Capítulo 4

Só sei que nada sei... (Sócrates)

Virgínia

Cheguei ao ponto de ônibus e parei, quando virei-me a Zaira estava placidamente adormecida no banco do carona.

Fiquei olhando-a no sono... Ela era muito linda! Lábios tipicamente negros, carnudos. Seus braços fortes estavam relaxados e uma de suas pernas longas estava sob a outra.

_ Está exausta! – ponderei um instante e decidi não acordá-la – Você vai comigo.

Cheguei ao meu condomínio e estacionei o carro na garagem. Sorri ao ver que Zaira em nenhum momento despertara.

_ Zaira? – toquei em seu ombro tentando despertá-la – Moça linda acorda!

Ela abriu os olhos negros de pronto segurando minha mão com força.

_ Calma, sou eu! – falei sentindo seu forte agarre – Chegamos!

_ Chegamos aonde? – Zai olhando fora do carro exaltada– Pra onde me trouxe?

_ Você acabou adormecendo e ao chegar ao ponto do ônibus não tive coragem de te despertar e deixar naquele local sozinha – expliquei sem jeito – assim, te trouxe pra minha casa! Dorme no meu sofá e mais tarde vai pra sua casa...

Zaira, enfim, soltou meu pulso e permaneceu me encarando por uns instantes até acenar concordando. A conduzi até o elevador onde, silenciosa,fez o percurso ao meu andar.

_ Seja bem-vinda! – falei afastando-me de lado pra que a negra linda entrasse – Sinta-se a vontade!

_ Obrigada Virg – Zaira parada no meio de minha sala – Realmente eu estou acabada e ficar num ponto de ônibus sem horas pra chegar a minha casa e descansar é o que menos precisava! Então, te sou grata por me dar guarida e se não for abusar muito, poderia tomar um banho?

_ Claro que pode! – respondi de imediato chamando-a a seguir-me ao meu quarto– Desculpa, você terá que tomar banho no meu banheiro porque o social está em reforma por conta de um entupimento.

_ Sem problemas! – Zaira inquieta observando meu quarto – Você gosta de móveis antigos…

Sorri ao ver como olhava pra minha cama estilo vitoriano.

_ Amo peças antigas – confessei – Aqui é o banheiro, tudo que precisa está nos armários; enquanto se banha vou preparar um lanche pra nós, porque não sei você, mas eu estou faminta.

Saí a deixando à vontade! Preparei sanduíches e suco de laranja colocando-os na bancada a aguardando. Tentava controlar meus pensamentos que vagavam loucos, em turbilhão, enquanto lavava os utensílios usados.

_ Deixei seu banheiro organizado pra que você possa tomar seu banho – a voz dela me tirou dos pensamentos – Acho que me demorei, não foi?

_ Não demorou e não precisava se incomodar em organizar o banheiro pra... – virei lhe respondendo e silenciei com o impacto de vê-la numa camiseta que em mim ficava longa nos joelhos e nela apenas à altura das coxas.

Minha boca secou e um frio desceu por minha espinha...

_ Er... Perdoe-me a ousadia – Zaira visivelmente constrangida – Eu peguei no seu armário essa camiseta porque minha roupa está suja pra deitar-me em seu alvo sofá, mas não te preocupe que não peguei nenhuma outra peça.

_ Diabos!!!! – pensei umedecendo vergonhosamente em certa parte de meu corpo – se ela pensa que essa informação adicional de que nada usa além desta peça me deixa tranquila, se enganou estrondosamente! Valha-me santa dos cheios de tesão...

_ Virginia? – a voz preocupada da Zai me tirou daquele torpor – Tudo bem?

_ S-Sim! Tudo bem sim – gaguejei atrapalhada dando uma desculpa pra minha leseira – É o cansaço! Estou no pó da rabiola de exaustão... Vou tomar um banho rápido e já volto... Pode lanchar!

Saí daquela cozinha parecendo ser perseguida por mil demônios! Retirei a roupa veloz e alterei a temperatura do chuveiro pra gelado lamentando não ter a rotação: SUPER GELADO TIRA TESÃO!

Minutos depois, vestida com um pijama composto de calça e top, entrei na cozinha encontrando a Zaira sentada olhando perdida pra janela que dava pra o jardim do condomínio.

_ Você não lanchou – falei observando o sanduiche e suco deixados pra ela do mesmo jeito que deixara – Não gosta de sanduiche de queijo ou do suco de laranja?

Zaira voltou-se pra mim e senti seus olhos percorrerem meu corpo em avaliação e logo serem desviados.

_ Eu resolvi te esperar pra lancharmos juntas! – falou um tanto rouca e ansiosa apontou o lanche – Podemos?

_ Claro! – concordei sentando-me ao seu lado.

Em silêncio comemos todo nosso lanche; quando terminamos Zai fez questão de lavar a louça usada e eu enxuguei-as guardando.

Após pegar roupas de cama e arrumar o sofá me despedi dela indo pra meu quarto.

_ Bons sonhos Zai – desejei.

_ Pra você também – ela me olhando sentada no sofá – Sairei cedo, mas deixarei tudo arrumado.

_ Não se preocupe com isso... – afirmei sabendo que deveria ir ao mesmo tempo em que queria ficar – Bem, deixarei a porta do meu quarto aberta, para que entre caso precise usar o banheiro; boa noite!

_ Boa... – Zaira olhando-me.

Deixei a sala sob o olhar dela que me queimava a pele.

Confesso que foi difícil conciliar o sono sabendo da presença dela em minha sala, mas acabei apagando em meio a pensamentos conflituosos de porque eu me sentia assim tão suscetível a cometer loucuras dantes impensáveis com aquela mulher!

_ Santo Deus, o que está acontecendo comigo?! - sussurrei às paredes enquanto tentava apagar no sono e não pensar mil e uma bobagens com a mulher deitada no meu sofá.

Fim do capítulo