Capítulo 5

"A vida segue acontecendo nos detalhes, nos desvios, nas surpresas e nas alterações de rota que não são determinadas por você." (Martha Medeiros)

Virgínia

Acordei com o sol invadindo meu quarto; espreguicei-me lentamente como de sempre e chegando a total consciência, lembrei-me de minha hóspede. Aquela com a qual tivera um sonho sensual e quente que me deixara molhada desejando torná-lo real...

Imediatamente sentei-me na cama eufórica e com um sorriso tomando minha face enquanto o nome dela preenchia toda minha mente: Zaira!

Corri para o banheiro e fiz minha higiene matinal mais rápido do que o super-herói Flash! Deixei o quarto apressada pensando em preparar-lhe um pequeno café da manhã.

Porém, meu sorriso sumiu dois minutos depois de constatar que da presença dela só restara o cheiro e um bilhete sobre a roupa de cama no sofá!

Sentei-me na ponta do móvel abrindo o bilhete...

“Virg obrigada pelo abrigo e por tudo mais. Devo-te uma, precisando é só chamar. Zai.”

Suspirei meio decepcionada.

_ Ela não podia ter esperado um pouco mais?! – chateada peguei a roupa dobrada e levei pra maquina de lavar; coloquei os lençóis e antes de por a camisa que a mecânica usou e levei ao nariz - Meu Deus, o que ocorre comigo pra estar morrendo de desejo por esta mulher quando nunca perdi dois segundos admirando o mesmo sex* antes?

Dois meses depois...

Eu entrei na boate onde Zaira trabalhava com o coração disparando no peito. Não entendia o porquê desta atração por uma mulher e nem queria mais compreender; após 60 dias me esforçando pra esquecê-la sem sucesso, joguei a razão no lixo e passei a ouvir o coração que a cada dia gritava mais incomodado pela ausência da moça bonita.

Optei por sentar no bar, pois teria ampla visão do lugar e a localizaria com mais facilidade. Pedi um drink para tomar coragem e passei a vasculhar discretamente o lugar na vã tentativa de achá-la. Tempos depois minha busca mostrava-se infrutífera e resolvi abordar alguém pra questionar. Fui para uma mesa e chegou uma garçonete simpática pra me atender; solicitei outro uísque e quando ela entregou-me a abordei.

_ Por gentileza – comecei constrangida – Sabe me dizer se a Zai está trabalhando hoje?

A moça ergueu uma sobrancelha demonstrando curiosidade e um sorriso malicioso tomou-lhe levemente a boca, antes de responder-me.

_ Ora, ora... Mais uma vítima da doce Zai – sorriu abertamente – Bem gata, hoje é dia de folga dela; Perdeu a viagem...

_ Ah... Entendi – interrompi tristonha – Está tudo bem, obrigada.

_ Mas, você perdeu a viagem não foi por isso – maliciosa espicaçou-me – Ela, embora de folga, está na boate. Entretanto, acompanhada; chegou tarde lindinha! Mas, caso ainda assim queira arriscar... Vá à área de fumantes, a vi passar pra lá tem pouco tempo.

Fiquei processando tudo o que a mulher falou e tentando decidir se me retirava ou fazia o que a outra sugerira.

_ Vai-te embora Dra. Virginia! – aconselhei-me desanimada – Pelo visto, deveria ter ficado em seu lugar e quietinha; ela foi embora e só deixou um bilhete! Nunca te ligou ou apareceu embora saiba teu número de contato; seu endereço comercial e residencial... Isso mostra o interesse em revê-la: nenhum! E você, como um cachorro sem dono a está perseguindo; Sem falar que a moça insinuou que a mecânica está acompanhada...

Entornei de um só gole a minha bebida, acenei ao garçom mais próximo e deixei uma cédula sobre a mesa quitando meu consumo. Decidida, caminhei apressada para saída.

Quando passei pela porta, chegando a imensa área do estacionamento, vi vários casais aproveitando a penumbra do lugar pra namorar, desviei-me destes prosseguindo minha caminhada rumo ao automóvel. Quase próximo ao meu carro tinha um murinho isolado bem escuro; percebi pelos gemidos que um casal fazia amor ali.

_ Merda! – xinguei baixinho – era a cereja do bolo que faltava pra coroar minha noite.

Teria que passar pertinho deles pra abrir a porta do motorista e partir dali. Suspirei e encostei-me a pilastra decidindo esperar o casal terminar o que fazia e que pelo visto não demoraria muito pelos gemidos cada vez mais altos da mulher... Não queria, mas meus olhos me traíram e olhei na direção e observei que a mulher estava no muro com o homem entre suas pernas a masturbando pelos movimentos feitos.

_ Ahhhhhhhh, assim delícia... Mais forte – gemia alto a mulher – Ohhhhhhh, estou goz*ndooooooooooooo...

Percebi o corpo da mulher estremecer de prazer e ela amolecer nos braços do parceiro que lhe beijava o pescoço carinhosamente.

_ Nossa quase morri de prazer – disse a jovem – Agora é a minha vez...

Nesta hora, resolvi me fazer notada porque não ficaria de voyeur esperando o rapazinho “delícia” goz*r também! Assim tossi alto e pisei forte saindo detrás da pilastra devagar lhes dando tempo de ajeitaram-se. Quando enfim, alcancei a porta do meu carro, educadamente dei boa noite, apressando-me em entrar no carro.

Nesta hora a lua iluminou o local que abrigava o casal me fazendo paralisar ao reconhecer quem estava ali! Novamente enganara-me, não era um homem de pé masturbando a garota... Não era “ele” e sim “ela”, a Zaira que surpresa me encarava.

Engoli em seco enquanto absorvia o duro impacto de mais uma decepção nesta noite.

_ Virginia... – a voz dela saiu rouca.

_ Boa noite, Zaira – falei trêmula de choque misturado com tristeza – M-Me desculpem, eu não quis interromper... Com licença!

Entrei no carro e não sei como tive condições de arrancar dali sem romper em lágrimas criando maior humilhação a mim mesma.

Fiquei com a cabeça apoiada no volante durante longos minutos em minha garagem, dando vazão à enxurrada de lágrimas que proibi que caíssem na frente do feliz casal.

Soquei o volante raivosa lembrando-me da cena da Zaira dando prazer àquela estranha. Após cessar o choro, limpei o rosto e ergui orgulhosamente o queixo...

_ É isso, fato 1: Zaira tem namorada – enumerei pra mim mesma recordando da acompanhante da mecânica – Fato 2, eu não sou o tipo dela... Isso eu já devia ter me conscientizado há tempos!

Enquanto me despia olhando-me no espelho do closet; martirizei-me olhando meu corpo e percebendo as diferenças do da mulher que agradava a Zai.

Meus seios eram médios, quando os da mulher eram volumosos; eu não possuía muitas curvas, não tinha tempo para malhar, assim não era forte e definida, não tinha bunda arrebitada e já não era nenhuma menina. Nem que eu quisesse teria cacife pra competir com a companheira da Zaira que, no máximo, teria uns 26 anos!

Entrei desanimada sob o jato quente do meu chuveiro e ali fiquei por muito tempo lavando as lágrimas. Caí exausta em minha cama e depois de horas rolando na cama o cansaço me fez adormecer.

Pela manhã reuni pedaços de minha alta estima e tomei uma decisão: aquela atração por Zaira acabava ali... Pagina virada! Voltaria a minha realidade; namoraria quando meu corpo pedisse e continuaria a minha vida seguindo as rotas que foram traçadas e eram aprovadas pela sociedade: homem x mulher.

_ Volte à terra querida Virg! – retruquei pra mim mesma – Nada de alterações de rotas; siga o caminho de sempre... Esse é mais seguro e sem dolorosas surpresas!

Fim do capítulo