A semana inteira me fechei de uma forma que nem mesmo as meninas conseguiram me tirar da melancolia que eu estava vivendo, não conseguia sair de casa, e deixei de lado todos os meus planos de procurar emprego. Passava os dias e noites deitada, tentando entender como de uma hora pra outra minha vida tinha virado de cabeça pra baixo. Só conseguia sair de casa para correr na praia, corria até a exaustão, sempre sozinha e evitava me aproximar das pessoas. Todos os dias fazia um trajeto diferente daquele que eu fazia regularmente, justamente para evitar encontrar a Maya e os garotos, ou até mesmo outras pessoas conhecidas.

No final da tarde de domingo estava tentando assistir algo na tv, quando ouvi um sinal de mensagem no meu celular. Peguei de imediato o aparelho na esperança de ser a Aline, afinal de contas hoje faziam oito dias que ela havia evaporado, e desde então, não entrou em contato comigo nem mesmo por mensagem. Eu sentia tanta falta da Aline, que tinha a sensação de o vazio que ela deixou na minha se tornou uma dor física.

Quando abri o aplicativo, vi que era uma Mensagem da Maya, avisando que iria embora no dia seguinte e me convidando para um luau que os primos estavam organizando.

“Eu sei que está passando por um momento difícil, mas tenta sair só um pouquinho da concha e vem me dar um abraço de despedida. Vou entender caso não apareça, e a Cardiologista aqui vai te levar pra sempre no coração.”

Aquele convite da Maya me deu um certo animo, talvez fosse bom sair um pouco, ficar no meio daquela garotada, beber um pouco para afogar as magoas. Sem contar que a Maya merecia um pouco de atenção, desde o primeiro dia ela e o restante foram legais comigo e eu acabei me afastando sem motivo, ou melhor, por um motivo exclusivamente meu. Creio que seria de bom tom, retribuir e passar um tempo na companhia deles.

Cheguei no local marcado e de longe ouvi o som do violão, e as pessoas cantando, o clima estava maravilhoso, e a turma parecia bastante animada, e a medida que ia me aproximando conseguia ouvir com clareza a música.

“ Sabe já faz tempo, que eu queria te falar, das coisas que trago no peito, saudade já não sei se é a palavra certa pra usar, ainda lembro do seu jeito...”.

Para minha surpresa quem tocava violão e cantava divinamente aquela música era a Maya, que ao me ver sentando ao lado do irmão dela, abriu um sorriso lindo, como pode alguém ser tão iluminado. Maya além de educada, era inteligente, gente boa, linda e tinha uma sensibilidade impar. Durante enquanto ela cantava, aceitei um coquetel de um dos rapazes, hoje eu abriria uma exceção, iria aproveitar a noite e tentar esquecer os problemas, já que a solução para eles não dependia unicamente de mim.

Ao finalizar a música Maya, passou o violão para um dos rapazes e sentou do meu lado. Ela parecia feliz, mas quando olhei nos olhos dela, vi que estavam um pouco inchados, como se ela tivesse chorado a pouco tempo.

_Que bom que você veio, vou embora amanhã achei que não iria mais te ver _Maya me abraçou.

_Desculpa, eu tive uma semana difícil, acabei me isolando um pouco.

_Vi você correndo na praia, mas senti que queria ficar sozinha.

_Eu não estava com uma energia boa, e não queria passar negatividade para as pessoas.

_Fico feliz que tenha vindo.

_Deixei o bode de lado, e vim pra me despedir de você _Falei provocando uma gargalhada nela. _Viajam quando?

_No sábado, mas preciso resolver algumas coisas. Vou passar no mínimo dois anos fora, não posso deixar nada pendente _Maya olhava diretamente nos meus olhos.

_Tenho certeza de que você vai se dar muito bem morando fora do país.

_Vai me visitar um dia?

_Quem sabe!

_Estou feliz por ter vindo, de verdade, você é a uma mulher incrível, é uma pena que eu estou indo embora.

_Maya, você sabe que eu sou comprometida, ou pelo menos era, e mesmo que não fosse, você vai morar fora.

_Eu sei, mas não posso me culpar por desejar a tua boca desde a primeira vez que te vi.

_Maya, por favor!

_Tá, desculpa...

_Eu não me te magoar, você é especial demais pra entrar nessa bagunça que é a minha vida, não seria justo com você, comigo mesma e nem com a Aline.

_Aline, esse é o nome dela, seu olho brilha só de falar nela, que sorte essa garota tem.

Pela primeira vez me senti incomodada por lembrar, por falar na Aline, a impressão era que eu estava fazendo algo errado, e isso começou a me deixar inquieta. Aproveitei que a Maya estava distraída e sai para molhar os pés no mar. A lua estava linda, enorme, e iluminava de forma única a praia. Afastei-me um pouco, a conversa com a Maya, provocou em mim  certo desconforto, ou era vontade. Mesmo amando a Aline, não podia negar que aquela garota chamava a minha atenção, despertava um desejo quase irresistível.

Me distrai ouvindo o barulho das ondas quebrando nas pedras, e não percebi a Maya se aproximando.

_O pessoal já quer ir embora, você vai ficar.

_Só mais alguns minutos.

_Eu preciso descansar, amanhã vamos sair logo cedo, e provavelmente vou dirigindo, preciso dormir bem.

_Maya, foi um prazer te conhecer.

_É uma que as nossas vidas não se cruzaram ante. Posso te dar um abraço?

_Claro_ Falei abrindo os braços pra receber a Maya.

Quando nos abraçamos, senti ela me apertar de forma carinhosa, e mesmo sabendo que era errado, não senti vontade de sair daquele abraço.

Nos afastamos, apenas o suficiente para nos encararmos. E o que eu mais temia aconteceu. Maya olhava nos meu olhos, e quando percebi que ela olhava para a minha boca, não consegui resistir. Puxei o corpo dela até que ela encostasse em mim, segurei o rosto dela entre as mãos e a beijei. Enquanto explorava a boca dela, sentia as mãos dela passeando pelas minhas costas. O beijo dela era maravilhoso, a pele quente, o cheiro, a maciez dos lábios, tudo isso aliado a carência, parecia me levar para um caminho sem volta, e quando percebi que se continuasse naquele beijo, não conseguiria parar, finalizei o beijo.

Para a minha sorte, a Maya não tentou outra aproximação, apenas me abraçou de forma carinhosa, talvez era a forma dela demonstrar que estava tudo bem.

_Infelizmente nossos caminhos se cruzaram um pouco tarde, se fosse em outro momento, seria difícil ver você partir. Atualmente estou enfrentando problemas muito difíceis, e eu não posso negar que adorei o beijo, mas não é correto.

_Entendo perfeitamente você, e jamais forçaria uma situação, mesmo que a vontade de amar você seja enorme, eu jamais me permitiria, com você pensando em outra.

_Você realmente é muito especial, se cuida e arrasa.

Despedi-me da Maya e do pessoal que ainda estava na praia e fui para casa. Apesar de ter “traído” a Aline, eu não conseguia me sentir culpada. Mas estava tranquila por não ter ido adiante, o beijo era uma vontade das duas e não havia culpado. Caso Aline voltasse, ela seria a primeira a saber o aconteceu, sem tirar e nem por, e caberia a ela a decisão de continuar ou terminar o nosso namoro.

Durante a semana seguinte resolvi dar um rumo na minha vida,  comecei a procurar emprego, passava praticamente o dia inteiro na rua, e já havia sido chamada para duas entrevistas, o que me deixava mais tranquila em relação a minha vida profissional.

Mas quando chegava em casa, a solidão me incomodava muito, sentia uma falta absurda de Aline, e o fato dela não dar noticias a duas semanas era perturbador. Mas infelizmente não havia alternativa, a não ser esperar.  

Mais uma vez acabei me isolando e me afastando dos meus amigos. Da outra vez, passei meses lutando contra a depressão, mas tive a sorte de ter eles sempre do meu lado, mas agora não deixaria a situação se repetir, erguer a cabeça era a ordem do dia.

_Bom dia Sapas! _falei abrindo a porta da casa das meninas.

_Bom dia Nick, você está melhor?_ Flávia me abraçou.

_Preciso...

_Eu já tinha ido atrás da gata. _Karina falou impaciente.

_Ka, se alguém souber onde ela está, não vai falar, se ela quis ficar sozinha devemos respeitar isso.

_Concordo plenamente Nick, a Karina acha que tudo se resolve assim.

_Mas eu teria pelo menos ligado pra ela umas mil vezes.

_Duvido que tenha conseguido _ Quando a Flávia falou, eu a Karina olhamos ao mesmo tempo pra ela.

_Como assim Flávia, como tem tanta certeza que eu não conseguiria falar com ela.

_Ah gente, eu só acho que ela quer ficar sozinha, provavelmente está com o telefone desligado.

_Flávia se souber de alguma coisa me fala, eu posso estar perdendo a mulher da minha vida, por favor, fala.

_No dia que ela viajou, ela ligou pra mim e...

_Flávia você escondeu isso até de mim? _ Era visível a decepção da Karina.

_Ela confiou em mim, eu não tinha o direito de comentar com ninguém, nem mesmo com você amor.

_Continua Flávia, já que começou termina _ o medo de saber o restante era grande.

_Bom, ela falou pouco, disse que iria ficar um tempo fora, que precisava ficar sozinha, pediu pra que eu procurasse um tal de Ricardo no hospital, e que eu cuidasse de você, e disse que te amava.

_Você foi atrás do Rick? Sabe de mais alguma coisa?

_Fui não Nick, preferi esperar ela voltar.

_Só tem uma pessoa que sabe onde ela está, a Lu. Eu vou atrás dela agora, preciso encontrar a Aline.

Vinte minutos eu chegava à casa de Aline, fui de moto porque não queria perder tempo. Mesmo lembrando que ainda estava com o controle do portão, achei melhor tocar o interfone, e o portão abriu permitindo que eu entrasse e assim que eu desci da moto a Lu veio ao meu encontro.

_Oi minha filha, achei que não iria aparecer.

_Como assim Lu aconteceu alguma coisa? _ Por que não ligou pra mim.

_Aconteceram muitas coisas minha filha, mas só ela pode te contar, traz a minha menina de volta, ela está perdida, deve estar sofrendo tanto.

_Lu você sabe onde ela está?

_Não, mas o único lugar que ela iria é a chácara em Guarapari, vou pegar o endereço.

_O carro antigo dela está lá em casa, o novo está aqui, ela foi com alguém?

_Deve ter ido de táxi, traz ela de volta.

_Vou atrás dela agora mesmo...

_Vá no carro dela, a estrada é perigosa,  vou lá dentro pegar a chave e o endereço...

Quando a Lu voltou trazendo um papel e a chave do carro eu avisei que precisaria resolver algo antes de pegar a estrada, mas iria hoje mesmo e a traria de volta.

Fim do capítulo