CAP. 6 – Lion – O casarão
Quando encostei o carro na entrada do casarão, abaixei o vidro. O guarda viu que era eu, abriu o portão, entramos e estacionei próximo a um jardim com algumas árvores que tinha ali. Dei a volta abrindo a porta para Samantha, que começou a analisar o lugar, indiquei o caminho e seguimos para o interior do local, alguém veio ao nosso encontro e eu o saudei.
– Olá seu João, tudo bem? – me abraçou feliz, dizendo:
– Tudo bem sim menina Bia, que surpresa boa, não sabia que a senhorita viria.
– Pois é, foi de última hora – quando nos separamos, indiquei a mulher ao meu lado dizendo – quero que o senhor conheça Samantha. Futuramente ela virá trabalhar aqui, se tudo der certo.
– Boa tarde senhorita, muito prazer em conhecê-la. Fico feliz em saber que iremos abrir novamente.
– Olá seu João, o prazer é todo meu – apertou a mão dela gentilmente que sorriu concluindo – adorei esse lugar.
Entramos e mais algumas pessoas nos saudaram, o mesmo estava em manutenção e por isso a movimentação, me aproximei de Samantha e comecei a explicar:
– Como havia dito, usávamos o Lion para receber as pessoas das quais citamos na conversa outro dia.
– Entendo, espero não estar atrapalhando com os projetos de vocês, Bia! – Preocupação na voz, me aproximei dizendo:
– Temos outros locais para usarmos, não se preocupe, cariño.
Ela me olhou com um brilho lindo nos olhos, seguimos pelo saguão e fui dizendo:
– Aqui no térreo temos a recepção, banheiros sociais, uma cozinha e uma sala onde o pessoal costuma almoçar. – Fui mostrando os locais a ela na medida que ia apresentando, continuei: – No outro lado tem uma sala onde pensei em reservar para os primeiros socorros – indiquei a sala explicando – da última vez que nos reunimos aqui, alguém se machucou e precisou ir para o hospital, nada grave, mas poderia ter sido resolvido aqui, se na época, essa sala existisse com algum profissional da saúde de prontidão, no seu projeto eu vi que tem dois enfermeiros e um médico inscrito.
– Uma ótima ideia, sim tem sim, eles são amigos de meu irmão, inclusive o médico é casado com uma das enfermeiras – me olhou admirada perguntando – você lembra dos detalhes de meu projeto?
– Eu tenho uma memória boa, guardo informações com facilidade!
– Memoria fotográfica, entendo.
– Não cheguemos a tanto, mas digamos que gosto de dar uma atenção especial a algo que me desperta interesse, senhorita.
Pisquei sorrindo, não foi uma cantada barata, apenas descontração.
Mas desde o momento em que coloquei os olhos nela, tudo chamava a minha atenção, sorrimos e seguimos para a apresentação do espaço. No primeiro e segundo andar ficavam “os quartos”, depois da reforma, eram apenas salas vazias, seis em cada andar, e três banheiros grandes. No terceiro andar ficava as salas de recreação, na época foi uma ideia que tive para distrair as crianças, três salas grandes tomavam aquele andar e mais três banheiros.
Como eu disse, o espaço não era reservado para suportar o que o projeto dela queria, mas como não precisaria de dinheiro para a construção, poderia usar parte dele para manutenção e reforma do local.
Ao final do nosso passeio seguimos para a cozinha onde dona Tereza, esposa do João, nos serviu um café maravilhoso. Moravam em uma casa atrás do casarão, eles e mais um casal, o segurança e sua esposa. Sentamos a mesa agradecendo o café, quando estávamos mais tranquilas, olhei para ela sorrindo e perguntando:
– Será que esse espaço seria ideal para você começar a pôr em prática o seu projeto, senhorita Chermont?
Sorriu, desviou os olhos olhando em volta avaliando e dizendo séria:
– Não era o que eu esperava, mas acho que dá pra começar alguma coisa. – Olhei intrigada para ela, não esperava por aquela resposta, não depois que vi seus olhos brilharem. Segundos depois nossos olhos se cruzaram novamente, ela sorriu segurando em meu braço dizendo: – Estou brincando Bia, isso aqui é perfeito e supera todas as minhas expectativas. É bem mais do que eu sonhava, não sei se devo aceitar.
Olhei a mão dela sobre meu braço e sorri quando ela o tirou pedindo desculpa, inspirei fundo dizendo:
– Me assustou, cariño, mas agora você não pode nos fazer essa desfeita, não depois que já conversou com o “administrativo” da empresa e concordou em trabalhar com meu avô. – Sorriu tomando um gole do café e me olhou dizendo:
– Você tem razão, o administrativo da sua empresa foi bem convincente, como devemos proceder depois dessa reunião?
– Qual a sua disponibilidade? – Me olhou séria, pensou um pouco e disse:
– Estou me desligando da empresa a qual trabalho em Guarulhos, um processo meio lento a princípio, mas agora que tenho outros planos, terei que agilizar – parou analisando e concluiu – provavelmente em seis meses estarei totalmente disponível.
– Perfeito...
Sorriu e olhei para ela, dessa vez de forma diferente, será que ela estava disponível em outros setores também? Como por exemplo no coração? Senti quando tocou meu braço novamente perguntando:
– Entrou em transe olhando para mim, devo me preocupar?
Sorri balançando a cabeça dizendo:
– Me perdoe, estava pensando no que você havia dito.
– Tudo bem, e qual é o veredicto?
– Irei entrar em contato com o RH, e passar seus contatos – tomei um gole do meu café concluindo – e assim que estiver disponível, provavelmente passará por uma entrevista, diretrizes da empresa.
– Entendo, esperava por algo assim – sorriu divertida.
– Unhum, e depois disso, começar a trabalhar conosco.
– Estou ansiosa para isso já.
– Nesse caso! – inspirei fundo olhando-a, perguntei: – Temos a princípio, apresentações quinzenalmente, se quiser e puder participar de pelo menos uma ao mês, para se inteirar dos assuntos e conhecer o pessoal, sinta-se convidada.
– Convite aceito, só preciso organizar a minha agenda.
– Perfeito! – Sorri contente com o progresso de nossa conversa: – Amanhã terei uma reunião com a Fernanda, nossa Relações Pública, em breve vocês poderão se reunir e combinar entre vocês.
– Essas reuniões serão para...?
– Conhecer o ambiente, o pessoal que irá trabalhar no seu setor – inspirei fundo cruzando os braços e dei sequência – tempo suficiente para você organizar uma sala e o equipamento que quer usar, além disso, precisa avaliar os documentos, queremos algo justo com você, e não vamos misturar os negócios, está de acordo?
– Sim senhora! – Sorriu gracejando. – Sabe, pensando bem, vou gostar de trabalhar com vocês, de antemão digo que gostei de todos os que foram me apresentado hoje.
– Espero que algo não tenha lhe desagradado.
– De forma alguma, estou tentada em vi trabalhar aqui desde a primeira proposta do Dr. Paulo, mas os negócios me impediam, foi uma jogada de mestre ele ter colocado você para me “convencer”.
Disse a última palavra fazendo aspas com as mãos, gracejando, sorri dizendo:
– Acredite, meu avô deve estar se perguntando ainda, como foi que consegui o que levou anos para ele conseguir.
– Está me dizendo que não sabia que seu avô me queria na equipe?
– Sim! – Gostei de ver o espanto nos olhos dela, estava começando a me deliciar em vê-la surpresa, segui. – Não sabia nada, antes daquela reunião que tive com ele, até o momento em que a senhorita se reuniu a nós, naquele mesmo dia.
– Entendi, então não estava nos planos dele me fazer essa proposta?
– Não que eu saiba, fiquei sabendo do seu projeto por você e não sei se ele estava ciente disso.
– De fato ele não estava por dentro dos detalhes antes daquele dia, sabia apenas que eu estava envolvida com projetos filantrópicos – inspirei fundo cruzando as pernas e ela concluiu – quando recebi a ligação na sexta, ele foi taxativo em afirmar que ainda me queria na equipe.
– Meu avô não desiste nunca, essa é uma das qualidades da família Olivier.
– Imagino que sim, você é muito parecida com ele – sorri concordando.
– As pessoas costumam dizer que temos o mesmo grau de teimosia. – Ela jogou a cabeça para trás gargalhando gostosamente, segundo depois continuei: – Brinquei com ele naquela manhã, dizendo que tinha perdido o poder da conquista, por não conseguir convencer você.
– Então se trata disso, uma conquista? – sorriu, enquanto tomava mais um gole do café.
– Digamos que ele me convenceu de que você era essencial para a nossa empresa, mas não me entenda mal, por favor, estamos entrando em negociação e você pode ficar à vontade se quiser recusar a nossa proposta, não queremos lhe causar mal-estar – e enfatizei – quanto ao projeto, estou pessoalmente ligada a ele e disposta a ajudar de qualquer forma, a senhorita entrando ou não para a empresa.
– Relaxa Bia, está tudo bem para mim até o momento. Estou honrada por fazer parte da equipe, e feliz por oferecerem patrocínio para o meu projeto.
– Na verdade, o patrocínio está vindo de minha parte, a “P&H Coffee” não tem nada a ver com isso, ainda – sorri arrancando um sorriso lindo dela – gostei quando o li naquele dia e gostei ainda mais depois do nosso almoço, espero que façamos uma ótima aliança.
– Será um prazer trabalhar com você – aquele olhar, nossa arrepiou meu corpo.
Continuamos com nossa conversa, mas precisei fazer uma ligação e ela pediu licença para tirar algumas fotos e enviar no grupo de amigos, deixei que ficasse a vontade. Quando encerrei a ligação, fui conversar com seu João e de longe passei a observá-la mais. Fez uma ligação que demorou alguns minutos e estava gesticulando e rindo feliz enquanto falava animadamente ao celular.
Olhei o relógio e ainda estava cedo, me aproximei quando percebi que encerrava a conversa, conversamos por mais alguns minutos e seguimos para o carro, como não estava querendo sair da sua companhia, fiz outra proposta.
– Não quero parecer um grude, mas gostaria de estender um pouco mais o nosso passeio, se você não se importar, claro?
– Ótimo, eu adoro o Rio, onde pretende me levar agora? – Sorri vibrando por dentro.
– Tem uma pequena aldeia alguns quilômetros fora da cidade, onde costumava ir toda semana antes de viajar, mas desde que voltei não tive tempo de ir lá ainda – coloquei as mãos no bolso da calça, sorrindo e finalizando – estava pensando em dar uma passadinha rápida antes de ir para casa, e seria muito bom ter sua companhia mais um pouco.
– Vou adorar, Bia, sua companhia é surpreendentemente boa. – Estiquei o braço que ela aceitou agradecendo, perguntando assim que começamos a caminhar. – O que mais vou descobrir sobre você?
Virei o rosto olhando divertida para ela, devolvi com outra pergunta:
– Quem sabe?
– É, quem sabe... – sorriu ainda olhando em meus olhos.
Sorri e ela não desviou os olhos, nos despedimos do casal e seguimos, parando apenas em uma loja de brinquedos para comprar algumas lembrancinhas, as crianças da aldeia iriam adorar. Voltamos para a estrada e pegamos uma paralela à avenida que nos levaria até lá, fomos conversando.
Quando estávamos chegando, começamos a comentar sobre as crianças que corriam pelo mato, brincando ou se divertindo no rio. Esse que passava por baixo da ponte que acabamos de cruzar para chegarmos até a aldeia, quando encostei o carro, várias crianças vieram correndo ao nosso encontro, parei alguns metros antes delas chegarem perto e disse:
– Essa é a aldeia!
SamChegamos ao Lion cerca de meia hora depois, o qual já me impressionou logo quando entramos, era enorme. Um lugar aconchegante que ia além de minhas expectativas, estava sendo realizada. Gentilmente a Bia foi me apresentando cada pedacinho, explicando e dando ideias para uma reforma.
Estava literalmente flutuando com a sensação de estar realizando um sonho. E quando ela perguntou se o local era ideal para colocar em prática meu projeto, brinquei dizendo que não era o que eu esperava, ledo engano dela. O lugar era bem mais do que eu poderia imaginar conseguir.
Depois de algum tempo, que ela precisou fazer uma ligação, perguntei se podia tirar fotos para enviar ao meu grupo de amigos, concordou me deixando à vontade. Em um momento de distração dela com o vigia que morava ali, peguei meu celular e liguei para meu irmão que atendeu no terceiro toque:
– E aí maninha, quais a novas?
– As melhores possíveis, Lu.
Luiz, meu irmão mais velho, que depois de mim, era o mais animado a seguir com o projeto de nossa avó.
– Sério Sam? Já pode me contar ou vai continuar mantendo segredo?
Animação na voz dele, percebi que estava curioso, sorri dizendo:
– Estou aqui com a Bia, conhecendo o prédio... – ele me interrompeu rindo:
– Com a Bia? Suponho que ela seja a “empresária” que me falou?
– Sim, Beatriz, seu bobo – ele riu e fiquei sem jeito, mas continuei – estou enviando as fotos do lugar para o grupo, dá uma olhadinha!
– Ok, vou deixar o viva voz e... – Segundos depois ele ia dizendo impressionado. – Nossa! É esse o lugar do qual havia falado, Sam?
– Sim, é enorme e suprirá todas as nossas necessidades.
– Caramba, é lindo e espaçoso... Mas, tem certeza que usaremos esse espaço? Não estou tão convicto assim!
Olhei para onde a Bia estava e ela me olhou sorrindo, acenou com a mão e sorri apontando para o celular, voltei para o meu irmão e tirando a certeza não sei de onde, disse:
– Tenho certeza Lu, algo me diz que podemos confiar na Bia, ela transpira confiança e está afim de nos ajudar também.
– Ajudar mais ainda?
– Sim, além do prédio e algumas contribuições a cada três meses de uns jantares beneficentes que virão para nosso auxilio, ela se ofereceu para nós ajudar no que pudesse.
– Você conquistou mesmo a moça, Sam! – Gargalhou, sorri dizendo apenas:
– Nada disso seu bobo, lembra da dona Helena? Esposa do Dr. Paulo, amigo do vovô?
– Claro, eu adorava dona Helena, pena que nos deixou também, mas o que tem ela?
– Ela é avó da Bia!
– Não? Sério? – Disse admirado. – Mundo pequeno, não?
– Pois é, agora ela está do nosso lado e tenho certeza que nosso projeto sairá do papel, meu irmão!
– Estou animado Sam, quando você volta para discutirmos essa questão?
– Amanhã estarei em casa – sorri e perguntei – viu Diana, estou morrendo de saudades dela?
– Sim, chegamos a pouco de lá, ela nos deu uma canseira que você nem imagina.
– Que bom, depois eu ligo para Eliza e falo com ela, quando souber de mais alguma coisa, te aviso.
– Está bem, se cuida maninha... te amo!
Naquele momento a Bia se aproximou e eu me despedi de meu irmão:
– Também te amo, se cuida! – Ela sorriu quando se aproximou perguntando curiosa:
– Namorado? – Guardei o celular ainda olhando para ela que se desculpou: – Desculpa a indelicadeza.
– Não foi indelicada, era meu irmão. Estava mostrando as fotos para ele.
– E ele gostou?
– Ficou todo animado, assim como eu – me aproximei tocando seu braço e dizendo sincera – obrigada Bia, nada disso seria possível se não fosse a sua ajuda. – Ficou sem jeito, percebi, mesmo assim sorriu dizendo:
– Que isso, tenho certeza que você conseguiria de qualquer forma, só dei uma ajudinha.
– Ajudinha, não é! – Soei divertida e ela sorriu dizendo:
– Digamos que eu esteja interessada em saber mais sobre seus projetos, cariño.
– Nesse momento, estou disponível para sanar quaisquer dúvidas que a senhorita tenha.
– Cuidado, posso usar e abusar do seu tempo. – Sorriu me prendendo com ele, retribui dizendo séria:
– A vontade... – que isso Samantha, flertando dessa forma?
Não sei o que ela tinha que me prendia tanto, tem algo que faz que me paralisa, quando mordia o maxilar, suas têmporas se retraía e sua sobrancelha levantava como se me desafiasse a passar a mão em seu rosto, e por alguns segundos não o fiz. Desviei minha atenção dela que ofereceu o braço dizendo:
– Vamos?
– Sim.
Seguimos para o carro depois de nos despedirmos das pessoas que estavam ali, e mais uma vez, parecendo que lia meus pensamentos, estendeu nosso passeio. Fez uma proposta para visitar uma aldeia, não recusei. E me perguntei intimamente se eu recusaria alguma coisa vindo dela? Talvez não, mas estava começando a brincar com fogo.
Fim do capítulo
Boa tarde meninas, tudo bem?
Passando para deixar um extra... Bom final de semana para todas...
Bjs, se cuidem
Bia
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]