceu simplesmente desistir e levou as mãos ao próprio rosto. — Ela estava aos amassos com um homem na cozinha, eu nem sei quem ele é, Helena! No mesmo lugar que ela sempre ficava com o Pappa, tinha que ser na cozinha? Ela não me contou nada, nada, nada! Me deixa ir embora!
— Amor... — Helena falou baixo, afastou a mão do carro e ergueu a outra para tocar o rosto da namorada com cuidado e fazer ela lhe encarar. — Vera é uma mulher nova e muito bonita, você achou que ela nunca iria arrumar um namorado?
— É claro que não! — exasperou-se como se Helena tivesse dito algo completamente absurdo. — E eu não vou te deixar ir embora, se você for, você vai ignorar a sua própria mãe por dias e você não vai fazer isso.
— Você realmente não tem...
— A moral para falar isso. — Helena completou a frase de Mia, por que tinha absoluta certeza de que ela falaria isso. Logo concordou com um aceno de cabeça, como se concordasse com ela, os dedos secaram algumas lágrimas. — Não tenho, mas tenho a experiência, é horrível e eu não vou permitir que você passe por isso.
Mia fez uma expressão de culpada após aquelas palavras de Helena, não por ela estar certa e sim por ter feito ela falar aquilo. Soltou um suspiro enquanto se rendia e pendia a cabeça e o corpo para frente até abraçar Helena e esconder o rosto no pescoço dela.
— Você sempre pareceu tão liberal com sua mãe, não achei que você iria reagir dessa forma com um namorado. — Helena comentou baixinho e tocou os cabelos da namorada com carinho.
— Eu não me importo que ela namore, nunca me importei apesar de nos primeiros anos parecer algo absurdo. Hoje em dia, sempre pensei que ela merecia novamente alguém pra fazer ela feliz. — explicou em tom baixinho, o que estava deixando Helena um tanto confusa, já que o que ela dizia ia contra a reação que tivera. — Mas ela sempre me prometeu que eu iria ser a primeira pessoa a saber de absolutamente tudo, assim como eu sempre contei tudo a ela. Ela me prometeu! — Mia exasperou-se novamente e se afastou de Helena, precisava gesticular como se precisasse disso para que Helena lhe entendesse. — Então, de repente eu entro lá e ela está aos amassos com um cara que eu nunca vi na vida e nem sabia da existência e na nossa casa!
— Está magoada? — Helena questionou e sorriu de forma terna enquanto enfim entendia toda a reação de Mia e definitivamente achava ela ainda mais mimada do que já era e totalmente apegada à mãe, o que não era ruim, Helena realmente achava fofo.
— Estou irritada. — e também magoada, mas ela não confessou isso, só levou as mãos ao rosto e soltou um suspiro pesado, toda aquela situação era algo tão inesperado que ela realmente nem conseguia pensar direito em tudo, ela só queria ir embora e tentar colocar todos os seus pensamentos no lugar e só então conversar com a mãe sobre aquilo. Realmente, para ela, não parecia nada absurdo a sua mãe com um namorado depois de anos, só parecia absurdo demais ela ter feito tudo isso sem que Mia soubesse, afinal, desde que Mia era pequena, sempre foram confidentes uma da outra e isso era algo a qual Amélia prezava e muito.
— Eu amo como tudo que envolve nós duas é sempre meio fora do comum. — Helena riu com as próprias palavras enquanto segurava a mão de Mia e a puxava, deu alguns passos para trás trazendo junto a namorada até que ela pesasse o corpo e impedisse que Helena a puxasse.
— Eu não vou entrar!
— Você não vai embora, Amélia. Nós vamos entrar e você vai conversar com a sua mãe até que tudo fique bem claro e realmente não adianta debater comigo agora, eu não vou deixar você ir.
Mia prontamente fez uma expressão de choro que fez Helena dar uma pequena risada enquanto a puxava com mais força, mas não para que ela andasse e sim para que apenas se aproximasse, fez com que ela lhe abraçasse pela cintura e logo tocou o rosto da namorada com carinho, encarou os olhos azuis meio avermelhados e acariciou o rosto com todo o carinho antes de falar:
— Eu te conheço, meu amor e você sabe que eu conheço. Eu sei que a partir do momento que você sair daqui, você não terá paz um segundo sequer e muito menos vai conseguir se concentrar totalmente no trabalho e isso vai te deixar no limite e eu realmente não irei permitir que isso aconteça. Por isso você vai entrar e vai conversar com ela e eu prometo que, se eu ver que não dará certo agora, eu vou interferir e vou tirar você de lá o mais rápido possível, confia em mim. — Helena teve que sorrir ao fim de suas palavras, afinal, enquanto Mia concordava com cada palavra dita por Helena, segurava as lágrimas com tanto afinco que parecia uma criança inconformada por não ter algo que tanto queria. — Vamos. — Helena se afastou um pouco e ofereceu a mão a Mia.
— Eu odeio você. — Mia reclamou enquanto segurava a mão de Helena e com a mão livre enxugava o próprio rosto.
Helena riu.
— É, eu sei, foi assim que você se apaixonou por mim. — Helena rebateu quase imediatamente enquanto dava passos calmos em direção à casa de Vera. Assim que chegaram à porta, tiveram que, juntas, dar um passo para o lado quando o homem apressado e de cabeça baixa saía pela porta, Mia não olhou, mas Helena sim. — Ele não parece uma pessoa ruim. — Helena comentou quando ele já se afastava, puxou a mão de Mia com mais firmeza já que sentira a hesitação dela.
— A cadeia está cheia de pessoas que não parecem ruins. — Mia rebateu de forma amarga e isso fez Helena respirar um pouco fundo e parar quando deram alguns passos além da porta. A mexicana soltou a mão de Mia apenas para se aproximar da porta e fechá-la.
— Não seja amarga desse jeito com a sua mãe. — Helena a alertou enquanto a encarava e Mia apenas suspirou antes de acenar com a cabeça e sair andando devagar.
— Mas eu não estou errada. — falou uma última vez enquanto apressava os passos e logo surgia na sala onde Vera andava para lá e para cá, diferente de anteriormente agora ela estava. — Você realmente arrumou um namorado e achou que eu não iria descobrir???
— Não foi isso que eu achei, Amélia, eu iria contar a você. — Vera parecia impaciente, mas nem um pouco surpresa com a acusação da filha.
— Mas não foi isso que você me prometeu! — a voz da designer se alterou um pouco e isso fez Helena respirar fundo, não por incomodo e sim por que nesse momento teve absoluta certeza de que aquela conversa não iria ser uma conversa calma como ela havia imaginado.
Olhou em volta e sentiu-se bem desconfortável, o que diabos fazia naquele momento? Observava a briga? Esperava lá fora? Olhou para trás repentinamente quando ouviu o barulho na porta e notou a figura alta de Fred surgindo calmo e com uma sacola em mãos, ele franziu o cenho assim que ouviu as vozes alteradas e encarou Helena como se tentasse entender.
— Estão brigando novamente? — ele questionou e aquela pergunta fez Helena entender que cenas como aquela parecia ser mais normal do que o imaginado. — Qual o motivo? — ele questionou enquanto se aproximava de Helena e calmamente passava o braço pelos ombros dela e a abraçava suave e brevemente em conjunto com um beijo na cabeça, coisa que finalmente deixou Helena à vontade. Mas o que ela deveria responder a ele? — Bom dia, Helena.
— Bom dia, Fred. — respondeu e deu um sorriso sem mostrar os dentes, se Mia estava reagindo daquele jeito, como Fred reagiria?
Era cômico e caótico, enquanto Mia e Vera discutiam na sala de uma forma que Helena não entendia muito bem e com acusações que não envolviam muito bem o momento, Helena e Fred estavam na entrada da sala como telespectadores de um show.
— Isso não é sobre mim, Vera! — Mia reclamou no mesmo tom alto de antes, as duas estavam um pouco alteradas e pareciam de fato mãe e filha, afinal, eram idênticas naquele momento. Mia respirou fundo e se afastou um pouco, quando virou-se de forma impaciente, viu Fred e isso a fez rolar os olhos como se claramente ele tivesse chegado no momento errado.
— O que está acontecendo? — ele questionou quando enfim notou que havia sido notado.
— Elijah estava aqui. — Vera foi direta e um pouco impaciente.
— Ah! — Fred balançou a cabeça positivamente como se dissesse apena com expressões que agora tudo fazia sentido.
— O que? — Mia questionou, havia parado completamente enquanto encarava o irmão e em seguida olhava para a mãe. — Ele sabia? — o tom de voz indignado ecoou pela sala. — Você sabia?! — Mia questionou diretamente ao irmão dessa vez, mas não esperou resposta, apenas começou a balançar a cabeça de forma negativa com a cabeça enquanto voltava a andar pela sala, como se isso fosse capaz de fazer ela organizar os pensamentos mais rapidamente.
— Vamos fazer o café da manhã? — Fred questionou para Helena, como se toda aquela cena não tivesse lhe afetado em nada.
Já Helena tinha a expressão meio horrorizada, o que diabos ela deveria fazer naquele momento?
Fred riu.
— Não se preocupe, é sempre assim. Vamos. — ele falou enquanto se afastava e Helena automaticamente seguiu o, agora, cunhado. Não queria ficar perto daquilo.
— Como assim é sempre desse jeito? — questionou enquanto adentrava a cozinha, que por sinal, era enorme. Era americana, por isso tinham visão da sala, quase uma plateia para a briga.
— Você já deve ter notado que a Mia é impaciente e às vezes um pouco explosiva, você acha que ela puxou isso de quem? — questionou enquanto deixava a sacola em cima do balcão e ia até a pia enquanto puxava a mangas da camisa para lavar as mãos. — Então todas as brigas delas são assim, uma alfinetando a outra, uma gritando com a outra, jogando coisas no meio que não tem nada a ver com o momento, Mamma vai jogar no meio coisas que aconteceram há anos e Mia vai rebater da mesma forma, é só ignorar, em minutos elas se acalmam. — explicou enquanto enxugava as mãos em um pano pendurado em uma das portas do armário. — Sempre acaba com a Mia de castigo.
— Eu devia imaginar que esse café da manhã não iria ser normal. — Helena rolou os olhos enquanto encostava-se na mesa grande de jantar e olhava para as duas mulheres realmente discutindo sobre algo que Helena não sabia, franziu o cenho enquanto pensava se deveria ou não intervir.
— O que você costuma comer no café da manhã? — questionou o rapaz enquanto abria a geladeira.
— Eu não tenho preferência, você pode fazer o que quiser, só me dizer como posso te ajudar. — deu de ombros e respirou um pouco fundo enquanto erguia as mãos para pentear os cabelos e logo amarrá-los já que iria cozinhar. — Você pode me explicar um pouco da situação?
— A Mamma me chamou ontem para conversar e me explicou que há algum tempo vem conhecendo um cara, o Elijah, eu sempre o via no restaurante, agora entendo o porquê. — o rapaz começou a explicar enquanto ia separando alguns ingredientes. — Segundo ela, ela tentou reprimir o que sentia por muito tempo, acho que ela pensava de alguma forma que deveria se manter fiel ao Pappa até a morte. E também tinha medo do que nós pensaríamos, por isso escondeu de nós, ela contou primeiro a mim por que sabia que eu sou bem mais calmo e eu fiquei feliz, de verdade. Ela merece. — continuou explicando, sempre muito calmo e lento e de alguma forma isso fazia lembrar de Mia. Era muito bom ouvir a voz grave dele, a forma calma como se movia, sem pressa e ao mesmo tempo bem preciso, deixava Helena ainda mais a vontade. Ele colocou em cima do balcão algumas frutas em um bowl, um bowl vazio ao lado e uma fata e fez apenas um gesto para Helena, que não custou nada a entender.
— Só que ela sabia que com a Mia seria diferente...
— Ela pegou os dois aos amassos aqui na cozinha.
Fred riu.
— Eu pagaria pra ver a cara dela. — ele ironizou e manteve o sorriso largo nos lábios antes de voltar a falar. — Mia sempre foi muito apegada tanto a Mamma quanto ao Pappa, por isso ainda sofre tanto com a morte dele. As duas sempre foram confidentes uma da outra, então Mamma sabia que Mia iria se ofender assim que descobrisse que ela escondeu o namoro dela. Então, com certeza a esquentada da minha irmã não está brava com o fato da Mamma estar namorando e sim chateada por que ela escondeu isso dela. Mia já conversou comigo algumas vezes que tinha vontade de ajudar Mamma, talvez com alguns encontros às cegas.
— Isso faz sentido demais, a Mia é muito desenvolvida nesse quesito, mas não deixa de ser uma grande princesinha da mamãe. — Helena falou e riu com as próprias palavras por lembrar que Mia nunca fazia questão de esconder ou de desmentir isso. — Você não... — Helena parou de falar quando fechou os olhos e pareceu encolher-se um pouco como se esperasse que algo lhe atingisse, seu coração bateu mais forte dentro do peito quando olhou em direção a sala onde Mia havia gritado alto demais com a mãe e agora, tanto mãe quanto filha se encaravam em silêncio com olhares indignados.
Porém, Mia pareceu sentir um par de olhos a mais fixos em sí e quando olhou a procura, encontrou os olhos meio assustados de Helena, aquele olhar que a fazia sentir-se completamente culpada e ela sabia o por que. Soltou um suspiro enquanto o corpo todo parecia desarmar-se só com aquele olhar.
— Eu sinto muito. — sibilou para a namorada antes de erguer as mãos e passa-las pelos cabelos escuros antes de dar meia volta e ir andando para o sofá. — Por que toda vez que brigamos é desse jeito? — questionou em tom completamente diferente para a sua mãe, era calmo e claramente cansado.
Vera tinha o cenho franzido com a forma como Mia recuou completamente diante de apenas um olhar de Helena, coisa que nem ela mesma, como mãe, conseguia fazer. Porém, entendeu que a briga havia acabado, era hora de conversar e isso lhe trouxe um alívio tão grande que foi até o sofá onde a filha estava sentada e sentou-se bem ao lado dela.
— Por que você é mais parecida comigo do que deveria, duas mulheres com gênio muito forte que querem sempre ganhar e estar certas. — a Palermo mais velha falou e sorriu com as próprias palavras enquanto buscava a mão da filha e entrelaçava seus dedos com carinho. — Desculpe, eu não quis trazer aquelas coisas a tona agora.
— Eu sei, eu também não quis, está tudo no passado e não precisamos ficar relembrando isso, pelo menos não todas as vezes que brigamos. — Mia concordou e olhou para o lado para encarar a Palermo mais velha. — Achei que pra você era obvio que eu apoiaria um namoro seu, eu só desejaria ter conhecido ele em circunstancias bem diferentes e ter tido conhecimento disso antes, eu teria te ajudado em tudo o que você precisasse.
— Eu sei, meu amor. Acredite, eu realmente sei. — Vera falou baixo e pousou as mãos unidas em seu colo, encarava a filha com aquele olhar cheio de compaixão. — Mas eu mesma custei a aceitar, achei tão errado me apaixonar por outro homem enquanto o seu pai sequer tem a oportunidade de algo parecido, passei noites pensando no por que de ter sido ele a ir primeiro e não eu, depois comecei a me culpar por achar que por isso eu deveria ser fiel a ele até morrer. Seu pai nunca, nunca vai deixar de ser o grande amor da minha vida, filha. Nunca. — Vera respirou fundo ao sentir como a sua voz parecia falhar ao tocar naquele assunto.
— Mamma... Eu não iria medir esforços pra te apoiar nesse momento, eu sei que a morte do Pappa foi precoce e você sabe o quanto ainda sofro com isso, mas vamos lá, nós conhecemos aquele homem. Ele iria odiar que você não se permitisse ser feliz novamente apenas por achar que tem um compromisso com ele, isso com certeza faria ele se sentir muito culpado. — pensou bem nas próprias palavras e sorriu de canto enquanto procurava o pai em alguma das diversas fotos da família espalhadas pela sala. — Eu só me senti magoada por saber dessa forma quando já fui sua confidente tantas vezes assim como você também sempre foi a minha e também confesso que não foi muito agradável ver um homem desconhecido na nossa cozinha, seria muito melhor ter conhecido ele preferencialmente longe daqui.
— Eu juro que iria te contar. Conversei ontem com o Fred e havia dito a ele que iria conversar hoje com você, eu sabia que você iria ficar magoada por eu ter escondido de vocês, por isso preferi começar pelo filho mais calmo. — foi uma alfinetada as últimas palavras, mas isso só arrancou um sorriso de Mia. — E eu também não imaginei que vocês iriam aparecer assim do nada aqui hoje, você sempre avisa quando vem tomar café comigo... Foi a primeira vez que permiti que ele dormisse aqui.
— Devo ter traumatizado ele.
— Ele saiu assustado, com certeza.
Mia riu e a Palermo mais velha a acompanhou.
— Está vendo? — na cozinha as coisas estavam tão calmas quanto na sala. Fred acenou para as duas mulheres, pedindo para que Helena olhasse. — Resolvido. Como você conseguiu amansar a Mia só com um olhar?
— Por que eu passei anos vivendo com um marido abusivo que gritava comigo por tudo. Então gritos costumam me deixar desconfortável e ela não só sabe, como respeita muito. — Helena comentou e deu um sorriso de canto enquanto andava em volta da mesa organizando-a de acordo com o que tirava da geladeira.
— Estão namorando?
— Estamos. Foi por isso que viemos tomar café aqui hoje, pra contar a vocês.
— Sinto muito por ter sido dessa forma...
— Não tem problema, digamos que a maioria das coisas no nosso relacionamento, não começou de formas comuns ou calmas. — explicou enquanto voltava para perto do fogão no momento em que Fred se afastava com um prato cheio de panquecas, Helena logo tomou a frente com os ovos sabendo que seria o próximo passo de Fred, quis adiantar.
— Estou feliz por vocês, de verdade. Faz tempo que não vejo ela feliz como ela anda... — ele olhou para a irmã e a mãe na sala e sorriu de canto antes de ir até a geladeira e pegar a bandeja com bacon fatiado, colocou-a perto de Helena e soube que não precisaria falar nada para que ela soubesse o que fazer.
— Obrigada, a Mia é incrível, merece ser o mais feliz possível... E eu estou fazendo o meu melhor para me tornar uma pessoa capaz de proporcionar isso sempre. — falou baixo enquanto batia alguns ovos em um bowl de vidro, adicionou apenas pimenta do reino e sal antes de voltar a bater mais um pouco.
— Como você conseguiu superar ele? — Fred questionou de repente e Helena parou por um momento para encarar o rapaz cabeludo.
— Eu não consegui, ele ainda me aterroriza algumas noites nos meus sonhos, eu tenho traumas que eu não sei se vou conseguir superar e cicatrizes maiores do que eu tinha imaginado. Então eu sou instável... Hoje eu estou muito bem, estou feliz, estou segura, confortável, bem comigo mesma... Mas amanhã posso estar perdida e desejando as piores coisas. Mas estou lidando com isso aos pouco e corretamente na terapia. — não quis olhar para Fred enquanto falava isso, então concentrava-se em despejar os ovos mexidos na frigideira. Também não soube por que fora tão sincera com Fred, talvez por que a calma dele, o jeito dele lhe lembrasse o jeito de sua namorada. Era bom, era muito bom, lhe dava a certeza de que ela iria se sentir muito bem naquela família.
— Me fale se a minha irmã encher seu saco, prometo que faço o dobro com ela. — Fred falou em tom baixo, como se aquilo fosse um segredo entre os dois e isso arrancou uma risada pequena da Mexicana antes de olhar para Fred, seu cunhado a encarava com um sorriso orgulhoso nos lábios, mas desviou o olhar quando ligou o liquidificador.
Quando Helena terminou de fritar tanto os ovos quanto as tiras de bacon, colocou-os em um único prato e foi até a mesa, quase ao mesmo tempo em que Fred aparecia com o copo de liquidificador cheio de vitamina.
— Vocês duas, venham. — falou mais alto para a mãe e a irmã. — Já se resolveram?
— Só mais um dia normal na nossa vida. — Mia falou enquanto se aproximava, Vera vinha um passo atrás dela.
— Que bela mesa, vocês capricharam. — Vera sorriu de forma larga enquanto colocava as mãos na cintura e observava a mesa bem farta com panquecas, frutas, geleias, torradas, ovos mexidos, bacon, presunto, queijo e croissants que Fred havia comprado na padaria mais cedo.
— A Helena tem dom pra cozinhar. — Fred falou enquanto puxava a cadeira para que sua mãe sentasse.
— Você ainda não. — Vera parou Amélia quando a mesma estava prestes a sentar-se, a Designer encarou a mãe de forma surpresa e curiosa, prestes a perguntar o motivo quando a matriarca da família apontou para a parede.
— Não! — Mia reclamou e arregalou um pouco os olhos. — Eu não fiz nada demais, foi você quem começou!
— Você gritou com a sua mãe, isso já é motivo o suficiente. — a voz de vera é calma, calma demais aos olhos de Helena, a mexicana podia com certeza dizer que Vera tirava uma grande satisfação daquele momento.
— Mamma... — a voz de Mia ficou um pouco chorosa. — Por favor, não na frente dela.
Helena olhou para Fred como se perguntasse o que diabos estava acontecendo, mas ele apenas deu de ombros enquanto sentava.
— Cinco minutos a mais. — Vera foi firme.
Fred riu, mas conteve o riso no momento em que recebeu um olhar da mãe.
— Merda. — a jovem Designer reclamou enquanto se afastava da mesa completamente a contragosto.
— Cinco minutos a mais! — Vera falou um pouco mais alto e Mia só faltou chorar com as palavras da mãe enquanto praticamente se arrastava para uma parte mais vazia da cozinha ampla até ficar de frente para a parede onde encostou a testa e lá ficou... De castigo.
— Castigo?? — Helena questionou enquanto olhava para a namorada quieta contra a parede de costas para eles.
— Não importa a idade... — Fred começou enquanto se ajeitava já sentado à mesa.
— Ainda continuam sendo meus filhos, então sim, castigo toda vez que merecem, ela nunca aprende, toda vez acaba dessa forma. — Vera explicou enquanto se ajeitasse um pouco como se estivesse se recompondo, em seguida sorriu para Helena. — Sinto muito que tenha presenciado tudo isso na primeira vez que veio aqui, Helena.
— Não me importo, de verdade. Absolutamente nenhuma família é perfeita. — Helena sorriu enquanto ajeitava a cadeira onde estava sentada.
A mesa tinha só quatro cadeiras, era realmente uma mesa para café da manhã em família, afinal, havia uma sala de jantar na casa com uma mesa que dava quase o triplo daquela, mas era grande demais para apenas uma família de quatro pessoas, era usada realmente apenas quando tinham muitos convidados.
Helena estava um pouco perdida, tinha uma bela mesa de café da manhã em sua frente, mas não sabia exatamente como se portar com Mia de castigo no canto da cozinha, o que deveria fazer? Ignorar aquilo? Seguir como se nada estivesse acontecendo?
— Então, qual o motivo dessa visita surpresa? Tem que ter um motivo. — Vera começou enquanto servia-se com um pouco da vitamina que Fred havia feito.
— Nós realmente ignoramos e agimos como se nada estivesse acontecendo? — Helena questionou referindo-se claramente a namorada de castigo.
— Faz parte do castigo. — Fred falou de forma um pouco distraída enquanto passava geleia em uma torrada e logo em seguida dava uma mordida bem generosa na mesma.
— Deus... É por isso que ela é tão regrada. — Helena riu com as próprias palavras e balançou a cabeça de forma negativa enquanto cruzava as pernas embaixo da mesa. — Mas sim, tem um motivo, que só vamos contar quando ela sair de castigo. — arqueou uma sobrancelha para a matriarca da família antes de pegar um copo para se servir com suco de laranja. — Mas eu estou muito curiosa, Vera, muito mesmo sobre o felizardo, como vocês se conheceram?
— Sempre gostando de contrariar não é, Helena? — Vera alfinetou, mas isso só serviu para arrancar um sorriso da mexicana. — O nome dele é Elijah, é médico, um cardiologista muito bom...
— Por que você estava visitando um cardiologista? — Mia questionou de repente e virou um pouco o tronco para encarar a mãe.
Vera parou de repente, a expressão praticamente falava: “Você realmente está fazendo isso?”. E isso foi mais do que o suficiente para fazer Mia rolar os olhos antes de voltar para a mesma posição.
— Todos os anos eu faço exames de rotina, você sabe, quando a idade vem chegando é bom sempre estar alerta. Ele atende no mesmo consultório que a minha médica e eu o encontrei um dia na sala de espera, achei que ele só era mais um paciente, mas...
— Foi amor à primeira vista?
— Não! Claro que não... — Vera parou e franziu um pouco o cenho com as próprias palavras. — Mas eu desejei encontrar ele novamente na minha próxima consulta.
— E encontrou? — Helena deu corda.
— Encontrei. Depois disso tudo foi correndo naturalmente, ele me convidou para jantar várias vezes, eu recusei todas elas até ele aparecer no Palermo dizendo que seria apenas um almoço ao acaso...
— Isso deixa claro que ele estava bem interessado em você.
— As panquecas irão ficar borrachudas. — Fred comentou de repente.
— Pode sair. — Vera olhou para Mia e a Designer enfim virou-se claramente emburrada com a situação.
— Isso foi à coisa mais humilhante pela qual você me fez passar. — reclamou enquanto caminhava de volta para a mesa.
— Por que ficou de castigo em frente a sua amiga? Ora, pelo amor de Deus, se acostume Helena, ela fica de castigo com uma frequência anormal, é teimosa demais, respondona e quer demais ser a dona da razão.
— Oh sim, eu concordo com tudo isso. — Helena deu um sorriso largo.
— A quem será que eu puxei? — Mia questionou enquanto sentava-se e em seguida olhou para a mãe. — Você me colocou de castigo em frente a minha namorada. — enfim, corrigiu a mãe.
Vera arqueou uma sobrancelha ao parar o que fazia quando ouviu as palavras da filha, olhou para Helena como se buscasse confirmação e quando a mexicana confirmou com um aceno de cabeça a Palermo mais velha ergueu as mãos.
— Oh, finalmente! — disse ao olhar para o céu como se estivesse agradecendo a Deus pelo namoro da filha. — Agora falta você. — baixou o olhar e olhou diretamente para Frederick.
— Ora, pelo amor de Deus, Mamma! — Fred falou de forma indignada ao parar de comer e encarar a mãe como se questionasse: “É sério?”.
— Mas é verdade! — Mia deu corda.
— Não! Não comecem. — ele se defendeu.
E a partir daí, mais uma vez começou uma espécie de briga onde Helena não entendia absolutamente nada já que os três falavam ao mesmo tempo e tudo o que a Mexicana fez foi rir e praticamente apreciar o momento, tudo por que realmente se sentia em casa, estava feliz, estava muito feliz.
®
— Tão mimadinha. — Helena implicou em meio a risadas.
— Helena! — Mia reclamou mais uma vez enquanto mantinha o máximo de atenção possível no trânsito. — Eu estou muito feliz com o namoro dela, ok? Muito feliz. Só fiquei chateada com ela não ter me contado antes.
— Se for pensar bem, você escondeu bastante coisa e por bastante tempo sobre nós pra ela, não?
— Isso não vem ao caso agora. — Mia se defendeu e rolou os olhos em seguida.
— Era realmente necessário uma briga daquelas? — Helena referiu-se a discussão inicial de mãe e filha.
— Nem um pouco, mas sempre acontece. — respondeu enquanto deslizava as mãos pelo volante do carro. As duas haviam saído da casa da mãe a alguns minutos após um café da manhã regado a risadas, mesmo depois de todos os infortúnios. — São duas pessoas muito parecidas querendo estar certas ao mesmo tempo, então ela me lembra coisas que aconteceram no passado, eu rebato fazendo exatamente a mesma coisa e isso só piora as coisas até o momento em que a gente cansa de brigar, senta e conversa de verdade, em casos mais extremo nós simplesmente damos as costas e ficamos sem nos falar por dias, é bem maduro, eu sei. — Mia riu das próprias palavras e balançou a cabeça de forma negativa. — O Fred é totalmente o oposto como você deve ter percebido, ele é muito calmo em brigas, ele só escuta e fala com calma, é muito parecido com o Pappa.
— Ele é um amor. — Helena confirmou enquanto se ajeitava um pouco para olhar para Mia, adorava ver a namorada dirigindo. — Ele me perguntou como eu consegui superar o meu ex.
— Provavelmente por causa da ex dele.
Helena concordou com um aceno de cabeça e Mia a encarou quando parou o carro em um sinal, buscou a mão da namorada e entrelaçou os dedos com carinho antes de puxá-la devagar para próximo de seu rosto e deu um beijo bem carinhoso no dorso da mão da mexicana.
— Eu gostei muito dessa manhã, foi divertida apesar de tudo e chega a ser fofo você de castigo. — Helena comentou em tom terno e deu um sorriso calmo.
— Não imagina quantas vezes já fiquei daquele jeito, por horas ás vezes. — riu com as próprias palavras enquanto voltava a acelerar o carro e focar sua atenção na estrada. — Mas eu sempre respeitei apesar de não gostar é claro, depois de ficar minutos ou horas daquele jeito, ela sempre sentou comigo e conversou até resolvermos. Engraçado era quando eu e o Fred ficávamos juntos por que ela declarava o castigo e eu ria dele e vice e versa.
— Vocês se implicam como crianças até hoje não é?
— Sempre. — Mia respondeu de forma orgulhosa e isso arrancou um sorriso de Helena, a fez sentir falta dos próprios irmãos.
Olhou para as mãos ainda unidas enquanto Mia dirigia com tanta calma, o sorriso se manteve nos lábios enquanto mantinha-se em silêncio pelos próximos minutos.
— O que foi? — Mia questionou após algum tempo.
Helena deu de ombros.
— Só estou feliz. — respondeu com calma e apoiou a cabeça no encosto do banco. — Qual a sua programação para hoje?
— Vou te deixar na galeria e vou para o escritório revisar algumas coisas pra deixar tudo pronto para hoje á tarde. Daisy é uma cliente um pouco antiga minha, fiz o escritório dela, agora ela me contratou pra revitalizar um ambiente da casa e o quarto da filha e como envolve muitos móveis, vai dar um pouco de trabalho em conjunto com os marceneiros. — explicou enquanto parava novamente o carro em um sinal, olhou brevemente para Helena. — A filha dela gosta de pintar, é uma pequena prodígio, melhor aluna da escola, notas perfeitas, concursos...
— Você conhece muito bem suas clientes.
— Preciso, assim consigo fazer exatamente o que ela quer. — deu de ombros. — E seu dia, como vai ser?
— A Ally disse que queria almoçar comigo para conversarmos, mas não é nada demais. Além disso, só vou adiantar alguns trabalhos durante a tarde, resumindo, vou apenas pintar.
— Exatamente o que você gosta. — Mia comentou enquanto manobrava o carro para parar exatamente em frente à galeria.
— Gostaria mais de passar o dia na sua cama, isso eu posso provar. — Helena declarou enquanto se afastava um pouco para pegar a sua bolsa e em seguida inclinou-se em direção a Mia para selar os lábios da namorada algumas vezes. — Obrigada pelo café da manhã.
— Eu vou querer que prove depois, vou cobrar. — Mia comentou em meio aos beijo que retribuía, as duas sorriram com cumplicidade e Mia ergueu a mão esquerda e tocou o rosto da namorada com todo carinho. — Desculpa por ter te assustado naquele momento. — referiu-se ao momento em que brigava com a mãe.
Helena negou com um aceno de cabeça.
— Não se preocupe com isso, eu não sou tão frágil quanto pareço. — comentou baixinho e Mia sorriu.
— Eu tenho certeza que não é. — Mia inclinou-se e selou os lábios dela mais uma vez antes de encará-la em silêncio por alguns segundos.
— Me liga mais tarde pra dizer se deu tudo certo, ok?
— Prometo. — Mia sussurrou e as duas trocaram sorrisos cúmplices antes que Helena saísse do carro, praticamente levitando de tão leve e feliz que estava, ah ela com certeza poderia viver todos os dias de sua vida daquele jeito.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]