Memórias por Nay Rosario
Capitulo 4 - Revisitar
Salvador é uma cidade muito bela. Aqui temos duas estações de ano: verão escaldante e verão com algumas semanas chuvosas. Eu conhecia a cidade como a palma da minha mão esquerda. Frequentei os bairros nobres e boêmios, entretanto, era no subúrbio que eu me achava. Inúmeras vezes fui a Ribeira apenas pelo prazer de desfrutar das iguarias servidas na segunda-feira, após a lavagem do Bonfim. Sentirei falta da cidade que me abraçou como conterrânea.
Nasci em Aracaju. Filha de um francês e uma sergipana. Moramos na cidade de Costa Azul até meus dez anos, Michel tinha doze e Jean estava com oito. Papai havia sido transferido para o polo petroquímico de uma das cidades metropolitanas de Salvador; Camaçari. Naquela época, quem trabalhava no Polo tinha uma condição financeira bem elevada, haja visto que não haviam muitos funcionários com experiência em determinadas áreas da automobilística.
Ilha de maré, São Francisco do Conde, Caixa Prego e Madre de Deus eram como usa segunda casa. Eu e meus irmãos adorávamos ir para um desses lugares aos finais de semana. Nossos pais queriam que tivéssemos a melhor educação possível. Mamãe veio morar conosco em Salvador e estudamos todo o período escolar no Salesiano. Referência em ensino de qualidade. Os valores altíssimos justificavam.
Michel estudou bastante e conseguiu entrar em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Nosso pai era só orgulho. Cheguei a conjecturar que ele preferisse cursar algo relacionado às artes já que ele sempre teve aptidão para tal. Jean sempre disse que faria medicina, entretanto a gastronomia o conquistou. Sempre fui fascinada pela história dos objetos, cidades, pessoas. Não houve dificuldade na escolha final.
No leito de morte, papai nos confessou que nunca aspirou sonhos utópicos para os filhos, pois sabia que, independente das suas sugestões, nosso caminho seria traçado por nós. Assim se deu nossa despedida momentânea. Findou também qualquer diálogo decente e sem ofensas entre meus irmãos.
O sepultamento foi repleto de amigos, vizinhos, conhecidos e desconhecidos. Enquanto o pastor falava palavras de conforto, saí caminhando entre as lápides. Lia nomes e números. Via alguns rostos quase invisíveis pelo tempo. Imaginava as tantas histórias e circunstâncias que os haviam levado até a última morada. Sempre tive a morte como companheira inseparável da vida, logo se havia a presença escancarada de uma a outra estava a espreitar o momento certo de aparecer. As moíras gregas teciam o fio do destino de cada ser humano.
Fim do capítulo
Até!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 25/11/2021
Não gosto de sepultamento nunca gostei sempre achei estranho colocar uma pessoa que amamos em uma cova virar as costas e deixa lá.
Resposta do autor:
Nunca fui a sepultamentos.
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