Capitulo 10
CAPÍTULO 10
Marília não conseguia se perdoar por permitir que Isis lhe tirasse do prumo, principalmente da forma como aconteceu em Salvador. A culpa que sentia estava lhe machucando muito a ponto de querer falar com Carol e tentar se desculpar pelo ocorrido, não achava correto deixar a moça ser enganada daquele jeito.
Se colocava o tempo inteiro no lugar da namorada traída e não gostaria de ser a última a saber. E ainda havia o risco real de uma gravidez não planejada, indesejada e desastrosa para o momento de sua vida e por todos os outros fatores que vocês já conhecem. A estudante estava arrasada com tudo e muito preocupada também.
Ela e o amigo tentavam manter a rotina de estudos, apesar de o clima entre eles estar tenso desde a viagem para Salvador. Beto viajou novamente para fazer a prova da segunda fase do concurso da Bahia, dessa vez sozinho, pois como era esperado, a baixinha não foi aprovada na primeira etapa do certame, o que a deixou ainda mais depressiva com o rumo que sua vida estava tomando. Ladeira a baixo era pouco para resumir os últimos acontecimentos.
Em uma tarde enquanto ela e Beto estudavam na biblioteca da universidade onde se formaram, Marília se sentiu mal e desmaiou. Poderia ser uma queda brusca de pressão, mas diante do que havia acontecido, aquilo acendeu uma luz de alerta para os dois.
Eles saíram rapidamente da universidade, passaram na farmácia e foram para a casa do rapaz. Eles estavam aflitos e, embora não quisessem cogitar a gravidez, a possibilidade era bastante palpável. Marília fez um teste e os dois ficaram aguardando ansiosos que o resultado aparecesse.
- Dois risquinhos.
- Positivo, então. - Confirmou, Beto.
- Não pode ser! Vamos fazer outro e o exame de laboratório também. - Marília falava em evidente desespero.
E assim fizeram. No fim daquele dia, sentaram-se lado a lado no sofá da casa do rapaz com não sei quantos testes de farmácia sobre a mesa de centro e um teste beta HCG feito em um laboratório de análises clínicas em mãos. Todos positivos.
Estavam em choque. Não podiam negar o óbvio: estavam grávidos!
Para piorar as coisas, a porta se abriu e os pais de Beto entraram no apartamento e se depararam com a cena. Por alguns instantes eles ficaram paralisados, mas logo depois fizeram uma festa com a notícia de que seriam avós.
Não deixaram que Marília e o filho falassem qualquer coisa. A primeira pergunta era se os pais da moça já sabiam. Ela negou balançando a cabeça, sem conseguir levantar os olhos para encarar as pessoas a sua frente. Trataram de ligar para a mãe da Marília e marcaram um jantar naquele mesmo dia. Faziam questão de contar a novidade ao lado dela e do filho. E assim fizeram.
Marília e Beto não tiveram a oportunidade de processar o que estava acontecendo, nem, tampouco, de decidir se queriam ou não ter aquele filho. Foram atropelados pelas ações dos pais.
O jantar transcorreu em meio a felicidade e tensão. Marília contou a novidade a seus pais que, de início, ficaram atônitos pois, segundo eles, não sabiam que os dois estavam namorando embora desconfiassem que existiam algum romance entre eles, já que não se desgrudavam.
Passado o susto com a notícia inesperada, os dois casais mais velhos começaram a fazer planos para o casamento e a chegada do neto. Marília disse que não queria e não precisaria se casar, mas as mães de ambos discutiam a festa enquanto os pais já resolviam onde o casal iria morar, ignorando completamente os protestos da estudante. Parecia que os dois não estavam ali. Eram meros expectadores.
Marília olhou para Beto e balbuciou o nome da Carol, eles precisavam falar com ela o quanto antes. Ele queria ir sozinho, mas a baixinha insistiu que também tinha a obrigação moral de explicar toda a confusão que se instalou. Ele assentiu e os dois seguiram para o apartamento da garota logo após o jantar. Como era de se esperar, a conversa foi muito difícil, cheia de acusações e muito choro de todos os envolvidos.
- O que você está me falando, Beto? Grávida? Eu tinha certeza que vocês tinham um caso, eu sabia. Vocês estão me enganando há quanto tempo? - Perguntava em meio aos soluços.
Marília tentou explicar, mas foi agressivamente repelida.
- Carol, me escuta. Nunca tinha acontecido nada entre a gente. Foi um erro, uma inconsequência. Me desculpe. Nós estávamos bêbados, foi coisa de momento. Você tem todo o direito de ficar com raiva, de nos odiar, mas acredita que nós não temos nada.
- Um erro que acabou com meu relacionamento. Um erro que vai trazer uma criança ao mundo. Marília, vocês são dois escrotos.
- E virando para o namorado, completou: - sapatão, né? Uma sapatão do Paraguai, isso sim. Eu sentia que mais cedo ou mais tarde eu ia descobrir, eu sabia que vocês tinham um caso, era óbvio. Como eu fui burra!
Marília conseguia entender os sentimentos da namorada do amigo. Conhecia bem a dor da traição e da falta de respeito. Sofreu na pele e, ironicamente, provocou com seus atos impensados a mesma dor em outra pessoa. Ela estava muito triste, não queria ter sido, de certa forma, causadora do sofrimento de alguém. Saíram de lá e ficaram dentro do carro parado sem saber o que fariam dali pra frente. Eles não conseguiam conter as lágrimas desde a conversa que tiveram com Carol.
- Beto, eu não queria que nada disso estivesse acontecendo. Estou me sentindo muito mal pelo sofrimento que causei à Carol.
O amigo a interrompeu.
- Que nós causamos, Ma. Nenhum de nós fez nada sozinho. Erramos juntos e vamos arcar com as consequências juntos. Não sei se um dia a Carol vai me perdoar, mas agora precisamos focar porque teremos um filho para criar.
- Eu não queria um filho agora, não queria casar, não queria nada do que está acontecendo. Você pode me deixar na casa do André? Vou mandar um torpedo avisando que estou indo até lá. - Falou enxugando as lágrimas que insistiam em lhe banhar a face.
Atendendo ao pedido da amiga, Beto a deixou e, demonstrando cuidado, a lembrou que ela não poderia beber por causa da gravidez.
- Ma, sei que tudo é mais difícil para você, mas estamos juntos nessa, tá?
Marília abraçou o amigo e afirmou que, apesar de tudo, ainda bem que era com ele. Lhe deu um beijo no rosto e se dirigiu para a portaria do prédio.
- Pera que vou me sentar, não estou conseguindo processar essa informação. G-R-Á-V-I-D-A! Não pode ser! Como isso foi acontecer, amiga?
Marília contou o que aconteceu em Salvador. Pelo menos as partes que lembrava
. - Como você me escondeu isso por mais de um mês? Pensei que fôssemos amigos, que você confiasse em mim.
- Não faz isso, por favor. Eu não estava te escondendo, eu só não queria falar sobre o que aconteceu. Era como se eu não falasse sobre isso, a realidade ficava mais distante, sabe? Não estava e não estou preparada para essa mudança na minha vida. Não quero filho, casamento, nada disso. Estou arrasada, Bi.
Marília segurava as mãos de André enquanto pedia desculpas em meio ao choro que não conseguia controlar.
André sentou Marília em seu colo e tentou acalmar a amiga que estava completamente perdida.
Em menos de um mês Marília e Beto se casaram em uma cerimônia simples com a presença da família e poucos amigos e mudaram para um apartamento cedido pelo pai da noiva. Na verdade, Marília se mudou. Beto raramente aparecia por lá.
Fim do capítulo
Olá, menines!
Mais um capítulo da história de Marília que está quase uma novela mexicana de tanto sofrimento.
Espero que gostem!
Bjs
Z
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