Capitulo 57
A Última Rosa -- Capítulo 57
-- Qual a lei que as crianças mais gostam?
Wancleyson pensou, pensou e respondeu todo empolgado.
-- Leitura.
Pepe balançou a cabeça em um claro sinal de desgosto.
-- Meu Deus, como você é "inguinorante". É Lei Tininho.
-- Hum, desculpe, eu nunca fui bom em perguntas e respostas.
-- Não tem problema bebê, bofe bom é bofe burro!
Quando Jessica entrou na recepção empurrando a cadeira de rodas, todos correram ao seu encontro falando ao mesmo tempo.
-- Decididamente eu não tenho vocação para a pobreza, ser expulso do quarto daquela forma pelo guarda Belo, sem sequer poder terminar a francesinha da tia Inês, é inadmissível! -- reclamou Pepe -- Se eu fosse um senador, um deputado, com certeza isso não aconteceria.
-- Jessy, amor. Você não vai acreditar no que eu tenho para te contar.
-- Vamos logo, já estou atrasada com o almoço -- disse Valquíria -- Lombo de porco no forno é um prato demorado de se preparar.
-- Tia Inês vai comer Lombo de porco no forno? -- indagou Vitória -- Você vai matar a mulher!
-- Não se preocupe, manteiga do meu pão, quando chegarmos em casa vou terminar de fazer as suas unhas -- prometeu Pepe.
-- Jessy, é urgente -- Michelle estava desesperada.
Jessica ficou parada por um momento, com pena de si mesma. Como conseguiu juntar tantos loucos ao seu redor?
-- Pepe, leva a tia Inês para o carro.
-- É pra já -- o rapaz imediatamente assumiu o controle da cadeira -- Vamos, my precious.
Assim que Pepe se afastou, Jessica se virou para Michelle com um sorriso nos lábios.
-- O que foi amor? Você parece tão nervosa.
Michelle puxou-a pela mão e a fez sentar-se junto a ela.
-- A Augusta está aqui no hospital -- disse, sem rodeios.
Jessica se pôs a rir.
-- Amor, a Augusta está morta. O Maicon confessou, lembra?
Michelle apertou a mão dela vigorosamente.
-- Ela está aqui, eu acabei de falar com ela.
Jessica se levantou e começou a andar de um lado para o outro.
-- Não! Não pode ser. Como? O carro dela estava no fundo do rio!
-- Mas o corpo não! Não é verdade?
-- É -- Jessica estava atônita.
-- Então amor, ela foi salva por um mergulhador e trazida para cá.
Jessica piscou os olhos nervosamente, mas a expressão do rosto era de felicidade.
-- Isso é maravilhoso! -- ela enfiou a mão no bolso e pegou o celular -- O depoimento da Augusta vai esclarecer todo o caso -- disse com uma animação contagiante -- Vou chamar o delegado.
-- Espera -- Michelle, com uma das mãos, segurou firmemente o braço dela -- Eu prometi que esperaríamos.
Jessica abriu os braços, num gesto mais significativo que mil palavras.
-- Como assim? -- ela inflou o peito, indignada -- Vamos deixá-la fugir novamente? Já cometemos erros suficientes com a Augusta, não vamos mais cometer.
-- Por favor -- insistiu ela, mas havia um brilho de dúvida nos olhos -- Eu sei que é arriscado, mas ela está muito debilitada.
Jessica bufou.
-- Ela não é flor que se cheire, você sabe disso -- então, depois de uma pausa, Jessica completou rapidamente: -- Tudo bem, vamos fazer o seguinte... Eu peço para o delegado deixar alguns policiais à paisana vigiando as saídas para caso ela tentar fugir -- Jessica suspirou mais pesadamente dessa vez -- Farei isso por você, não por ela.
Michelle respondeu com um meio sorriso, em seguida estendeu a mão para que Jessica segurasse.
-- Faça isso, amor.
Dois dias haviam se passado desde que Inês deixou o hospital. Jessica respirou fundo e decidiu ter finalmente uma conversa com ela. Abriu a porta do quarto lentamente, esperando encontrá-la deitada. Em vez disso, porém, foi surpreendida ao vê-la sentada numa poltrona próxima à janela, lendo um de seus livros Espirita. Ela colocou o livro de lado e se levantou imediatamente, alisando automaticamente o tecido de seu vestido.
-- Precisamos conversar, tia -- disse Jessica, jogando seu cabelo louro e macio para trás e endireitando os ombros -- Esperei que se recuperasse completamente, não quero ser causadora de mais um piripaque -- ela sorriu, mas seus belos olhos estavam tristes.
-- Sim, estava esperando que me procurasse -- ela parecia tranquila, mas Jessica notou a cor que aquecia as bochechas da jovem senhora.
-- A senhora sabe muito bem o quanto foi terrível para mim saber que meu pai não me queria. Como pôde fazer isso com sua própria filha? É imperdoável.
Inês ficou olhando para ela, sentindo-se subitamente triste. Os olhos azuis da sobrinha estavam sombreados por uma mágoa profunda, mas Inês pôde ver um lampejo de emoção neles. Uma emoção tão inocente que chegava a ser doloroso testemunhá-la.
Inês estendeu a mão para tocar no rosto dela.
-- Sei que não podemos voltar no tempo e alterar o que já passou, mas podemos tentar superar as nossas mágoas. Talvez, assim, você possa perdoar o seu pai.
Jessica puxou uma cadeira e se sentou de frente para a tia.
-- Enrico não é o meu pai. Meu pai verdadeiro é o Daniel, aquele que me criou, assumiu, protegeu, ensinou, me amou mesmo não tendo me gerado. Esse sim é o meu herói, agora mais do que nunca.
-- Então, não vai querer saber que tipo de homem seu pai era? -- perguntou, com expressão amena.
-- E por que eu deveria ter mais interesse por ele do que ele teve por mim?
Inês franziu a testa.
-- Isso quer dizer que você não quer conhecer o seu irmão?
Mas Vitória chegou naquele instante com a bandeja do chá, que colocou na frente delas, Jessica agradeceu com a cabeça e a moça saiu. Era óbvio que Jessica estava tentando se controlar, não conseguia sequer pensar na possibilidade de procurar a família de Enrico.
Inês tomou o silêncio dela como afirmativa. Jessica bebeu um gole do chá e colocou a xícara de volta à bandeja. Por fim, ela respondeu:
-- Não quero nada deles. Nem dinheiro, nem convivência familiar.
Inês ficou estudando o rosto da sobrinha. Parecia decidida, mas, ainda assim, ela não estava acreditando muito. Não era possível que ignorasse o fato de que tinha um irmão.
-- Sabia que mesmo correndo o risco da esposa descobrir, seu pai procurou por você? -- a voz era baixa, mas perfeitamente audível.
Jessica, por um instante, não se moveu. A incredulidade estampada nos olhos claros.
-- Não pode estar falando sério, tia -- Jessica encarou Inês com curiosidade, como se quisesse saber se ela estava apenas tentando animá-la.
-- Mas estou! -- respondeu Inês, com firmeza.
-- Mas, como? Por quê?
-- Porque ele queria conhecê-la.
Os olhos de Jessica ficaram céticos novamente.
-- Não posso acreditar nisso!
-- Pois acredite, ele procurou por você, mas sua mãe não permitiu.
Jessica sorriu, irônica. Ela ficou em silêncio e Inês continuou:
-- Seu pai escrevia regularmente para a sua mãe. Não apenas isso, ele foi à sua formatura na faculdade...
-- Não pode ser -- Jessica nem deixou que Inês terminasse -- O advogado deu a entender que Enrico me desprezava.
-- Não, ele não a desprezava. O erro de Enrico foi ser covarde -- disse Inês, os lábios apertados -- Há muito mais. Muito, muito mais! -- deu um suspiro -- Muita coisa tem de ser esclarecida. Pelo menos, em relação ao seu pai.
-- Muito bem -- disse, controlada -- O que tem a me dizer sobre ele?
Inês apoiou as mãos na mesa e olhou para ela.
-- Seu pai foi um homem muito envolvido com a família, a família para ele era tudo.
-- Isso eu já sabia -- Jessica cruzou os braços -- É claro que o fato do meu pai ter me procurado, ter assistido a minha formatura me abalou um pouco, mas isso não altera nada.
-- E se eu disser que depois da formatura, os seus pais pediram para que ele não mais se aproximasse de você?
-- O que quer dizer?
-- Eu lhe asseguro, Jessica -- começou ela, na defensiva -- Conversei com seus pais. Tentei aconselhá-los inúmeras vezes, tentei convencê-los a deixar o Enrico fazer parte da sua vida, mas foi em vão. Seus pais estavam irredutíveis -- a senhora levou uma mão à fronte -- Enrico não a abandonou, durante todos estes anos ele se manteve a par de todas as suas atividades.
Jessica levantou-se e atravessou o quarto até a janela.
-- É inacreditável, tia -- disse, confusa -- Por que. Por que mamãe e papai fariam isso?
-- E quem é que sabe? Talvez, por insegurança.
-- Então, ele tentou...
-- Sim, mas ele percebeu que nunca poderia ter uma relação normal com você, sem o apoio de sua mãe.
-- E a mulher com quem ele se casou?
-- O que tem ela? -- Inês ergueu os olhos.
-- Como ela é, quero dizer, ela é legal?
Inês fez uma careta.
-- Ela é uma pessoa fechada para o mundo atual, tem muitos preconceitos...
Jessica levantou a mão, pedindo para que Inês não continuasse. Seus olhos mostravam um certo cansaço, e foi com desânimo que falou:
-- Já entendi, tia. Ela é homofóbica -- Jessica apertou os punhos.
-- O que não faz a menor diferença -- retrucou ela, com uma ponta de humor -- Salete é uma pessoa insignificante que não te acrescentará em nada. Seja seletiva, não dê a mínima para ela. O que importa é o seu irmão, ele sim é importante.
Jessica sacudiu os ombros.
-- Não está nem um pouco interessada em saber alguma coisa sobre o seu irmão?
Jessica inclinou a cabeça loira.
-- Preciso de tempo para pensar. Conversar com a Michelle.
-- Não acredito que a Michelle tenha uma opinião diferente da minha -- Inês bebeu um gole do chá e apreciou o aroma e o sabor -- Pelo menos me prometa que vai pensar no assunto.
Jessica concordou.
-- Ao contrário do que pensa, tia, a ideia de encontrar meu irmão me deixa, no mínimo, curiosa.
Afastando os lençóis e o fino cobertor, Jessica se deitou ao lado de Michelle.
-- De qualquer modo, se meus pais não queriam que ele se aproximasse de mim, com certeza tinham suas razões, não vou questioná-las, agora.
-- Você acha que eles tinham razões justas? -- perguntou Michelle.
-- Não sei, Mi. Eu era muito pequena para entender essas coisas.
-- Claro, seria impossível para uma criança. Porém, os tempos são outros, você é adulta, e as questões devem ser discutidas.
-- Quer dizer, ir procurar o meu irmão?
-- Claro. Porque não, amor?
Jessica franziu a testa.
-- Não é tão simples assim -- a voz de Jessica soava indecisa.
Michelle respirou fundo, desejando, simplesmente, poder obrigá-la a visitar o irmão. Então, resolveu apelar para todos os argumentos.
-- Lembra o que prometeu a Samuel Felipe Vaz? O seu anjo, mentor, guia, sei lá. Você prometeu que abriria o coração para ouvi-lo. Você fez isso?
Jessica ergueu os olhos.
-- O que é que está tentando dizer, Mi?
-- Estou tentando fazer com que entenda as coisas, Jessi -- respondeu, com firmeza -- Você acha que pode continuar com sua vida normal, sabendo que tem um irmão e que sequer se interessou em conhecê-lo?
Jessica sentia-se pouco confortável.
-- E o que quer que eu faça?
-- Quero que deixe o orgulho e o medo de lado e o procure.
-- E se ele me tratar mal? -- Jessica apertava as palmas das mãos contra o rosto -- Me agredir?
-- Mostre o dedo do meio para ele e saia de lá sem olhar para trás. Faça a sua parte, amor, independente dele te aceitar ou não. Porque a maior recompensa será a consciência tranquila de que fez tudo para dar certo.
Jessica se apoiou em um dos cotovelos para olhar para ela.
-- Você é uma fofa, sabia?
Michelle aproximou-se, até ficarem praticamente coladas.
-- Claro que eu sei -- ela disse, enquanto se inclinava, buscando os lábios de Jessica -- Fofa e bonitinha -- completou, sorrindo.
-- Você é linda, muito mais que a Gal Gadot e me dominou completamente.
Michelle se viu observada pelos olhos azuis mais lindos do mundo.
-- Você não acha que dezembro é perfeito, Mi?
-- O que está querendo dizer, Jess?
Jessica virou-se de lado, segurou suas mãos e falou:
-- Tanta coisa aconteceu desde o nosso noivado que não tivemos tempo nem para pensar em nosso casamento -- ela disse, tranquilamente -- Você ainda quer casar comigo?
Os olhos de Michelle se encheram de lágrimas, a emoção a impedia de responder. Ao ver que ela permanecia em silêncio, Jessica comentou:
-- Hoje eu consigo escutar o seu silêncio. E entendo o que os seus olhos querem dizer.
Michelle suspirou e deu um sorriso.
-- E o que eles dizem?
-- Que você me ama -- seus olhos percorreram o rosto de Michelle e passou a mão pelos cabelos dela -- E agradeço todos os dias a Deus, por ter me oferecido uma mulher tão especial.
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 17/10/2021
Augusta tinha que ficar amatrada, não da pra confiar nesse ser.
Conhecer o irmão o que podemos esperar ....
Casamento obaaaa.
Bjos Vandinha
Resposta do autor:
Olá Hel. Tudo bem?
Será que Augusta vai aprontar novamente? Tudo é possivel vindo dela.
E o irmão? O que vai rolar?
Beijos. Até mais.
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Mille
Em: 13/10/2021
Oi Vandinha
Não pode deixar a Augusta sem supervisão ela é meio traiçoeira.
Olha tb estou com medo desse irmão da Jess, vai que ele é o cara que estava ajudando o Maicon.
É loira está na hora de conhecer o mano, e se por acaso não for bom, dar meio volta e vai ficar com os irmãos que a vida te deu, esses embora malucos torcem por sua felicidade.
Bjus e até o próximo capítulo
Blz, fiquei preocupada e quando fui ver sua resposta tinha sumido.
Fica na paz
Resposta do autor:
Olá Mille.
Será que Augusta terá coragem de aprontar novamente?
Será Mille, que a Jessica passará por mais esse desgosto?
Não sei o que aconteceu Mille. Eu respondi e quando fui ver, havia sumido. Vai saber, talvez eu tenha clicado em apagar. Desculpa.
Beijos. Até mais.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 13/10/2021
Sei não esse irmão de Jéssica vai ser perrengue.
Resposta do autor:
Olá Marta.
Será que Jessica vai sofrer mais uma decepção?
Beijos querida. Até.
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NovaAqui
Em: 13/10/2021
Uhuuuuuu! Vão casar!
Não deixa a augusta sozinha não. Se bem que: se ela tentar fugir escondida, conseguirá! A doutora é danada
Partiu conhecer irmão
Abraços fraternos procês aí! S2 €:-)
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Augusta tá um bagaço, mas mesmo assim é bom ficar de olho na mulher.
E esse irmão, hem. Problemas a vista.
Paz e Luz para você. Até.
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