Capítulo 6

"Quantas coisas cabem em um olhar! É tão expressivo, é como falar." (Clarice Pacheco)

Zaira

De tudo que surpreendentemente poderia acontecer; nada poderia me desarmar mais que ter dado de cara com a Virginia naquele estacionamento onde estive fazendo sex* com uma garota que nem me lembravado nome; enquanto de olhos fechados pensava única e exclusivamente nela.

Quando ouvi o seu tom trêmulo dando boa noite, senti meu peito afundar e um desespero se apossar de mim como seu tivesse sido pega a traindo. Seu olhar focou em mim e li nele: dor, vergonha, tristeza; pesar... Ela nada disse, mas li tudo o que pensava de mim naquela situação!

Quis falar muita coisa, mas não consegui organizar os pensamentos pra falar nada! Fiquei ali como uma estátua vendo-a acelerar o SUV e sumir.

_ Gatinha? – a garota tocou minha mão chamando-me – Você está bem?!

_ S-Sim! – gaguejei nervosa.

_ Bem... – maliciosa a menina enlaçou-me a cintura colando o corpo ao meu – Agora é a minha vez de lhe dar prazer...

Eu não tinha mais clima.

_ Vamos deixar para outra oportunidade – com jeito desvencilhei-me dela – Vamos dançar um pouco?

_ Mas... – olhou-me confusa – Pensei que...

_ Quero entrar e dançar um pouco agora – sorri forçadamente – Não se preocupe, pois seu prazer me deu prazer!

_ Ok! – concordou relutantemente – Mas, estou curiosa aqui...

_ Com o quê? – perguntei e me arrependi logo em seguida.

_ Aquela mulher é sua namorada? – perguntou me encarando – Porque ela ficou arrasada ao te reconhecer e você não ficou melhor!

_ Não somos nada uma para outra – falei e meu coração gritou: MENTIRA! – Meras conhecidas e só... Vamos nessa que a noite é curta!

Subimos á pista de dança e nos acabamos até o amanhecer. No final do expediente ainda dei uma força aos meninos na organização do espaço embora não estivesse trabalhando.

_ Zai? – ouvi um grito me chamar quando já deixava o local, olhei em volta e vi a infeliz da Cris acenando-me.

Encostei a moto revirando os olhos e a esperei pensando se tratar de pedido de carona! A mulher era uma cobra peçonhenta, carona de madrugada não se negava nem a uma cobra. Assim, pedi resignação a todos os santos e a esperei, certa de ser carona o motivo do chamado... Ledo engano!

_ Menina doce, tentei lhe achar toda a noite – falou Cris sorrindo debochada – Teve uma galega te procurando aí ontem; ela chegou ficou bebericando uns drinks enquanto te catava no salão; como não lhe achou veio toda vermelha de vergonha questionar se você estava trabalhando.

Meu coração disparou de alegria!!!

_Virginia viera me procurar, então ela talvez, só talvez estivesse interessada em mim! – pensei eufórica.

...então dei logo a real que você estava acompanhada – Cris continuava falando e neste momento saí de minha bolha de felicidade pra desesperada focar no que a miserável falava sorrindo – Foi lindo ver a cara de decepção e tristeza da mona! Ela entornou o drink e partiu parecendo perseguida por todos os demônios do hades. Eu queria saber o que você faz com esse mulherio que elas ficam todas enrabichadas atrás! Bem... Tem gosto pra tudo.

_ Você precisava dizer que eu estava acompanhada? – indaguei retada – Às vezes acho que o que você quer mesmo é provar como sou na cama; por isso esse despeito todo...

_ Se assunte! – a mulher nervosa e irritada – Se te quisesse você já estaria em minha cama!

_ Mesmo? – não aguentei tamanha arrogância e gargalhei – Cris, se você fosse a última mulher da terra; eu morreria na seca de sex*, mas não trans*ria contigo! Faça um favor pra nós duas, nunca mais se meta em minha vida.

Arranquei com a moto deixando-a prestes a explodir de raiva e despeito.

Enquanto pilotava minha cabeça trabalhava velozmente; se Virginia queria algo comigo, perdi minha chance começando com o veneno da Cris e minhas ações fazendo sex* casual no escuro de um estacionamento.

Suspirei triste com o que perdi; eu não podia negar que sentia atração pela doutora!

Na noite que dormi em seu apartamento, tive que me controlar ao perceber que ela comera com os olhos as minhas coxas... Depois orei aos céus pra conseguir tirar os olhos daquele corpo gostoso que ela tinha e que ficava maravilhoso dentro do pijama sexy que aparecera usando. Saí praticamente correndo do local na manhã seguinte, após entrar no quarto pra ir ao banheiro e vê-la de bruços toda deliciosa dormindo e sentir meu corpo arder de desejo!

Deixei um bilhete agradecendo e fugi! Não aguentaria se ela aparecesse em minha frente com aquele top mostrando o abdome e os seios que pareciam feitos pra minhas mãos.

Travei uma boa briga para não mais procurá-la nestes dois meses que se passaram! Até porque podia ter sido fantasia minha o olhar de desejo que notei nela...

Lembrei-me que a médica era hétero, que ao me conhecer pensara que eu era um homem decepcionando-se e exibindo certo horror em sua expressão ao perceber que era uma mulher com quem estava claramente flertando.

Outro fator que usei pra me impedir de procurá-la foi o social; a diferença social entre nós era gritante. Ela doutora e visivelmente de família abastada pelo luxo do condomínio que morava, eu uma faz tudo ex-presidiária com segundo grau incompleto.

Acelerei a moto sacudindo aqueles pensamentos que não me levariam a nada a não ser ao sofrimento.

Estacionei minha moto na porta do tio Caetano e subi a escadaria que levava a casa que eu havia construído com muito sacrifício sobre a laje de minha mãe e no qual morava há três anos; levei meses morando na casa de minha mãe depois de sair do presídio onde cumpri 01 ano de pena por crime de lesão corporal.

Tirei a roupa e fui tomar um banho frio pra esfriar o corpo e a cabeça que não cessavam de lamentar não poder ficar com a Virg.

_ Virg... _ sussurrei passando as mãos entre os cabelos curtos – Queria ter outra vida, ser outra pessoa e poder investir em você; mas a realidade é essa eu sou isso aqui e nem devo ousar pensar nisso!

Assim, conformada com o que não podia ter, adormeci.

Fim do capítulo