A festa dos lobos
Emeril teve o seu tempo no dia seguinte de se arrumar para a festa que os lobos tinham preparado para ela. Seus longos cachos estavam enfeitados com flores roxas e algumas tranças que Ilis lhe fez estavam presas com elásticos coloridos. Perfumou o corpo todo antes de finalmente vestir o belo vestido vermelho que valorizava suas curvas e explorava seu decote.
—Por que você ainda não se vestiu? — Perguntou a Ilis, que ainda estava com uma longa camisa que cobria as suas partes, deitada na cama preguiçosamente no fim da tarde.
—Por que eu me vestiria? Eu te levarei até o ponto de encontro na floresta. Eu levarei algo para vestir lá.
—Você não pode ficar se transformando nem carregando peso. Você vai vestida sim e os garotos nos levarão.
—Você não vai montar em nenhum deles.
—São seus lobos, Ilis, que mal há?
—Você é minha mulher, mãe do nosso filho, e eu sou a única que pode te carregar para qualquer lugar. Então não, você não montará nas costas de nenhum lobo.
—Está com ciúmes dos garotos?
Emeril sorriu, caminhando até a cama e subindo a barra do vestido até a cintura enquanto montava sobre o corpo da loba, prendendo as pernas em sua cintura. Ilis aspirou seu cheiro enquanto subia as mãos em suas coxas por baixo do vestido, apertando, os olhos deslizando pelo corpo acima do seu até parar em seus olhos.
—Não é ciúmes, mas há um limite que é necessário manter para eu não passar vergonha chegando nas costas de um lobo como se eu estivesse incapaz.
—Tão orgulhosa, meu amor. Então é simples. Vocês vão montados nas minhas costas.
—E estragar toda essa produção? Não. Você vai nas minhas costas. O bebê ainda é pequeno e tenho certeza que ele aguenta uma pequena caminhada.
—Lobo orgulhoso.
—Confesse que você vai adorar montar em mim.
—De novo? Claro que sim. — Emeril sorriu com malícia, inclinando-se para selar seus lábios, mas teve um deles mordidos em resposta. — Você só quer me exibir desse jeito. — Falou mais baixo.
—E você não me dá razão nenhuma em querer isso. — Ela lambeu seus lábios, subindo as mãos em suas nádegas e apertando.
—Comporte-se agora, eu não quero que rasgue o vestido.
—Está bem, mas não prometo me comportar depois.
—Você não vai precisar. — Garantiu. — Eu só quero chegar inteira lá, depois podemos nos divertir de todas as maneiras.
—Selvagem.
Emeril riu, sem protestar. Colocou sapatos confortáveis e se deixou guiar pela loba para a rua, onde encontrou com Jhan e Ian, trocou abraços apertados com ambos e recebeu seus elogios ao qual agradeceu fornecendo um feitiço que marcou o ombro deles.
—O que isso faz? — Jhan questionou, olhando o desenho da runa.
—Vai dar uma carga de adrenalina a vocês uma vez ao dia quando precisarem. Então usem com sabedoria, sabem como ficam depois de uma luta.
—Já podemos usar? — Ian perguntou animado. — Tem um botão para apertar?
—É só se concentrar no que deseja que aconteça e verá a luz se acendendo na sua pele.
—E ela disse para usar com sabedoria. — Ilis deu um tapa em sua nuca. — Se usar agora vai ficar cansado o resto da noite.
—Use mais tarde. — Jhan sugeriu. — Quando precisar realmente de energia extra.
Eles acabaram rindo de maneira cúmplice, Ilis somente moveu a cabeça de maneira negativa. Emeril segurou a mão da loba e os três seguiram até a borda da cidade, onde retiraram as próprias roupas e entregaram para a feiticeira, que guardou tudo numa sacola. Ela sorriu para a sua loba e acariciou sua cabeça. Segurou a barra do vestido e fez um nó, então montou em suas costas e encaixou as pernas nas suas costelas, pendurou a sacola no ombro e se abraçou ao pescoço dela, onde a beijou.
—Vamos, querida. Não queremos nos atrasar para a nossa própria festa.
Ilis avançou em frente aos lobos, seguindo a oeste da cidade rumo a outra parte da floresta. Emeril aproveitou a brisa fresca da primavera que chegava com vigor nas terras dos elfos, a lua estava alta, cheia, iluminando o caminho entre as árvores. Ouviram batidas de tambor e cantos animados, com ruídos animalescos que os lobos em forma humana produziam para animar a música.
A pequena alcateia voltou a forma humana antes de chegarem muito perto da fogueira mais adiante, colocando as roupas mais rapidamente. Ilis vestiu um pequeno short justo e uma camisa mais larga e comprida com rasgos para enfeitá-la, mantendo os pés nus. Emeril traçou contornos nos cabelos dela, moldando tranças para conter a rebeldia das suas mechas. Recebeu um beijo em agradecimento, guiando-a para o encontro dos demais lobos.
—Sejam bem-vindas! — Zenn se ergueu entre os tambores, deixando que outro lobo assumisse o ritmo enquanto se aproximava do casal com os braços abertos. — Sintam-se à vontade, tudo é compartilhado e todos estão mais que felizes em recebe-las para uma dança.
—Uns mais que os outros. — Emeril a provocou, sorrindo afiada.
—Eu sei que não causei uma boa impressão, mas acredito que posso mudar isso se me der uma chance?
—Você não vai bancar o lobo mau e me atrair para alguma armadilha, vai?
—Qual o ponto se você sabe voar? — Ela sorriu e estendeu a mão. — Uma dança. Não é armadilha se sabe o que está fazendo, não é?
—Tentando seduzir minha mulher, Zenn? Que golpe baixo. — Ilis ergueu a sobrancelha para ela, tentando desvendar suas intenções.
—Sua mulher é uma visão e tanto, não pode me culpar por querer tirar um pouco de proveito da festa. Que anfitriã eu seria, afinal?
—Não se preocupe, eu manterei as garras dela contidas. — Emeril beijou sua bochecha antes de aceitar a mão estendida da outra loba. — Vá tocar para mim, sim?
—Estarei de olho em você. — Garantiu.
—Se vai conter as minhas garras... — Zenn falou enquanto conduzia Emeril para perto do som dos tambores e do grupo que cantava. — O que vai fazer com os dentes?
—Quebrá-los se tentar alguma gracinha. — Emeril ainda sorria, deslizando as mãos até os ombros da loba e pressionando os dedos nos músculos.
—Eu me comportarei, não se preocupe. — Zenn segurou sua cintura com maior pressão, deslizando os olhos pelo seu corpo por um instante. — Eu não estava mentindo quando disse que você é uma visão. Me admira Ilis gostar de te exibir.
—Eu não diria que ela gosta de me exibir. — Emeril moveu o quadril devagar no ritmo da música, a loba não se intimidou em mover os ombros e guiar os primeiros passos para frente e para trás, os pés batendo fortes no chão para marcar o ritmo. — Ela só gosta de aproveitar o momento, sentir minhas sensações de estar sendo observada. Ela sabe que gosto, talvez tenha se acostumado. Não é como se fosse além de olhares, eu não dou motivos para ela se preocupar.
—Nunca?
A pergunta saiu de maneira casual dos lábios da loba, que fazia a feiticeira girar no lugar e incentivava a mover mais as pernas no ritmo, mas não podia enganar os ouvidos afiados de Ilis, que percebeu a provocação por trás. Ainda assim não buscou intervir, tentou manter o ritmo das batidas que suas mãos executavam no grande tambor que mantinha firme com as pernas. Observou o corpo forte e firme de Zenn conduzir sua feiticeira na dança característica dos lobos, que movia mais as pernas e os braços em gestos fortes e decididos. Os lobos continuavam os sons entre letras antigas e animadas, que contavam histórias de caça e guerras entre alcateias.
Emeril se viu perdida várias vezes nos passos que Zenn ditava, mas não se incomodou em errar, achando divertido os movimentos. A loba tirou a camisa justa que usava, produzindo um uivo animado enquanto a jogava para longe, ficando somente com os seios médios cobertos por uma faixa de tecido, além do short justo de tecido. Os olhos escuros vez ou outra deslizavam pelo corpo de Emeril em meio aos movimentos que realizavam, buscando corrigir os passos. Os cabelos escuros estavam soltos e a pele bronzeada suada com a animação.
—Todos os lobos são exibidos assim? — Emeril perguntou, observando o corpo dela se movimentar. — Ou você só gosta de exibir seu corpo mesmo?
—Todos os magos são vaidosos ou só você quem gosta de chamar a atenção?
Emeril ergueu a sobrancelha, logo estreitando os olhos. Sentiu a apreensão que vinha de Ilis, como se pudesse escutar seus pensamentos a alertando para não cair na provocação. Respirou fundo, buscando a calma.
—Chamei sua atenção, não é mesmo? Não parece tão ruim. Ainda que eu prefira a atenção de Ilis, não é algo que você possa se gabar agora.
—Você não precisa tentar mijar em Ilis para eu saber que não tenho chances, não há qualquer problema em se sentir na necessidade de marcar território.
—Não estou marcando território. — Pontuou.
—Claro que não. — Ironizou. — Eu posso ter qualquer cadela na minha cama, não se ache tanto, feiticeira. — Ela se afastou um passo. — Aproveite a noite, é para ser divertido, afinal, e eu não quero criar inimizades com a fêmea de Ilis.
—Você chamou Ilis de cadela? — Isso a irritou mais que estava a espera, sua garganta esquentando.
—Vamos dançar! — Milo apareceu entre elas, alheia a provável discussão que se formaria.
—Milo? — Emeril se surpreendeu, tendo uma mão segurada. — Eu não tinha te visto aqui.
—Porque eu acabei de chegar. — Ela riu, animada. — Venha, eu quero te apresentar as outras bruxas.
Emeril somente moveu a cabeça para concordar, sendo conduzida pela jovem bruxa entre os demais lobos até um grupo de mulheres vestidas elegantemente que tratavam de organizar uma mesa com vários alimentos.
—É uma oferenda para os lobos. — Milo explicou enquanto se aproximavam. — Assim seremos convidadas para mais festas. — Ela riu baixo, animada, as bochechas vermelhas.
—Você andou tomando uma daquelas bebidas que te alteram? — Emeril a observou, gostando da saia xadrez e a camisa escura de alça que vestia, mas desaprovando as botas. — Isso não combina com o terreno aqui, você vai acabar caindo.
—São botas especiais. Mantém o corpo firme e equilibrado.
—Você está inventando isso.
—Estou. — Assumiu, sorrindo para ela. — Mas eu gostei delas, você não?
—Gostei, mas te farão cair assim mesmo. Tire elas, sinta o solo.
—Está bem!
Ela se abaixou, desfazendo os nós. Emeril a ajudou a retirar ambas, num gesto a bruxa fazendo ambas desaparecerem. Testou a sensação de pisar na terra e nas folhas, sentindo a umidade mais fria, ainda que tenha gostado de sentir a natureza mais próxima. Aspirou o ar, soltando um risinho.
—Você está mais cheirosa que a floresta, Emme. — Disse à feiticeira. — Os lobos devem estar malucos.
—Você acha? — Ela franziu o cenho, considerando.
—Sim. Todos estavam te observando dançar com a alfa deles. Mas não se preocupe, não acho que seja ruim.
—É bom causar alguma inveja. — Uma das bruxas comentou, tinha o cabelo escuro como a pele, preso num coque, os olhos castanhos claros a brilharem sobriedade quando estendeu a mão para a feiticeira. — Helena Hoff.
—Emeril Arin. — Ela aceitou a mão.
—Ela é líder do grupo. — Milo comentou. — E tem supervisionado meus treinos de perto.
—Você tem se esforçado, merece uma folga. — Ela acariciou o topo da cabeça da mais jovem, que voltou a rir baixo. — Eu te disse para não dar mais de um gole do ponche quando é a sua primeira vez.
—Mas ele tinha um gosto tão bom!
—E você devia ter tomado um gole assim mesmo. — Emeril concordou, olhando entre elas. — Não se preocupe, eu fico de olho nela. É lua cheia, os lobos ficam animados demais e eu não acho que você queira fazer papel de boba indo além, certo? — Questionou a jovem bruxa, que corou mais intensamente, entendendo sua insinuação.
—Eu não sou uma criança. — Ela cruzou os braços, teimosa.
—Claro que não é, mas vamos tentar não colocar nenhum bebê na sua barriga, que tal?
—Eu sei de um lago que fica próximo daqui. — Helena comentou. — Podemos ir para acalmar os ânimos.
—Acho uma boa ideia. A noite começou animada demais. Mas eu não lembro de nenhum lago perto daqui.
Helena sorriu, batendo ambas as mãos num estalo, teleportando os três corpos para a beira de um lago, onde a floresta era somente um ponto no horizonte e as águas límpidas eram tudo o que podiam ver. Emeril se sentiu deslocada, como se tivesse sido enganada, mas Helena segurou seu rosto com ambas as mãos, encarando-a seriamente.
—Não te farei mal algum, não se preocupe.
—Você podia ao menos ter avisado que faria isso. — Emeril se afastou, olhando a floresta. — Não quero deixar Ilis preocupada.
—Não iremos demorar. — Garantiu, então gesticulou o lago. — É um belo local, não acha?
—Sim. Eu gostaria de mostra-lo a Ilis também. Ela iria gostar desse espaço. — Ela se aproximou da beira do lago, molhando um dedo. — Está fresca.
—E quieto. — Milo concordou ao parar do seu lado. — É um lugar aberto, mas parece que ninguém vem aqui.
—É estranho. — Emeril encarou a floresta além, então olhou ao redor, buscando reconhecer o ambiente. — Não estamos próximo a cidade dos elfos, não é mesmo?
—Você percebeu. — Helena sorriu a olhá-la. — Não, não estamos. Esse é o Lago das Ninfas.
—Lago das Ninfas? — A feiticeira franziu o cenho. — Mas eu nunca ouvi falar.
—Também conhecido como Lágrima dos Amantes. — Milo pontuou. — É um local antigo de ritual das bruxas.
—Que tipo de ritual?
—As bruxas tinham que abrir mão dos seus parceiros para jurar lealdade ao seu grupo como prova de união e irmandade.
—Abrir mão de que maneira?
—Afogá-los. — Helena ficou do outro lado dela, olhando para o lago com nostalgia. — Elas os induziam a entrar no lago com a promessa de uma noite de amor, mas os afogavam quando estavam envolvidos demais no momento.
—Por isso a menção as ninfas. — Milo completou. — São criaturas que seduzem e são alvos de desejos.
—Mas as bruxas tinham que permanecer puras e intocadas para se dedicarem ao aprendizado. Então quando seduziam seus amantes, eles acreditavam que fugiriam juntos.
—Isso é horrível. — Emeril virou a cabeça para mirar a bruxa mais velha. — Vocês ainda fazem isso?
—É mais raro, mas ainda tem grupos de bruxas que fazem, sim.
—Milo, você não me trouxe aqui para declarar seu amor agora, não é? — Emeril perguntou em tom de brincadeira, ainda que sentisse certa apreensão diante do assunto.
—Claro que não, idiota. — Milo cruzou os braços, frustrada. — Eu sei que o que você e Ilis tem é sério. E você foi uma grande amiga para mim.
—Então saiba que sempre serei. — Emeril passou o braço sobre os seus ombros, acariciando entre os seus cabelos. — Fico feliz que tenha encontrado um grupo para participar e praticar seus poderes, espero que esteja sendo bem tratada e não tenham mais esses rituais desnecessários.
—Desde que assumi a liderança entre minhas irmãs eu aboli essas práticas. — Helena assegurou, sem tirar os olhos do lago. — A lealdade não deve ser medida por sacrifícios, mas pelo que a bruxa acrescenta ao grupo quando temos os momentos de dificuldades. Eu não proíbo ninguém de desenvolver os sentimentos por outras pessoas, mesmo entre nós, irmãs do grupo. Ser obrigada a matar alguém que ama não consolida laços entre irmãs, faz crescer raiva e rancor.
—Então antes de assumir a liderança, você...? — Emeril a olhou com incredulidade quando ela não negou seu raciocínio.
—Proteja aqueles que estão perto. — Helena a olhou, então mirou a bruxa. — E eles te protegerão de volta.
Milo sorriu, acabou envolvendo a cintura de Emeril e deitando a cabeça no seu ombro, aproveitando a proximidade. A feiticeira acariciou seus cabelos, olhando o horizonte.
—O efeito da bebida passou? — Emeril questionou.
—Estou me sentindo mais cansada. — Assumiu.
—Você não devia ficar tão alterada com um gole a mais de uma bebida tão rápido.
—É porque estávamos em outra festa. — Helena riu baixo, afastando-se do lago. — Então um dos lobos tem proximidade com uma de nossas irmãs, fomos convidadas a participar, uma vez que Milo também é próxima de Ilis.
—E como queríamos a amizade dos lobos, trouxemos comida. — A jovem bruxa riu mais contida e inclinou a cabeça para olhar a feiticeira. — Os lobos não tem aversões a bruxas, não é?
—É difícil lobo ter aversão a alguém a menos que cruzem seu território e roubem sua caça. Mas são todos orgulhosos e cabeças quentes, a comida pode ajudar a acalmar os ânimos. — Emeril explicou, olhando-a de perto.
—Foi assim que se aproximou de Ilis?
—Digamos que eu aprendi com os erros. — Ela acabou sorrindo. — E Ilis teve bastante paciência para ensinar.
—Vocês têm um pacto raro de se ver. — Helena comentou ao pressionar as mãos na cintura e olhar a lua cheia acima. — E fácil de invejar. Espero que vocês tenham cuidado com os inimigos que podem atrair. Nem sempre felicidade atrai pessoas felizes.
—Você está sabendo de alguma coisa? — Emeril se virou para olhá-la.
—É só um aviso. Você é filha de sua mãe, a mais jovem a passar pelo ritual de passagem à vida adulta. Todos sabem que um jovem mago com imenso poder após o ritual buscará um filho para passar os poderes, e não demorará muito tempo até que percebam que a criança na barriga da sua loba não é a criança certa para isso acontecer.
—Está dizendo que tentariam fazer algo contra Ilis e o bebê?
—Contra você, Emme. — Milo falou com cuidado. — Bruxas e magos nunca se entrosaram muito bem.
—Nossas irmãs não lhe querem o mal, você ajudou Milo a chegar até aqui. — Helena explicou. — Mas os boatos correm rápido sobre recentes... conflitos com um bruxo em particular.
—Henri. — Constatou. — Ele tem colocado bruxas contra mim?
—Ele não precisou se esforçar muito quando prometeu dividir a energia que coletar de você.
—Ele quer roubar minha energia? Isso é impossível.
—Não se ele amaldiçoar você. — Ela pressionou a mão em sua barriga e acariciou. — Há uma imensidão de feitiços, mas nenhum que cure inveja e orgulho ferido. Tenha cuidado, Emme. Ele sabe onde te atingir para você não se recuperar inteira.
—E me impedir de gerar um bebê seria o golpe final dele. — Ela respirou fundo, absorvendo a notícia, então olhou entre ambas, pensativa. — Vocês não sabem alguma forma de quebrar uma maldição, sabem?
—Além do bruxo desfazer ou morrer? É impossível.
—Então não tenho escolha além de finalizar meus assuntos com ele de uma vez por todas.
—Então as bruxas aliadas a ele se vingarão. — Helena raciocinou. — Você não teria paz para o número de inimigos que encontraria.
—Você viveria como sua mãe viveu quando ficou grávida de você. E uma guerra iria se iniciar. — Milo continuou o raciocínio.
—Eu não posso simplesmente deixar Mara pagar pela idiotice de Henri. — Emeril afirmou com frustração. — Tem que haver uma forma de desfazer a maldição e acabar de vez com essa história.
—Há uma forma. — Helena a olhou por um momento, então mirou o lago. — Não é um lago aleatório que as bruxas escolheram para completar o ritual. Há muito tempo esse lago possuía propriedades mágicas que acreditavam rejuvenescer as pessoas, roubando alguns anos para conservar a juventude.
—E isso acontecia?
—De certa forma, sim. Mas a verdade era que havia um antigo feitiço no lago. Aqueles mortos pelas águas dentro dele seria sugado e sua energia seria dada a aqueles que se banhassem aqui. E isso dava a sensação de rejuvenescimento que as bruxas buscavam.
—E o feitiço ainda funciona no lago?
—De certa forma, sim. Mas enfraquecido. Você precisaria de mais corpos para ter o mesmo efeito.
—Mas como isso me ajudaria a quebrar uma maldição? Eu ainda teria que matar Henri para conseguir.
—Se o feitiço for fortalecido outra vez, você pode sugar a quantidade necessária de energia dele para enfraquece-lo. Isso quebraria com a maldição sem precisar de envolver sangue, porque ele não teria forças para manter qualquer feitiço que tenha lançado.
—Nós cuidaríamos do feitiço no lago para que ele não desconfie. — Milo sugeriu. — Você só teria que induzi-lo a entrar no lago.
—Eu posso dar um jeito nisso. Mas por que vocês me ajudariam? — Ela olhou entre ambas. — Não colocaria vocês como alvo entre as demais bruxas?
—Ninguém saberia que te ajudamos. Uma vez que o feitiço é lançado não há como saber quem o lançou. — Helena explicou. — Então não desconfiariam de nós. Mas se a sua pergunta é por que te ajudaríamos e não usaríamos o feitiço no lago para sugar a sua energia é porque precisamos de ajuda com algo também. E eu soube do seu problema com Henri.
—De que ajuda vocês precisam?
—A feiticeira que você quer libertar da maldição.
—O que tem Tâmara?
—Ela tem habilidades que a ajudam a cultivar espécies raras de ervas e nós precisamos de algumas ervas para rituais de cura e fortalecimento.
—Eu não vejo problemas nisso.
—Magos e bruxas não têm bom histórico de cooperação. — Milo voltou a falar. — Há a crença de que nossos rituais envolvem o enfraquecimento dos outros.
—E enfraquecem?
—Nos fortalecemos tendo contato com o que é natural, com poções e feitiços que aumentam nossa resistência. Se estamos mais fortes é normal os outros acharem que estão mais fracos, não acha?
—Faz sentido. Se vocês me derem sua palavra de que as ervas cultivadas não serão utilizadas para fazerem mal a ninguém eu não vejo problemas em nos ajudarmos.
—Não será para prejudicar ninguém. O único problema é em quem usaremos essas ervas de cura. — Helena ponderou um momento a mais. — Uma de nossas irmãs foi ferida enquanto tentava seguir feitiços que estão além da compreensão dela.
—Que feitiços são esses?
—Magia proibida. — Milo pontuou.
—Nós buscávamos impedir que ela continuasse indo por esse caminho. — Helena prosseguiu. — E eu ainda acredito que ela possa mudar de ideia. Ela tem permanecido presa entre nós, mas está enfraquecida desde que o feitiço saiu errado. Ela se mostra arrependida pelos erros que cometeu, Milo pode confirmar o que viu.
—É verdade. Eu estive tomando conta dela. E ela está muito fraca, Emme, a beira da morte.
—E vocês tem certeza de que ela não se mostra arrependida apenas para conseguir sobreviver? — Emeril foi cética em seu questionamento. — E se assim que ela se recuperar ela se voltar contra vocês e seus ensinamentos? Como vão impedi-la?
—Ela será monitorada de perto por nossas irmãs, passará por um novo ciclo de aprendizado. — Helena respondeu.
—Ela deveria passar por um teste para comprovar sua mudança, caso contrário tudo isso seria em vão.
—Um teste? — Milo questionou. — Mas isso seria duvidar da palavra de uma irmã.
—E ela já não provou não ser confiável? Se um mago quebra uma regra, ele passa por julgamento diante dos anciões e é enviado um guardião para se fazer cumprir a punição, além de fiscalizar a mudança, caso contrário é julgado novamente e o mago pode perder parte dos poderes. Se uma bruxa está demonstrando tendências a cometer algo ruim a vocês e até mesmo a outras raças, algo mais severo deve ser feito para garantir a segurança de todos.
—Mas-
—É essa a sua condição? — Helena interrompeu a jovem bruxa.
—Sim, é a minha condição. — Emeril estendeu a mão. — Temos um acordo?
—Pensando que você terá todo o trabalho de lidar com o bruxo e a feiticeira, sim, é justo. — Ela se aproximou e segurou sua mão, sentindo o feitiço marcando sua pele, podendo ver uma runa marcando a palma. — Por que marcar nosso acordo? Minha palavra não basta?
—É uma garantia para nós duas. Eu cumpro minha parte e o símbolo desaparece, você cumpre a sua e desaparece. Caso contrário ficamos marcadas.
—E se eu não cumprir minha parte?
—Eu serei obrigada a se fazer cumprir o acordo. Então sua bruxa será fiscalizada por um mago.
—Você pode fazer isso? — Milo a olhava, incomodada com o acordo.
—Pelas leis dos magos, sim, ela pode. — Helena suspirou. — Não tem problema, eu pretendo cumprir com a minha parte do acordo.
—Ótimo. Eu também cumprirei, amanhã mesmo buscarei conversar com Mara. Enquanto isso, que tal voltarmos a festa dos lobos? Não quero perder a comida que trouxeram.
—Claro, não é uma má ideia.
Helena voltou a estalar as mãos juntas, então elas voltaram próximo ao local da festa, podendo escutar os sons dos tambores e os cantos. Emeril acariciou os cabelos de Milo, deixando-se conduzir de volta para perto das bruxas, sendo apresentada para as demais. Acabou dançando e rindo com todas, entrosando-se mais rapidamente do que esperava. Jhan e Ian acabaram se juntando, animados, tirando bruxas para dançarem e sendo alvos de olhares e desejos.
Emeril acabou se afastando e encontrando o caminho até o tambor que Ilis tocava, sentando no seu colo e atraindo seu riso conforme parava de tocar e abraçava sua cintura. Os outros lobos continuaram tocando, compartilhando o riso descontraído.
—Volta e meia e você volta para os meus braços. — Ilis falou no seu ouvido, aspirando o cheiro de sua pele, suor misturado a perfume penetrando suas narinas e a fazendo sorrir em contentamento.
—Prova de que não bebi um gole de bebida que me faça errar o colo. — Emeril a provocou, ensaiando umas batidas no tambor e sentindo a mordida que recebeu no seu ombro, rindo baixo. — Você vai me ensinar a tocar ou vai dançar comigo?
—Por que não os dois? — Ilis beijou sua bochecha antes de segurar suas mãos, posicionando sobre o tambor. — Basta deixar as batidas te guiarem. — Ela fechou os olhos, ouvindo as batidas ritmadas dos demais lobos, então a fez seguir as primeiras batidas. — Então sequer precisará pensar no que está fazendo.
—Oh! — Emeril sorriu animada, sentindo o tambor tremer diante das batidas que executava, sentindo a confiança crescer conforme Ilis a deixava tamborilar sozinha. — Isso é tão legal!
—Você sentirá a natureza agindo em suas mãos. — Um lobo ao lado falou. — Por isso se torna fácil seguir.
Ela realmente sentiu facilidade uma vez que se deixou levar pelo ambiente, o ritmo seguindo seu curso. Ainda que acabasse se distraindo conforme Ilis deixava claro seu interesse em a morder e a apertar contra si. Deixaram o tambor para o próximo lobo, juntando-se aos demais na dança enquanto se provocavam e aproveitavam o momento e o clima para estarem juntas.
Ilis a guiou para o rio que corria ali perto após algum tempo, encontrando o rumo de um momento a sós longe de todos. Tiraram as roupas e adentraram nas águas mais geladas que refrescaram seus corpos do clima intenso ao redor da fogueira. Ilis não a deixou ir longe ao clamar seus lábios e explorar sua carne, encontrando fácil entrega ao desejo que mantinha toda a noite. Emeril não resistiu ao ar selvagem que se apoderava de sua loba toda lua cheia, deixando seus toques e seus sons mais primais e intensos, entregando seu prazer e exigindo ainda mais até chegar ao seu limite. Só então pode tocar seu corpo em troca, não se incomodava em ser comandada a dar o prazer da forma que ela o desejava, gostava da necessidade e da forma autoritária que ela agia mesmo ansiando pelo ápice, mas o entregou sem receios, obtendo-a plena em seus braços.
—Como prometido você não precisou se comportar por muito tempo. — Emeril a provocou, ambas deitadas na beira do rio, abraçadas.
—Não é como se eu fosse aguentar por tanto tempo quando tinha tantos lobos querendo fazer exatamente isso.
—Ninguém pode me tocar e eles sabem disso. — Sorriu. — Não se preocupe, eu sempre termino em seus braços.
—De mais ninguém. — Acentuou, para o prazer da feiticeira.
Fim do capítulo
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Lea
Em: 27/02/2022
Quando maior o poder,maior será o problema! A inveja destrói!
Então nosso pequeno lobo não poderá receber os poderes da mãe.Mas nem um pouquinho, Alex???
Resposta do autor:
A inveja destrói e corrói tudo realmente.
Eu tenho inveja de quem escreve e ganha dinheiro com isso ahahahah
Poxa, nem um pouquinho infelizmente. Acaba sendo coisas hereditárias :(
Marta Andrade dos Santos
Em: 30/08/2021
Sei não essa bruxa vai arregar.
Resposta do autor:
será que vai trair a coitada da Emeril? :O
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