Capitulo 3
"QUEBRA AÊ, OLHA O ASA AÊ" [1]
Junho de 1998
As obrigações da faculdade e do estágio na Procuradoria do Município estavam tirando o juízo de Marília. Estava reclusa, debruçada sobre a elaboração de seu TCC há dias, pois tinha que entregar seu projeto até o fim do semestre. Só saia para a aula e o estágio. Precisava urgentemente encher a cara para relaxar.
Parecendo ler seus pensamentos André ligou lhe convidando para curtir a noite daquela quinta-feira quente no bar Fantasma da Ópera que fica anexo a boate que tinham ido da outra vez. Marília não precisou pensar muito e aceitou o convite, desligou e saiu correndo para tomar banho e se arrumar. O amigo ficou de pegá-la as 22h. Não queriam sair de lá muito tarde pois teriam aula na manhã seguinte.
No horário combinado, André parava o carro no momento em que Marília chegava na portaria vestindo uma micro-saia marfim com uma fenda nada discreta na altura da coxa e uma camiseta de alcinha azul marinho. Os cabelos estavam soltos e usava uma maquiagem leve que realçava seus olhos e tinha nos pés uma sandália alta de tiras pretas para tentar disfarçar seu 1,57m de altura.
Marília, entrou no carro, cumprimentou o amigo e colocou o cinto de segurança.
- Uau! Desse jeito eu vou mudar de time! Tá gostosa, hein, amiga? Arrasou. Riram e seguiram conversando animadamente até chegarem a seu destino.
O barzinho ainda não estava lotado, entraram e avistaram a mesa onde os demais os esperavam. Conversaram, beberam e observaram as pessoas no lugar.
A baixinha não queria ficar com ninguém. Estava exausta e só queria esquecer um pouco de seus compromissos de universitária.
Naquela noite, Marília conheceu uma menina loirinha, com olhos verdes expressivos e que parecia não ter idade para sair à noite sozinha. A garota era muito desinibida e tinha uma conversa agradável. Trocaram telefones ao se despedirem, mas não rolou nada além disso.
André implicou com a amiga quando estavam indo embora. - Minha amiga está tão fiel a uma certa morena que por acaso não deu as caras hoje. Acho que seu radar localizador estava desligado. Marília revirou os olhos e riu da besteira do amigo.
Os dias que seguiram até o fim do semestre foram de muita dedicação. Marília tinha menos de duas semanas para entregar o projeto de seu TCC que seria finalizado no segundo semestre. Decidiu se manter em casa até terminar aquele tormento. Declinou de todos os convites que recebeu. Inclusive os feitos pela loirinha que sempre lhe ligava no horário do recreio da escola.
Marília sabia que não deveria alimentar aquela amizade. Já tinha quase 23 anos e estava se formando e Cris tinha apenas 17 e ainda estudava no colégio. Ela gostava de ressaltar que completaria dezoito em agosto, logo no comecinho do mês
O restante do semestre passou voando. Marília conseguiu concluir seu projeto de TCC a tempo e sua orientadora fez algumas observações para que ela continuasse seu trabalho. Queria novidades no começo de agosto. Marília revirou os olhos porque sabia que em julho ia tirar o atraso das farras que precisou abdicar no último mês. Decidiu que tudo poderia esperar até o começo do próximo semestre.
***
Julho de 1998
E enfim, férias!
Marília e os amigos mais próximos combinaram um fim de semana na casa de praia de seus pais para festejar o início do período mais esperado do ano. Foram em uma sexta à tarde, muito animados, divididos em quatro carros. Curtiram a praia, beberam e relaxaram muito deitados em redes na varanda da casa enquanto planejavam as atividades do mês. Muita praia, muita bebida e o Forta[2]l, é claro. O carnaval fora de época aconteceria na última semana das férias do meio do ano e a discussão foi para escolher o bloco em que iriam sair.
André queria o Siriguela, que era puxado pelo Chiclete com Banana, os outros queriam o bloco Quero Mais, do Asa de Águia. O debate entrou na madrugada, enquanto dividiam um beck na varanda, curtindo a brisa que vinha do mar.
Decidiram pelo bloco do Asa de Águia. O argumento de que o era mais barato e que sobraria mais dinheiro para as outras farras. Com esse argumento conseguiram convencer André e Antônia que tiveram voto vencido.
- André quer ir no Seriguela porque está cheio de playgay[3], do jeito que ele gosta. – Ironizou Marília às gargalhadas que foram acompanhadas pelos demais presentes.
André fingiu chateação, mas sabia que a amiga estava certa. Adorava aqueles caras complicados que só queriam sair com ele depois que deixavam as namoradas patricinhas em casa.
Combinaram de irem todos juntos comprar os abadás no shopping Iguatemi. Aproveitariam para comer pizza e assistir um filme.
E assim começou a programação das férias em Fortaleza.
Toda semana tinha festa de esquenta para o Fortal e a turma ia em peso. Não perderam uma. Durante esse período, frequentaram apenas lugares diagues, muita praia e a Oficina de la Pizza, a pizzaria favorita da turma.
Os dias passaram voando e na quinta-feira seguinte já começaria o Fortal. A adrenalina estava a mil. Todo mundo queria beijar muito nos três dias da festa.
Durante o mês de julho, Marília falou algumas poucas vezes com Cris. Não ligou para Isis, mas a morena vez ou outra vinha em suas lembranças. Beijou muitos garotos, mas não sentiu vontade de passar disso com nenhum deles. Começou a acreditar que era lésbica.
Finalmente, chegou o tão esperado carnaval fora de época. Marília e seu grupo de amigos resolveu alugar uma van para levá-los nos três dias de festa, afinal queriam beber e era impossível estacionar perto da Avenida Beira Mar ou conseguir um táxi após a festa.
Estavam todos eufóricos com a despedida das férias e foram juntos com os abadás devidamente customizados, fazendo um esquenta com batida de vodca com frutas dentro do veículo que os conduzia enquanto fazia o roteiro passando na casa de cada um dos amigos.
Se divertiram demais durante todos os dias de festa, beijaram muito, se pegaram muito também. A alegria foi indescritível. O grupo era tão animado que estampou a capa da edição da segunda-feira pós carnaval fora de época do principal jornal da cidade.
***
[1] Quebra aê, Asa de Águia
[2] Carnaval fora de época que acontece, em Fortaleza, no último fim se semana das férias de julho.
[3] Gíria usada nos anos 1990 e 2000, em Fortaleza, para se referir a rapazes gays ou bissexuais que mantinham uma vida dupla por não aceitar a própria sexualidade.
Fim do capítulo
Maninas,
Espero que estejam se divertindo com a história de Marília!
Semana que vem, tem mais.
Bjs
Z
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]